quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

PELA PORTA DA FRENTE

Foto: Motorsport Images

Robert Kubica tinha uma vitória na carreira, vários pódios e grandes desempenhos na BMW Sauber quando foi contratado pela Renault para ser o grande líder da equipe nos anos 2010. Um bom ano de 2010 poderia ser um presságio para que ele e os franceses continuassem avançando. Kubica também era bola da vez para pegar a vaga de Felipe Massa na Ferrari. Até hoje existem histórias de que já haviam negociações em andamento.

Até que um acidente de rali em fevereiro de 2011 quase colocou tudo a perder. Kubica ficou entre a vida e a morte. O movimento do braço poderia estar comprometido. As seqüelas poderiam ser graves.
Uma carreira em sucessão interrompida. Com uma lenta recuperação, restava ao polonês se aventurar no rali que tanto gostava. Era notícia quando capotava com frequência, algo até normal na dinâmica do esporte.

Com o passar do tempo, o nome de Kubica tinha um misto de alegria e lamentação, de alguém poderia ter sido mais do que foi se não fosse o acidente. Sem contar a pancada assustadora no Canadá que resultou “apenas” em um tornozelo quebrado.

Nos últimos anos, começaram a surgir movimentos de que o polonês gostaria de se testar na F1 de volta. Carros mais pesados e difíceis, além das lesões e limitações que tinha, deixavam tudo uma grande dúvida.

Kubica não se deu por vencido. A Renault, antiga equipe, abriu as portas mas viu que o polonês não seria competitivo o suficiente para pilotar. Com o passar do tempo, o que era grande expectativa virou dúvida: por que Kubica não foi aproveitado pelos franceses e até preterido por Sirotkin na Williams? Restou ser piloto de testes.

Naquele momento, o desempenho esportivo passou a ser segundo plano. O que valia era a história, a redenção, o retorno de um esportista que, mesmo diante de algumas limitações, mostrava que era possível estar lá. Tudo bem que ele comprou a vaga, mas Kubica na Williams nesse ano foi um sopro. Uma história pessoal que envolve a todos, como se fosse um filme de superação, em um mundo tomado por adolescentes endinheirados.

É claro que somente o nome Kubica estava no cockpit. Aquele piloto não existe mais. Com limitações, foi obliterado por George Russell. Perdeu todos os treinos, mas não dá pra fazer pouco caso. Russell derrotou Albon e Norris na F2, não é qualquer galinha morta e, mesmo assim, na hora decisiva, valeu a estrela e até sorte do polonês para ser o responsável pelo único ponto da equipe no ano, graças a desclassificação da Alfa Romeo na Alemanha.

No fundo, o retorno de Kubica teve como desempenho técnico talvez uma reação abaixo até das expectativas iniciais, que não eram altas. É um piloto de outra categoria em um carro de outra categoria. Não há demérito e ninguém se importa. O mais importante foi que Robert Kubica mostrou ser possível nunca desistir e dar a volta por cima. Ou alguém acha que o saudável Latifi é capaz de fazer muita coisa diferente?

Num esporte cada vez mais negócio e menos humano, o polonês subverteu a lógica. Entra e sai pela porta da frente, sendo reconhecido por todos. No fundo, isso é o que mais importa e, para quem gosta de vasculhar os livros de história, poderão ver que em 2019 Kubica fez um ponto e Russell nenhum.

Logo, o polonês foi melhor que o britânico na temporada. Ou não. De novo: quem se importa?

Que Kubica siga feliz e alcance os outros objetivos pessoais e profissionais que lhe resta.

Até!

terça-feira, 3 de dezembro de 2019

O BONDE PASSOU

Foto: Divulgação/Renault
Na vida, existem janelas de oportunidades muito curtas para nós aproveitarmos. Do contrário, fica a eterna sensação do "e se". Uma escolha e um alinhamento das estrelas pode determinar muitas coisas. Estar no lugar certo e na hora certa. No lado contrário, está a maioria que não teve ou não aproveitou essa pequena janela de oportunidades que mudam uma vida.

Nico Hulkenberg ficou dez temporadas quase ininterruptas na F1 (de 2009 até agora; ausente apenas em 2011). Isso não é um fracasso. Pelo contrário. Passou por duas equipes de grife (Williams e Renault), uma tradicional (Sauber) e uma que estava em ascensão e hoje pode-se considerar relativamente tradicional (Force India, atual Racing Point).

Tirando a Renault, em todas as outras Nico teve um desempenho acima da média, "andando além do carro", sendo aquele piloto que todos cravavam que "com um carro melhor, mostraria todo o potencial". O prenúncio disso foi a pole inesperada com a Williams logo na primeira temporada, há quase dez anos.

O jovem Nico. Foto: Getty Images
Mas parecia que desde os primórdios o destino avisava que iria pregar peças no jovem, pois ele não tinha contrato para a próxima temporada. E assim ficou, como piloto de testes da Force India. Que azar. Pois bem, de volta em 2012, outra vez no Brasil a sorte parecia sorrir para Nico. Uma segunda chance.

Decisão de campeonato, tensão no ar, tempo maluco. Uma combinação de fatores que fez Nico liderar com 40 segundos de vantagem em relação ao resto, até que um Safety Car embolou todo mundo. Tudo bem, ao menos ele está em primeiro. A pista seca e Nico roda. Cai para segundo. Sem problema, a Force India está bem na prova, mais veloz. É só passar Hamilton e retomar o controle. No S do Senna, o carro escorrega, o retardatário atrapalha e Hulk bate. Punido com um drive through, chega em quinto. É a sorte e o azar juntos, onde o segundo parece ser mais forte. Justo na hora H, Hulk exita, de novo.

Foto: Getty Images
Foi a grande chance da consagração, mas tudo bem. Hulk é um bom piloto, regular, sempre marca pontos e é o "melhor do resto". O pódio ou algo assim vai acontecer. Na Sauber, em 2013, viveu o melhor momento da carreira. A briga com Alonso e etc na Coreia é o ponto alto de sua trajetória na F1. Ali, muita gente quase que implorava um carro melhor para Nico. Mas o destino...

Hulk deve ter sido a grande vítima da entresafra e da contínua insistência da Ferrari em Massa e Raikkonen. Hulk sempre foi o ficha um para ser o próximo da lista, mas a chance nunca chegava. Com o passar do tempo, a regularidade continuava ali, mas sempre que o imponderável acontecia, não era Nico quem se destacava. Esse cara foi Sérgio Pérez.

O destino sempre foi e vem. Se na F1 não dava, a WEC veio e o salvou. Título nas 24 horas de Le Mans. A sorte sorriu, como bem escrevi em 2015. Poderia ser um indício dos dados virando para seu favor.

Mas, como sempre, o destino... a regularidade já não era mais a mesma. Pérez além de ser mais rápido, ainda aproveitava as chances de pódio. Nesse eterno vai e vem, a ida para a Renault foi até surpreendente. Hulkenberg, experiente e bom piloto, sendo líder de uma equipe de fábrica que buscava a reestruturação? Era bastante, talvez até demais. E foi a sua última chance, como "profetizada" aqui em 2016.

A toada seguia a mesma. Hulk despachou Palmer e Sainz. O carro não ajudava, mas a velha sina seguia. Nas raras chances de pódio, como em Baku ano passado e na Alemanha esse ano, Hulk errou e fraquejou, tal qual em Interlagos 2012. Foi definitivo. A chegada de Ricciardo para ser o líder dos franceses também foi um sinal. O tempo passa. Em uma F1 cada vez mais jovem, precoce e dependente das montadoras e magnatas obscuros, Hulk era um dos poucos que não trazia patrocínio, apenas talento. A falta de estrela, a idade e o desgaste fizeram perder o lugar para Esteban Ocon, que retorna.

A batida na Alemanha: o fim de Hulk na F1. Foto: Getty Images
Como Eminem disse em 'Sing For The Moment':

"É por isso que aproveitamos o momento, tentamos congelá-lo e possuí-lo; Apertar e segurar, porque consideramos esses minutos dourados".

A pole em Interlagos foi esse momento dourado, congelado na eternidade. No entanto, Nico não conseguiu aproveitar os outros momentos que lhe surgiram na F1.

O bonde passou e Hulkenberg não conseguiu entrar por inúmeros fatores, dele próprio e externos do destino, dos negócios e da política da F1. Com a idade chegando e o grid sem mais carros, talvez seja improvável que retorne. O que lhe resta? WEC, para ser campeão ou mais títulos de Le Mans? Fórmula E? Indy? Como todos sabemos, ser piloto é muito mais que ganhar e bater recordes na Fórmula 1, mas Hulk poderia ter sido mais do que foi. Ficaremos sempre com aquele "e se ele vencesse em Interlagos?" ou algo do tipo.

Talvez não fizesse tanta diferença, mas seria um sentimento muito melhor e eterno do que ver pilotos inferiores a ele como Sainz, Stroll, Magnussen, Gasly e Grosjean com pódios e ele não. É a vida. É o bonde.

Até.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

PROTOCOLAR

Foto: Getty Images
Abu Dhabi, juntamente com Paul Ricard e outras, são pistas extremamente descartáveis. Não deveriam estar no calendário. Quando que teve corrida boa por lá? No máximo, com boa vontade, as tensões das disputas de título de 2010, 2012 e 2016. De resto, é uma porcaria. Como foi o post da semana, é um clima de férias e fim de festa total, desinteresse e corridas chatíssimas, sem emoção alguma.

Hoje, Hamilton liderou do início ao fim e venceu fácil, com o sexto Grand Chelem da carreira. Verstappen e Leclerc tiveram um enfrentamento interessante. O monegasco passou Max na largada, mas depois, na estratégia, o holandês parou depois e com o pneu menos desgastado retomou a segunda posição.

O destaque foi Bottas, largando em último em virtude da troca da unidade de potência e que quase conseguiu passar Leclerc. Vettel e Albon vieram depois. Pérez fez mais uma grande corrida e foi o sétimo, seguido por Norris, Kvyat (outra boa recuperação) e Carlos Sainz, definitivamente o "melhor do resto".

Hulkenberg se despediu da F1 e essa prova foi a síntese da carreira. Vinha bem, numa estratégia interessante, parando depois de todo mundo para no final tentar engolir todo mundo. Acabou colocando o pneu médio e perdeu ritmo. Passou a ser atacado e na última volta saiu da zona de pontuação. Uma despedida realmente melancólica e triste, o que de fato virou a carreira do alemão nos últimos anos.

Kubica também foi outro que se despediu com algum lampejo, disputando posição com Giovinazzi. Motivos diferentes, sentimentos semelhantes. Serão os personagens dos textos dessa semana no blog.

Ademais, a temporada 2019 encerra-se com boas corridas, algumas esquecíveis e o desejo desesperado por alguém que consiga enfrentar Hamilton. A Ferrari é errante e uma Red Bull sozinha não faz verão. No entanto, é difícil imaginar isso em um período onde todas já estão pensando em 2021. Talvez 2020 seja um spin-off de agora. Melhor para Hamilton, agora só sete vitórias atrás de Michael Schumacher na história.

Confira a classificação final do GP de Abu Dhabi:


Até!

sexta-feira, 29 de novembro de 2019

GP DE ABU DHABI - PROGRAMAÇÃO

O Grande Prêmio de Abu Dhabi acontece sobre o crepúsculo. Inicia-se de dia e encerra-se à noite. Mistura um traçado de rua com retas longas e curvas "em cotovelo", típicas do arquiteto da F1, Hermann Tilke. Foi disputado pela primeira vez em 2009 e vencido por Sebastian Vettel.

Foto: Wikipédia
ESTATÍSTICAS:
Melhor volta em corrida: Sebastian Vettel - 1:40.279 (Red Bull, 2009)
Pole Position: Valtteri Bottas - 1:34.794 (Mercedes, 2018)
Último vencedor: Lewis Hamilton (Mercedes)
Maior vencedor: Lewis Hamilton (2011, 2014, 2016 e 2018) - 4x

CLASSIFICAÇÃO:
1 - Lewis Hamilton (Mercedes) - 387 pontos
2 - Valtteri Bottas (Mercedes) - 314 pontos
3 - Max Verstappen (Red Bull) - 260 pontos
4 - Charles Leclerc (Ferrari) - 249 pontos
5 - Sebastian Vettel (Ferrari) - 230 pontos
6 - Pierre Gasly (Toro Rosso) - 95 pontos
7 - Carlos Sainz Jr (McLaren) - 95 pontos
8 - Alexander Albon (Red Bull) - 84 pontos
9 - Daniel Ricciardo (Renault) - 54 pontos
10- Sérgio Pérez (Racing Point) - 46 pontos
11- Lando Norris (McLaren) - 45 pontos
12- Kimi Raikkonen (Alfa Romeo) - 43 pontos
13- Nico Hulkenberg (Renault) - 37 pontos
14- Daniil KVyat (Toro Rosso) - 35 pontos
15- Lance Stroll (Racing Point) - 21 pontos
16- Kevin Magnussen (Haas) - 20 pontos
17- Antonio Giovinazzi (Alfa Romeo) - 14 pontos
18- Romain Grosjean (Haas) - 8 pontos
19- Robert Kubica (Williams) - 1 ponto

CONSTRUTORES:
1 - Mercedes - 701 pontos
2 - Ferrari - 479 pontos
3 - Red Bull Honda - 391 pontos
4 - McLaren Renault - 140 pontos
5 - Renault - 91 pontos
6 - Toro Rosso Honda - 83 pontos
7 - Racing Point Mercedes - 67 pontos
8 - Alfa Romeo Ferrari - 57 pontos
9 - Haas Ferrari - 28 pontos
10- Williams Mercedes - 1 ponto

TRANSMISSÃO:

Sexta-feira:

Treino Livre 1 - 6h (SporTV 2)
Treino Livre 2 - 10h (SporTV 2)

Sábado:

Treino Livre 3 - 7h (SporTV 2)
Classificação - 10h (SporTV 2)

Domingo:

Corrida - 10h10 (Rede Globo)

quarta-feira, 27 de novembro de 2019

RITMO DE FÉRIAS

Foto: F1
Quando este post for publicado, estarei no Rio de Janeiro curtindo uma semana de folga. Portanto, não terá o post dos treinos livres de sexta, mas isso não significa que o blog tirou férias. Ele, tal qual a F1, já está no ritmo de férias, o que é bem diferente.

Como Abu Dhabi completa nesta temporada dez anos no calendário, já é tempo suficiente para ter sido realizada algumas corridas. Como sempre ficou no final do calendário, em muitas oportunidades a corrida era somente um ato protocolar antes do final de férias, portanto o intuito do tópico é justamente relembrar essas corridas inesquecíveis de caráter amistoso:

Foto: BBC

A primeira corrida por lá foi logo após Jenson Button ser campeão mundial com a Brawn. Havia todo o caráter de novidade em uma prova que começava de tarde e terminava de noite. Hamilton era o grande favorito para dominar a prova mas sua McLaren quebrou e permitiu a dobradinha da Red Bull com Vettel e Webber, com Button e Rubinho fechando a despedida da Brawn GP. Também foi a despedida da Toyota e da BMW da F1.

Foto: Motor Authority

Com Vettel barbarizando e conquistando o bi, um pneu furado na largada fez com que Hamilton vencesse a corrida que deveria ter ganho em 2009. De significativo, foi a última corrida da carreira do Rubinho, que terminou em 12° com a Williams.

Foto: F1
A nona vitória seguida de Vettel veio fácil, apesar de ter largado em segundo. Foi a última prova e pódio de Mark Webber, a despedida de Felipe Massa da Ferrari e de Kimi Raikkonen na Lotus.

Foto: Motorsport
No auge da Mercedes, Rosberg só passou a vencer depois de Hamilton ter confirmado o tricampeonato. Não tem mais o que tirar, gente.

Foto: F1
Com o tetra garantido, Hamilton chegou em segundo, atrás do parceiro Bottas. Foi a despedida definitiva de Felipe Massa da F1, assim como de Pascal Wehrlein.

Foto: Reprodução/F1
Parece ontem, mas já vai fazer um ano que Alonso se despediu da F1, juntamente com Ericsson, Vandoorne, Sirotkin e Hartley. Hamilton venceu mais uma.

Como vocês podem perceber, essa pista só tem o mínimo atrativo quando há alguma disputa de título, o que aconteceu somente em quatro oportunidades. Mesmo assim, como o traçado é horrível e nada acontece, é difícil de se ter emoção, exceto quando Alonso ficou preso atrás de Petrov e Hamilton segurou o ritmo para todo mundo tentar passar Rosberg, sem sucesso.

Abu Dhabi não pode finalizar uma temporada. Só está lá pelo dinheiro. Pode ser bonito, ter uma estrutura espetacular no entorno e shows pirotécnicos, mas de corrida, corrida mesmo, talvez só em 2012 tenha sido decente (a famosa "leave me alone" do Raikkonen). Bem, é o que temos para hoje. Retorno em breve com a programação normal, definitivamente de férias.

Até!

terça-feira, 19 de novembro de 2019

EU SOU VOCÊ AMANHÃ

Foto: Alliance/DPPI
Durante os anos 1980, uma campanha publicitária de Jacques Lewkowicz fez muito sucesso: para vender uma vodka, foi criado o "efeito Orloff", nome do produto: uma pessoa convencia a outra para beber o produto e, no fim, dizia "porque eu sou você... amanhã". Se bebesse a Orloff, o sujeito não ficaria triste, deprimido e arrependido no outro dia. Na cultura popular, essas expressões começaram a ser usadas quando ações se repetiam com o passar do tempo.


Talvez Vettel não beba vodka, mas certamente está passando pelo efeito Orloff. Em 2010, enquanto brigava pelo título mundial sendo uma jovem promessa, ele teve que lidar com um relacionamento conflituoso com o experiente e menos talentoso Mark Webber, que o acusava de ser protegido de Christian Horner, Helmut Marko e companhia.

Na corrida da Turquia, enquanto disputavam a primeira posição, Vettel acabou se chocando com o australiano e os dois bateram em plena reta. O alemão abandonou e Webber conseguiu salvar um terceiro lugar. Era a materialização do clima bélico que vivia a jovem Red Bull, até então inexperiente como protagonista andando na frente. No fim das contas, tudo deu certo e o jovem talentoso se sobrepôs ao experiente cinco anos seguidos, com quatro títulos mundiais.


Em 2014, sendo o tetracampeão experiente, foi batido com facilidade pelo jovem Daniel Ricciardo sem criar problemas. O fim de ciclo estava evidente e rumou para a Ferrari, onde só enfrentou Kimi Raikkonen e, mesmo assim, teve um acidente parecido na largada de Cingapura em 2017:


Agora com Leclerc, o acidente no Brasil é igual ao da Turquia. Vettel passa, tenta atravessar um pouquinho o carro na marra, Leclerc não cede e os dois colidem. Pior para os italianos. Nesta temporada, são sete poles para o novato monegasco e apenas uma para Vettel. Duas vitórias a uma, sendo que poderiam ser quatro a dois. Vettel foi superado pelo jovem Leclerc, que não o "respeita".

Em algumas teorias nos últimos meses, me parece que o principal objetivo de Vettel e não perder para o companheiro de equipe. Na largada, foi passado facilmente por Hamilton e não esboçou reação. Ao ser passado por Leclerc, tentou reagir rapidamente. Duas tônicas da carreira de Seb. Ele sabe que está perdendo prestígio e mesmo com a aura de campeão que tem isso não vai ser o suficiente para as próximas temporadas. O tempo não está a favor dele, e sim da nova estrela, "o Vettel do passado", Leclerc.

Foto: Reprodução/FOM
Eu sou você amanhã. Vettel virou o Webber do passado e Leclerc o Vettel de antes? Mais ou menos e sim. Um cara com o currículo dele jamais será um segundo piloto e a qualidade dos dois jamais podem ser comparadas. Leclerc tem potencial para ser um grande piloto e já está provando rapidamente, assim como Seb conseguiu.

Sobre o incidente, não estou aqui para apontar culpados, até porque os dois têm responsabilidades. Leclerc não deu espaço, algo corriqueiro depois do passão de Max na Áustria, e Vettel tentou ganhar esse espaço na força, resultando nisso. Mattia Binotto não tem pulso para comandar esses dois, principalmente agora que Leclerc vai ficar, com o tempo, maior do que já é.

Como Vettel pode solucionar isso? Bebendo Orloff para não virar o Webber da vez? Me parece que não está fazendo isso... enfim, não vai ser o último embate entre esses dois. 2020 promete. Como a Ferrari vai lidar com essa hierarquia questionada? Vodca demais dá dor de cabeça!

Até!

segunda-feira, 18 de novembro de 2019

ÚNICO

Foto: Getty Images
Interlagos é único e quase sempre cumpre o que promete. A ansiedade é justificada. Hoje, quando tudo parecia que seria meio chocho e se encaminhava para uma tentativa de disputa entre Verstappen e Hamilton, um Safety Car duvidoso causado pela entrada de um trator para tirar o carro de Bottas, que estourou o motor ao superaquecê-lo sem conseguir ultrapassar Leclerc, mudou tudo e transformou uma prova de F1 em uma chegada de Indy ou de Nascar.

Antes do delicioso caos, tudo parecia uma peça de xadrez: Verstappen e Hamilton com a mesma estratégia, pareados por Vettel e Albon e Leclerc e Bottas. Lá atrás, Ricciardo foi punido por tocar em Magnussen e foi para o final do grid. Ultrapassar no meio do pelotão não é fácil.

No pós Safety Car, todo mundo colocou os macios e foi pra cima menos Hamilton, que inexplicavelmente manteve-se na pista com os desgastados pneus médios. Verstappen disparou com uma manobra à la Montoya em 2001. Albon, que sempre surge nas voltas finais, fez o mesmo com Vettel, que não conseguia devolver. Leclerc, atrás, resolveu tentar. Vettel foi dar o troco, mas existe uma espécie de inconsciente que é: entrar perder a posição para o parceiro de equipe e bater, que seja a segunda opção.

Foto: Reprodução/F1 TV
Olhando pelos vários ângulos, me pareceu um toque de corrida. Entretanto, com mais detalhes, Vettel praticamente repetiu a famosa e desastrada manobra diante do parceiro Webber quase uma década atrás: com meio carro a frente, jogou ele um pouco para a esquerda. Leclerc, reto, manteve-se na linha e acertou o dianteiro direito no pneu traseiro esquerdo do alemão.

A Ferrari cansa de desperdiçar oportunidades, seja pela incompetência dos pilotos ou problemas crônicos no carro. Como ajeitar a casa para brigar em 2020 se o novato quer mandar mais que o mais velho e o mais velho quer se impor nem que seja estragando a corrida de ambos? Binotto não é esse cara enérgico para fazer isso. Na verdade, hoje na Ferrari essa figura inexiste, um Montezemolo, Ross Brawn, Jean Todt, Marchionne e até o fumante Arrivabene tinham uma postura mais "pau na mesa" nessas horas. Quem ganha, ou melhor, ri com isso são os mecânicos da Red Bull (como foi hoje) e principalmente da Mercedes.

Um novo SC e a Mercedes chamou tardiamente Hamilton para os boxes. Honestamente, não imaginava que a corrida continuaria depois dali, mas houve a relargada. Brigando pelo segundo lugar e com pneus novos, era questão de tempo passar Albon, que conquistaria o primeiro pódio dele e da Tailândia na F1. Parecia. Meio inocente, Albon não se defendeu na última curva do miolo, o hexacampeão tentou se atravessar e bateu, fazendo o tailandês rodar e jogar para o espaço a chance do pódio. Mesmo com a asa dianteira danificada, Hamilton seguiu para caçar Gasly.

Investigado pelos comissários, ele e Bottas reclamaram a corrida inteira de falta de potência do motor alemão, e foi assim que ele foi incapaz de passar Gasly na reta de chegada. Como se fosse Nascar, milésimos definiram o primeiro pódio da carreira de Pierre. É incrível chegar a esta conclusão, mas a Mercedes hoje tem menos potência que Honda e Ferrari. Tem mais confiabilidade. Para a próxima temporada, os alemães já trabalham em uma nova solução.

Foto: Getty Images
É inacreditável. Chutado merecidamente da Red Bull pelo pífio desempenho, na Toro Rosso parece que o francês é outro piloto. Vem superando Kvyat e o "azar" e incompetência que teve na primeira metade do ano foi recompensado pelo oportunismo e ótimo ritmo de corrida agora. Apesar de ser crítico do francês, não tem como não gostar dessas histórias de superação, dos underdogs que surpreendem e dão a volta por cima, conquistando grandes resultados. Albon merecia o pódio hoje, mas certamente é questão de tempo para chegar, afinal ele está na Red Bull. Albon faz uma temporada muito melhor que Kvyat e Gasly, mas incrivelmente pode ser o único piloto taurino a passar o ano zerado no pódio. Que loucura.

A comissão, que já foi veloz em diversas ocasiões e foi responsável até por tirar Verstappen de uma cerimônia certa vez no México, dessa vez foi mal demais. Fez Hamilton participar do pódio e, minutos depois, confirmar a punição de cinco segundos que confirmou também o primeiro pódio de Carlos Sainz, o segundo espanhol a conseguir tal feito (e também na McLaren) e o primeiro da histórica equipe desde 2014, na Austrália, onde Button também só subiu ao pódio após a desclassificação de Ricciardo.

Foto: Divulgação
Foto: Divulgação
Todo mundo perdeu a chance de ver Sainz, ao vivo, comemorando um merecido pódio, e largando de último! É incrível o ritmo de corrida! É, sem dúvida alguma, o melhor piloto do "lado B". Sempre consistente, hoje ele foi também oportunista para fazer história junto com a McLaren e, assim como Gasly, tirar esse peso do "primeiro pódio" dos ombros.

Isso também mostra que o caminho da McLaren para retornar ao lugar que merece está sendo trilhado aos poucos. Isso que está com o motor Renault ainda por cima. Com uma boa dupla de pilotos e a continuação da reestruturação sendo feita com Andreas Seidl, Gil de Ferran e Zak Brown, quem sabe nos anos seguintes essa grande festa que "vimos" através das fotos seja mais corriqueira com vitórias também.

Fechando essa corrida maluca, Hamilton terminou em sétimo. Na frente dele, as duas Alfa Romeo, com Raikkonen e Giovinazzi. É o melhor resultado da carreira de Giovinazzi, outro novato que sai fortalecido para a próxima temporada, mesmo quando o carro teve uma queda na segunda metade do ano, assim como o melhor resultado de Raikkonen neste retorno a ex-Sauber.

Ricciardo, que chegou a ser o último por um erro dele, conseguiu contornar a situação para ser o sexto. Ah se a Renault tivesse carro... Hulkenberg termina sua trajetória melancólica na F1 lá atrás e vendo quase todo mundo que ele duelou nos últimos anos sendo recompensado com um pódio. É o que é. Pérez e Kvyat completaram o top 10. Nem diante de uma corrida caótica a Haas conseguiu alguns pontinhos, mesmo com Grosjean entre os 10 a corrida toda. Não pararam ele na hora do Safety Car e foi engolido na relargada, aí também é brincadeira.

No único GP do Brasil, é necessário que isso enterre de vez algo que nunca foi cavado, que é a tal lunática ideia de Deodoro. Verstappen, com a cabeça no lugar e um carro competitivo, é o grande nome a destronar Lewis Hamilton, só precisa ser menos Mansell. A Ferrari, com todo mundo se batendo e a ausência de uma liderança dentro e fora das pistas vai continuar penando.

Com um pódio todo de pilotos Red Bull, é comovente ver rostos diferentes nas primeiras posições nessas corridas caóticas, até porque a diferença das três principais equipes para o resto é gritante.

Em Interlagos, tudo é único.

Confira a classificação final do GP do Brasil:


Até!