segunda-feira, 29 de agosto de 2022

TIRANDO PRA COMÉDIA

 

Foto: ANP via Getty Images

A incerteza ficou só na sexta feira mesmo. No treino, com o motor novinho, Max Verstappen tinha grandes possibilidades de no mínimo ficar no pódio. Ele mesmo havia declarado no sábado que seria uma vergonha isso não acontecer.

O que se viu em Spa Francorchamps foi um passeio. A expectativa era que Leclerc também pudesse se recuperar, mas aí depois voltamos para esse assunto. Coincidência ou não, os trabalhos de Max e Charles ficaram um pouco mais fáceis porque as Alpha Tauri largaram dos boxes. Caminho livre e pedido da equipe principal?

Sainz e Pérez dependeriam de um bom ritmo e sorte para tentar sonhar com uma vitória. Com a Red Bull melhor, a impressão é que o time de Adrian Newey progrediu com as novas regulamentações técnicas, além do fato de ter evoluído muito nos circuitos de alta velocidade, com muitas retas.

As primeiras voltas também facilitaram o trabalho que já não seria tão hercúleo para Max. Escalando o grid, teve o Safety Car provocado por mais uma barbeiragem de Latifi e que vitimou Bottas.

Antes disso, 15 anos de ressentimento: Hamilton foi otimista demais, tentou passar por fora, deixou Alonso sem espaço e voou. Com danos, teve que abandonar. Os melhores também erram. Hamilton desperdiçou uma boa chance de pódio. A Mercedes tem um ótimo ritmo, mas falta velocidade. A Red Bull se distanciou. Os alemães dão alguns passos atrás.

Alonso, fulo da vida com a manobra, destilou os anos de ressentimento no rádio. Na raiva, foi genuíno. Uma pena que escolhas da carreira não permitiram que os dois se encontrassem mais nas pistas. É natural que Alonso sinta isso, pois tem o ego e a competição envolvidos. É natural. Quem tenta dominar sempre vai ter dificuldade com os semelhantes.

Um Safety Car facilitou o trabalho de Max porque não permitiu que Sainz disparasse. Era para ele e Leclerc chegarem nos ponteiros, mas o azar falou mais alto na Ferrari. Uma sobreviseira que Max tirou foi parar no duto de freios do ferrarista, superaquecendo-o. Parada prematura e desgaste de pneus fizeram com que Charles se descolasse do principal pelotão. Mais uma vez, fora da disputa. Mas o pior estava por vir.

Max está sobrando. É como se jogasse no muito fácil. Na Hungria, largou em nono. Agora, em décimo terceiro. Mesmo assim, em 12 voltas, era o líder, mesmo com pneus macios. Os médios de Sainz e Pérez se desgastaram muito mais rápido. Fácil, extremamente fácil. E meteu 20 segundos de vantagem. O carro está melhor e mais adaptado para Max. Os rivais ficam cada vez mais distantes e não evoluem, pelo contrário.

Leclerc parou para colocar pneus novos e fazer a volta mais rápida, só que no meio do caminho tinha Alonso. O ponto não foi possível, mas veio o pior: acelerar demais no pit lane rendeu cinco segundos de punição. Leclerc, que teria 11 pontos, saiu com 8. São quase 100 pontos de desvantagem. O campeonato acabou, sejamos francos.

O psicológico também conta. Ou Leclerc erra ou a Ferrari o prejudica. São tantos erros repetidos que culminaram muito precocemente numa suposta disputa, justamente quando a Ferrari estava mais competitiva. Agora, com a Red Bull cada vez melhor e o crônico problema dos italianos em evoluir durante o ano, agora é questão de tempo. Nem o discurso externo existe mais.

Pérez e Sainz no pódio. Os dois segundões. A diferença é que, de forma bizarra, a Ferrari coloca as melhores estratégias no espanhol. Daqui a pouco, mesmo com um ritmo inferior, é capaz de ultrapassar o monegasco no campeonato. O Senhor Consistência Russell teve uma boa possibilidade de pódio, mas é inegável que o retorno das férias foi um soco no estômago da Mercedes, como Hamilton disse no sábado.

Apesar dos danos causados no incidente com o Sir, Alonso segue somando pontos e mostrando porque deve continuar na F1 por muito tempo. Nele, a idade não parece agir. Ainda por cima, mostrou um lado vintage que está disfarçado de humor e carisma em virtude de não andar mais no topo da categoria. Alonso é um patrimônio da F1 porque é único. Hoje, ele lembrou os antigos e respondeu aos novos porque é não há meio termo: ame ou odeie.

Ocon é tão regular que quase esqueci de mencioná-lo, mesmo repetindo a épica ultrapassagem que o Hakkinen fez na reta oposta. Tão consistente quanto Russell e ainda menos inserido no radar do que quando surgiu da base para a categoria.

Vettel, Gasly e Albon conseguem pontos importantes. Uma boa atuação do alemão, num circuito onde a Aston Martin foi competitiva. O tailandês consegue o quarto pontinho com a Williams e isso precisa ser sempre muito bem comemorado. Mesmo em uma temporada decepcionante, Gasly tenta encontrar um rumo também para a carreira.

Quem ficou abaixo foi a McLaren, que saiu zerada. Parece que a Alpine está melhor nas pistas de alta. Vai ser uma disputa interessantíssima nos construtores, ainda mais com a questão Piastri no meio.

Max Verstappen e a Red Bull tiram a concorrência pra comédia. É fácil e até humilhante: não interessa de onde sai, nada parece ser capaz de deter o bicampeonato do holandês, que corre em casa na semana que vem. Imagina a euforia?


Até!

sexta-feira, 26 de agosto de 2022

INCERTEZA DIVERTIDA

 

Foto: ANP via Getty Images

Diria que a palavra que melhor descreve a F1 em Spa Francorchamps neste final de semana é incerteza. Por vários motivos, mesmo quando algumas certezas se confirmam.

A parceria Alfa Romeo e Sauber vai acabar no ano que vem. A marca do Grupo Fiat deixa a F1. Isso pode significar o retorno da independência da Sauber na gestão de equipe por duas temporadas: 2024 e 2025. No fundo, essa independência já existia agora. Afinal, mesmo com o motor Ferrari, não há nenhum piloto da academia no time.

Tudo isso porque, a partir de 2026, a Audi chega na F1. Finalmente. Ela e a Porsche. A Audi está próxima de comprar a Sauber. Seria uma parceria no estilo da saudosa Sauber BMW (2006-2009), o melhor momento do time de Peter Sauber em mais de 30 anos na categoria. É até estranho reportar isso como algo oficial. Ainda restam quatro anos para o novo regulamento e teto de motores das fabricantes. Se as coisas continuarem do jeito que estão, talvez surjam novas hierarquias.

Ah, a Porsche vai se aliar a Red Bull, mas pretendo escrever sobre esses assuntos de forma mais ampla no futuro próximo.

Outra incerteza é o futuro de Daniel Ricciardo. Também me alongarei mais sobre durante a semana. Há um certo otimismo, mas também um desejo claro: se não for a Alpine, não será ninguém e o australiano pode fazer o tal "ano sabático". O problema é que, para alguém da idade dele, o sabático pode ter uma duração maior.

Spa tem várias incertezas, começando pelo contrato. A F1 já anunciou que a França está fora do calendário de 2023 e pode retornar no tal sistema de revezamento. Esta pode ser a última edição do circuito favorito de todo mundo que gosta de automobilismo. Tomara que tenha corrida desta vez. 

Apesar do tempo incerto de hoje, com chuvas esparsas durante o dia belga, a tendência é que domingo tenha pista seca. O sábado pode ter surpresas com uma possível pista molhada. Naturalmente já é assim...

No entanto, a corrida ganha uma incerteza pelo lado que é muito positivo. Seis carros vão trocar componentes de motor e câmbio e largam no fim do grid. Entre eles Verstappen e Leclerc. Vão sair lá de atrás, escalando o pelotão. Num circuito longo e rápido igual Spa, não deve ser muito difícil chegar no topo. A vitória é outra conversa.

Tudo vai depender do ritmo de seus companheiros. A notícia significa que a Mercedes tem uma grande chance de finalmente vencer em 2022. Não é loucura. A questão é o ritmo de corrida em relação a Max e Charles, que saem lá de atrás. Se Hamilton e Russell se livrarem do ritmo mais cadenciado de Sainz e Pérez, teremos uma corrida mais emocionante ainda. A possibilidade está aberta até para mais uma pole no ano.

Também é chance de Alonso aprontar no sábado. Além da dupla que lidera o campeonato, Ocon, Bottas, Mick Schumacher e Norris também estão punidos. Spa vira uma incerteza divertida, em todos os sentidos.

A Ferrari liderou a primeira sessão e a Red Bull a segunda. A bola e a responsabilidade estão com Sainz e Pérez. Sem os companheiros implacáveis, eles precisam se afirmar e mostrar que são escudeiros úteis. Do contrário, o bicho papão alemão prateado guiado pelos ingleses vai chegar, roubar o doce das crianças e disparar rumo a glória inédita em 2022.

Confira a classificação dos tempos livres:




Até!


quinta-feira, 25 de agosto de 2022

GP DA BÉLGICA: Programação

 O Grande Prêmio da Bélgica foi disputado pela primeira vez em 1925, e faz parte do calendário da Fórmula 1 desde a 1a temporada da categoria, em 1950. Em apenas seis ocasiões o Grande Prêmio não foi disputado: 1957, 1959, 1969, 1971, 2003 e 2006.

Foto: Reprodução/Wikipédia

ESTATÍSTICAS:
Melhor volta em corrida: Ayrton Senna - 1:41.523 (McLaren, 1991)
Pole Position: Lewis Hamilton - 1:41.252 (Mercedes, 2020)
Último vencedor: Max Verstappen (Red Bull)
Maior vencedor: Michael Schumacher - 6x (1992, 1995, 1996, 1997, 2001 e 2002)

CLASSIFICAÇÃO:
1 – Max Verstappen (Red Bull) – 258 pontos
2 – Charles Leclerc (Ferrari) – 178 pontos
3 – Sérgio Pérez (Red Bull) – 173 pontos
4 – George Russell (Mercedes) – 158 pontos
5 – Carlos Sainz Jr (Ferrari) – 156 pontos
6 – Lewis Hamilton (Mercedes) – 146 pontos
7 – Lando Norris (McLaren) – 76 pontos
8 – Esteban Ocon (Alpine) – 58 pontos
9 – Valtteri Bottas (Alfa Romeo) – 46 pontos
10- Fernando Alonso (Alpine) – 41 pontos
11- Kevin Magnussen (Haas) – 22 pontos
12- Daniel Ricciardo (McLaren) – 19 pontos
13- Pierre Gasly (Alpha Tauri) – 16 pontos
14- Sebastian Vettel (Aston Martin) – 16 pontos
15- Mick Schumacher (Haas) – 12 pontos
16- Yuki Tsunoda (Alpha Tauri) – 11 pontos
17- Guanyu Zhou (Alfa Romeo) – 5 pontos
18- Lance Stroll (Aston Martin) – 4 pontos
19- Alexander Albon (Williams) – 3 pontos

CONSTRUTORES:
1 – Red Bull RBPT – 431 pontos
2 – Ferrari – 334 pontos
3 – Mercedes – 304 pontos
4 – Alpine Renault – 99 pontos
5 – McLaren Mercedes – 95 pontos
6 – Alfa Romeo Ferrari – 51 pontos
7 – Haas Ferrari – 34 pontos
8 – Alpha Tauri RBPT – 27 pontos
9 – Aston Martin Mercedes – 20 pontos
10- Williams Mercedes – 3 pontos

AINDA É DA ELITE

Foto: McLaren

Recém dispensado da McLaren em virtude do desempenho muito aquém e por não ser barato, Daniel Ricciardo ainda acredita fazer parte do grupo de elite da F1 e está muito motivado para continuar "prosperando" na categoria, apesar o futuro incerto.

"Acredito que ainda posso prosperar, porque creio que pertenço à F1 e que posso fazê-lo. Isso é o que realmente me deixa motivado", disse para a australiana Speedcafe.

O que ainda faz o australiano continuar estimulado é o fato de uma quantidade muito pequena de pilotos estarem aptas para a F1. O australiano definitivamente ainda se sente parte dessa elite.

“A competição… Deve ser um dos únicos esportes no mundo em que só há 20 pessoas competindo. A competição envolve apenas um grupo pequeno de 0,001% das pessoas. Então, poder fazer parte desse grupo e competir nesse grupo é uma coisa única. E eu amo isso”, salientou.

É bom que Ricciardo ainda se sinta assim, mesmo com a situação tão complicada na categoria em virtude do desempenho decepcionante na McLaren, apesar de ter vencido uma corrida.

De fato é uma elite. Poucos pilotos aptos para poucas vagas. Mesmo assim, são aptidões diferentes, desde o talento, a posição nas academias e a quantidade de dinheiro que alguém é capaz de trazer para um time. As portas estão quase se fechando para Ricciardo. No entanto, todos sabemos de sua qualidade. Não há tempo a perder. Só depende dele para continuar na elite do automobilismo.

SEM VENDER A ALMA

Foto: Reprodução/Red Bull

A F1 passa por expansões e mudanças no calendário. Circuitos tradicionais estão dando lugar para novos lugares e praças sem tradição na F1 e/ou no automobilismo. 

Stefano Domenicali, chefão da categoria, garante que não vai montar um calendário e uma F1 baseado apenas no dinheiro, embora ele seja fundamental, é claro:

“Não vou vender a alma da Fórmula 1. São mudanças normais, estamos nos abrindo para todo o mundo. Dinheiro também é importante em tudo quanto é lugar: para nós, também”, disse.

França, Spa e Mônaco podem estar de saída. O contrato se encerra nesse ano. Por outro lado, Arábia Saudita, Catar, Miami e Las Vegas estão garantidos por um longo tempo na categoria. Domenicali não quer criar um desequilíbrio entre os circuitos favoritos dos fãs e dos pilotos e um monte de pista de rua genérica sem alma que paga muito mais que a concorrência.

“Mas não olhamos só para isso: todo o pacote tem que fazer sentido. Se olhássemos apenas para contas bancárias, o calendário das corridas seria definitivamente diferente”, afirmou para o jornal alemão "Bild".

Domenicali diz que não quer vender a alma da F1. Ela já foi vendida. É um discurso apaziguador. Quem sabe, na pressão, uma ou outra pista mais popular consiga se salvar, mas honestamente: o futuro não vai ser muito diferente disso. Não há mais autódromos hoje em dia. Cada vez mais teremos as pistas de rua genéricas com eventos musicais e gastronômicos nos grandes centros mundiais e é isso aí. Mais fácil, prático e lucrativo. Acostumem-se.

TRANSMISSÃO:
26/08 - Treino Livre 1: 9h (Band Sports)
26/08 - Treino Livre 2: 12h (Band Sports)
27/08 - Treino Livre 3: 8h (Band Sports)
27/08 - Classificação: 11h (Band e Band Sports)
28/08 - Corrida: 10h (Band)







quarta-feira, 24 de agosto de 2022

O TRAMPOLIM

 

Foto: McLaren

O que era óbvio foi devidamente confirmado na semana que a F1 retorna. Daniel Ricciardo está oficialmente fora da McLaren. Em comum acordo, a equipe e o australiano concordaram em encerrar o vínculo no final da temporada. Em compensação ao fim de contrato, Ricciardo ainda vai receber 10 milhões de euros (R$ 50 milhões) pelo acordo.

Que o desempenho de Ricciardo era ruim e não se justificava a manutenção dele no time pelo desempenho direto contra Norris e o salário que recebe (um dos maiores da F1), numa equipe que vive dificuldades financeiras, todo mundo sabia. No entanto, o que ficou evidente desde o caso Piastri é que o time de Woking precisaria se livrar de Ricciardo e isso não seria barato.

Ou seja: a McLaren está pagando para o australiano ir embora. O que isso significa, também, é que há o entendimento de que Piastri está encaminhado. Há alguma segurança jurídica para isso. Do contrário, certamente a equipe não tomaria essa atitude. Imagina ficar sem dois pilotos, igual a Alpine?

Bom, a pergunta que começou a ser respondida nas últimas semanas é: e o futuro de Ricciardo? Obviamente, a única vaga compatível com o que ele ganha e almeja na carreira é um retorno para a Alpine. Ou é isso ou reduzir drasticamente os vencimentos para andar no fim do grid, como a Haas, outra equipe que foi surpreendentemente ventilada pela imprensa européia.

Outra alternativa é ir para o automobilismo americano. Todavia, diante da idade do australiano, isso poderia resultar no fechamento de portas definitivo na F1.

Com a iminente saída, Ricciardo deu várias entrevistas interessantes, inclusive hoje, quando anunciou a saída da McLaren. Desde falar que o amor e o fogo pela categoria não diminuíram até mesmo a se comparar com o caso de Pérez, demitido da própria McLaren em 2013 e da Racing Point em 2020 e que mesmo assim deu duas voltas por cima para continuar na F1 e ter o destaque merecido, mesmo que tardio.

Mesmo com a vitória em Monza que significou o fim do jejum da McLaren, Ricciardo sempre esteve muito abaixo das capacidades, principalmente neste ano. Ao sair da Red Bull por entender que toda a estrutura estava voltada para Max Verstappen, o australiano fez duas tentativas: a Renault, onde optou por encerrar precocemente a parceria e a McLaren, onde fracassou e viu a ascensão de Lando Norris.

O que resta para Ricciardo é a Alpine, não tem jeito. Não é o que ambos querem, mas é o que ambos têm a disposição. 

A McLaren era o trampolim de Ric, mas o próprio australiano serviu de trampolim para o compatriota: Oscar Piastri.

Até!

terça-feira, 23 de agosto de 2022

UM APELO POR SPA

 

Foto: Getty Images

No mínimo a preferida de 7 entre 10 pilotos. Um circuito veloz, cheio de desafios e único. Correr em Spa Francorchamps é um prazer para os pilotos e o circo da F1, além de ser extraordinário no videogame, computador ou simulador. É aquela prova que fica no imaginário popular sobre o que é F1.

O problema é que Spa é uma pista “muito F1” para uma categoria que busca a todo instante se distanciar da F1, seja na paixão, nas pistas e no modo de ser. O mais importante é agradar quem não acompanha o esporte. É claro que o público está mudando e isso é positivo.

É evidente que as sequelas econômicas decorrentes do covid fazem com que qualquer empresa precisa reavaliar investimentos e ter muito cuidado na administração. A diferença é que, agora, a F1 está nas mãos dos americanos. Eles querem o business, o engajamento e o entretenimento acima de tudo, diferentemente do modo europeu, que valoriza os clássicos.

É por isso que há essa paixão por circuitos genéricos de rua em lugares sem tradição ou controversos. Uma categoria que agora resolveu fechar e trancar com vários cadeados as portas para a Rússia mas não vê problemas em desembarcar na Arábia Saudita e no Catar, mesmo com barulho de bombas, fumaça e cheiro de queimado a poucos quilômetros do autódromo – de rua, é claro.

Spa pode entrar no tal revezamento. Existem muitos lugares interessados em sediar uma corrida de F1 mas não há espaço para todo mundo. O calendário já está totalmente inchado. Assim, a corrida na Bélgica pode acontecer com menos frequência. Um total absurdo.

Nos últimos anos, começou uma espécie bizarra de caça às bruxas contra Spa. Do dia para a noite, o circuito não tem mais segurança e a Eau Rouge mata pilotos.

Não é culpa da FIA, veja bem, e sim da Eau Rouge. Não é culpa da FIA que organiza uma F2 com pilotos sem condições e eles, sem qualidade, conseguiram a proeza de causar um acidente fatal e quase matar outro. O fim da área de escape pode tornar qualquer idiota de simulador em um homicida em potencial. E foi o que aconteceu.

É culpa da Bélgica e da Eau Rouge que o Lando Norris resolveu fazer a curva de pré cravado no meio do temporal. Nem o Villeneuve e o Zonta conseguiram isso no seco, mas o inglês ia conseguir essa façanha num local sem área de escape, de certo. A Eau Rouge é perigosa. Precisamos de segurança. Nunca vimos um carro capotar ou algum piloto irresponsável quase se decapitar no guard rail porque é um perigo ambulante.

A culpa é da curva, claro, não da FIA. Por isso que a Bélgica corre riscos, talvez por não apresentar dinheiro o suficiente para competir com autódromos nas ruas de capitais assinadas por Helmann Tilke e shows de música pop. Quem liga para autódromos e várias décadas de tradição? Eles nem escutam os pilotos. O que interessa é o show business e quem pingar mais na conta.

Bernie já fazia isso, tanto que a Bélgica ficou alguns anos ausente no início dos anos 2000. Circuitos históricos como Silvestone, Interlagos, Suzuka, Monza, Spa e Mônaco deveriam ser eternos, sem qualquer margem para negociação. Eles é que construíram a categoria, junto dos pilotos e chefes de equipe. Não foram os petrodólares ou a Liberty.

Spa é eterna, e assim deveria ser. Barcelona, Paul Ricard, Arábia Saudita, Miami, Zandvoort... o que não falta é circuito bisonho que deveria ser expurgado do calendário, mas querem encher o saco da queridinha de 90% dos que realmente gostam do automobilismo.

Spa deveria ser eterna, assim como Sepang poderia voltar ou até mesmo Mugello ser incorporada ao calendário. Sem dinheiro, ninguém é visto e nem é lembrado, até porque a lembrança dos fãs não importa. O que vale são as cédulas.

Que a corrida deste final de semana não seja a última de Spa na F1 ou tampouco comecem um revezamento colocando mais circuitos medonhos em prol do dinheiro, do engajamento, do espetáculo ou seja lá o que for que estejam pensando. Não ousem mexer em Spa.

Não deveriam ousar, na verdade, mas quem sou ou nós na fila do pão?

O máximo que vai acontecer é assistirmos as corridas emburrados ou saudosos daqueles tempos que vão começar a ficar velhos.

Até!


segunda-feira, 22 de agosto de 2022

ANÁLISE PARCIAL DA TEMPORADA 2022: Parte 2

 Olá, amigos e amigas! Vem aí a parte final da análise parcial da temporada 2022, agora com Alpha Tauri, Aston Martin, Williams, Alfa Romeo e Haas:

Foto: Autosport

Pierre Gasly = 6,5 – O carro derrubou Gasly. Também não há grande motivação. No limbo, o francês cumpre tabela. O desempenho não é o mesmo dos últimos anos. São poucos pontos e muitos problemas e falta de ritmo. Também não penso ser apenas coincidência esse marasmo diante da falta de perspectiva na carreira no médio prazo. Pierre é um grande ponto de interrogação.

Yuki Tsunoda = 6,5 – O japonês comete alguns erros, bate, roda, mas está mais competitivo e adaptado a categoria. O desempenho melhorou e chegou a superar Gasly. Só está atrás nos pontos por problemas no carro. Por isso é necessário ter calma com os jovens. Sem os inúmeros testes como antigamente, demora para haver uma evolução notável. Leva tempo. O japonês está em bom caminho, beneficiado pelo fato da Red Bull hoje não ter nenhum prodígio viável para acelerar o processo de uns e queimar outros. Sorte para Yuki, que assim pode se desenvolver no tempo possível diante da fogueira que é a Alpha Tauri/Toro Rosso.


Foto: Getty Images

Sebastian Vettel = 6,5 – A tour de despedida começou com um forte sinal. Batidas na Austrália e ausências nas primeiras etapas por Covid. Já parecia, desde o início, que Vettel se despedia, o que foi confirmado depois. Não tem muito o que escrever. Não é mais aquele mesmo piloto, mas, mesmo assim, faz o possível em um carro que não é bom. Que tenha um final de carreira compatível com as conquistas que teve.

Lance Stroll = 6,0 – Está lá pelo pai. É o que sempre escrevo. Com o carro ruim, fica até difícil falar algo. Sem muitas condições de brilhar, conquista poucos pontos e ainda assim é superado por um futuro aposentado, embora tetracampeão. Stroll cumpre um papel, um sacrifício para a continuidade de uma equipe e dos investimentos do pai, Tio Patinhas.


Foto: Motorsport

Nicholas Latifi = 5,0 – Outro que está de contagem regressiva na F1. Evoluiu ano passado, involuiu nesse ano, com o novo regulamento. Uma chicane ambulante e sem velocidade. Pela experiência que tem, não deveria ser batido tão facilmente por Albon, mas aí lembrei que é um pagante gente boa. Com a Williams mais estruturada, o dinheiro do canadense não faz tanta diferença, então é desfrutar das corridas que restam na categoria e não dar muito prejuízo para o time com batidas.

Alexander Albon = 7,0 – No retorno para a categoria, faz o que pode com a Williams. Aliás, pontuar com esse carro já é um grande feito. Albon tem consistência e briga com o que pode. A Red Bull tentou queimar a reputação do rapaz, mas o tailandês nascido e criado na Inglaterra é um bom valor. Nem oito e nem oitenta. Na Williams, vai ser o líder e, se tiver oportunidade, certamente vai conquistar alguns pontinhos épicos.


Foto: Getty Images

Valtteri Bottas = 7,5 – Começou muito bem na nova equipe, marcando pontos e levando o lastro e a experiência de tantos anos numa estrutura ambiciosa e vencedora. No entanto, está sendo vítima dos problemas da Alfa Romeo nas últimas etapas, marcando menos pontos e abandonando mais. No limbo, Bottas é líder de um projeto que precisa de tempo para dar certo. Ainda assim, a ex-Sauber está um nível acima do ano passado, o que é um sinal positivo para continuar avançando.

Guanyu Zhou = 6,5 – Estrear no ano que muda o regulamento é um desafio duplo. Com a má vontade de quem apenas vê em Zhou um chinês com dinheiro, o viável está fazendo um bom trabalho diante de todo o contexto. Se adaptando e enfrentando muitos problemas, teve poucas boas atuações, mas marcou pontos logo na estreia. Assim como Tsunoda, a tendência é que cresça com o passar do tempo na categoria. Os caminhos são favoráveis: dinheiro e talento existem. Assim, Zhou pode continuar a caminhada sem maiores percalços.


Foto: Getty Images

Mick Schumacher = 6,5 – Um início de ano que certamente destruiria reputações de quem não tem Schumacher no sobrenome. A benção e a maldição disfarçada. Mick bateu muito e foi facilmente vencido por Magnussen, que chegou no time às pressas. No primeiro desafio mais competitivo na F1, está sucumbindo. É preocupante. No entanto, com duas corridas nos pontos e a habitual ascensão demorada, Mick pode deslanchar de agora em diante, com menos pressão. Ainda assim, está devendo, por ser um Schumacher e alguém promissor, mas ainda dá tempo de terminar o ano com mais impressões positivas que negativas.

Kevin Magnussen = 7,5 – Retornando de paraquedas numa equipe à deriva, Kevin conseguiu ser um protagonista que nem antes havia conseguido. Quase todos os pontos foram feitos por ele enquanto as rivais patinavam e a Haas surpreendentemente ocupava as primeiras posições. Com a falta de dinheiro do time e os rivais crescendo com as atualizações, os pontos ficaram mais raros. Mick cresceu, mas Kevin ainda é mais regular. Um retorno para F1 acima das expectativas. De mero tapa buraco de luxo, Kevin pode voltar a ser o manda-chuva da Haas, o que seria uma reviravolta aleatória demais para a carreira.

Essa foi a análise parcial da temporada. Concorda? Discorda? Agora, toda a ansiedade e expectativa para o retorno das últimas etapas do ano!

Até mais!


quinta-feira, 18 de agosto de 2022

8 E 80

 

Foto: Getty Images

Como alguém que lidera um campeonato com 80 pontos de vantagem em relação ao segundo colocado pode passar a impressão de que não estar sendo dominante e que talvez nem esteja ainda no auge, apesar de ser o atual campeão mundial?

Max Verstappen. Em 2002, por exemplo, Montoya fez mais poles. Schumacher, como sabem, foi avassalador. Pódio em todas as corridas. Eram outros tempos, outros acertos... 20 anos depois, a Ferrari e Leclerc são os carros mais velozes em volta rápida. Começaram o ano com pinta de quem finalmente voltaria ao estrelato. A Red Bull, última a desenvolver o carro desse ano, herança da batalha de 2021, sofreu no início. Dois abandonos em três corridas.

Adrian Newey sempre melhora o carro com o decorrer do tempo. A Red Bull tem um quê daquele tipo de lutador que começa lento e geralmente perde o primeiro round. No entanto, quando engrena nos assaltos seguintes, é uma força avassaladora que faz o adversário sucumbir. Com mais ritmo, outro fator faz a diferença: as estratégias e a consistência, além do talento, é claro.

Para dar certo, é preciso que o piloto extraia exatamente o necessário. Constância. Mesmo quando Pérez começou acima das expectativas e chegou a pressionar por um suposto protagonismo no time, Verstappen sempre se manteve na média. Aquela juventude agressiva e inconsequente que também foi vista no ano passado deu lugar a um Max mais comedido e entendendo os riscos, administrando as situações.

Claro, fazer isso quando o principal adversário é uma Ferrari errante no momento em que a Mercedes está fora de combate parece mais fácil e inteligente. A pergunta vai voltar a ser feita quando Hamilton e Russell, ou melhor, se eles estiverem no mesmo nível em termos de carro para 2023.

Max estreou na F1 antes de atingir a maioridade. Aprendeu na marra a amadurecer como piloto. Talvez nem tenha atingido a maturidade plena em termos de pilotagem. A inexistência da pressão por um título, de agora em diante, pode ser um fator para desabrochar outros aspectos do campeão.

Na Hungria, Max venceu a corrida saindo de décimo com muita naturalidade. Sem fazer força, drama ou algo do tipo, embora vencer saindo dessa posição signifique no mínimo um esforço diferente para conquistar, como por exemplo a vitória de Schumacher com quatro paradas em Magny Cours 2004. Não foi o que vimos. A junção máquina, piloto e equipe, em todos os âmbitos, forma essa sinergia que dificilmente será vencida em 2022.

O psicológico também é importante. Mesmo sem ter o melhor conjunto em alguns momentos, a Red Bull se sobressai, seja por ela ou também pelos erros da Ferrari. Se ver numa situação mais complicada não é um problema. Agora há gordura para queimar e a pressão está com os italianos. É como se isso não assustasse mais ninguém. A bola está com Leclerc e companhia. Eles que precisam de finais de semana no estado da arte para superar a Red Bull. Nesse ano, isso foi suficiente em quatro corridas, mas falta consistência para ganhar em longas 22 semanas.

Em 2022, Max é 8 e 80. Oito vitórias até aqui e 80 pontos de vantagem. Um equilíbrio inédito na carreira do campeão que se encaminha para o bi. Verstappen não parece estar perto do auge? Bom, aí depende do carro da Red Bull e da motivação do holandês para sabermos qual será a resposta no futuro e sabermos se estou correto na tese da vez.

Até!