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quinta-feira, 3 de outubro de 2024

PIOR DO QUE EU IMAGINAVA

 

Foto: AFP

Quando foi oficializado o retorno da Renault como escuderia na F1, lá no distante 2015, eu fiz uma brincadeira entre parênteses (relembre aqui): até quando?  O histórico dos franceses sempre jogou contra. Por três vezes, eles tinham saído da categoria como escuderia, mas permaneceram fornecendo motores.

A escuderia mudou de nome já em 2021 para priorizar a marca de carros esportivos da fábrica, a Alpine. Pois bem, em uma década, o meu comentário teve uma resposta: mais uma vez, a Renault está de saída da F1.

O surpreendente e impactante agora não é o fato da escuderia ter saído de cena, como foi nos anos 1980 ou nos anos 2010. Agora, a decisão abrange também o fato de que os franceses não permanecem sequer como fornecedor de motor para a nova F1, em 2026. Ano que vem será a despedida, interrompendo uma tradição ininterrupta desde 1979, mesmo com os nomes batizados de TAG Heuer ou Mecachrome, por exemplo.

A Renault nunca empolgou, a bem da verdade é essa. Escrevi diversas vezes na trajetória do blog o quão lenta era a evolução da equipe, que patinava no meio do grid sem grandes perspectivas. Mudaram diretores, pilotos e até o presidente do grupo, pois o brasileiro Carlos Ghosn foi preso.

Da dupla experiente com Hulkenberg e Ricciardo, o retorno de Alonso e a aposta em Ocon e Gasly, a verdade é que os franceses não se encontraram em nenhum momento, salvo raras exceções como a vitória na Hungria em 2021, quando Alonso se sacrificou para Ocon brilhar.

A mudança no nome já era um indicativo da impaciência e da instabilidade costumeira da empresa na categoria com o passar das décadas, sob a desculpa de fortalecer a marca. Nos últimos anos, a bagunça interna ficou ainda maior, escancarando a falta de competência em colocar uma equipe de fábrica como protagonista. Veja bem: até a McLaren, que em 2016 estava em uma situação lastimável, conseguiu dar a volta por cima e agora é a favorita para voltar a vencer o Mundial de Construtores.

Enquanto isso, a pá de cal dos franceses foi o golpe duplo: a saída de Alonso e a preferência de Piastri pela McLaren, lembram? (aqui!) Na época, estava em dúvidas sobre a decisão do australiano e o tempo mostrou como ele e Webber tomaram a decisão mais correta da carreira de Oscar.

Bem, aí a Renault perdeu o rumo de vez. Com Gasly chegando para ser o velho novo rival de Ocon, vimos mais um naufrágio francês em meio a demissões de profissionais, rearranjos no organograma e a falta de rumo.

Uma vitória em dez anos e correr de sobreaviso. A enésima despedida da Renault é tão melancólica quanto a década de retorno, que prometeu muito e entregou abaixo do mínimo.

O futuro? O nome de fábrica vai seguir, provavelmente com o motor Mercedes. Com Gasly e Doohan de titulares, o futuro não é muito promissor, salvo algum milagre no regulamento de 2026.

Será que Flavio Briatore transforma a Alpine na nova Benetton? Existe algum Schumacher ou Alonso dessa vez?

No fim das contas, o retorno da Renault foi pior do que eu imaginava. Aguardemos como será o enésimo egresso, quando os franceses vão disputar com os japoneses da Honda quem é que mais pula e volta para a barca chamada Fórmula 1.

Até!


segunda-feira, 9 de setembro de 2024

A NOVA "NOVA GERAÇÃO" E O ÓBVIO

 

Foto: Getty Images

Quanta coisa mudou desde então, né? Apesar de todo o esforço da Red Bull em perder o campeonato em uma queda vertiginosa à la Williams 1997 (coincidentemente quando também um certo Adrian Newey deixou o time), a McLaren está mais preocupada com os construtores do que tentar impedir o tetra de Max. Os motivos? Vou desenvolver em outro texto, mas talvez a equipe sinta que Lando Norris não vai ser o cara.

Bom, desde então, muitas mudanças para os assentos da F1. Ocon, chutado da Alpine, vai ser o líder da Haas. Com poucas opções, é melhor escolher certos lugares do ficar a pé, ainda mais que o francês não é mais garoto e a fama de péssimo companheiro de equipe já pesa para algumas avaliações. Na Haas, é agora ou nunca para tentar ter uma relevância que nunca conseguiu ter, de fato, na categoria.

Seu parceiro será Oliver Bearman. Não é novidade, por dois motivos: é da academia da Ferrari, já tinha corrido pela equipe na Arábia Saudita e feito outros testes com a própria equipe. Ok, foram três. Os americanos mudam o perfil: saem dois experientes, entram um jovem experiente e um novato. O inglês é o legítimo caso de estar no lugar certo e na hora certa. A oportunidade passou e ele agarrou. O que esperar? Paciência para 2026.

Passamos para os próximos passos, muito mais surpreendentes. Primeiro, começamos por Franco Colapinto. Muito remotamente, acompanhei ele na F3 e sempre foi dito que era um piloto talentoso, rivalizando com outros expoentes que já subiram.

Além do fato de ser o primeiro argentino na categoria desde Gastón Mazzacane em 2001 (quem não lembra da histórica ultrapassagem no Hakkinen em Indianápolis 2000?), o mais interessante foi a escolha do time agora capitaneado por James Vowles, ex-Mercedes.

Por ainda usar os motores Mercedes, uma gestão mais antiga teria perfeitamente optado por antecipar a estreia de Kimi Antonelli no time no lugar do Sargeant, até pela estreita relação de Vowles com Toto Wolff, ex-acionista de Grove. No entanto, a Williams escolheu por alguém da própria academia de pilotos, a exemplo do que fez com o americano.

É uma grande oportunidade para Colapinto. Mesmo com prazo de validade e esquentando o robusto banco de Carlos Sainz, nunca se sabe o dia de amanhã. O próprio espanhol está lá por falta de opção, assim como Albon. Vai que de 2026 em diante o mercado mude... o argentino, se fizer o básico, que é não bater igual Sargeant, fica bem posicionado para continuar sendo reserva. Além do mais, pode continuar impressionando na F2. Um movimento surpreendente, interessante e ambicioso da Williams, que tenta voltar aos áureos tempos.

Por fim, a Alpine. Depois de perder Piastri e Alonso, a equipe entrou numa espiral negativa. 2024 é um desastre, que culminou na relação Gasly e Ocon, que já era horrível na base. Nem o fato de serem compatriotas numa equipe francesa poderia diminuir esse impacto. Pelo contrário. Tudo ficou pior, começando pela equipe de Enstone ser uma bagunça administrativa. Tanto é que optaram pelo retorno dele, Flavio Briatore. Até pensei em escrever algo sobre como poderia ser positivo a volta de um personagem emblemático, talvez o último que represente a F1 antes de ser subjugada pelas montadoras, mas também mostra que, na Europa, não é só na Itália que tudo termina em pizza.

Jack Doohan. O quanto o sobrenome do pai, pentacampeão da Moto GP, pode ter pesado nisso? Bom, além disso, os franceses optaram por alguém da academia de pilotos. Piastri não podia, mas Doohan, de resultados não tão chamativos na base, esse ano está apenas como reserva do time, sem ritmo e inexperiente para a categoria.

Qual é o dedo de Briatore nessa escolha? Tudo fica muito estranho, principalmente se considerar que Doohan disputou a vaga contra Mick Schumacher e tudo isso só aconteceu porque Sainz preferiu ir para a Williams do que voltar para a ex-Renault. Tempo de contrato e projetos foram os motivos, provavelmente.

A verdade é que a Alpine é um barco a deriva que nunca navegou na direção certa. A volta de Briatore é uma tentativa desesperada de correção de rumos. No entanto, qual a verdadeira jogada por trás disso? Usar Doohan igual Grosjean e Nelsinho na década passada? Não tem um Alonso ou um líder dessa vez, Gasly passa longe desse perfil. Não me parece também que Doohan seja um Kovalainen, alguém que sobreviva na F1 sem o apoio da Alpine/Renault.

Na Mercedes, a escolha foi por Kimi Antonelli. Wolff nunca considerou outro nome. Se olharmos agora que o anúncio foi feito, tudo faz sentido. Acelerar o italiano direto para F2 era uma prova de como os alemães enxergam esse prodígio. É um passo grande, mas somente os grandes já fizeram isso. Lembremos de Kimi Raikkonen, Max Verstappen e até mesmo Valtteri Bottas pulou etapas para chegar na categoria.

Apesar de altos e baixos na F2, o que é normal, Antonelli está em crescente. A real é que o desempenho na base importa pouco se você é visto como um fenômeno, como parece ser o italiano. Escrevi aqui que ele é o novo Verstappen, ou ao menos ninguém teve tanto impacto na base desde a ascensão do holandês.

Tantos fenômenos da base não viraram nada, como por exemplo Wehrlein. Sainz nunca foi um primor e chegou na F1 com o sobrenome e o apoio da Red Bull. Virou até piloto da Ferrari. Junto com Russell, é uma dupla jovem e apostas de talento para o período pós-Hamilton. Um perfil distinto do que levou os alemães para o tempo. Os dois vão precisar de tempo, mas se Antonelli confirmar o que promete, teremos um novo talento geracional para brigar e quem sabe destronar Max Verstappen.

Os casos apresentados aqui concluem o óbvio. A era que eu tanto temia chegou com tudo na F1. Para os novatos, a porta de entrada é uma só: academia de pilotos. Isso vale mais do que títulos ou desempenho na base. Claro, se você tiver muito dinheiro nem isso é necessário, como vemos no caso de Stroll.

Com apenas uma vaga restando para 2025, na Sauber/Audi, resta saber qual vai ser o critério da escolha dos alemães/suíços: com Hulkenberg, a cota experiente está preenchida. A outra metade será jovem de academia, jovem endinheirado ou um mix?

Gabriel Bortoleto, com a McLaren e agenciado por um certo Fernando Alonso, pode ser uma mistura de talento, academia e bom trânsito no paddock de seus resultados, personalidade e, claro, seus representantes.

Até!


terça-feira, 27 de setembro de 2022

AJUSTES

 

Foto: RaceFans

Com essa mini férias de três semanas, a F1 aproveitou para descansar e resolver alguns imbróglios para o ano que vem.

Um deles foi a oficialização do calendário de 2023, com 24 corridas e as novidades esperadas: Catar e Las Vegas, além da ausência da França e Paul Ricard. Melhor do que isso: as renovações de Mônaco (até 2025) e mais um ano com Spa Francorchamps, ao menos.

O problema é que são corridas demais. Claro que a LIberty e a FIA estão preocupados com a grana, principalmente pós-pandemia e o contexto de crise mundial que vivemos. No entanto, a logística é quase desumana. Não estou falando dos pilotos, mas sim dos mecânicos e funcionários da reta-guarda das equipes, que ganham muito pouco, trabalham muito e não tem muito tempo para descansar e/ou curtir a família. Deveriam olhar para essas pessoas com um pouco mais de carinho e atenção.

Sem contar a logística. Uma volta ao mundo. Ir e voltar a um continente. Por exemplo: a F1 sai da América do Norte para correr em Interlagos e depois volta para Las Vegas. Por que não fazer Austin-México-Las Vegas de uma vez? Ah, a corrida de Las Vegas, diferentemente do tradicional, vai ter a largada no sábado à noite, madrugada de domingo por aqui.

Partindo para o mercado de pilotos, o óbvio veio: Latifi não permanece na Williams para 2023. O desempenho constrangedor ficou escancarado quando De Vries estreou do jeito que foi. Isso é sinal que as finanças do time de Grove estão sólidas o suficiente para a equipe optar por dois pilotos de qualidade.

Embora o favorito seja o holandês, ainda mais depois de impressionar no desempenho, a Williams não confirma nada. Quem poderiam ser os outros concorrentes? Vandoorne também é da Mercedes e também é campeão da Fórmula E. Logan Sargeant é da academia do time e há o lobby de ter um piloto estadunidense, principalmente, depois da negativa da FIA para Colton Herta. No entanto, é um cenário improvável. Agora, é aguardar pela decisão dos britânicos.

Sem Colton Horta, a Red Bull optou pelo “não tem tu, vai tu mesmo.” Yuki Tsunoda renovou o contrato. O motivo é simples: o jovem japonês também e vítima das circunstâncias do carro da Alpha Tauri, apesar da fase não ser boa. Além disso, não há um talento nas academias de piloto prontos para subir: Hauger, Daruvala e Liam Lawson não impressionaram e precisam de tempo.

Com isso, Tsunoda ganha uma oportunidade rara e de ouro, num ambiente que não é conhecido por ter muita paciência com os empregados. Sem Herta, por efeito dominó, é improvável que haja uma liberação de Gasly para Alpine. O cenário francês é um grande mistério: sem Pierre, qual será o escolhido? Qual o critério? Colocarão o inexperiente e que não impressionou tanto na F2 igual o Doohan direto na equipe de fábrica?

A Alfa Romeo, momentos antes da publicação desse texto, confirmou a manutenção de Guanyu Zhou para o ano que vem. É justo. O chinês é talentoso e está se adaptando, assim como Tsunoda. É a primeira temporada. Não há muito o que fazer, ainda mais num carro que não se esperava muita coisa. É difícil ter boa vontade com os asiáticos e nós sabemos o motivo, mas sempre vou insistir e reiterar: Zhou não é somente um pagante que está ali porque é chinês.

A Alpine é a grande incógnita do momento. Todavia, essas dúvidas, assim como o bicampeonato de Max Verstappen, serão resolvidas em questão de tempo. Sejamos pacientes para espantar o tédio para longe.

Até!