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Houve, por alguns anos, o temor que o talento de Max
Verstappen fosse sufocado pela juventude e até então imaturidade do holandês.
Muito arisco e ousado, mas também inconsequente.
Quando disputava posições sem brigar pelo título, sem a responsabilidade,
Max se sobressaía porque os adversários tinham algo a perder. Mesmo assim, já
cometeu erros pelo ímpeto. Uma coisa é a idade, outra é a experiência. Max tem
o raro caso de ser um jovem experiente.
Houve, por um período, o temor que Verstappen fosse apenas
um cara muito rápido e talentoso, mas sem consistência e equilíbrio na hora de
brigar pelos títulos.
Mesmo quando campeão, Max não afrouxou e foi muitas vezes
temerário contra Hamilton, que cansou de estender o tapete e passou a se defender
também, inclusive mandando o holandês para o hospital em Silverstone.
E foi também na agressividade e coragem que Max superou a
dinastia da Mercedes. O que vimos em 2022 foi o oposto. Verstappen não precisou
subir o tom, e sim apenas ser consistente e oportunista, com a tranquilidade
que um título pode dar para um piloto.
O resultado? 32 vitórias e 2 títulos, o mesmo que Fernando
Alonso. Esse é o paralelo que pretendo construir.
Alonso também finalizou uma era histórica, a de Schumacher,
também com sete títulos. Tal qual Verstappen, o espanhol superou o alemão
diretamente em uma e na outra derrotou a McLaren cheia de problemas, que tinha
Kimi Raikkonen como rival. Agora, a Red Bull derrotou a Ferrari, o que mais se
aproximava de algum contraste, pois Hamilton e a Mercedes foram carta fora do
baralho.
O que vem depois? Max Verstappen sempre foi um futuro
campeão. Era questão de tempo, da Red Bull dar um carro bom e do holandês
controlar os impulsos mais primitivos. Tudo aconteceu. Tal qual Alonso na
Renault e o próprio Schumacher na Benetton, Max constrói um período de
superioridade na fábrica de energéticos, feito primeiramente por Sebastian
Vettel.
O que todos têm em comum, nesse caso? O desafio pelo novo,
mas em circunstâncias diferentes.
Schumacher foi para a Ferrari com a missão de acabar com o
jejum dos italianos. Conseguiu, mas perdeu quatro anos no processo, numa época
que era possível testar os carros semanalmente lá em Mugello.
Antes mesmo de ser campeão do mundo, Alonso foi o escolhido
para ser o cabeça do projeto da McLaren. Desde então, ele simplesmente virou “o
cara que vai suceder Schumacher”. Um certo Lewis Hamilton, o gênio forte e as
decisões equivocadas na carreira sepultaram precocemente uma carreira que
poderia (e deveria) ser muito mais brilhante do que já foi.
O desafio na Ferrari foi na trave, uma crueldade não ter
vindo ao menos um título. A McLaren foi outro erro de leitura e, agora, o
espanhol está apenas nos brindando com sua habilidade, já quarentão. A aposta é
na Aston Martin, que não dá motivos para empolgação, e sim o lugar que era
disponível para a Fênix.
Vettel foi diferente: o desafio de repetir o ídolo
Schumacher veio após ser varrido da Red Bull por um Daniel Ricciardo. Houve um
momento que era possível acreditar na história sendo reescrita, mas Hockenheim
terminou com a carreira competitiva de Seb e da Ferrari por alguns anos.
Max Verstappen pode ser tudo o que Alonso não foi: ambos são
anti-heróis, abraçam a vilania e possuem personalidades peculiares. A diferença
é a leitura da carreira. Max e Red Bull se encaminham para um relacionamento
mais que duradouro. Já são seis anos na equipe mãe e a ideia é continuar.
Muitos títulos e vitórias podem surgir. Mas e o desafio?
Max vai abandonar a zona de conforto para tentar conquistar
um projeto pessoal e motivacional? Veja, até Lewis Hamilton fez o movimento de
deixar a McLaren, que fez tudo por ele, para ir à Mercedes. Na época, foi
considerado um tiro no pé. Hoje, sabemos o que aconteceu...
Max se importa ou ele apenas quer estar no lugar que é mais
confortável e pode ter todo um ambiente positivo a favor, com uma equipe
trabalhando por ele? É justo e faz sentido. Roeu osso por tanto tempo e vai
sair da mesa agora que chegou a picanha e o filé mignon?
Já existiram notícias no passado que ligavam Verstappen a
Mercedes, pensando na eventual aposentadoria de Hamilton. E a Ferrari? Se
cansarem de Leclerc? A sedução do cavalinho rampante para terminar com outra
seca de títulos é o suficiente? Max não dá indicativos, embora também tenha
cláusulas de performance da Red Bull para continuar no time e não romper o
contrato.
Bato na tecla: Max Verstappen tem tudo para ser o que
Fernando Alonso não foi, em números e conquistas. A questão é? E depois? Max
vai ser o primeiro cara que vai ser só o piloto de um time, desconsiderando
Mika Hakkinen e sua aposentadoria precoce sendo o escolhido de Ron Dennis na
McLaren?
Por falar no finlandês, ele mesmo acredita que Max não encerra a carreira na Red Bull por uma série de motivos: mudanças técnicas no regulamento, a saída de pessoas importantes do corpo técnico da equipe ou simplesmente querer um novo desafio, como quiseram tantos outros campeões na história do esporte.
Só o futuro dirá. Estamos ansiosos para descobrirmos os
próximos passos do holandês. Nem parece, mas ele tem só 25 anos, mas a jornada
já é longa. Estamos acostumados com a precocidade de Max que esquecemos desse
detalhe. No mínimo ele tem uns 15 anos de carreira, se quiser e não enjoar do
circo, se não estiver estafado de conquistas, o que é normal.
No entanto, se perder ou tiver algum risco, aí sim aquela
motivação do competidor voraz retorna quase que instantaneamente.
Seguimos acompanhando a jornada de um dos maiores pilotos da
história da F1.
Até!
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