quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

TEXTOS ESPECIAIS: "Aqui tem de tudo que é estilo e classe social"

Olá! O texto de hoje é uma entrevista. O resto vai estar descrito no texto. Tenham todos uma boa semana!

“Aqui tem de tudo que é estilo e classe social”

Ele é uma figura muito conhecida do bairro Azenha. Seu estabelecimento, o “André Cabelereiro”, localizado na rua 20 de Setembro, é um ponto de encontro para quem deseja conversar sobre quase tudo e qualquer tipo de assunto. A barbearia do simpático André Valim, 42 anos, morador de Viamão, reúne pessoas de diferentes idades e personalidades, e ele consegue se adaptar ao estilo da freguesia. Valim também falou sobre sua vida pessoal e deu seus pitacos sobre a sociedade atual. Confira:

Foto: Leonardo Sá
Há quanto tempo você tem esse estabelecimento?
– Eu tenho esse ponto há 18 anos (desde 1997). Trabalhava na barbearia do meu pai, na Carlos Barbosa, e decidi abrir meu próprio negócio.

Por quê?
–  Porque queria trabalhar sozinho e abrir meu próprio espaço, ser independente.

Você mora em Viamão. Por quê manter um estabelecimento em Porto Alegre ao invés de abrir uma barbearia em um local mais próximo?
– Já pensei nessa possibilidade. Entretanto, decidi permanecer aqui para não perder os clientes antigos. Muitos deles frequentavam a barbearia do meu pai e depois de um tempo vieram e viraram fregueses do meu estabelecimento.

Em termos de personalidade, seus clientes são muito diferentes uns dos outros? Qual é a sua relação com eles?
– Ah sim, existem “vários” tipos de clientes. Tem de tudo aqui: Os mais falantes, os mais quietos, de tudo que é estilo e classe social (Um dos seus clientes mais famosos é o comentarista de futebol Guerrinha). O último cliente, por exemplo (O “Japonês”). Ele nunca falou uma palavra sequer comigo. A primeira vez que ouvi a voz dele foi quando você perguntou sobre como ele sabia da existência do local. Por outro lado, alguns clientes acham estranho quando eu não puxo assunto. Muitos deles pedem que eu avise no celular quando o local está vazio para que venham sem ficar na fila de espera. Às vezes, eu envio, mas na maioria dos casos não tem como. Estou trabalhando, tenho que dar total atenção ao meu serviço e ao cliente.

Qual é a sua rotina de trabalho? Qual é o dia que tem mais movimento?
– Eu trabalho cinco dias por semana. Não abro no domingo e na segunda para resolver questões particulares, relacionadas a minha esposa e os meus dois filhos. Geralmente o dia que a barbearia fica mais cheia é no sábado, quando as pessoas aproveitam o final de semana para cortar o cabelo e a barba.

Quais são os seus hobbies quando não está no trabalho ou quando não há clientes no local?
– Aqui na barbearia, eu fico vendo TV. Adoro história e assistir documentários, principalmente os da Segunda Guerra Mundial. Também gosto de olhar filmes. E futebol, é claro. Assisto quase tudo, mastem uma coisa que eu detesto: fofoca de artista (risos).Também adoro ler, sou fissurado em livros.

Percebi. (Havia uma estante com três livros – Um de Nietzsche, a bíblia e um livro espírita). Quais são seus autores favoritos?
– Gosto muito de filosofia e de Nietzsche, mas leio de tudo. Sou muito fã de Nietzsche, comprei alguns livros dele num sebo aqui perto e viciei. Admiro os pensamentos dele... Sou muito aberto a novos autores e temáticas diferentes. Você viu na estante, estou lendo a bíblia e livros sobre espiritismo, mas me considero agnóstico. Esses dias eu vi um debate entre um evangélico e um espírita, me admirei muito com a argumentação do espírita. Não foi aquela coisa de apelar, gritar e essas baixarias, foi puro conhecimento. Estou admirado. Fico lendo aqui na barbearia e em casa, principalmente. Recentemente, terminei o livro “Capitão Philips” e “Símbolos”, do Dan Brown. Olhei algumas reportagens e artigos do Richard Dawkins, gostei muito. Certamente o próximo livro que eu vou ler será dele.

Algum outro hobby?
– Ah, eu adoro cozinhar. Sou uma pessoa muito caseira, gosto de ficar em casa com minha esposa e meus filhos, não sou muito de sair, só quando é necessário. Fico brincando com as crianças durante o dia e aproveito o tempo para fazer pratos mais elaborados. Um churrasco no domingo ou um jantar durante a semana. Uso bastante o forno à lenha que tenho em casa e convido meu irmão para comer com a gente. Gosto muito.

Você falou em uma das respostas sobre as mensagens de celular com os clientes. És assíduo nas redes sociais?
– Não tenho Facebook, nem WhatsApp e nem Twitter. Aliás, me incomodo muito com o Twitter. A pessoa vai lá e fica postando tudo o que faz, até quando vai no banheiro. Acho ridículo isso (risos). Minha esposa tem todas essas redes e fica me pressionando para abrir uma conta no Facebook. Não quero me envolver em problema. Um cliente, mulherengo, foi marcado em uma foto com outra mulher enquanto tinha relacionamento com uma outra. Nem preciso dizer que deu problema, né? Não quero confusão para o meu lado. Não tenho vontade de usar e não sinto falta. Minha esposa que fica o dia inteiro conectada (risos). Meu irmão já me disse: “Ainda bem que tu não tens essas redes, é muita confusão. Se puder, fique longe delas (risos). ”

Para encerrar: Em 18 anos, certamente deve ter acontecido um monte de fatos inusitados na barbearia. Poderia me contar alguma história engraçada que aconteceu aqui?
– Tem uma muito boa: Tinha um senhor que todo santo dia batia na porta e perguntava o preço do corte. E eu sempre respondia o mesmo valor, que deveria ser uns 15 ou 20 reais, não me lembro. E esse senhor sempre respondia: “Ah tá, vou lá pegar o dinheiro e já venho aqui, me aguarde! ” E eu esperava... E ele nunca vinha! (risos). Ele vinha para cá todo dia e sempre dizia isso, era folclórico. Mas, depois de um tempo, eu cansei. O homem veio e fez a pergunta de sempre: “Quanto custa o corte?”. E eu, dessa vez, respondi sem titubear: “80 reais!”. Ele tomou um susto e nunca mais voltou (risos).

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