Foto: Getty Images |
Fim de semana com as duas provas mais importantes do
automobilismo, no mesmo dia e apenas separadas por algumas horas. Mesmo que
sejam de estilos e abordagens diferentes, é impossível não colocar Mônaco e
Indianápolis no mesmo pote e tirar como conclusão qual das duas é a melhor.
Mônaco: o charme, o príncipe Albert, as celebridades, andar
nas ruas de Monte Carlo, tão estreitas e desafiadoras para um carro tão largo
como o de um F1. “Andar de bicicleta na sala”, diz Nelson Piquet. Sinceramente,
não sei o quem interessa isso, só os ricaços que ficam em suas hiates curtindo
a vida adoidada que possuem. De resto, o que vale para nós todo esse glamour
assistindo pela TV de manhã, com sono e remela no olho?
Praticamente todos os pilotos foram unânimes em descascar a
corrida de ontem. "Extremamente chata. Quer dizer, essa provavelmente é a
corrida mais chata da F1. Sem um safety-car, uma bandeira amarela... O esporte
precisa pensar um pouco sobre o espetáculo, porque é bem decepcionante",
foi o que disse Fernando Alonso. Lewis Hamilton: "A mais chata de todas.
Foram as 78 voltas mais longas de todas, não foi uma corrida. Não teve qualquer
emoção. Não houve nenhuma ação. Quando a prova acabou, apenas agradeci."
Tirando casos exceepcionais (chuva e acidentes diversos),
Mônaco é sim diferente. Aproveitando o clima de cassino, qualquer coisa pode
acontecer, mas isso tem sido cada vez mais raro. Qual foi a última vitória
realmente surpreendente? A do Trulli em 2004, talvez? A culpa não é só do
circuito. A F1 tem sua parcela de responsabilidade. Ela não se ajuda. Com
regras complicadas e carros que são naturalmente difíceis de acompanhar por
perto em circuitos, não é difícil entender que em um circuito de rua isso será
ainda mais impossível de ser feito.
Vitória de Trulli foi a última "surpresa" de Mônaco, em 2004. Foto: Getty Images |
“É preciso ter ultrapassagens”. Claro. Apenas não concordo
com as ultrapassagens artificiais, aquelas com o DRS. Uma corrida não se torna
boa só porque teve 3242 trocas de posição onde basta um botão e deixar o carro
da frente sem defesa. A disputa também pertence ao espetáculo. Alonso e
Schumacher em 2006 que o digam. A aerodinâmica precisa ser repensada, mas não
pode ser no 8 ou no 80. É preciso ter disputa, com chances de atacar e se
defender de uma posição, não uma procissão ou uma artificialidade. Mônaco e
toda a F1, hoje, não tem nenhuma das duas coisas. Para valorizar o espetáculo,
é necessário criar condições para isso. A Liberty já entendeu o recado. Agora é
ver o que eles estão tramando para o ano que vem e as novas regras de 2021.
Na Indy, o novo kit foi traiçoeiro. Carros mais lentos e
muitas escapadas de traseiras fizeram vítimas experientes. Também não foi uma
corrida repleta de ultrapassagens, exceto nas relargadas e o show de Alexander
Rossi, que largou lá atrás. A Indy é uma prova muito mais democrática. Ela
respeita a tradição do Bump Day e sempre dá a oportunidade para algum underdog
fazer história. Ontem, por exemplo, se a amarela se mantivesse por mais algumas
voltas, Oriol Servià ou Stefan Wilson (irmão do Justin) poderiam ter quebrado a
banca. Não foi possível. Takuma Sato foi o vencedor do ano passado. Alexander
Rossi, recém saído da F1, teve uma vitória caída do céu.
O fato é que, nesse final de semana, as duas corridas
deixaram a desejar. Por tudo o que representam, o público merecia algo melhor.
Evidente que nem sempre é possível fazer a corrida dos sonhos. A Indy se
aproxima mais disso com vencedores diferentes, muitas surpresas e histórias de
vida. O caso da F1 é muito mais preocupante. Apesar do equilíbrio das três
equipes em termos de números (duas vitórias para cada), as corridas dependem
basicamente do imponderável, e não é sempre que ele acontece. E quando não se
concretiza, as corridas não passam de uma procissão por Mônaco.
Rossi foi um dos poucos ousados a fazer grandes ultrapassagens ontem. Foto: Autoweek |