domingo, 28 de novembro de 2021

O QUE SOBROU?

 

Foto: Reprodução/Williams

Ao longo dos quase oito anos de blog, escrevi sobre o último suspiro e a tentativa de ressurreição da Williams, na época a última a manter um modelo "garagista" na categoria. A última equipe familiar teve o fim selado no ano passado, quando foi vendida para a Dorilton Capital, e hoje o adeus não só simbólico, mas físico também: Sir Frank Williams morreu aos 79 anos.

Ao longo dos anos, a importância de Frank no automobilismo sempre foi reverenciada, pois o pessoal percebeu e sentiu que o Sir, aos poucos, se retirava dos palcos das corridas. O tempo é implacável, assim como as complicações do acidente que o deixou paraplégico.

O documentário que mistura a vida e a equipe (no fundo, é uma coisa só mesmo) mostrou um pouco da personalidade de Frank, muito difícil de ser extraída apenas no paddock. Era apenas conhecido como um negociador implacável, não ousou em despachar Nigel Mansell e Damon Hill depois dos veteranos serem campeões, por exemplo. Frank começou a ficar para trás com o fim da parceria com a BMW. Vítima do orgulho e da passagem do tempo, a Williams, foi, assim como o Sir, morrendo aos poucos, mas conseguiu sobreviver até hoje.

No céu, Frank reencontra Virginia, figura tão importante na vida. A amada, que ajudou muito mais a equipe do que poderíamos imaginar. O simbolismo resgatado pelo documentário "Williams" mostra Virginia, no ano que Frank sofre o acidente, recebendo o troféu da equipe na vitória no Grande Prêmio da Inglaterra vencido por Nigel Mansell. Uma imagem que simboliza as duas paixões de Frank.

Na sequência veio os filhos e a sucessora, Claire. O documentário mostra que esse fator causou uma ruptura familiar entre Claire e o filho mais velho de Frank, ressentido por não ter sido o escolhido. Agora, tudo é passado e Williams é apenas um nome sem o vínculo da família. Não teve o mesmo fim trágico da Gucci, filme que acabou de sair, mas mostra que, diante de circunstâncias e pessoas diferentes, é difícil prosperar apenas fechado na mão de ferro. Frank e Claire entenderam isso tarde demais, mas entenderam.

Frank Williams, Bernie Ecclestone, Ron Dennis, os Ferrari, Herbie Blash, Charlie Whiting. Não foram pilotos, mas são nomes eternos e talvez no mesmo nível dos grandes campeões da categoria. Sem a paixão, o entusiasmo e até o sacrifício da própria vida em detrimento de um objetivo, Frank abriu caminhos, não sem antes experimentar dramas e perdas como Piers Courage. Numa época onde tudo era mais perigoso e instintivo, dizem que foi na perda do amigo que Frank separou as coisas: nunca mais se apegou a piloto algum, assim como Bernie e a relação com Jochen Rindt, o eterno campeão póstumo.

Finalizo o texto para celebrar a vida de Frank Williams, uma pessoa tão importante para a F1 e o automobilismo. Pavimentou diversos sonhos e o surgimento de lendas, assim como teve erros, o que o torna humano.

O que sobrou da Williams? O legado, o respeito e a admiração por alguém que, definitivamente, é único. Não haverá outro Frank Williams ou algum garagista aventureiro que precisou de décadas para deixar de ser chacota para virar referência. Aquela F1 não existe mais. Essas histórias não existem mais. São outros tempos. A saída e a morte de Frank são dois pontos que provam, além do fim da Era Bernie, que definitivamente estamos em outros tempos.

Paixão, reconhecimento, admiração e legado. É o que sobrou.

Até!

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