terça-feira, 2 de abril de 2019

LEGADO MANCHADO

Foto: Toru Hanai/Reuters
Legado é uma expressão que ficou comum por aqui durante e depois da Copa de 2014, aqui no Brasil. Por falar na modernidade, hoje acompanhamos todos os detalhes em todos os ângulos em tudo, incluindo a Fórmula 1, obviamente.

Existem muitas discussões sobre quem é "o pior campeão" ou aquele que não está no nível dos grandes. É claro que ninguém que vence é ruim ou é na sorte, mas é óbvio que existem diferenças de nível.

Sebastian Vettel faz parte da era moderna, viveu os benefícios e agora os malefícios da modernidade, imediatismo e redes sociais da qual ele não faz questão de viver (e faz certo). Surgiu como fenômeno e prodígio na BMW Sauber, confirmou na Toro Rosso e na Red Bull. Avassalador. Campeão mais jovem. Tetracampeão mais jovem. Muitas vitórias, dominância à la Schumacher. Tudo se encaminhava para ser um dos dois ou três maiores da história sem discussão.

Até que chegou 2014. Ao ser superado impiedosamente por Daniel Ricciardo, os detratores voltaram a dizer que "Vettel só venceu graças a Newey". Veio 2015 e, tentando repetir o ídolo alemão, foi para a Ferrari. O primeiro ano foi ótimo. Três vitórias e quase vice-campeão com um carro ainda bastante inferiorizado em relação ao Mercedes.

Aí veio 2016 e o que antes era apenas uma questão da juventude virou um defeito gravíssimo de Vettel: a instabilidade emocional, fugindo até do estereótipo do alemão, sempre considerado frio. Na hora decisiva, Vettel simplesmente não pensa mais no todo e tenta dividir as corridas nas questões pontuais.

Além da questão psicológica, agora vem a questão técnica: na Austrália, a Ferrari teve que segurar Leclerc atrás dele. No Bahrein, os italianos tentaram fazer a mesma coisa, mas o monegasco deu de ombros, foi pra cima e sumiu. Em duas corridas, já está 26 a 22.

Se no auge Vettel já era contestado, imagina agora que está na decadente... Isso é normal. Cada piloto tem seu pico. O alemão foi tetra aos 26. O auge foi ali, no máximo até 2015. Hamilton atingiu só agora depois de alguns anos bem erráticos. Schumacher voltou depois de quatro anos, com lesão cerebral, reflexos diferentes e com uma nova F1 e também foi duvidado por alguns, embora discorde, obviamente.

O que eu quero dizer é que Vettel é uma grande vítima da modernidade. Nenhum campeão ou multi foi tão questionado igual ele está sendo, até com uma certa justiça. No entanto, é importante frisar também os grandes feitos do alemão. Um cara com esse pedigree nunca pode ser subestimado, mesmo por baixo.

Por outro lado, mesmo tetracampeão, é perfeitamente possível discutir Vettel com outros campeões, como por exemplo o contemporâneo Alonso. Mesmo com metade dos títulos, pra mim o espanhol foi o melhor. Só não foi mais porque implodiu a própria carreira. Hamilton, no auge, o superou no início e durante o declínio. Aquele Hamilton de 2010, 2011 e 2012 talvez não conseguisse bater o alemão em carros iguais naquela época.

Bom, nenhum grande campeão foi tão questionado quanto Vettel, a grande vítima da modernidade e também por seus erros na pista. Um campeão com o legado um pouco manchado, sem dúvida alguma.

Concordam? Discordam? Comentem!

Até!

segunda-feira, 1 de abril de 2019

CRUELDADE

Foto: Getty Images
A Fórmula 1 é um grande espelho da vida: é injusta e depende na maioria das vezes de status, poder, dinheiro e por último talento e capacidade. No entanto, o imponderável pode ser um grande atrativo, por mais que às vezes seja de forma quase unânime que ontem não era para ser assim.

Charles Leclerc foi o primeiro monegasco da história a fazer uma pole position, o 99° piloto diferente na corrida número 999. Largou mal e foi superado por Vettel e Hamilton. No entanto, manteve-se calmo e em questão de tempo recuperou as posições e estava passeando no deserto. Seria uma vitória maiúscula, com autoridade, mostrando o potencial que tem e sua ascensão não foi precipitada pelo finado Sérgio Marchionne. Mas...

Um problema no sistema de recuperação de energia na parte final da prova fez Leclerc se arrastar e perder potência. Como consequência natural, era para Vettel assumir a liderança e vencer. No entanto, o alemão segue no inferno astral ininterrupto desde 2017. Foi superado na estratégia, ultrapassado por Lewis Hamilton e rodou. Como consequência, a vibração nos pneus, principalmente os dianteiros, fez com que o alemão perdesse o bico em plena reta, precisando voltar para os boxes. Esta é apenas uma palhinha do texto que escreverei mais tarde somente sobre Seb. Voltemos para Leclerc.

Foto: Getty Images
Sem potência e com Vettel mais uma comprometendo, a vitória caiu nas mãos de Lewis Hamilton. Mais uma vez, a Mercedes é dominada e mesmo assim faz dobradinha, graças a erros e problemas da Ferrari. Depois de duas semanas, começa a fazer sentido o fato do motor italiano ter trabalhado em menor rotação na Austrália diante do temor em acontecer problemas iguais ao do monegasco. Alguns até dizem que somente Leclerc correu com potência máxima, enquanto Vettel manteve o "modo Austrália". Difícil saber. O que podemos ver é que é muito preocupante a Ferrari ter um bom conjunto e um motor inconfiável, lembrando a própria Mercedes na época da McLaren na década passada. Se continuar assim, os alemães vão vencer quando tiverem e quando não tiverem também o melhor conjunto, aí o campeonato já estaria morto. Duro golpe para os italianos, que precisam de respostas visando a parte europeia da temporada.

Graças ao estranho Safety Car causado pelo também estranho duplo abandono simultâneo das Renault, com pane elétrica, o destino não foi tão cruel com Leclerc, que conseguiu segurar a terceira posição diante de Max Verstappen diante do fato de que a corrida terminou com o SC, ou talvez tenha sido sim cruel, porque ir para pódio em terceiro (o melhor resultado e primeiro pódio de Leclerc) depois de dominar a corrida é pior do que chegar em quarto. Um baque muito grande evidenciado para as câmeras do mundo inteiro.

Foto: Getty Images
Crueldade também para o holandês, que viu seu pódio iminente ser interrompido pela quebra das Renault. No entanto, para alguns, pode ser karma também: em uma disputa com Sainz, o espanhol teve o bico danificado e a corrida comprometida. A McLaren, aliás, foi o grande destaque positivo da semana. Mais uma vez, Lando Norris fez uma ótima corrida e garantiu os primeiros pontos da equipe no ano. O chassi evoluiu e é possível sonhar com pontuações mais frequentes no decorrer do ano.

Raikkonen parece muito estabelecido e regular na Alfa Romeo, que ainda está atrás da Renault. Aliás, o pelotão do meio é uma briga encarniçada, onde as características de cada carro em cada circuito é que irão fazer a diferença. O abandono das Renault permitiu que Albon pontuasse pela primeira vez na categoria, assim como Gasly pela Red Bull (extremamente e preocupantemente abaixo de Verstappen) e Pérez no ano.

A Williams segue em outro ritmo, com Kubica sendo um saco de pancadas do jovem competente Russell. Como escrevi na sexta, que a volta de Patrick Head possa ser um reencontro com o próprio passado, embora isso vá demorar bastante.

Confira a classificação final do GP do Bahrein:


Até!

sexta-feira, 29 de março de 2019

FERRARI SOBRANDO?

Foto: Getty Images
Os treinos de sexta estão cada vez mais perdendo a relevância. Muitas vezes não dizem nada. Pois bem, hoje a Ferrari sobrou em ambos, colocando meio segundo nas Mercedes, com Leclerc liderando o primeiro e Vettel o segundo.

Todos sabemos que isso não quer dizer que será assim no treino e na corrida. O que pode ser um indicativo é que a noite barenita é fresca, parecida com Barcelona, onde os italianos saíram animados. No entanto, Vettel admitiu que os italianos e a Mercedes trataram de estratégias diferentes nas duas sessões.

Ou seja: por mais indicado que pode parecer, o modo festa da Mercedes pode simplesmente evaporar com todas essas expectativas. No entanto, prefiro manter o risco e afirmar que dessa vez a disputa será mais equilibrada. Nas corridas, nunca é bom descartar a Red Bull de Max Verstappen.

No pelotão do meio, o destaque é Nico Hulkenberg, que até o momento vai superando Daniel Ricciardo, que enfrenta muitas dificuldades neste início de Renault. É difícil se adaptar em um carro pior. A briga no pelotão do meio segue encarniçada.

Destaco a Williams, pra variar. Kubica está levando um segundo de Russell. Sem um braço e sem poder dar uma tocada agressiva para não correr o risco de danificar uma peça que não pode ser substituída, esta é uma situação preocupante. Sinceramente, não sei até quando os dois vão se aguentar, mas isso é assunto para outro post.

Patrick Head está de volta ao time de Grove. Ele, que detém ainda 9% das ações da Williams, vai atuar direto da Inglaterra como consultor técnico. É a última cartada, tal qual uma "SWAT de Grove" para tentar salvar a Williams do iminente fim. Estão mexendo em todas as peças, exceto em uma: em quem comanda...

Confira os tempos dos tempos livres desta sexta-feira:



Até!

GP DO BAHREIN - Programação

Um dos mais recentes GPs da Fórmula 1 (começou a ser construído em 2002) o Grande Prêmio do Bahrein começou ser disputado em 2004. Desde 2014, a corrida é realizada de noite, "imitando" Cingapura.

ESTATÍSTICAS:
Pole Position: Sebastian Vettel - 1:27.958 (Ferrari, 2018)
Melhor volta em corrida: Michael Schumacher - 1:30.252 (Ferrari, 2004)
Último vencedor: Sebastian Vettel (Ferrari)
Maior vencedor: Sebastian Vettel (2012, 2013, 2017 e 2018) - 4x

MAIS UMA AMEAÇA

Foto: Motorsport
Agora é a vez da McLaren falar que, caso a Liberty não consiga fazer mudanças técnicas e econômicas para 2021, vai pular da barca. Nesta semana, os dirigentes vão se reunir no Bahrein para apresentar e debater as propostas finais. Enquanto isso, muitas equipes começam a usar o tom da ameaça.

O chefe da McLaren, Zak Brown, disse que se o regulamento não for financeiramente viável e com igualdade de condições, pode ser o fim da linha da tradicional escuderia na categoria, presente desde 1966, com 8 títulos de construtores e 12 de pilotos.

"Para a McLaren, duas situações são importantes: a F1 se tornar financeiramente viável e a outra é criar uma forma justa e competitiva de disputa. As pessoas confundem com estratégia de negociação, mas isso tem de ser uma equipe de corrida competitiva e fiscalmente responsável. E se entendermos que as novas regras não nos colocam nessa situação, então temos de rever a nossa participação na F1", afirmou o dirigente em entrevista ao jornal inglês 'The Guardian'.

Os donos da F1 acreditam que o novo regulamento pode ser fechado até junho. Mesmo com o pouco tempo de negociações, Brown se disse otimista: " "É uma negociação difícil, mas estou otimista de que a F1 vai tomar as decisões corretas", concluiu.

Mais uma jogada de cena. É verdade que a McLaren não nada mais em rios de dinheiro como outrora, mas sua grande visibilidade está na categoria, mesmo mal das pernas e focando bastante na confecção de carros esportivos. Existe uma grande pressão para que todos tenham atendidos os seus interesses. Isso nunca acontece e sempre a maioria chia. Também sempre nunca acontece nada (frase estranha). Desta vez, no entanto, acredito que a F1 encontra-se em um teto financeiro, onde o custo benefício pode não ser satisfatório já a curto/médio-prazo, inclusive para a manutenção da própria categoria. Veremos.

MICK SCHUMACHER JÁ VAI GUIAR F1 NO BAHREIN, DEPOIS DA F2

Foto: AutoRacing
De acordo com o Motorsport, o filho do heptacampeão vai testar dois carros: o da Ferrari e o da Alfa Romeo, no teste de jovens pilotos. O alemão estará no país para a estreia na F2 e vai ficar por lá depois. Na terça, guia o SF90H, e depois guia a ex-Sauber, parceira técnica dos italianos. O alemão foi anunciado na academia de pilotos da Ferrari no início do ano.

Bem, parece questão de tempo para vermos o filho do homem na F1. O grid da Fórmula 2 está esvaziado e tecnicamente no máximo razoável, sendo bondoso. Apenas o "veterano" Nyck De Vries e o brasileiro Sérgio Sette Câmara podem ser forças que o ameacem. Sendo assim, a junção entre o marketing, a emoção e um grid ruim devem fazer Mick campeão e, como consequência, piloto titular no mínimo da Alfa Romeo, onde quem dançaria seria o italiano Giovinazzi. Palpite mais opinião é isso aí, mas tudo indica que será questão de tempo para vermos Mick na F1. Resta saber se ele é mesmo talentoso ou teve sorte de pegar um grid fraco e ter o sobrenome que tem. Veremos.

Ah, outro que estará no Bahrein na próxima semana é um jovem espanhol guiando pela McLaren chamado Fernando Alonso. É um teste, mas veremos Alonso contra o filho do homem. O tempo é incrível.

CLASSIFICAÇÃO:
1 - Valtteri Bottas (Mercedes) - 26 pontos
2 - Lewis Hamilton (Mercedes) - 18 pontos
3 - Max Verstappen (Red Bull) - 15 pontos
4 - Sebastian Vettel (Ferrari) - 12 pontos
5 - Charles Leclerc (Ferrari) - 10 pontos
6 - Kevin Magnussen (Haas) - 8 pontos
7 - Nico Hulkenberg (Renault) - 6 pontos
8 - Kimi Raikkonen (Alfa Romeo) - 4 pontos
9 - Lance Stroll (Racing Point) - 2 pontos
10- Daniil Kvyat (Toro Rosso) - 1 ponto

CONSTRUTORES:
1 - Mercedes - 44 pontos
2 - Ferrari - 22 pontos
3 - Red Bull Honda - 15 pontos
4 - Haas Ferrari - 8 pontos
5 - Renault - 6 pontos
6 - Alfa Romeo Ferrari - 4 pontos
7 - Racing Point Mercedes - 2 pontos
8 - Toro Rosso Honda - 1 ponto

TRANSMISSÃO



quarta-feira, 27 de março de 2019

VÍDEOS E CURTINHAS #37

Foto: Getty Images
Olá, pessoal! Voltando com mais uma sessão de vídeos e curtinhas depois de algum tempo. Com a variedade de notícias interessantes que encontrei, achei interessante reviver o maior quadro daqui do blog. Vamos lá:

- Jacques Villeneuve disse que o retorno de Kubica para a Fórmula 1 é terrível e não traz a mensagem correta. Segundo o campeão de 1997, o fato do polonês ter uma deficiência no braço dá a entender que a F1 não é tão difícil quanto alguns pensam. Por outro lado, o canadense valorizou a batalha pessoal de Kubica ao retornar para a categoria depois de tanto tempo. Concordo em partes com o canadense. Claro que ali também existe um recalque porque Kubica o substituiu na BMW em 2006, o polonês voltou mais pelo apelo midiático do que pela capacidade atual. No entanto, se realmente não tivesse condições a FIA teria vetado a participação. Além do mais, nunca na F1 foi ocupada pelos 20 melhores pilotos e nem vai ser.

- Miami segue com a novela para sediar uma corrida no ano que vem. Nesta semana, vai ser realizada uma votação pelo conselho da cidade para aprovar ou não o circuito de rua. Um dos vários problemas que estão inviabilizando o acordo é a resistência de moradores próximos da região onde está o traçado. Se tudo der certo, será mais uma corrida na América do Norte, ou até mesmo substituir o GP do México que pode sair do calendário no ano que vem. Sinceramente, ninguém quer essa porcaria, ainda mais sendo pista de rua.

- A Honda projeta sua primeira vitória nesse retorno a F1 a partir da metade da temporada, no verão europeu. Não sei se é uma meta cautelosa ou ousada, mas a verdade é que os japoneses evoluíram demais. Se o motor não ter problemas de confiabilidade e durar bem, pode ser que os taurinos consigam algum salto de performance mais rápido que o imaginado.

- Por falar nos japoneses, o ex-chefe da McLaren Eric Boullier disse em entrevista que desde a primeira reunião, lá em 2015, tinha percebido que a Honda estava despreparada para o desafio na categoria. No entanto, o ainda chefão Ron Dennis demonstrava muita confiança no retorno da parceria vitoriosa dos anos 1980 e 1990 e já havia assinado o contrato. A história vocês acompanharam de perto por aqui. No entanto, o último ano ficou claro que não era só os japoneses que tinham culpa no cartório.

RELEMBRANDO BAHREIN:

Já faz 15 anos que o circuito estreou no calendário da Fórmula 1. Na época, foi o primeiro de muitos do oriente a adentrar na categoria. Naquela temporada, estávamos testemunhando uma das maiores dominâncias do esporte: o mágico F2004, da Ferrari. Schumacher e Rubinho ficaram na primeira vez, seguidos pela dupla da Williams e da BAR Honda, que foi a terceira força daquele ano. O resultado: dobradinha da Ferrari, com Jenson Button em terceiro.


Por falar no britânico, 2009 foi um ano especial e o mais surpreendente dos últimos tempos. Depois de vencer as primeiras etapas, Bahrein viu a Toyota largar na primeira fila, com Trulli e Timo Glock, com Vettel em terceiro, Button em quarto, Hamilton em quinto e Rubinho em sexto. Na corrida, mais uma vitória da Brawn GP, a quarta de Button, que teve Vettel em segundo e Trulli em terceiro, com Hamilton em quarto e Rubinho em quinto.



Foto: Getty Images
Cinco anos atrás não faz muito. Era o início da era híbrida e do domínio do motor Mercedes. Rosberg foi o pole, mas Hamilton conseguiu reagir, segurar o alemão e vencer a corrida. Vale destacar que Pérez foi o terceiro com a Force India, seguido por Ricciardo, Hulkenberg, Vettel, Massa, Bottas e a dupla da Ferrari (Alonso e Raikkonen). Essa foi a corrida 900 da F1 e a de Stefano Domenicali como chefão da equipe, demitido. Este também foi o primeiro GP noturno do país, marcado pelo acidente entre Pastor Maldonado e Esteban Gutiérrez.





Gostaram? Até mais!

terça-feira, 19 de março de 2019

EXCEÇÃO OU REGRA?

Foto: Getty Images
Para a temporada ter alguma emoção, tudo depende de como a Ferrari vem, pois é a principal concorrente da Mercedes nesses anos de era híbrida (tirando 2014, quando simplesmente isso não existiu; vá lá, 2015 e 2016 também).

Pois bem, a pré-temporada em Barcelona trouxe animação e, junto com a evolução das temporadas passadas, parecia que "agora vai": teremos uma disputa. Não foi o que aconteceu. Claro, sempre frisamos: as características das pistas, bem como a temperatura ambiente e o clima influenciam tudo. Foi o caso?

A Ferrari sequer foi para o pódio. Em momento algum flertou com a possibilidade de vitória. Devido a uma estratégia equivocada, Vettel não teve como segurar Max Verstappen, restando a ele o quarto lugar, garantido por Mattia Binotto diante de um faminto estreante Charles Leclerc em busca de mostrar serviço.

Analisando a velocidade de reta, um dado significativo: todos os carros equipados com o motor italiano (incluindo Haas e Alfa Romeo) ficaram entre os mais lentos, bem atrás de Mercedes e até de Honda e Renault. Isso não acarretou em perda aerodinâmica: do contrário, os americanos e os ex-suíços (?) não teriam conquistado bons resultados apesar das estratégias distintas.

Por que a Ferrari esteve com o motor mais lento? Certamente não operou com a potência máxima. Os italianos enfrentaram alguns problemas na pré-temporada, mesmo diante do frio europeu da Catalunha. Na Austrália, em um outro clima, poderia correr riscos de enfrentar problemas. Será que foi isso que Binotto e companhia raciocinaram?

Neste ano, cada piloto tem direito a usar apenas três motores. A partir do quarto, punições. Receosa com a confiabilidade, os italianos se preservaram na abertura da temporada, influenciando no desempenho e na diferença em relação a Mercedes e até a Honda da Red Bull? E as outras, será que também não fizeram isso? A Mercedes "gastou" a potência ou a durabilidade é muito mais confiável? Acredito que seja a segunda opção.

Se, por questão de característica a Ferrari optou pela segurança e vai com "força máxima" no Bahrein, podemos acreditar que a corrida de abertura foi uma exceção à regra. Não que a Ferrari vire favoritaça diante disso, mas o nível de competição certamente será mais elevado. E se com força máxima no deserto o motor apresentar problemas? E se mesmo assim a desvantagem para as flechas de prata se mantiverem do jeito que está? A exceção pode ter virado regra e possivelmente pode sacramentar com a morte da temporada logo no primeiro mês de campeonato.

O mundo da F1 torce para que seja apenas um final de semana ruim. Afinal, como já foi escrito, a emoção da temporada depende do antagonismo cada vez mais forte dos italianos perante aos alemães que, convenhamos, ninguém aguenta mais ver ganhando.

Até!

segunda-feira, 18 de março de 2019

COM AUTORIDADE

Foto: Getty Images
Em um morno GP da Austrália, o que vem sendo normal nos últimos anos (apesar da F1 estar morna também), Valtteri Bottas surpreendeu a todos e fez uma corrida excepcional, sem dúvidas a melhor da carreira. Decidiu logo na largada, quando deixou Hamilton para trás e não foi ameaçado em momento algum, chegando 20 segundos à frente. O inglês até teve um problema no assoalho, mas mesmo assim não seria o suficiente para parar o #77. De quebra, o finlandês anotou a volta mais rápida na penúltima e ganha mais um pontinho na abertura da temporada, em mais uma dobradinha da Mercedes. O pole só venceu uma vez nas últimas nove edições em Melbourne.

Fechando o pódio, Max Verstappen fez a Honda chegar lá depois de onze anos. A última vez havia sido com Rubens Barrichello no GP da Inglaterra. O RB15 mostrou que, como sempre, o ritmo de corrida é forte. O holandês mostrou coragem e talento ao não desperdiçar a oportunidade de ultrapassar Sebastian Vettel, com os pneus desgastados.

Aliás, tanto Hamilton quanto Vettel pararam cedo, fazendo um segundo long run muito longo. Pior para os vermelhos que, com o pneu macio, teve uma grande queda de rendimento. Leclerc, que parou depois, optou pelos médios. Com ritmo superior, poderia ter passado o alemão, se não fosse a ordem de Mattia Binotto para sossegar atrás e chegar em quinto. O lado amargo de ser piloto de Ferrari. No entanto, é importante mostrar serviço e deixar claro publicamente que foi impedido de brigar por forças nem tão ocultas assim.

Foto: EFE

Kevin Magnussen levou a Haas ao sexto posto. Grosjean poderia ter pontuado, mas a maldição dos boxes do ano pasasdo voltou a atacar. Parando mais cedo, Hulkenberg e Raikkonen seguraram o resto. Giovinazzi, que alargou a parada, prejudicou a boa estreia de Lando Norris, que demorou para se livrar do italiano e perdeu a chance de trazer bons pontos para a McLaren, até porque Sainz abandonou logo no início da corrida com problemas no motor Renault, que pareceu inferior e mais problemático que os da Honda até aqui.

Fechando o top 10, quem diria. Lance Stroll também se aproveitou do fato de Pérez ter parado cedo e garantiu os primeiros pontos da Racing Point. Kvyat se redimiu dos últimos anos e conseguiu segurar um decepcionante Pierre Gasly e garantir um pontinho para a Toro Rosso.

Robert Kubica finalmente reestreou na Fórmula 1 depois de oito anos do grave acidente de rali que sofreu. Todavia, sofreu um toque na largada e ficou muito distante de todo mundo, chegando a levar volta (ou quase isso) até do companheiro de equipe George Russell. Tudo bem que as lesões, limitações e o bom tempo inativo em um carro de F1 certamente o fariam ser mais lento que o jovem talentoso inglês, mas o que eu vi me deixou assustado, digno de lembrar Luca Badoer na Ferrari, dez anos atrás. Se a Williams está em outra rotação, uma Hispania com grife, Kubica parece estar em outra rotação em relação a própria equipe. Me pergunto se o polonês vai terminar a temporada por lá. Melhor esperar outras corridas.

Ricciardo teve a estreia na Renault prejudicada por ter ido na vala na largada e danificar o assoalho, abandonando. A Renault parece nunca estar pronta para o próximo passo. Ao menos serve de consolação o ótimo salário que o australiano irá receber nos próximos dois anos.

Bottas fez uma atuação assombrosa. A questão é saber se será esse piloto combativo e veloz de forma regular. A Ferrari, uma preocupante interrogação: como vai ser nas próximas etapas? Ninguém esperava, e talvez nós acreditamos demais na pré-temporada, mas a pulga atrás da orelha está ali: qual a verdadeira vantagem da Mercedes? Depende de cada característica de pista? Vale lembrar que Melbourne é completamente diferente de Barcelona. Perguntas inquietantes já na primeira corrida do ano.

Confira a classificação final do GP da Austrália:


Até!