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Foto: Getty Images |
Há dez anos, estava terminando o colégio. Quer dizer, eu
achava que jamais sairia daquilo que pra mim já tinha virado um inferno. As
notas baixaram e por mais que tentasse estudar, não via sentido na maioria das
coisas. Pensava ser apenas um número para supostamente passar no vestibular,
decorando um monte de coisas que provavelmente jamais usaria (ou usei) na vida.
Pois então, antes de ser um antissocial mal sucedido, minha
vida se resumia ao videogame e computador nos finais de semana. 17 anos, cara!
Pra quê sair de casa? Chegou o fim de semana de dia das mães e o aniversário de
um grande amigo. Meus pais foram para a praia passar o dia das mães com meus
avós. Estava, portanto, sozinho em casa.
Fui para o tal aniversário. Era um sábado à noite. Começava
a ficar frio. Cheio de espinhas e pus na cara. Conheci os amigos do meu amigo.
Um verdadeiro bando. Fomos para o mercado organizar o que hoje seria o
“esquenta”. Um bando de gente de 17 anos e alguns maiores de idade comprando
cerveja, vinho e tudo que fosse necessário para o quentão da madrugada. Depois
de algum momento tenso, fomos liberados. Voltamos para o salão de festas do
condomínio.
Basicamente, foi a primeira vez que bebi na vida. Aparentemente,
quase todo mundo ali já tinha experiência no negócio, apesar da mesma idade.
Era um novo mundo. Como me comportar? Bom, em algum momento, saímos andando de
madrugada jogando bombinha pela rua, num frio desgraçado. A ideia era tentar
ver o nascer do sol no topo de um morro, mas estava muito frio. Voltamos para o
condomínio. Não sei como, mas conseguimos fazer o quentão. Tava puro açúcar,
mas era ótimo! Estávamos bêbados e adultos! Um novo mundo!
Na hora do parabéns, uma batalha animalesca para pegar o
bolo com a mão. Uns vidros quebraram porque começaram a brincar e algo fugiu do
controle. Eu e uns caras escondemos as últimas latinhas de cerveja que sobraram
numa outra geladeira, afastada do salão de festas. Era o esconderijo.
Mais para lá do que pra cá, fui pegar a última lata. Ou
tentar. Achei que tinham trancado os portões. Comecei a subir. Quando estava
começando a descer, alguém abre o portão.
- O Sá, o quê tu tá fazendo aí?
- Achei que o portão estava trancado!
Desci, sabe se lá como, peguei a lata que faltava e depois
só lembro que a combinação era dormir do lado de fora do salão, em baixo dos
brinquedos da área de lazer pra não pegar chuva ou algo do tipo. No fim, estava
muito frio. Subimos até o apartamento do meu amigo e nos esparramamos pela
sala. Tem a foto desse momento.
Já de manhã, destruídos, peguei carona com meu amigo e
voltei para casa. Era dia das mães. Grande Prêmio da Espanha. Estava tão
desligado que perdi a corrida. Na época, já começava a gravar na NET quando não
conseguia assistir. Tentei me desligar do mundo por algumas horas para assistir
mais uma etapa em Montmeló. Lembrei que Hamilton não seria o pole por alguma
punição. Maldonado estava na frente. “Não deve ter durado muito tempo. Vai ser
igual o Hulk no Brasil”, pensei.
Não lembro os motivos, mas não consegui terminar a corrida
no domingo. Como não terminei, simplesmente não entrei na internet ou assisti
TV até finalmente acabar a prova. Não faltava muito. Nem tinha celular na
época, então não me importava muito de ficar desconectado. Bastava jogar alguma
coisa e não ligar a TV que estava ótimo.
Segunda. Aula. Um monte de exercícios ou algo do tipo.
Cansaço. Assisti mais um pouco mas, de novo, faltaram algumas voltas. Mais um
dia sem acesso a nada, pensando que era impossível o que estava vendo.
E aconteceu. Maldonado venceu de ponta a ponta e chocou a F1
naquele domingo (ou terça, para mim). Foi a última vitória da Williams e
assisti uma corrida fragmentada. Não foi a primeira e nem a última vez.
De lá para cá, a Williams teve uma decadência, ressurgiu,
decaiu, Frank morreu e o nome é apenas um nome. A última das garagistas se foi.
Uma das grandes zebras da história da F1 porque não foi uma corrida atípica, na
sorte. Desde os treinos até uma vitória de ponta a ponta, Maldonado fez sua
história na categoria. Piloto de muitos acidentes e apoiado pelo governo
venezuelano, Pastor foi o último sul-americano a triunfar na F1.
Uma semana depois de beber pela primeira vez, comecei a
tomar Roacutan contra as espinhas. Foram meses longos, mas deu tudo certo. Minha
cara ficou limpa e só voltei a beber na faculdade.
Como é época de Kendrick Lamar, essa foi minha “Swimming
Pools” e “The Art Of Peer Pressure”. Afinal de contas, era 2012, e o “Good Kid
Maad City” foi lançado meses depois dessa história. Uma década depois, chegamos
a mais uma corrida em Barcelona, estou perto dos trinta, não bebi mais quentão
e nem subi em portões, Hamilton é hepta, Alonso venceu pela última vez na
Espanha em 2013 e Kendrick é uma estrela global.
Uma noite de sorte com os amigos até o grande passo.
Até!