domingo, 10 de abril de 2022

AVASSALADOR

 

Foto: Peter J. Fox/Getty Images

Fazia tempo que não via a Ferrari dominar uma corrida do início ao fim sem ser incomodada, sem correr riscos. Desde os tempos de Schumacher e também os dois anos que Massa e Raikkonen brigaram pelos campeonatos, em 2007 e 2008. Nem mesmo o Safety Car e a rápida ameaça de Max foram algo digno de algum drama.

Charles Leclerc vence a quarta corrida na carreira e a segunda no ano, liderando de ponta a ponta e fazendo a volta mais rápida, além da pole. É um início avassalador. Ele não dá chances a ninguém. Como Galvão Bueno sempre fala: o piloto bom é aquele que na hora decisiva mostra o que sabe. Leclerc, desde o surgimento, sempre foi um prodígio. Agora, maturando, parece mais próximo do que imagina para encontrar a glória eterna (além da Libertadores, é também a F1).

O contrário é Carlos Sainz. Fui um dos que bradou aos quatro cantos que o espanhol seria páreo duro por ter temporadas consecutivas de excelência. De novo, como diz Galvão: "fazer graça no meio do grid é fácil, difícil é ter consistência na pressão de disputar um campeonato". Sainz teve um péssimo final de semana. Teve azar no sábado e no domingo errou, ficou fora. O espanhol vai sentir ainda mais a pressão de ser Ferrari porque agora menos que a dobradinha será considerado um fracasso. 

Sainz antecipa um drama que a Ferrari "viveria": no fim das contas, o espanhol será o escudeiro de Leclerc. Não aproveitou a chance e, mesmo em três corridas, pode-se escrever que é tarde para alcançar um talento como o monegasco.

A dificuldade também está no carro número um. Max Verstappen. Brigando com o bólido, tentou de tudo para pressionar Leclerc mas não há carro suficiente para a briga. E nem motor ou combustível. Com dois abandonos em três corridas, a Red Bull sofre com a confiabilidade e pode ficar fora da briga mais cedo que imaginava. Numa F1 que quebrar é raro, 36 pontos a menos é um pecado. Dá tempo de recuperar? Com a Ferrari nesse nível, começa a parecer improvável, mesmo que falte vinte corridas. Aposto que Adrian Newey lembra desse carro da mesma forma que lembra a McLaren de 2005: velozes e inconfiáveis.

Por outro lado, Pérez parece mais competitivo e conseguiu o primeiro pódio no ano. Está mais perto de Verstappen e parece ser mais importante para o time nesse ano, além de mais ajustado ao novo carro. Um piloto muito útil. 

A Mercedes parece muito distante nas voltas lançadas pelo motor deficitário de potência e a dificuldade em aquecer os pneus, mas o ritmo de corrida é consistente. Os pneus duram mais, ao contrário da Red Bull, o que permitiu disputas com Pérez. A Mercedes não está no meio do pelotão e sim estabelecida como terceira força. Se a Red Bull e Sainz bobearem, eles estarão lá. Foi o caso. Russell teve sorte de um Safety Car surgir e conseguiu o primeiro pódio em uma corrida, superando Hamilton que tinha ritmo superior. O caminho é longo, mas os alemães estão na briga, hein? Não descartem eles!

A McLaren evoluiu desde a segunda etapa e retomou o padrão do ano passado. Norris foi perfeito e Ricciardo fez os primeiros pontos no ano diante da massa australiana. Entra de vez no bolo do pelotão intermediário, buscando os ajustes no decorrer da temporada. É uma parada dura, mas hoje foi um sinal positivo de reação.

Esteban Ocon foi regular e mesmo assim é o cara que traz pontos para a casa na Alpine. Dessa vez a culpa é da ex-Renault e a crueldade que fizeram com Don Alonso, o injustiçado do final de semana. Brigaria pela pole até o carro apagar. Uma estratégia equivocada de demorar a parar fez o espanhol desperdiçar uma grande oportunidade. Carro tinha, faltou visão e confiabilidade, menos para o francês.

Bottas conseguiu dois pontos importantes para a Alfa Romeo mas o nome da corrida foi Alexander Albon. Em uma estratégia quase suicida, conseguiu render 57 voltas com o pneu duro, parando na última e garantindo o décimo lugar, largando de último! Soube se beneficiar das circunstâncias da corrida, no agitado e remodelado Albert Park (viva as britas! mesmo mais rápida, ainda é difícil ultrapassar por lá, mas é um circuito belíssimo!) e traz um ponto importante para a Williams.

Fica cada vez mais claro que Latifi não consegue domar os carros da nova F1, assim como Stroll. Duas chicanes ambulantes. Não é surpresa, mas são os dois que bancam as equipes que guiam, então reclamar não vai adiantar nada.

Definitivamente a pior equipe do grid é a Aston Martin. Não adianta investimento maciço se não for nas áreas certas. Vettel estreou na temporada e parecia ainda com sequelas do covid, brincadeiras à parte: bateu o final de semana todo. Faz tempo, mas nem parece que o alemão é um tetracampeão mundial. Inacreditável o processo de decadência estabelecido pelo alemão. Virou uma chicane ambulante, quando Galvão falava sobre Villeneuve e Coulthard no final da carreira. Assim como Stroll, só sai quando quer, porque é acionista, mas vou dar um desconto: estreando e se recuperando da covid, Vettel precisa de tempo.

A Ferrari e Charles Leclerc começam o ano num ritmo avassalador, sem brechas para a concorrência. Com a Red Bull inconfiável e a Mercedes ainda distante de uma briga igualitária, pode parecer precoce mas a sensação é que os italianos talvez estejam mais próximo do ouro do que eles imaginavam...

Confira a classificação final do GP da Austrália:


Até!

sexta-feira, 8 de abril de 2022

MAIS UMA AMOSTRA

 

Foto: Bryn Lennon/F1/Getty Images

É estranho ver o agora remodelado circuito de Albert Park não ser sinônimo de início de temporada, e sim a terceira corrida do ano. São os novos tempos.

Os novos tempos também seguem a todo vapor na hierarquia do novo regulamento da Fórmula 1. Nos treinos livres dessa madrugada, algo inédito para nós desde 2019, a mesma tônica: Ferrari e Red Bull.

O circuito favorece os italianos. As retas não são tão longas e privilegia o conjunto mais equilibrado, no caso o ferrarista. Leclerc tem a chance de continuar ditando as regras, mas é claro: treino é uma coisa, ritmo de corrida é outra. O que não se esconde é a animação na manutenção da Ferrari entre os ponteiros.

Max teve dificuldades para encaixar uma volta limpa, seja pelo tráfego ou por erros próprios. Ainda assim, mesmo que tudo se alinhe, a Ferrari parece ter a vantagem nesse final de semana. A conferir se resulta isso em uma vitória.

A Alpine, a princípio, desponta como a terceira força, com Alonso muito forte. Aparentemente, a Mercedes esconde o jogo e faz testes, tudo isso para saber se é a terceira força isolada ou consegue algo além, talvez algo aquém também. Mistério.

O meio do pelotão segue a mesma briga encarniçada de sempre, com o acréscimo da McLaren, que consegue ser mais competitiva desde a estreia. Finalmente tivemos a estreia de Vettel na temporada, mas por pouco tempo: problemas no motor Mercedes e o grande momento do tetracampeão foi passear de moto pela pista para voltar aos boxes.

Na ainda nova F1 que estamos nos acostumando, Albert Park nos mostra mais uma amostra dos novos tempos: Ferrari contra Red Bull e Melbourne de cara nova, sendo a terceira corrida do ano. É o tempo...

Confira a classificação dos treinos livres:




Até!


quarta-feira, 6 de abril de 2022

GP DA AUSTRÁLIA: Programação

 O Grande Prêmio da Austrália entrou no circo da F1 em 1985. Foi disputado nas ruas de Adelaide até 1995, quando foi substituído pelo circuito de Albert Park, que é palco do GP até os dias atuais, sempre abrindo a temporada da F1 nos últimos 22 anos (exceção de 2006 e 2010). Em virtude do Covid, a etapa não aconteceu nos dois últimos anos, retornando ao calendário em 2022.

Foto: Wikipédia

ESTATÍSTICAS:

Melhor volta em corrida: Michael Schumacher - 1:24.125 (Ferrari, 2004)

Pole Position: Lewis Hamilton - 1:20.486 (Mercedes, 2019)

Último vencedor: Valtteri Bottas (Mercedes)

Maior vencedor: Michael Schumacher - 4x (2000, 2001, 2002, 2004)


CLASSIFICAÇÃO:

1 - Charles Leclerc (Ferrari) - 45 pontos

2 - Carlos Sainz Jr (Ferrari) - 33 pontos

3 - Max Verstappen (Red Bull) - 25 pontos

4 - George Russell (Mercedes) - 22 pontos

5 - Lewis Hamilton (Mercedes) - 16 pontos

6 - Esteban Ocon (Alpine) - 14 pontos

7 - Sérgio Pérez (Red Bull) - 12 pontos

8 - Kevin Magnussen (Haas) - 12 pontos

9 - Valtteri Bottas (Alfa Romeo) - 8 pontos

10- Lando Norris (McLaren) - 6 pontos

11- Yuki Tsunoda (Alpha Tauri) - 4 pontos

12- Pierre Gasly (Alpha Tauri) - 4 pontos

13- Fernando Alonso (Alpine) - 2 pontos

14- Guanyu Zhou (Alfa Romeo) - 1 ponto


CONSTRUTORES:

1 - Ferrari - 78 pontos

2 - Mercedes - 38 pontos

3 - Red Bull RBPT - 37 pontos

4 - Alpine Renault - 16 pontos

5 - Haas Ferrari - 12 pontos

6 - Alfa Romeo Ferrari - 9 pontos

7 - Alpha Tauri RBPT - 8 pontos

8 - McLaren Mercedes - 6 pontos


CULTURA FERRARI
Foto: Reprodução/Ferrari


Em entrevista ao jornal alemão Bild, o chefão Mattia Binotto discorreu sobre o início de temporada positivo da Ferrari. Conquistando 78 dos 88 pontos possíveis, liderando o campeonato de pilotos (Leclerc) e construtores, além de quebrar um tabu de quase três anos sem vitória, Binotto está satisfeito.

No entanto, em meio a empolgação e a esperança da equipe ferrarista sair da fila, Binotto também disse que esse é um processo contínuo, iniciado nos últimos anos e que ainda precisa de muitos reparos. O chefão, mais do que tudo, deseja reconstruir e representar a "cultura Ferrari", da única escuderia presente na categoria desde 1950 e sem dúvidas a mais midiática e vencedora da história da F1.

"Grandes projetos levam anos, e foi uma longa jornada que ainda prossegue. Ainda existe muita coisa a fazer e melhorar. Queremos trazer de volta a cultura Ferrari no time, é isso que nos constrói. Somos os que sempre estiveram na F1 e o time de maior sucesso na história. É isso que representamos”, disse.

Ferrari sempre será Ferrari, simples assim. Tal qual um clube de futebol de massa, as hipérboles sempre estarão presentes, seja para o bem ou para o mal. A pressão sempre vai existir. O início de ano é uma ótima resposta a muitas temporadas decepcionantes. 

Isso acende uma esperança e também a pressão de finalmente quebrar o tabu dos títulos de pilotos (2007) e construtores (2008) para que, enfim, o alto investimento seja justificado. Caso o objetivo seja alcançado, a pressão não vai parar, porque o foco será manter uma possível hierarquia no grid. Ferrari é Ferrari.

SEM CHANCE
Foto: Motor Sport Magazine

No final de semana que marca o retorno da Austrália ao calendário da F1, uma sede outrora tradicional também teve o nome ventilado, ainda mais agora que a F1 se expande cada vez mais.

Realizada entre 1999 e 2017, quando optou por não renovar o contrato, o GP da Malásia está longe de retornar à F1, ao menos é o que falam as fontes oficiais.

O país foi o primeiro do Oriente Médio a adentrar o calendário, mas hoje os planos são outros. É o que explica o diretor executivo Azhan Shafriman Hanif, em entrevista para a agência malaia Bernama.

"Precisamos olhar para o quadro geral de forma holística, de como a F1 pode beneficiar não apenas a empresa, mas a Malásia em termos de marca, capacidade de fornecer oportunidades de emprego, desenvolvimento de talentos e outros.

Então, quando pagamos relativamente alto pelos direitos de organizar a corrida, o retorno tem de ser alto no geral, e não apenas no aspecto do circuito”, disse.

No entanto, o diretor executivo não fechou totalmente a porta, acreditando ser possível a realização da corrida no país caso haja interesse da F1 e o apoio do setor privado em parceria com o governo malaio.

O ministro do esporte, Datuk Seri Ahmad Faizal Azumu, disse que está disposto a receber a ajuda das empresas para que Sepang volte a F1. Atualmente, o circuito segue recebendo à Moto GP.

É uma pena. Sepang é com certeza um dos melhores circuitos e nunca deveria ter saído da F1. Além da boa estrutura, o clima semelhante ao de Manaus torna tudo indefinido. Com quase 25 corridas, chega a ser um absurdo as ausências de Sepang e Mugello mas calma, ainda dá tempo de colocar mais duas corridas nos Estados Unidos...

TRANSMISSÃO:
08/04 - Treino Livre 1: 0h (Band Sports)
08/04 - Treino Livre 2: 3h (Band Sports)
09/04 - Treino Livre 3: 0h (Band Sports)
09/04 - Classificação: 3h (Band e Band Sports)
10/04 - Corrida: 2h (Band)

terça-feira, 5 de abril de 2022

SOBRE RUPTURAS E RECOMEÇOS

 

Foto: Visit Melbourne

Coincidência ou não, as últimas edições  do Grande Prêmio da Austrália bateram com alguns acontecimentos interessantes da minha vida pessoal e profissional.

Voltando para 2019, o ano da última corrida. O início da temporada, tradicional. Dias antes, a morte repentina de Charlie Whiting, o diretor geral, o braço direito de Bernie Ecclestone. Aí surge a figura de Michael Mais na F1.

Mas, pra falar a verdade, não lembro de nada desse final de semana. Certamente assisti os treinos livres na madrugada e o classificatório, mas não tem nada na mente. O que lembro daquele final de semana foi a formatura de um amigo que fui, na tarde de sábado. Entre a colação de grau e a festa, iniciada no início da noite, curti bastante e bebi muito, até lembrar que deveria ir para casa descansar. No dia seguinte, faria meu primeiro grenal como narrador na Galera.

E tinha a corrida, é claro. Cheguei em casa, cansado e a ideia era tirar uma soneca e acordar na hora do jogo. A realidade: liguei a TV nas voltas finais, só lembro que Bottas venceu. E no dia seguinte fiz meu primeiro grenal, no período do GP da Austrália.

2020. A F1 voltava na tradicional quinta feira, mas não era uma quinta feira qualquer. Era uma quinta feira de grenal na Libertadores, histórico, o primeiro da história na competição. E lá estava eu, na Arena, naquela quinta feira. Era óbvio que não assistiria os treinos livres, mas naquela altura não era o mais importante. Também foi o dia que nasceu a minha prima, Maria Flor.

Naquele dia, já estava tudo confirmado que haveria uma pausa na outra semana em virtude do surgimento do tal Covid, que na época me parecia mais uma gripe suína do que uma pandemia devastadora. Lembro que enxergava como “frescura” não se cumprimentar e ficar próximo, entre outras coisas. Foi o último jogo com 60 mil pessoas que fiz e as informações eram avassaladoras.

Tudo ia parar, a NBA ia parar, pessoas famosas diagnosticadas. E um Grenal e a Fórmula 1 no meio do caminho. A F1, em Melbourne, estava pronta para começar os trabalhos, sempre na própria bolha e ignorando o mundo. Naquela noite, além do jogo, voltar tarde pra casa sabendo que era uma ruptura o que estava acontecendo, li que a F1 foi cancelada porque um funcionário da McLaren estava com covid.

Dali em diante, o mundo parou, mais precisamente na segunda feira seguinte. Portanto, faz quatro anos que não assisto uma corrida da Austrália ao vivo. Se me lembro? Só lendo no blog para recordar, confesso. Dessa vez, o grenal já passou e o máximo que vai acontecer é o UFC de sábado junto com a corrida, na mesma madrugada. Domingo, faço um concurso. Talvez faça a estreia do Grêmio na Série B na tarde de sábado mas enfim, outra vez todas essas questões se misturam.

O GP da Austrália nos últimos anos representou histórias e rupturas na vida pessoal e profissional. Agora, em 2022, com o retorno, as coisas estão diferentes. Estamos buscando uma normalidade mas certamente somos pessoas diferentes, obviamente. Estamos recomeçando, assim como a corrida em Melbourne, que reformou o traçado para ter mais possibilidades de ultrapassagem.

Passado, presente, futuro, histórias pessoais e profissionais. De certa forma, ao pisar em Melbourne nessa semana, talvez seja um passo quase definitivo de que a normalidade, embora com suas diferenças, foi retomada quase que de fato.

Até!


quinta-feira, 31 de março de 2022

MEDO E DELÍRIO

 

Foto: Reprodução/F1

A Liberty Media conseguiu em meia década o que Bernie Ecclestone falhou a vida inteira: fazer o público dos Estados Unidos se interessar pela F1. Com Miami estreando esse ano e Austin renovando até 2026, a F1 anunciou uma corrida noturna em Las Vegas a partir do ano que vem. A ideia é realizar no final do ano, no feriado de ação de graças nos EUA, no horário nobre americano (22h horário local, domingo de madrugada aqui no Brasil).

O circuito, obviamente, será de rua, o que está sendo uma tendência mundial, diante da inviabilidade de manter autódromos. Infelizmente. Com 25 corridas sob contrato, a F1 vai implantar o sistema de rodízio e uma corrida europeia ficará de fora. É impossível avançar no número de provas. 

A prova será realizada perto dos cassinos e pontos turísticos icônicos de Las Vegas, aquela coisa de filme, livro e para quem teve a sorte de visitar lá. A diferença é que é uma iniciativa própria da F1 em bancar os custos e organizar tudo. A expectativa é que tudo se pague com os ingressos, contratos de publicidade, entre outros.

A F1 sempre tentou diversos circuitos de rua nas cidades americanas mas nenhuma pegou. O próprio estacionamento do Caesar's Palace fechou algumas temporadas, incluindo um dos títulos de Nelson Piquet. Como escrevi anteriormente, o que mudou nos últimos 30 anos?

O grande trunfo foi a mudança na gestão e a F1 entrando nos tempos atuais. Com a série na Netflix firme e forte na audiência e as publicações voltadas para o mundo virtual, o engajamento e o interesse de jovens aumentou bastante, principalmente também com a identificação destes com os pilotos, sobretudo a nova geração que tem Russell, Leclerc, Norris, entre outros. Tornar a F1 algo popular nunca foi o interesse de Bernie mas, graças a esses mecanismos do engajamento e do jogo digital, a F1 teve uma guinada na marca, e os Estados Unidos é um resultado evidente disso.

Austin teve 400 mil pessoas na última corrida, recorde absoluto de público em um final de semana da F1. A audiência da F1 nos EUA também está aumentando exponencialmente: na abertura da temporada, superou a abertura da Indy, por exemplo. Um mercado consumidor desse interessado e ativo é o sonho para qualquer empresa, ainda mais uma que também é americana.

É justo um país ter três corridas? Evidente que não. Duas pistas de rua mais as outras milhares de pistas noturnas e de rua fazem com que tudo seja a mesma coisa, quase uma Fórmula E com grife. Não é questão de purismo, mas sim de velocidade, risco, etc. No entanto, é também um discurso utópico. A propriedade é ganhar dinheiro e fechar as contas, sobretudo num mundo pós pandemia e com consequências ainda devastadoras em todos os âmbitos.

Que os enviados a Las Vegas consigam realizar o trabalho sem se deixar envolver com as armadilhas da cidade do pecado.

Até!


segunda-feira, 28 de março de 2022

UM ADVERSÁRIO A ALTURA

 

Foto: Motorsport

Em 2019, logo após o GP da Inglaterra, escrevi aqui no blog sobre a futura rivalidade entre Charles Leclerc e Max Verstappen, que estavam protagonizando batalhas interessantíssimas naquela época, especialmente na Áustria e logo em seguida em Silverstone.

Quase três anos depois, muita coisa mudou e esse parece ser o momento certo para a tensão dos dois jovens pilotos. Além do covid, a Ferrari entrou em decadência, Leclerc precisou ser o líder de uma reestruturação e Max Verstappen foi campeão do mundo.

O que vemos nesse início de temporada é um confronto particular entre Red Bull e Ferrari e já vimos alguns pegas entre Max e Leclerc. Cada um levou a melhor uma vez em uma disputa limpa. É evidente que, com o passar da temporada, as coisas fiquem mais quentes.

O título é da ótica de Max e não é demérito a Lewis Hamilton. Não sou maluco. É apenas uma simples constatação: Max é um piloto excessivamente arrojado e, se tiver que ir pro tudo ou nada, vai. Hamilton nunca procurou o combate, apenas quando necessário, por ser mais experiente e, até o ano passado, ocupar a posição do cara dominante na categoria. Hoje, por enquanto, não é mais.

A questão é que Leclerc é da mesma geração e os dois podem duelar por até uma década na F1, se os carros assim permitirem. Diferentemente de Hamilton, Leclerc aprendeu a lição ainda em 2019 e sempre joga duro com a Max, retribui na mesma moeda. É talvez o único que não respeite o atual campeão e o holandês sente isso, reclama, amplia o arsenal. Leclerc e Max tem talentos muito parecidos e é por isso que, se os equipamentos permitirem, será uma rivalidade fascinante.

George Russell é outro que tem tudo para estar nesse mesmo patamar, mas no momento não tem carro para isso. Seriam três pilotos contemporâneos de, no mínimo, mesmo nível. Mais para trás, temos Lando Norris e o resto depende de toda uma conjuntura. Estou falando do pessoal da F2, que até merece um post a parte em breve: Oscar Piastri, Dennis Hauger, Juri Vips, Theo Pourchaire, Daruvala... a máquina de talentos nesse esporte imprevisível é sempre surpreendente, até porque o novo regulamento não vai demorar tanto para chegar, diferentemente do atual.

Senhoras e senhores: apertem os cintos! O texto de 2019 virou realidade e, nessa pegada, Max Verstappen e Charles Leclerc vão ser os grandes protagonistas de 2022, brigando ponto a ponto pelo título. Espero que sejam protagonistas de uma década inteira.

Até!

domingo, 27 de março de 2022

FOI LIMPO

 

Foto: Eric Alonso/Getty Images

Talvez seja efeito do início da temporada ou das polêmicas decorrentes do final do ano passado, mas o GP da Arábia Saudita foi uma tentativa de retorno as “raízes” da F1. Mesmo em uma corrida atribulada, a direção de prova não chamou pra si o espetáculo, apesar de uma decisão que achei particularmente questionável.

Sérgio Pérez fez a primeira pole da carreira em 216 corridas e vinha num bom ritmo, controlando Leclerc, que controlava Max. Nesses termos, o mexicano se encaminharia para uma vitória consagradora, pelo menos é o que se permitia sonhar.

Mais uma vez Latifi mudou o rumo de um resultado. Bateu outra vez no final de semana e, pela cara do Capito, talvez não tenha muito mais tempo na Williams. Com Mick ainda se recuperando do acidente de ontem e o carro de Tsunoda apresentando problemas antes de alinhar no grid, a corrida teve apenas 18 carros. A princípio, apenas um Safety Car Virtual, logo após Pérez parar. Assim, foi todo mundo para os boxes e Leclerc assumiu a liderança, com o mexicano em quarto. Uma injustiça. Só depois que foi acionado o Safety Car. Por quê não antes?

Nos tempos de Michael Masi, era capaz de ter uma bandeira vermelha e relargada. Tudo pelo espetáculo. Com a nova direção de prova, vimos o velho procedimento do Safety Car ir o máximo que pode, ainda mais que os comissários árabes são muito lentos. Em certo momento, a corrida foi secundária, mas no fim das contas houve etapa mesmo com as bombas sendo jogadas nas proximidades de Jidá.

O que se viu no final de semana foi a Red Bull superior com os pneus duros nos long runs. Mesmo mais veloz na reta, Leclerc controlava Max e Sainz controlava Checo. O final da corrida mudou tudo, novamente, quando parecia definido.

Uma sequência rara de três abandonos em uma volta. Alonso, que brigava com Ocon e vinha num bom sexto lugar (briga incomum diga-se, que jamais aconteceria com o espanhol no auge...), Bottas que fazia um bom trabalho na Alfa Romeo e Ricciardo, ainda brigando com a McLaren. Como os três se arrastaram pela pista e pararam perto dos boxes, apenas o Virtual Safety Car foi acionado e o pitlane fechado. Informação importante.

Isso fez Max se aproximar e, com melhor ritmo, ir para cima decidir. Zerado, o atual campeão precisava reagir. Leclerc, pensando nos pontos, estava mais tranquilo, mas com o histórico de perder corridas no final. Surpreendentemente, considerando o histórico das batalhas dos dois, foi uma disputa limpa e bonita na pista.

A única coisa patética, e aí não é culpa deles, é a asa móvel. Foi patético os dois fritarem pneus pra ver quem ficaria atrás para poder utilizar na reta principal. No final das contas, Verstappen passou e venceu a primeira no ano, mostrando que nos circuitos de alta a Red Bull tem vantagem, embora não tenha confiabilidade. 

A Ferrari foi competitiva e acumulou pontos com os dois pilotos, sendo mais forte nas pistas de baixa. Charles e Max, como já foi escrito em 2019, tem tudo para ser a grande rivalidade da década na F1. Dois pilotos jovens, arrojados e destemidos. É claro que a temperatura vai subir com o passar da temporada, mas ver uma disputa dessas até o final é lindo de se ver.

O pior final de semana de Lewis Hamilton em muito tempo. Eliminado no Q1, os acertos diferenciados da Mercedes pioraram o carro. Hoje, voltando ao normal, Lewis fez o que pode, mas foi traído pela incompetência da equipe ao não conseguir chamar para os boxes antes do VSC. No fim, deu pra salvar um pontinho. 

Enquanto isso, George Russell foi perfeito e vai mostrando consistência, mostrando que a Mercedes é uma terceira força muito distante de Red Bull e Ferrari. Problema no motor e na aerodinâmica. Pode ser uma temporada de transição, mas por ser longa, não é aconselhável fazer muitos prognósticos. Será Hamilton de 2022 o Schumacher de 2005?

Esteban Ocon foi um dos destaques da corrida e peitou até Alonso, garantindo um sexto lugar. Apresentando evolução, Lando Norris levou a McLaren para o sétimo lugar, com Pierre Gasly em oitavo e Kevin Magnussen conseguindo mais dois pontos importantes para a Haas. A Aston Martin aguarda se Vettel pode ser um diferencial porque o carro é fraco, enquanto a Williams precisa priorizar a questão financeira e quem sabe ter um piloto mais capaz para o ano que vem.

Numa disputa limpa, Max vence a primeira como um campeão do mundo. A última vez que um #1 havia vencido foi Sebastian Vettel no GP do Brasil de 2013. Em duas corridas, podemos dizer que Red Bull e Ferrari podem protagonizar o campeonato corrida a corrida, dependendo da confiabilidade, das evoluções e das características de cada pista. Pode ser mais uma temporada inesquecível na F1.

Confira a classificação final do GP da Arábia Saudita:


Até!