quarta-feira, 12 de setembro de 2018

JÁ FAZ 10

Foto: Getty Images
O Grande Prêmio de Cingapura de 2008 tinha diversos motivos para entrar na história da F1. O primeiro, o mais simples: o primeiro a ser realizado nas ruas da cidade-estado. O segundo: a primeira corrida noturna da história do Mundial. A terceira: O GP número 800 da F1. Convenhamos que nenhuma (ou quase) delas foi lembrada.

Hamilton e Massa disputavam ponto a ponto o campeonato. Vantagem do inglês por um ponto. Entretanto, o brasileiro simplesmente voou no Q3 pra largar na pole, seis décimos mais veloz que o inglês. Raikkonen, Kubica e Kovalainen completaram os cinco primeiros. Rubens Barrichello foi só o décimo oitavo.

28 de setembro de 2008. Na largada, Massa mantém a primeira disposição e abre boa vantagem pra Hamilton. A corrida transcorre normalmente, até que o inesperado acontece.

Alonso, que só largou em 15°, para na volta 12, muito cedo segundo as projeções, para colocar os pneus duros. Voltou na distante última posição. Duas voltas depois, seu companheiro de equipe, Nelsinho Piquet, rodou e bateu de traseira. Safety Car.

Foto: Getty Images
Todo mundo nos boxes. O líder Massa se prepara paro o pit stop padrão. Na época, ainda era possível reabastecer e existia aquela mangueira. Pois bem, a parada é realizada, mas o sistema da Ferrari acaba acionando o sinal que libera Massa a sair dos pits, mas aí o grande problema: a mangueira ainda estava na bomba de combustível. E assim ele saiu...

Foto: Gazeta Press


Massa voltou em último. Com a corrida completamente modificada, Rosberg assumiu a ponta e Alonso, que parecia fora de jogo, pulou entre os ponteiros porque havia parado voltas antes. Com o desenrolar da prova, a maioria dos pilotos fez duas paradas, menos o espanhol.

Líder desde a 34a volta, a Fênix rumou para a vitória com uma fraquíssima Renault na primeira corrida noturna da história, o GP n° 800 da F1. Rosberg, ainda na Williams, foi o segundo e Hamilton conseguiu ficar em terceiro. Massa foi só o 13°e viu a vantagem aumentar para 7 pontos. Esses e outros erros da Ferrari e do brasileiro custaram o título daquela temporada. Golpe de sorte ou genialidade? Alonso tirou o coelho da cartola.

Bem, na verdade não. Um ano depois, quando foi demitido da Renault, Nelsinho Piquet e o pai revelaram para Reginaldo Leme que a batida do brasileiro foi proposital, em uma armação de Flávio Briatore e Pat Symonds. Uma bomba mundial. De novo Alonso estava envolvido, mesmo que de maneira indireta.

A investigação da FIA confirmou a versão brasileira. Briatore fez aquilo porque os franceses ameaçaram abandonar a categoria no fim do ano caso aquele carro ruim não ganhasse até o final da temporada (apesar de tudo, Alonso ganhou em Fuji, semanas depois). Briatore foi banido da F1 e Symonds suspenso por cinco anos. Voltou a trabalhar na Williams, justamente com Felipe Massa.

Alonso e Nelsinho foram inocentados. O espanhol não sabia da jogada, apesar das suspeitas existirem até hoje. O brasileiro perambula por várias categorias e foi campeão da Fórmula E em 2015. Alonso ficou mais um ano na Renault e encontrou Massa na Ferrari.

Além das questões históricas já citadas no primeiro parágrafo, a primeira corrida em Cingapura sempre será a mais lembrada: a corrida da marmelada, da entregada. Uma vergonha mundial. A Ferrari e Massa tentaram reverter o resultado, mas isso não aconteceu.

O mais incrível é que esse episódio já faz dez anos e um dos pivôs, indiretos, se despede desse palco nesse final de semana. Qualquer toque no muro, desde então, virou motivo para desconfiança.

Cingapura, dez anos. Corrida noturna, modernidade, circuito de rua, Safety Car, Cingapuragate, acidentes (o do ano passado também já entrou para a história). Como as coisas passam rápido. Impossível não lembrar. Estava assistindo na casa de um colega de escola, fazendo um trabalho. No fim do dia, o Inter goleou por 4 a 1 no Gre-Nal. Que dia, amigos.

Até!

terça-feira, 11 de setembro de 2018

LECLERC, RAIKKONEN E O MONOMITO

Foto: This Is F1
O que era tendência foi anunciado oficialmente hoje. A Ferrari contrariou sua lógica conservadora de não apostar em jovens talentos e acabou efetivando Charles Leclerc como companheiro de Vettel para a próxima temporada. Ela não fazia isso desde 2006, quando Felipe Massa substituiu Rubens Barrichello. A diferença é que Massa guiou na Sauber por três anos e ficou mais um como piloto de testes. Leclerc fica apenas essa temporada, impulsionada pelos grandes resultados pela Sauber em treinos e corridas.

Nos últimos anos, Vettel era quem bancava o amigão Kimi nas renovações. Entretanto, dessa vez a cúpula da Ferrari (capitaneada pelo falecido Sérgio Marchionne) pareceu dar um recado para o atrapalhado alemão: chega de erros e barbeiragens. Claro que Leclerc não vai correr ainda em igualdade de condições, mas será um indicativo para ver se um sangue-novo é capaz de ameaçá-lo com maior frequência ou irá sentir a pressão de estar na maior equipe da F1.

Leclerc vai ser o mais jovem piloto da Ferrari desde Pedro Rodríguez, em 1961. Na época, o mexicano tinha 19 anos e 211 dias. Na Austrália, na estreia, Charles vai ter 21 anos e 5 meses. É um feito e tanto, mas tudo isso foi fruto de muito talento e competência. O monegasco não esqueceu de Jules Bianchi, espécie de "mentor" do início da carreira e que poderia estar agora no seu lugar. Agora ele está, de certa forma. Ainda assim, acho a escolha precipitada. Meu medo é que os italianos queimem o jovem, que dificilmente pode fazer frente a Vettel, ao menos no início de sua caminhada. Um ano na Haas para evoluir e amadurecer ainda mais seria o ideal, mas pelo visto o grande objetivo era se livrar de Kimi Raikkonen.

Um jovem na Ferrari, dois na Red Bull e a Mercedes com Bottas... Leclerc pode ser finalmente a menina dos olhos da F1, se mantiver a maturidade e a regularidade em um carro que lhe dará condições de vencer. Resta saber como Verstappen vai reagir nesse contexto, se vai evoluir ou vai ver um cara menos experiente que ele em um carro de ponta com atuações melhores. Vai ser interessante.

Foto: ESPN
18 anos. A maioridade. Muita coisa mudou de lá pra cá na vida de Kimi Raikkonen e Sauber. Peter não está mais lá (Relembre a série que publiquei AQUI, em especial a passagem relâmpago do finlandês), nem a cor e tampouco a Red Bull. Parece um prêmio de consolação para o Iceman, rebaixado da Ferrari. Todo mundo imaginaria que iria se aposentar, mas o retorno para a Sauber (e por duas temporadas) é algo exótico e aleatório. Lembra bastante Alan Jones na Lola Haas.

Um prêmio caro, diga-se. As informações apontam que a Ferrari vai continuar pagando Kimi para correr na Alfa Romeo Sauber e fortalecer a marca. Aquele que no auge parecia nem estar aí para a F1 (tanto é que ficou dois anos fora) vai ser o último dos moicanos, no fim das contas. O remanescente da geração 2001, o meu primeiro contato com a F1. Meu medo é que Kimi se aposentasse, mas isso vai ser só em 2020 (!). Meu saudosismo agradece.

Resta saber como Raikkonen vai render em um carro médio, no meio do grid e com poucas chances de vitórias e pódios, apesar da gritante evolução nessa temporada. Será que o finlandês vai se sobressair ou os efeitos da idade avançada e um possível relaxamento irão falar mais alto?. Até escreveria desmotivação, mas assinar dois anos com a equipe "onde tudo começou" não parece ser o termo mais adequado. Também vai ser interessante como Raikkonen vai se portar em suas últimas corridas pela segunda passagem na Ferrari. Vai ajudar ou não Vettel, que chegou a declarar "estar correndo contra três carros"?

Incomum na história do automobilismo começar, sair e terminar onde começou. Raikkonen repete o que é comum no futebol: começar em um clube médio/pequeno, conquistar o mundo e depois encerrar a carreira no clube do início.

As trajetórias de Leclerc e Raikkonen, embora em direções contrárias, remetem a mesma coisa: o monomito. O conceito vem de 1948, quando depois de estudar as mitologias, o escritor Joseph Campbell publicou o livro "O Herói de Mil Faces" (Hero Of Thousand Faces; Pensamento, 2018). Ao analisar mitos de várias partes do mundo, Campbell concluiu que todos pareciam ter elementos de uma mesma fórmula universal, denominada de "monomito".

Funciona mais ou menos assim: a jornada do herói é dividida em três fases - separação, iniciação e retorno. O herói deixa o solo familiar, enfrenta uma série de obstáculos/aventuras e, mais maduro, volta pra casa. Segundo Wendell de Oliveira Albino, "é uma estrutura muito utilizada por cineastas, escritores de literatura e de histórias em quadrinhos de super-heróis", tendo como grande exemplo do cinema o filme Star Wars.

Raikkonen saiu do lar, enfrentou grandes desafios e obstáculos, atingiu o ápice e grandes dificuldades e finalmente volta pra casa para cumprir a parte final de sua jornada. Leclerc saiu do lar, enfrentou algumas aventuras e obstáculos e agora chega, com maturidade, para o ápice da carreira. Como será essa jornada e o seu retorno? Só poderemos descobrir nos próximos anos.

Até!

terça-feira, 4 de setembro de 2018

KAMIKAZE

Foto: The Telegraph
Poderia até estar falando do novo CD do Eminem (aliás, um dos melhores do ano! Shady is back!), que tem esse título, mas o assunto de hoje é Sebastian Vettel e os constantes acidentes que está envolvido nessa temporada.

Depois de um 2014 onde foi facilmente batido por Ricciardo, a transferência para a Ferrari parecia um renascimento (outra referência ao Marshall rs), com três vitórias em 2015. Em 2016, o retorno da instabilidade emocional mostrada no início da carreira. Natural. No entanto, justamente nos momentos de maior pressão, Seb se sobressaiu nas decisões de título em Abu Dhabi e em Interlagos para garantir os títulos mundiais.

Desde 2016, parece que para Vettel a corrida se define nas primeiras voltas. Os dois acidentes com Kvyat e o descontrole com todo mundo, incluindo xingamentos a Charlie Whiting mostraram a faceta do alemão quando as coisas não andam do jeito que espera. Não é o primeiro e não é o último a fazer isso. Em um 2017 onde parecia brigar pelo título, novos erros e a falta de confiabilidade da equipe no momento o deixaram pelo caminho. Outra vez, um acidente na largada: Cingapura, que envolveu Raikkonen e Verstappen.

Vettel parece não aceitar ser ultrapassado. Levando essa lógica, acaba tomando decisões equivocadas e coloca tudo a perder. Em Monza, ao tentar passar Raikkonen para definir a corrida, espalhou demais e acabou sendo presa de Hamilton. Ao invés de recolher e buscar a ultrapassagem durante a corrida, sabendo que tinha o melhor carro, Vettel simplesmente não aceitou a ação e tentou fechar Lewis. Se deu mal. A decisão não seria a mais inteligente de qualquer forma. A coisa se agrava quando Vettel está cada vez mais atrás na tabela do campeonato. Mesmo com o melhor equipamento, está enfrentando um adversário que vive o ápice da forma técnica e mental.

Vettel precisa mostrar por que é tetracampeão mundial. Velocidade ele tem, talento também. Está faltando o emocional, tão abalado pelos erros, capitalizados pelo Hamilton. Um bom passo para tentar buscar o penta é largar na pole. Se não, colocar na cabeça que a corrida tem 300 km ao invés de partir para o tudo ou nada, até porque erros e acidentes a essa altura só beneficiariam Hamilton.

Seb precisa pensar. Ele não está em posição para atacar sem pensar nas consequências. Deixe o Kamikaze para o Eminem.

MATADOURO

Foto: Motorsport
O óbvio aconteceu. Faltava apenas a confirmação oficial. Stoffel Vandoorne não fica pro ano que vem. Ao contrário do que era especulado, permanece na McLaren até o fim do ano. A lógica: o pupilo Lando Norris será o parceiro de Carlos Sainz no ano que vem.

A Red Bull/Toro Rosso ficou com a fama de incinerar quase todos os pilotos (Liuzzi, Klien, Bourdais, Alguersuari, Buemi, Vergne e Kvyat). No entanto, nos últimos anos, o cartel da McLaren também é de respeito: Pérez, Magnussen e agora Vandoorne.

O belga teve que esperar um ano correndo no Japão enquanto Button arrastava a carreira. Na estreia, um pontinho heroico no Bahrein. As expectativas sempre foram altas. O currículo mais do que vencedor na base, além do talento, respaldavam Vandoorne, tanto que teve post especial por aqui na estreia, em 2016, no já citado Bahrein.

Se no ano passado teve até um início razoável, o segundo semestre não foi bom. Ainda assim, foi blindado por Alonso e a equipe, afinal não era possível (e não continua sendo) render algo logo na primeira temporada e na zona que virou a McLaren.

Uma breve repetição disso tudo nessa temporada. O agravante: a McLaren não evoluiu o que se imaginava com o motor Renault. O buraco é mais embaixo. O chassi não é tão bom assim. Alonso, o extraordinário, sempre entrega mais do que pode. Desde o ano passado foi revelado que o espanhol recebia as peças atualizadas primeiro e, portanto, aumentava ainda mais a diferença natural de desempenho de um bicampeão contra um novato promissor. O belga não se ajudou. Sempre distante do espanhol, passou a ir vagarosamente para o fim do grid. Ficou sem defesa.

Vandoorne é vítima de uma grife decadente, uma equipe ávida por resultados imediatos, mas que não possui mais o know-how e a grana necessária para ressurgir rapidamente. Uma tremenda confusão, com reestruturação ocorrendo em meio a temporada. E o futuro? Anteriormente especulado na Sauber pelo bom relacionamento com Frederic Vasseur, chefão nos tempos de ART na GP2, a coisa parece que esfriou. Nos próximos meses, Vandoorne vai anunciar o sem futuro. Certamente não será na F1. Uma pena. Uma grande vítima da zona que virou a McLaren.

É aí que entra o jovem Lando Norris. Menos de nove meses atrás, também fiz um post especial (será uma maldição?) sobre ele.

"Bom, fatalmente Lando chegará a F1 se nada der errado. A questão é quando. Fique de olho. O menino é uma promessa e se você piscar, lá estará ele alinhando no grid com a McLaren em um futuro nada distante."

E chegou. Entretanto, Lando não chega a categoria confirmando as expectativas da base. Na F2, vem sofrendo para ficar na frente do Sérgio Sette Câmara, vítima de vários infortúnios e acidentes que o deixaram ausente de algumas provas. Lando não deve ser o campeão da F2, onde é o favorito, afinal a Carlin é o melhor carro. Está 24 pontos atrás de George Russell (ART), que tem boas chances de ir para a Williams no ano que vem.

Norris não vem entregando na pista o domínio que se imaginava. Sem o título, o que naturalmente lhe credenciaria, dá a entender que está sendo promovido por motivos bem simples: o aporte financeiro e por ser empresariado pelo chefe, Zak Brown.

O momento não é dos melhores para estrear: possivelmente sem a credencial do título e somado a decadência da McLaren e a pressão em alcançar resultados melhores, o trunfo de Lando pode ser justamente a paciência do chefe/empresário, coisa que não durou muito com Vandoorne, até porque a responsabilidade vai cair toda nos ombros de Sainz. Ele é o cara mais experiente e o primeiro piloto.

Agora, francamente... Uma equipe vencedora como a McLaren ter Sainz e Norris no ano que vem mostra o assustador progresso quase final de "Williamszação" da equipe. É muito triste ver essas escuderias históricas fechando o grid e sem perspectiva de um futuro competitivo. Bom, infelizmente estão pagando o preço de escolhas equivocadas.

Pérez, Magnussen e agora Vandoorne. Será que Norris vai ser a próxima vítima do matadouro da McLaren?


Até!


segunda-feira, 3 de setembro de 2018

O MÉDICO E O MONSTRO

Foto: Will Taylor-Medhurst/Getty Images
De novo o post de sexta zicou o panorama todo. Em minha defesa, é possível afirmar que a incompetência de Vettel e Ferrari nesse domingo superam qualquer poder que a nossa palavra é capaz de ter, claro.

Se Vettel e Ferrari bateram cabeça e jogaram pela janela uma vitória, quiçá uma dobradinha, tudo isso tem a ver com mais uma extraordinária jornada de Lewis Hamilton. Dessa vez, a tática da Mercedes funcionou com maestria. Um La Boba em plena Monza.

Muito criticado nos primeiros anos de carreira por ter um "psicológico fraco" e reagir mal as adversidades, principalmente quando as coisas na badalada vida pessoal não estavam bem, Hamilton parece ter amadurecido e agora atinge o ápice como piloto. Além da velocidade e do talento, está sabendo administrar as situações de corridas. Quando vê que não pode vencer, consegue o possível. Quando há uma mínima possibilidade, vai lá e aproveita. Com uma dose de sorte, também. Dr. Jekyll.

Na largada, aproveitou a estranha indecisão e disputa das Ferrari para se posicionar por fora na variante, passando Vettel. O alemão, pensando se tratar da última curva do campeonato, insistiu na posição até rodar e cair para a última posição. Sorte de Seb que bateram em Hartley depois de alguns metros e teve Safety Car.

Foto: Reprodução/FOM
Raikkonen não conseguiu abrir para Lewis, que manteve-se no máximo um segundo atrás do Ice-Man. Aí o instante que começou a mudar tudo. A Mercedes se posicionou duas vezes nos boxes, pronta para chamar alguém. A Ferrari resolveu ir, e Raikkonen parou. A Mercedes, nada. Nas voltas seguintas, diante de alguns pingos de chuva, poderia ser possível imaginar que a estratégia não deu certo. Hamilton parou e voltou bem atrás de Raikkonen. Eis que entra em ação o escudeiro.

Sem essa de igualdade de condições. Sempre foi trabalhar em prol de Vettel e Hamilton. O finlandês sacrificou o primeiro stint na briga pelo pódio para ficar na frente de Raikkonen, fazendo com que o #7 desgastasse os pneus e permitisse a aproximação de Lewis. Me veio a lembrança de um certo David Coulthard...

Cumprindo a missão, agora Hamilton continuava a menos de um segundo de Raikkonen. Mais rápido no miolo, o #44 via a Ferrari sumir nas retas. As oito voltas a mais com os pneus macios começaram a fazer a diferença. Na volta 45, depois de dar pistas, o bote certeiro. Por fora. Diferente do que foi em 2007, por dentro. De novo com Raikkonen. De novo calando os tifosi, que seguem sem vitória da sua equipe por lá desde 2010. O finlandês fez o que pode, hoje. Pode ter perdido a última grande chance de vitória na carreira, ainda mais depois dos boates apontarem Leclerc para seu lugar. Prefiro me posicionar apenas quando algo oficial estiver claro.

Mais uma atuação extraordinária de Lewis Hamilton na temporada. A exemplo do que ocorreu na Alemanha, a corrida da Itália entra no rol das melhores da carreira do (por enquanto?) tetracampeão. Para mostrar que o piloto sim faz a diferença. Um golpe duro na confiança da Ferrari e um grande ânimo para a Mercedes nessa reta final. 30 pontos de vantagem e inferior na maioria dos circuitos, está longe de acabar, mas Hamilton mostra indícios de que, sendo cerebral, pode ser capaz de administrar essa situação.

Foto: Dan Istitene/Getty Images
Diferentemente de Vettel. Na hora das grandes decisões, o instinto demoníaco está tomando conta. Erros de julgamento e acidentes na primeira volta mostram a recorrente afobação do tetracampeão, além da falta de concentração. Já perdeu pontos que seriam suficientes para ser campeão com algumas corridas de antecedência. Me parece que os anos de dominância do Vettel mascararam a falta de sangue frio nesses momentos de disputa roda-a-roda. Eles têm sido recorrentes, principalmente depois que chegou na Ferrari. Mr. Hyde.

Os inúmeros erros, aliados a perfeição do maior rival, minam com a confiança de qualquer um. Se a Mercedes parecia estar nas grades na Bélgica, Hamilton, ao estilo Ali e Tyson (ou McGregor?), contragolpeou a Ferrari. Um knockdown. Nem tudo está perdido, mas Vettel tem sentido o baque emocional. A pressão está toda nele.

Nem tudo foi ruim para o alemão. Passando todo mundo lá de atrás, conseguiu herdar um quarto lugar em virtude de uma punição dada a Max Verstappen. Terceiro na corrida, quinto no "tapetão". Não deu espaço para Bottas dividir a chicane e quase provocou um grande acidente. É o estilo Verstappen de ser: não admitir os erros e xingar tudo e todos. Confesso que gosto desse personagem dentro da pista. O escudeiro finlandês do dia teve seus serviços prestados a Lewis reconhcidos com um pódio imerecido. Um fim de semana bem Kimi Raikkonen, convenhamos. Sorte de Seb.

Vejamos o resto: Grosjean foi o sexto, mas o "tapetão" desclassificou a Haas da corrida por irregularidades no assoalho. A Renault está por trás disso tudo. O francês é tão azarado que isso acontece bem quando ele anda bem. Muita sacanagem. Bom, o restante herdou as posições. Ocon em sexto, com Pérez em sétimo (chegou menos de um segundo, mesmo largando lá atrás), Sainz em oitavo e, pasmem os senhores, duas Williams nos pontos. E sim, Sirotkin marca seu primeiro ponto na F1. Agora todos os 20 pilotos não estão zerados.

A Williams do dia foi a McLaren. Vandoorne parece já saber que não fica e não tem perspectiva. O outro assento do time de Woking pode ganhar contornos interessantes caso Raikkonen não fique mesmo na Ferrari. Ademais, não tenho medo de afirmar que essa foi a melhor corrida do ano. E por que? Bom, foi a única que não precisou de elementos artificiais extra-pista para manter a emoção do início ao fim. Uma raridade.

Com mais uma grande atuação na carreira, o "médico" Hamilton se fortalece demais na casa do grande adversário, enquanto que o "monstro" Vettel precisa dosar seus instintos se quiser reverter a situação. Não é falta de equipamento, é cabeça.

Confira a classificação final do GP da Itália (imagem ainda com Grosjean em 6°; ele foi desclassificado):


Até!


sexta-feira, 31 de agosto de 2018

TIFOSI À ESPERA

Foto: Getty Images
Nunca o cenário esteve tão favorável para a Ferrari finalmente voltar a vencer em casa. A última vez foi em 2010, com Alonso. Hoje, o motor mais potente permite afirmar que estão superiores aos atuais tetracampeões. Se a chuva não aprontar (o que vem acontecendo com frequência para estragar os planos ferraristas) ou Vettel não cometer um erro bobo, as chances de uma vitória consagradora são quase certas.

No entanto, geralmente são nesses casos que o imponderável age e nos deixa sem graça. Não digo que torço contra a Ferrari, mas torço para uma corrida movimentada. Sempre sequei hegemonias, independente de quem seja. Com pista molhada, as distâncias diminuem e o imponderável aumenta.

Ademais, a nota do dia foi o capote de Ericsson. Mais uma vez a asa traseira foi a causadora do problema. Tá na hora de tirar esse artefato ultrapassado e perigoso da nossa F1! Onde já se viu? Bando de neandertais! (Bom, Ross Brawn pretende fazer isso em breve - ainda bem).

Foto: Reprodução



Choveu forte no primeiro treino, então basicamente não há nada para tirar como base. Vou postar igual só para que todos apreciem a Racing Point entre os três primeiros e Hartley em quarto. O resto das forças estão a mesma de sempre. Confesso que estou cansado de repetir as coisas aqui, menos o novo álbum do Eminem. Recomendo!

Confira os tempos do treino livre para o GP da Itália:




GP DA ITÁLIA - Programação

O Grande Prêmio da Itália foi disputado pela primeira vez em 1921, em Montichiari, na província de Bréscia, num circuito feito de vias públicas. Está desde sempre no calendário da Fórmula 1, e sempre é realizado em Monza, à exceção de 1980, quando o GP foi disputado em Ímola para atender a demanda dos fãs da Romagna.

Foto: Wikipédia
ESTATÍSTICAS:
Melhor volta em corrida: Rubens Barrichello - 1:21.046 (Ferrari, 2004)
Pole Position: Rubens Barrichello - 1:20.089 (Ferrari, 2004)
Último vencedor: Lewis Hamilton (Mercedes)
Maior vencedor: Michael Schumacher - 5x (1996, 1998, 2000, 2003 e 2006)


NAS CORDAS (OU NA GRADE)

Foto: Crash.net
Como quase sempre, é possível comparar várias disputas com uma luta de Boxe ou o MMA, que está mais em evidência. A Mercedes detém o "cinturão" da F1 desde 2014 e somente ano passado uma desafiante foi capaz de lhe dar algum trabalho. Ainda assim, "and still" (e ainda) campeões. Nesse ano, o cenário parece ser outro: com muito equilíbrio, a Ferrari aos poucos começou a equilibrar as ações. Entretanto, as flechas de prata exploravam os "contra-ataques", o ponto fraco e os erros dos alemães no primeiro assalto. No segundo, os italianos estão conseguindo manter a calma e, com uma sequência limpa de golpes (upgrades mais satisfatórios do motor), está deixando a Mercedes na grade e ameaça virar essa história.

Um frustrado, resignado e preocupado Toto Wolff viu sua equipe, que venceu as últimas quatro etapas em Spa, ser dominada pela Ferrari. Com a pole vinda graças a chuva, o domingo sem o molhado mostrou o óbvio: a superioridade da Ferrari. Bastaram alguns metros para Vettel atropelar Hamilton sem maiores dificuldades.“Fomos engolidos na reta; É uma sensação de vazio. Não fomos bons o bastante. Nosso carro não é o mais rápido, e você pode ver muita diferença. Estamos com falta de tração. Simplesmente não estamos onde deveríamos estar em baixa velocidade [nas curvas]. Estávamos com bolhas nos pneus”, disse o dirigente para a Sky Sports.

O chefão da Mercedes foi além: “Podemos ver que eles têm uma pequena vantagem em termos de potência, e quando você soma isso com nossas fraquezas, especialmente na curva 1, isso causa o duplo golpe. Ainda é possível buscar performance. Mas não há uma bala de prata que, de repente, vai colocar 0s3 ao carro ou ao motor”, concluiu.


A preocupação é evidente. O alerta está claro. A Mercedes vai ter um longo trabalho até o fim do ano para voltar a ser a equipe dominante. Num primeiro momento, vai faltar tempo. A aposta ficaria, talvez, para a etapa da Rússia ou então nas decisões na América e depois Abu Dhabi. Apesar de liderarem os pilotos e construtores, faltam sete etapas. A Mercedes precisa resistir até o fim do round e voltar para o próximo assalto ainda em condições de revidar os ataques da Ferrari. Tudo isso para poder, no fim das contas, gritar "and still" pela quinta vez.

INJUSTIÇA

Foto: Divulgação/ Force India
Até o provável novo piloto da Racing Point a partir de Cingapura concorda que não será justo Esteban Ocon ficar de fora da equipe e potencialmente em riscos de ficar a pé ano que vem. É o que diz o próprio Lance Stroll. O canadense também faz ressalvas para que olhem seus resultados na categoria, afirmando ser merecedor de tal promoção. "“Se meu pai me levar para a Force India, é uma escolha dele. E entendo que não vai ser legal ou justo para Esteban, mas acho que mereço ser mais reconhecido pelos resultados que alcancei”, disse.

Segundo o site "Race Fans", Stroll vai realizar nessa semana, em Silverstone, o molde de assento no carro ex-indiano. No entanto, o canadense não confirmou nem negou que vai se juntar a equipe do pai daqui duas semanas. Stroll vem insistindo na tecla de que não é só apenas filho de um bilionário, mas alguém que merece chegar onde chegou: “Meus resultados e o que eu fiz deveriam ser mais reconhecidos. É muito difícil. Às vezes, um jogador tem mais talento e potencial que outro, mas acontece que ele termine num time de merda e aí, um menos talentoso, recebe um grande salário em um clube melhor", disse.

"Não estou negando que o sistema não é totalmente justo, mas mereço mais do que apenas ser citado que chego com dinheiro, que não é só do meu pai. Além dele, faço parte de parcerias com a JCB, Canada Life e Bombardier, então acho que há uma separação entre mim e meu pai até certo ponto”, finalizou em entrevista ao "The Telegraph".


Que resultados o credenciam ir para a Racing Point? Um pódio sem querer que caiu do céu no ano passado no Azerbaijão? Ficar atrás de um piloto que estava aposentado? Estar a frente da tabela que um outro novato que veio pra ser segundo piloto? Stroll nem deveria estar na F1 se não fosse filho de quem é, simples assim.

CLASSIFICAÇÃO:

1 - Lewis Hamilton (Mercedes) - 231 pontos
2 - Sebastian Vettel (Ferrari) - 214 pontos
3 - Kimi Raikkonen (Ferrari) - 146 pontos
4 - Valtteri Bottas (Mercedes) - 144 pontos
5 - Max Verstappen (Red Bull) - 120 pontos
6 - Daniel Ricciardo (Red Bull) - 118 pontos
7 - Nico Hulkenberg (Renault) - 52 pontos
8 - Kevin Magnussen (Haas) - 49 pontos
9 - Fernando Alonso (McLaren) - 44 pontos
10- Sérgio Pérez (Racing Point) - 40 pontos *
11- Esteban Ocon (Racing Point) - 37 pontos *
12- Carlos Sainz Jr (Renault) - 30 pontos
13- Pierre Gasly (Toro Rosso) - 28 pontos
14- Romain Grosjean (Haas) - 27 pontos
15- Charles Leclerc (Sauber) - 13 pontos
16- Stoffel Vandoorne (McLaren) - 8 pontos
17- Marcus Ericsson (Sauber) - 6 pontos
18- Lance Stroll (Williams) - 4 pontos
19- Brendon Hartley (Toro Rosso) - 2 pontos

* Com a venda da Force India, a equipe foi rebatizada de Racing Point Force India e teve a pontuação dos construtores zerada. No entanto, os pilotos mantiveram os pontos que conquistaram até o GP da Hungria, quando a equipe era Force India.

CONSTRUTORES:

1 - Mercedes - 375 pontos
2 - Ferrari - 360 pontos
3 - Red Bull TAG Heuer - 238 pontos
4 - Renault - 82 pontos
5 - Haas Ferrari - 76 pontos
6 - McLaren Renault - 52 pontos
7 - Toro Rosso Honda - 31 pontos
8 - Sauber Ferrari - 19 pontos
9 - Racing Point Force India Mercedes - 18 pontos *
10- Williams Mercedes - 4 pontos

* Com a venda da Force India, a equipe foi rebatizada de Racing Point Force India e teve a pontuação dos construtores zerada. No entanto, os pilotos mantiveram os pontos que conquistaram até o GP da Hungria, quando a equipe era Force India.

TRANSMISSÃO