quinta-feira, 14 de maio de 2020

O FUTURO SEM O PRESENTE

Foto: Grande Prêmio
Durou apenas dois dias o grande mistério que se abriu após o anúncio da não renovação de Sebastian Vettel com a Ferrari. Surpreendendo um total de zero pessoas, aconteceu o que já se especulava pela imprensa europeia: Carlos Sainz deixa a McLaren para ser o parceiro de Charles Leclerc na Ferrari enquanto Daniel Ricciardo abandona o projeto Renault para ser parceiro (agora de corridas) de Lando Norris na McLaren,

Foto: Getty Images
Na NeoF1, onde dois ótimos pilotos não podem coexistir na mesma equipe, esta até que foi uma escolha lógica. Sainz foi o melhor do resto ano passado e encaixa perfeitamente na categoria "piloto entregador de pontos", tal qual Bottas. A Ferrari realmente aposta suas fichas em Leclerc. Depois de mais de uma década apostando na aura de campeões, o futuro da escuderia está no jovem monegasco. Será que isso não é demais para ele? Porque Sainz não foi para a Ferrari para ser campeão do mundo. Com sorte, consegue alguns pódios e vitórias.

O espanhol, coincidência ou não, repete a mesma trajetória do ídolo Alonso: Minardi (Toro Rosso) - Renault - McLaren - Ferrari. Só faltou o retorno para os franceses no meio do caminho mas vocês entenderam. Agora, Carlos pode desafiar Max em outro bólido, sem a proteção da Red Bull. Seria engraçado se ele começasse a ter resultados de pista melhores que o marrento holandês. Sainz estava no lugar certo e na hora, no timing perfeito. A oportunidade apareceu e ele pegou. Se merecia? Não. Existem pilotos melhores? Existem, mas Carlos encaixa nessa Ferrari justamente por ser apenas bom. Ao menos pode dizer no futuro que já pilotou por McLaren e Ferrari.

Foto: Autoracing
E o sorriso? Não surpreende ele ter pulado do barco da Renault. Na verdade era justamente isso o que aconteceria. Foi uma jogada de ocasião: Ric pularia para um ambiente favorável, sendo o número um e ganhando muita grana esperando por 2021. Apareceu a chance mas a Ferrari não quis. Diante de tantas crises que ganham força durante essa pandemia, é bem possível que os franceses larguem a F1.

Esportivamente, a McLaren parece muito mais confiável. Foi a quarta equipe de 2020 e no ano que vem vai ter o retorno do motor Mercedes. A perspectiva de crescimento é muito maior. A Renault, por mais independente que seja, caminha em passos muito lentos há anos, aquém do que investe. O australiano chega para liderar uma equipe que confia em um novo regulamento e em teto orçamentário para voltar a ser grande, com o bom Lando Norris como escudeiro. No entanto, apostar somente nisso é de um otimismo muito inocente.

Ricciardo, infelizmente, parece ter perdido o bonde da história. Já tem uma idade "avançada" para os padrões da F1 (mais de 30), não é mais de nenhuma academia de pilotos e tem um agravante: ser muito bom. Isso o tira do páreo nas principais equipes. Hamilton e Bottas ainda não renovaram o contrato, mas quem garante que a Mercedes continua? Toto Wolff e seu movimento na Aston Martin colocam algumas pulgas atrás da orelha... Enquanto, o sorriso vai ter mais motivos para sorrir porque vai continuar ganhando muita grana, ao menos. Estima-se que irá receber 30 milhões de dólares em um contrato de "múltiplos anos".

Foto: LAT Images
E agora, Cyril? A Renault torra dinheiro e não tem retorno técnico. Além do mais, vai ter que conviver com um piloto que vai embora e, como já escrevi, há uma crise mundial que vai fazer com que muitos repensem onde investir e o que gastar. Tudo que a Liberty não quer são equipes pedindo falência mas, no cenário atual, Mercedes e Renault podem sair do barco e talvez Williams, Haas e Alfa Romeo não aguentem o tranco. A própria McLaren também faz reclamações, mas apostar em Ricciardo é apontar na direção contrária.

Quem substitui Ricciardo? Ocon sequer estreou, então é difícil saber que perfil de piloto ir atrás. Pela lógica, é necessário alguém experiente para compensar. E quem seriam esses nomes? Vettel? Alonso? Hulkenberg? Não foge muito disso. Os dois primeiros eu duvido que aceitem. Hulk acabou de sair. Ou isso ou inventar um jovem ou alguém de outra categoria.

Nunca duas decisões resumiram tanto a NeoF1: um lugar que privilegia multimilionários oriundos de academias das equipes, onde só existem talvez três ou quatro vagas para pilotos muito bons. Do contrário, você pode ser preterido por um médio acumulador de pontos que está no lugar certo, na hora certa e tem um lobby interessante por trás. As equipes não se preocupam mais com dois bons pilotos no mesmo espaço, mas sim priorizar um ótimo e um bom para harmonizar tudo.

O campeonato de pilotos não deveria mais existir. Isso pouco importa. Deveriam validar somente o campeonato de construtores. Essa é a lógica que a NeoF1 passa para os seus neofãs.

Até!

terça-feira, 12 de maio de 2020

SEM ADEUS

Foto: AP Photo
Para quem está sobrevivendo a pandemia, ela pode ser um período para se fazer pensar e repensar várias questões mundanas que em um dia normal ninguém teria tempo, interesse ou temor em mexer.

Assim como o relacionamento de vários casais acabaram rapidamente com a necessidade de conviver 24 horas nesse confinamento forçado, Ferrari e Vettel decidiram em terminar a relação no final do ano. Nada que surpreenda.

Esse sintoma de fim de relação era bem claro desde que o alemão entrou em uma espiral negativa, em 2018. De lá para cá, a ascensão e boa temporada do protegido Leclerc apenas serviram para acelerar o processo da Ferrari em perceber que não pode gastar tanto dinheiro em alguém que não entrega um resultado condizente a esse pagamento.

Um cansou do outro. A missão em reerguer a Ferrari e tentar copiar os passos do ídolo Schumi deu certo até a página dois. Depois, quando a Ferrari não falhou, Vettel deu pane. É uma despedida sem adeus. Se a temporada começar, vai ser em julho, mas francamente, ninguém se importa muito com isso. É uma distopia pensar no que vai acontecer. Por outro lado, os testes de verão mostraram que esse será mais um ano perdido para os italianos.

Vettel fracassou na Ferrari? Difícil afirmar isso depois de 14 vitórias e ser o terceiro mais vencedor da história da Scuderia. Agora, com certeza vai ficar aquela sensação de que ele entregou menos do que podia ou do que a Ferrari esperava. Convenhamos: Vettel é um bom piloto, mas nada que justifique quatro títulos mundiais. Teve a sorte e competência de estar no momento certo na hora certa. Ademais, Alonso, que saiu brigado com os italianos, sai com a sensação de entrega muito maior porque mesmo com menos equipamento ele batalhou pelos títulos. Vettel não chegou nem perto disso.

O futuro da Ferrari é tornar Leclerc oficialmente o protegido. De contrato renovado até 2024, está nele as fichas para a quebra de uma hegemonia. Assim como a Red Bull, os conservadores italianos entregam essa responsabilidade para um jovem porque, nas últimas vezes que apostou nos medalhões, não deu certo. Ao menos irão gastar bem menos.

Como Leclerc é o protegido, quem virá não irá incomodá-lo. O objetivo é ser um acumulador de pontos,um Albon, um Bottas. Quem se encaixa melhor nisso, tanto enquanto piloto quanto em personalidade? Segundo a imprensa europeia, Carlos Sainz será o escolhido. De chutado da Red Bull pela influência de Verstappen, o espanhol sucessor de Alonso agora pode disputar roda a roda com o rival holandês. Que ironia.

Outro que corre por fora é Giovinazzi, mas esse aí mal mostrou suas credenciais na Alfa Romeo e, além do mais, a Ferrari se mostra muito cética em contratar italianos para a equipe. Os últimos (Badoer e Fisichella) foram em circunstâncias excepcionais. Eu não duvidaria que tirassem da cartola o Mick Schumacher, o Schummi Jr. Está tudo uma loucura.

Leclerc e Sainz. Certamente essa seria a dupla de pilotos mais insossa da história da Ferrari, sem dúvida alguma. Até na penúria dos anos 90 haviam pilotos carismáticos e admirados pelos tifosi, como Jean Alesi e Gerhard Berger. Para uma equipe como a Ferrari ter dois jovens nem tão carismáticos assim e abrir mão de um multicampeão é complicado. Eu apostaria em Ricciardo e até no retorno de Alonso, mas isso certamente nunca vai acontecer.

E Vettel? Bom, daí existe um efeito dominó. A imprensa europeia há semanas divulga que o alemão recebeu sondagens de McLaren e Renault. Se Sainz realmente for pra Ferrari, é caminho livre. Imagina Vettel numa McLaren com o retorno do motor Mercedes. Nostálgico... além do mais, a Renault não parece nem perto de estar estruturada. Por outro lado, Ricciardo pode ir para a equipe inglesa e aí sobraria Vettel para os franceses.

O tetracampeão merece respeito. Pode não estar mais no prime e depender de inúmeras variáveis para extrair o máximo do carro mas ainda assim é superior a no mínimo 80% do grid. Hoje, talvez sem a pressão dos títulos e vitórias que já tanto conquistou, uma nova aventura, liderando uma outra grande escuderia de grife pode ser o início de um desfecho bacana daquele está no top 5 da Fórmula 1 em títulos e vitórias.

Sem adeus, mas convenhamos: é até melhor que seja assim.

Até!

segunda-feira, 13 de abril de 2020

HORA DE DESCANSAR

Foto: Klemantaski Collection/Getty Images
Stirling Moss morreu aos 90 anos em um domingo de Páscoa. Morte natural. Ele fechou os olhos e descansou, segundo o relato da esposa Susie para a imprensa inglesa.

Com 16 vitórias na categoria, é o não-campeão com mais triunfos na história da Fórmula 1. Contrariando a cultura brasileira de se "não ganhar é ruim", Stirling foi uma das figuras mais condecoradas e reverenciadas nesses 70 anos de F1, sendo inclusive reconhecido por figuras ainda contemporâneas e vivas como o narrador Murray Walker, de 96 anos, a voz do esporte britânico.

Em 11 temporadas, brigou pela taça nas últimas sete. Correu por HWM, ERA, Connaught, Cooper, mas seu auge foi por Mercedes, Maserati, Vanwall, BRM, Lotus e a Ferguson. Na crueldade do esporte, foi tetravice consecutivo (três vezes para Fangio e uma para Mike Hawthorn).

A história de seu grande cavalheirismo e espírito esportivo foi justamente em 1958. Em Portugal, após vencer, o rival Mike foi desclassificado por ter feito uma inversão de marcha na pista, o que era proibido. Moss testemunhou a favor de Mike e, isso, no final, lhe custou o título. Se o rival fosse desclassificado, Stirling seria o campeão da temporada.

Ele foi o primeiro britânico a vencer na corrida local e, nas décadas seguintes, foi inspiração e deu muitos conselhos para a geração seguinte, como Jim Clark, Nigel Mansell, David Coulthard e até mesmo Button e Hamilton, os mais novos.

Moss vencendo em Silverstone, 1957. Foto: Getty Images

Com 16 vitórias, 16 poles, 24 pódios e 19 voltas mais rápidas em 66 corridas é uma marca expressiva e tanto. Em 2000, pela postura e pelos serviços prestados, virou Cavaleiro do Império Britânico. Seguiu por muito tempo no paddock e pilotando carros históricos, mais especificamente até 2016. Com o agravamento de problemas de saúde decorrentes de uma queda de elevador e uma infecção no tórax, anunciou a aposentadoria da vida pública em 2018.

Agora, mais do que nunca, é hora de descansar, definitivamente. Stirling Moss está nos céus dos campeões junto com seus rivais. Que o recado fique bem claro para todos nós.

Até!

quinta-feira, 2 de abril de 2020

REALIDADE PARALELA

Foto: Getty Images
Com a pandemia pegando, cada um ficou definitivamente na sua bolha. Me deu vontade de escrever, vamos lá:

Cancelaram/adiaram mais uma corrida. Equipes e promotores acreditam ser possível realizar 16/18 corridas em 6 meses. Eles estão no direito de tentar defender o negócio deles. Realidade paralela.

Helmut Marko: o homem teve a ideia de confinar todos os pilotos da academia Red Bull (titulares e reservas das duas equipes) com o objetivo de todo mundo pegar o coronavírus e fazer com que se curassem com os anticorpos agora, evitando de ficar doentes no decorrer da temporada. Óbvio que a ideia não foi pra frente.

Dias atrás (pensava em você) ele disse que teve coronavírus mas que se curou. Logo ele, que está no grupo de risco. Realidade paralela. Isso é uma coisa que eu imaginava que o Bernie Ecclestone diria, por exemplo.

Por falar no Bernie, o senhor de quase 90 anos disse que, por ele, nem teria F1 no ano. Sensato, mas eu achava o contrário. Se ele fosse o dono, certamente já teríamos algumas corridas por aí... Ou não, vai saber qual é o personagem da vez que o malvado favorito escolheu ser.

Além dos gastos e incertezas, ninguém está ansioso pra ver Hamilton ganhar 15 das 20 corridas no ano e ser campeão facilmente mais uma vez. Façam duas temporadas em uma e azar. O problema é que já existem conversas para que o regulamento novo só seja imposto em 2023. Aí não, meu patrão.

A Racing Point pode se despedir nesse ano sem fazer uma corrida, tudo isso porque Stroll pai ano que vem será o chefe da Aston Martin. Nome de grife, investimento de grife, dinheiro, mas o Baby Stroll em um dos carros é rasgar esse dinheiro. É o contraponto da realidade paralela.

Enquanto eu escrevo besteira, eu vivo numa minha realidade paralela por aqui. Atualizações a qualquer momento. Escrevo y escrevo. Saudades, Prior :(

Até!

quinta-feira, 19 de março de 2020

RECALCULANDO ROTA

Foto: Getty Images
Atualizações do corona vírus:

A F1 declarou férias para as equipes nesse período de março/abril, onde todas as corridas foram canceladas.

O objetivo é usar agosto, originalmente as férias de verão na Europa e onde as equipes descansam, para reagendar corridas que já foram adiadas/canceladas.

Hoje, as corridas de Espanha, Holanda e Mônaco foram canceladas e/ou adiadas. Em Mônaco, o príncipe Albert testou positivo para o coronavírus. Se confirmado, será a primeira vez desde 1954 que as ruas do principado não vão ter uma corrida.

A expectativa é, que se tudo der certo, a temporada comece em junho, no Azerbaijão. Se colocar todas as corridas atrasadas (ao menos as europeias) para o final do ano, estão dizendo que a etapa final, Abu Dhabi, será na metade de dezembro.

Esse último parágrafo é puro chute e especulação. O que mais temos de concreto?

Bom, diante da pandemia e suas consequências, as equipes não teriam tempo para preparar os carros de 2021, do novo acordo. Portanto, todas as equipes concordaram em adiar o novo regulamento para 2022. O teto orçamentário, no entanto, está mantido.

Atordoada, a F1 tenta se organizar, mas para isso vai ter que depender dos avanços da medicina. Convenhamos: ninguém dava nada por essa temporada. O pior: o adiamento das novas regras pega os pilotos de surpresa, pois muitos renovaram apenas para o final desta temporada.

No entanto, parece improvável que aconteçam mudanças, até porque os carros podem nem ir para a pista no ano. O cancelamento da temporada seria lamentável pelas questões contratuais, financeiras e até afetivas (da saudade e etc), mas o adiamento consegue ser pior. Na pior das hipóteses, mais dois anos enfadonhos.

Sim, a F1 está com o coronavírus. A diferença é que se não matá-la, ela vai deixar a categoria bem comprometida por algum tempo. Aí, o que resta no momento é apenas recalcular rotas, buscar soluções que na verdade são mais fugas em prol da sobrevivência e do bom senso do que qualquer coisa.

Até!

terça-feira, 17 de março de 2020

O FUTURO

Foto: Divulgação/Toyota Racing Series
Em tempos de quarentena, uma boa notícia: ontem o brasileiro Igor Fraga, de 21 anos, foi anunciado como mais um piloto da academia da Red Bull, assim como Sérgio Sette Câmara. Igor vai correr a F3 pela equipe Charouz.

Filho de brasileiros e nascido no Japão, Igor conquistou no início do ano o Toyota Racing Series, tradicional evento de início de temporada que acontece na Nova Zelândia com jovens promissores. O brasileiro tem uma trajetória peculiar no automobilismo: sem dinheiro para competir, acabou migrando para o e-sports, onde acabou se destacando muito. Em 2017, venceu a Fórmula 3 brasileira e participou do mundial de e-sports. Em 2018, foi campeão da Copa das Nações de Gran Turismo da FIA e, com o patrocínio do game, voltou para as competições reais.

A conquista do início do ano o credenciou de vez para ocupar um cargo importante na exigente e cobiçada academia dos taurinos. Por questão de hierarquia e experiência, ainda precisa mostrar desempenho na F3 e na F2. A notícia importante é que, mesmo sem patrocínio monetário e já relativamente "velho" para uma promessa (21 anos), Igor vem despontando e tem tudo para continuar provando seu valor.

A contratação do brasileiro mostra que, num futuro não muito distante, o Brasil em breve pode voltar a ter vários pilotos como titulares. Além de Sette Câmara, a Ferrari tem Gianluca Petecof e Enzo Fittipaldi, a Renault tem Caio Collet e a Haas tem Pietro Fittipaldi como piloto reserva, sem contar com Pedro Piquet e Felipe Drugovich que irão estrear na F2 essa temporada.

Só nos resta torcer para essa safra de talentos atingir seus objetivos e, quem sabe, subir para a Fórmula 1.

Até!

sexta-feira, 13 de março de 2020

STAND BY

Foto: Reprodução/Twitter
Com a oficialização do cancelamento do GP da Austrália, a FIA também adiou/cancelou o que seriam as três etapas seguintes: China, Bahrein e Vietnã.

De agora em diante, não faltam especulações do que será a temporada 2020 da Fórmula 1. Alguns acreditam que o ano começa em maio, com o GP de Mônaco, com as corridas da Espanha e Holanda nas férias de agosto.

Helmut Marko acredita que a abertura será no Azerbaijão, em junho.

A verdade é que, diante de uma pandemia e todo o alarmismo mundial, é impossível prever qualquer coisa.

E convenhamos: ninguém está muito interessado nesse ano, que será uma repetição das outras temporadas. Tomara que agilizem o novo Pacto de Concórdia e que já pensem logo em 2021.

O mundo está em stand by, mas até quando?

Até.