terça-feira, 25 de abril de 2023

ONDE ESTAMOS?

 

Foto: Getty Images

Uma pausa incomum na F1. Graças ao cancelamento do GP da China, tivemos um mês sem corridas e poucas notícias. Férias de outono lá na Europa, a primeira antes da chegada do verão.

Só três corridas e faltam vinte. Parece que aconteceu muita coisa e ainda vai acontecer tanto... “Como estamos?”, perguntaria o poeta.

A sensação de que mal começou e já acabou é óbvia: a Red Bull não tem adversários. O trunfo pode ser, todavia, justamente a temporada longa e a punição sofrida por exceder o teto orçamentário. Vai que os taurinos não consigam ter tanta margem para crescimento e uma Mercedes da vida vai ganhando espaço? Pode ser que não tenha campeonato, mas alguma disputa já é algo, não? Sendo otimista...

Ferrari já afirma que não pensa nas três que estão acima. Está na própria rotação de incerteza. É um colibri. Faz força, move mundos e fundos, e no fim permanece no mesmo lugar.

A Aston Martin é a grande atração do ano. Doutor Lawrence quer mais: legal, três pódios com a Fênix, mas eu quero saber de vitória. De preferência do filho, claro. Dinheiro existe e margem para desenvolvimento também. Mesmo assim, a curiosidade é saber se Alonso e cia já possuem musculatura para competir a longo prazo com as flechas de prata ou até mesmo a Ferrari.

Do meio pra trás, há um equilíbrio por baixo. A tabela de pontos prova isso. Só os novatos Logan Sargeant e Nyck De Vries que ainda estão zerados. É briga de coice no escuro. A McLaren enfrenta sérios problemas no nascimento do carro e vai depender do talento de Lando Norris e do crescimento de Oscar Piastri. A Haas vai precisar do oportunismo de seus pilotos, cujos astros estão diferentemente alinhados.

A Alpha Tauri é um drama maior. Uma equipe já jogada as traças e cobaia da prima rica. Tsunoda está até mais regular, mas ele ser o líder do time a essa altura do campeonato já diz tudo.

A Alpine é um capítulo a parte. Esqueci deles, por um instante. Eles também estão numa categoria particular de quarta a quinta força. Tem dois bons pilotos e é questão de tempo para isso se traduzir nos resultados de pista. É só parar de ter problemas e Ocon e Gasly não se destruírem. Ok, duas coisas que não se resolvem somente como se fosse “só”.

A Alfa Romeo também já é outra em processo de sauberização e Audização. O futuro é o que importa. Que presente? É a motivação do grande salto que Bottas busca na última rotação da carreira, enquanto o chinês viável Zhou luta para continuar no circo, embora também esteja em franca evolução.

Enfim, um texto tipo guia porque a pausa forçada da F1 realmente causou um sentimento de recomeço, embora já tenhamos três corridas. Faltam só vinte. A caminhada é longa e, embora já saibamos o que vem por aí, a ansiedade pela ausência de algumas polêmicas e voltas rápidas são o suficiente para tornar tudo mais interessante do que realmente é. Saudade e carência definem.

Até!

segunda-feira, 3 de abril de 2023

FORÇA DE VONTADE

 

Foto: Getty Images

A FIA e a direção de prova, com Charlie Whiting, tinham preceitos, regras e situações muito bem definidas. Raramente existiam polêmicas. Só lembro de uma, quando Vettel mandou o finado diretor de prova ir “se foder”, mas mesmo assim, a regra era clara, parafraseando outro.

Apenas a morte de Charlie Whiting não justifica o deus dará e a falta de bom senso que tomou conta da F1. Interpretações dúbias, hipocrisias, pressões das equipes e influência, decisões que precisam ser tomadas rapidamente... Todos nós estamos vendo os efeitos disso.

Quando há um campeonato decidido, sem grandes variações, esses erros podem se tornar menores, quase imperceptíveis. O problema é o que vimos em 2021, quando uma interpretação de uma pessoa ajudou a mudar o rumo de um campeonato.

Os problemas continuam, mesmo com a Red Bull, hoje em dia, quase intocável, e também a saída de Michael Mais. Dois diretores de prova já foram conduzidos, hoje são só um, existe uma espécie de VAR fixa em Londres para analisar tudo nos mínimos detalhes e o resultado, até aqui, é muita confusão e falta de critério.

A F1 optou por um caminho que está ficando sem volta: a espetacularização de tudo e a artificialidade em prol de um engajamento enganoso e momentâneo. Se discutem apenas superficialidades, como bandeira vermelha e Safety Car pra qualquer cocô de passarinho na pista, pneus de chuva que nunca são usados porque a categoria não corre mais na chuva, dramas forçados de série enquanto a competitividade do novo regulamento não emplaca e por aí.

Pouco se vê as discussões acerca de 2026, a tão propagada nova era da F1, mas o intuito do texto também não é esse.

A espetacularização forçada de tudo e qualquer coisa, sobretudo nas regras, cria a falta de bom senso na aplicação das regras e punições. O resultado são essas confusões: punições anunciadas e canceladas, tempo de espera para resolver o que ser feito na pista e a incapacidade de fazer o público entender bulhufas, mesmo quando as vezes acontecem casos quase extraordinários.

Lembram do ano passado, quando a FIA teve que explicar bem depois da bandeirada que Max Verstappen tinha sido campeão no Japão? Nem o piloto sabia. O momento mais importante da temporada veio num anúncio frio, agridoce e confuso.

Tá faltando clareza e entendimento no tratamento e na criação das regras e normas. O bom senso ajudaria. É claro que a ausência de um novo número um incontestável após a morte de Whiting dificulta o processo. São formas diferentes de gerir e avaliar os casos. As pessoas são diferentes, mas as interpretações e aplicações não podem ser. Baumeister e Tierney escreveriam que a F1 precisa redescobrir a própria força de vontade.

Tudo bem, se eles não escrevessem isso, eu escrevo, então, azar.

A FIA poderia ser mais assertiva em situações de corrida ao invés de achar que o piercing do Hamilton e os mecânicos na grade na bandeirada são os verdadeiros problemas da categoria.

Até!


domingo, 2 de abril de 2023

VÁRZEA

 

Foto: Dan Istitene/Getty Images

O problema de um carro muito dominante sem algum adversário qualificado para desafiá-lo é que, como o Lucas Carrano sempre pontua no Sexto Round, a falta de possibilidade de derrota afasta o público porque os resultados são óbvios.

Imagine isso de madrugada. Pois bem, a Mercedes até tentou dramatizar as situações com as boas largadas de Russell e Hamilton, que assumiram as primeiras posições. Verstappen, inexplicavelmente comedido por frear cedo demais na curva 2, era o terceiro e tinha muito a perder. O longo prazo é sempre mais efetivo.

Aí na primeira volta já teve problema. Leclerc foi atropelado por Stroll e ficou fora. Primeiro Safety Car e mais azar para o monegasco que a cada prova que passa vira o Jean Alesi moderno. Relargada. As coisas não mudam muito, mas uma pancada começa a mudar algumas coisas.

Albon, que fazia bom final de semana, bateu forte e sujou bastante a pista, além de estar numa posição perigosa. A primeira bandeira vermelha, logo na volta 7. Quer dizer, antes era Safety Car. Russell parou, Hamilton não. Estratégias diferentes para tentar lutar contra a Red Bull. Bandeira vermelha. Russell se ferra injustamente. Poder mexer em tudo nessas circunstâncias é uma palhaçada, uma das várzeas do regulamento da FIA.

Russell teve mais o que lamentar porque o motor Mercedes de seu carro estourou, o que é um histórico raro na equipe. O problema é que dali em diante a corrida ficou insuportável. Com a bandeira vermelha, todo mundo ficou na mesma estratégia. Algumas disputas soltas e nada demais. Verstappen abria para Hamilton, que controlava Alonso, que controlava Gasly, que brigava com Sainz e Stroll, enquanto Pérez ficava preso atrás de Norris, com um pelotão com Ocon e o resto brigando de foice no escuro.

Tamanha chatice, na madrugada, juntando com meu cansaço vindo da viagem de Caxias me fizeram apagar no sofá. Acordei achando que a corrida já tinha terminado, mas, sem entender nada, vi uma bandeira vermelha faltando duas voltas. Bandeira vermelha faltando duas voltas é sacanagem. Encerra a corrida logo. Não há constrangimento em terminar uma prova com as amarelas, igual na Indy. Não estão copiando tudo dos americanos?

Tentaram remendar um erro usando um regulamento ridículo para evitar outro constrangimento. Aliás, como o Magnussen conseguiu ir reto no muro? Era para bandeira vermelha? Perguntas que podem ser e não ser respondidas. 

O final de semana já mostrava inúmeras barbeiragens na F2 e F3, estreantes no traçado australiano, e a F1 não poderia ficar de fora. Se na largada já acontece algo, imagina numa relargada que define a prova nas voltas finais? Dito e feito. Sainz atropela Alonso, que perderia o pódio. As Alpine se batem, melhorando o clima amistoso entre os compatriotas Ocon e Gasly. Sargeant esquece de fazer a curva, tal qual Salvino, e atropela De Vries. Um caos.

Aí, o tal regulamento que conseguiu ser minimamente coerente. Como aconteceram tantas coisas e o primeiro setor estava um caos, mais bandeira vermelha. Como o líder Verstappen (ele e Hamilton ilesos) não tinha completado a volta então, na prática, aquele caos todo não valeu. Uma pena que os abandonos e barbeiragens não poderiam ser desfeitos.

Ou seja: quem se ferrou nesse caso foram Sainz, punido com cinco segundos, e as Alpine. Com uma volta restante e impossível de relargar, a F1 optou pelo óbvio que deveria ter escolhido antes: terminar com as amarelas ou, no caso, o Safety Car.

Três pódios seguidos de Alonso, mais um com sustos e emoção, algo inédito desde 2013. O primeiro de Hamilton e da Mercedes no ano, mostrando que o carro não é tão ruim quanto as declarações querem induzir. Não há milagre, mas sim uma boa notícia. Primeiros pontos da difícil McLaren e do dono da casa Piastri na carreira. Hulkenberg nos pontos também, assim como Zhou e Tsunoda. Portanto, todas as equipes já pontuaram em três etapas. Pior para Alpine e Ferrari, que saíram zeradas, assim como a Williams.

A Red Bull está em outro patamar, Mercedes, Aston Martin e Ferrari vem para a briga de segundo posto e o resto é resto. O mais importante é mostrar como a FIA está espetacularizando decisões ridículas que ferem a competitividade do esporte, ao mesmo tempo que se importa com idiotices que matam a essência da categoria. Safety Car e bandeira vermelha em tudo é falta de bom senso, mas a preocupação dos caras é encaixar mais uma corrida dos EUA no calendário e proibir piercing de piloto e os mecânicos na grade na hora da bandeirada.

A F1 que conhecíamos está definhando. 

Confira a classificação final do GP da Austrália:


Até!

sexta-feira, 31 de março de 2023

CORUJÃO MOLHADO AUSTRALIANO

 

Foto: Clive Mason/F1


Albert Park, Melbourne, Austrália. A grande novidade desta temporada é a estreia da F2 e da F3 em solo australiano. Setup desconhecido promete grandes emoções. Já tivemos alguns acidentes no treino da F3, onde o brasileiro Gabriel Bortoleto, pupilo da Fênix Alonso, fez a pole.

Talvez o brasileiro tenha sido agraciado pela sorte, pois haviam pilotos mais rápidos para completar a volta, mas um acidente na última curva encerrou de vez o treino. Há talentos por aí. Enzo fez um bom treino livre e a tendência é que o brasileiro evolua. Ele precisa, afinal a cobrança da Red Bull é pesada, como nós conhecemos.

E a F1? Bem, vemos a dominância inabalável da Red Bull e a Aston Martin aparentemente bem. Por falar em aparentemente, a Mercedes parece um pouco acima da Ferrari. Escrevo isso antes do TL2, entrando na madrugada. Um horário que me deixa animado para produzir, confesso.

O TL2 foi prejudicado por alguns pingos de chuva. Um treino onde geralmente o pessoal corre com menos gasolina e também prioriza as voltas rápidas além do stint de corrida. Com muitas retas, há muito tráfego. Diversos pilotos estão sendo atrapalhados uns pelos outros, o que pode fazer a diferença numa classificação. Pérez, por exemplo, não conseguiu completar voltas limpas utilizando o pneu mais macio. Assim, Alonso foi o mais rápido da sessão.

No entanto, a grande notícia negativa (para variar) é mais uma bizarrice da FIA: do nada eles resolveram proibir os mecânicos de subirem na grade na hora da bandeirada, visando a “segurança” de todos. Tipo, isso é uma tradição que existe desde que a F1 é F1. Grandes imagens históricas foram filmadas e registradas com a vibração dos mecânicos com as vitórias, pódios ou meros pontos de seus pilotos.

Mas claro, a FIA tem essas preocupações estéticas e outras idiotices como a posição do carro no grid ou o piercing do Hamilton. Ah, e a emocionante série da Netflix, é claro. E a competitividade na categoria nada, né? Ah, esqueci que o importante é encher de corridas nos EUA. É o suficiente.

Enquanto não chegarmos na Europa, tudo indica que a F1 mantém a hierarquia tradicional. Com mais retas e menos chicanes, vamos ver se Albert Park produz o entretenimento que sempre foi tradicional nas aberturas de temporada ou essa mudança matou a emoção do circuito de vez.

Confira os tempos dos treinos livres:




Até!

quinta-feira, 30 de março de 2023

GP DA AUSTRÁLIA: Programação

 O Grande Prêmio da Austrália entrou no circo da F1 em 1985. Foi disputado nas ruas de Adelaide até 1995, quando foi substituído pelo circuito de Albert Park, que é palco do GP até os dias atuais. Em virtude do Covid, a etapa não aconteceu em 2020 e 2021, retornando ao calendário em 2022.

Foto: Wikipédia

ESTATÍSTICAS:
Melhor volta em corrida: Charles Leclerc - 1:20.260 (Ferrari, 2022)
Pole Position: Charles Leclerc - 1:17.868 (Ferrari, 2022)
Último vencedor: Charles Leclerc (Ferrari)
Maior vencedor: Michael Schumacher - 4x (2000, 2001, 2002 e 2004)

CLASSIFICAÇÃO:
1 - Max Verstappen (Red Bull) - 44 pontos
2 - Sérgio Pérez (Red Bull) - 43 pontos
3 - Fernando Alonso (Aston Martin) - 30 pontos
4 - Carlos Sainz Jr (Ferrari) - 20 pontos
5 - Lewis Hamilton (Mercedes) - 20 pontos
6 - George Russell (Mercedes) - 18 pontos
7 - Lance Stroll (Aston Martin) - 8 pontos
8 - Charles Leclerc (Ferrari) - 6 pontos
9 - Valtteri Bottas (Alfa Romeo) - 4 pontos
10- Esteban Ocon (Alpine) - 4 pontos
11- Pierre Gasly (Alpine) - 4 pontos
12- Kevin Magnussen (Haas) - 1 ponto
13- Alexander Albon (Williams) - 1 ponto

CONSTRUTORES:
1 - Red Bull RBPT - 87 pontos
2 - Aston Martin Mercedes - 38 pontos
3 - Mercedes - 38 pontos
4 - Ferrari - 26 pontos
5 - Alpine Renault - 8 pontos
6 - Alfa Romeo Ferrari - 4 pontos
7 - Haas Ferrari - 1 ponto
8 - Williams Mercedes - 1 ponto

FORA DO PÁREO

Foto: AFP

Para Toto Wolff, o objetivo da Mercedes em 2023 é semelhante ao de 2022: tentar ganhar ao menos uma corrida. Disputa pelo campeonato? Fora de cogitação.

O chefão da Mercedes, inclusive, não descarta copiar o carro da Red Bull para melhorar, nem que para isso também seja necessário colar um adesivo de touro.

Mas por quê a Mercedes segue tão atrás e com evolução tímida? A equipe, segundo George Russell, se deixou enganar pela vitória em Interlagos e manteve o desenvolvimento dos conceitos do W13 para o W14. Ou seja: sidepods estreitos, mas o problema inesperado do porpoising basicamente jogou os alemães para serem a terceira força, ou a quarta em 2023, considerando a ascensão da Aston Martin.

“Fizemos apenas duas corridas. Mas é realista [dizer] que estaremos brigando na frente quando se olha para o tamanho da diferença [para a Red Bull]? Não, não é. Vamos dar o máximo e ver o que acontece.

“Conseguimos ganhar muito terreno ao longo da temporada passada. Fomos chegando cada vez mais perto da Red Bull e fomos capazes de competir por vitórias no final. Acho que esse será o nosso objetivo para este ano”, disse Wolff.

Há verdades aí, mas também a velha tática de que, caso a Mercedes consiga "superar a meta", seria um caso heróico da equipe e dos pilotos. Nunca é demais lembrar que Russell e Hamilton é a melhor dupla do grid e uma equipe octacampeã de construtores não desaprende de um regulamento novo para o outro. Muito cuidado com as entrelinhas e as armadilhas jogadas através da imprensa.

EVOLUÇÃO E PRESSÃO

Foto: Red Bull Content

Apesar do futuro nebuloso tanto da equipe quanto dos pilotos, o chefão Franz Tost elogia o início de temporada de Yuki Tsunoda. Na terceira temporada no time, é agora que o jovem japonês assume a responsabilidade de ser o líder da equipe, após Pierre Gasly ir para a Alpine. Apesar do desempenho consistente, Tsunoda e o time ainda não pontuaram no ano. O japonês foi o 11° nas duas corridas até aqui.

“Yuki deu um grande passo à frente. Não apenas do lado da pilotagem, mas também do lado técnico. O feedback técnico dele é muito bom e devo dizer, também, que suas atuações foram competitivas. Acho que ele tirou o máximo proveito do carro”, disse Tost.

Apesar das palavras elogiosas, o clima interno não é tão bom, visto que Helmut Marko coloca o futuro dele e de Nyck De Vries em prova, sem contar que a equipe pode ser vendida por não dar tantos resultados, gerar gastos e a mudança administrativa da Red Bull após a morte de Dietrich Mateschitz.

Dar tanta responsabilidade para um jovem que ainda não se provou é perigoso. Além disso, colocar um estreante de quase 30 anos, junto a um processo de possível fim da equipe satélite mostram como a Alpha Tauri está sem rumo. Sem talentos emergentes surgindo da F2, realmente é caso para se pensar se há sentido continuar com esses moldes na F1.

TRANSMISSÃO:
30/03 - Treino Livre 1: 22h30 (Band Sports)
31/03 - Treino Livre 2: 2h (Band Sports)
31/03 - Treino Livre 3: 22h30 (Band Sports)
01/04 - Classificação: 2h (Band e Band Sports)
02/04 - Corrida: 2h (Band)


terça-feira, 28 de março de 2023

ENTRE O PRESENTE E A MELANCOLIA

 

Foto: Getty Images

Albert Park sempre vai ser a abertura do ano. Não tem como, já escrevi isso algumas vezes e mantenho essa melancólica lembrança misturada aos meus humores do momento.

Primeiro porque era fascinante olhar uma corrida de madrugada. Ok, antigamente o GP era mais cedo. Lembro que era logo depois do Jornal da Globo. Tinha aquela ideia do “horário proibido”, ainda mais para crianças.

O tempo foi passando e sempre foi mantido o ritual que, aliás, tinha a companhia da Malásia. Nada mais início de ano real do que essas duas corridas e o mistério e perseverança de uma criança que briga contra os próprios instintos para assistir o que gosta.

O tempo foi passando e nada mudou. Como já citado nos ritos de passagem, o que variou, na verdade, foi a minha vida. Colégio, faculdade, mas acredito que há, no meio do caminho, um ponto de ruptura.

A pandemia.

Era uma quinta, 12 de março de 2020. Mais um começo. No ano anterior, a bomba que foi a morte de Charles Whiting às vésperas da abertura da temporada. Mal poderia imaginar...

Algo poderia ser diferente porque não conseguiria cumprir o ritual de assistir todos os treinos. O motivo? Naquela quinta-feira, simplesmente teria um Gre-Nal à noite. Não era um jogo qualquer, mas sim o primeiro Gre-Nal da história na Copa Libertadores. Um grande evento.

Naquela semana, os indícios de que a Covid era algo sério já tinham sido sentidos, noticiados e anunciados. No dia anterior, a NBA suspendeu os jogos após um atleta contrair o vírus. A notícia de que Tom Hanks também tinha testado positivo assustava porque não era só com os mortais. Os ricos e famosos estavam a perigo da mesma forma.

Enfim, o ponto de ruptura foi descobrir que os treinos tinham sido cancelados porque um mecânico da McLaren também testou positivo, quase no início da sessão. Posteriormente, o resultado que todos sabiam.

Vocês já sabem de tudo: a pancadaria no clássico e os desdobramentos da Covid no mundo e na nossa sociedade.

Eu paro e penso que, obviamente, nada foi igual depois daquilo. Não só justamente pela obviedade, mas sim pelas consequências: o retorno da Austrália em outro momento do calendário e mudanças pessoais.

Ali foi interrompido um momento de ascensão profissional que eu vivia. Três anos depois, me sinto fisicamente melhor, um pouco mais seguro de mim, mas ao mesmo tempo frustrado e ressentido com a vida em geral. A F1 é um dos poucos escapes dessas realidades que me atormentam e estão me levando para a autodestruição. A questão é que isso vai estourar a qualquer momento, mais cedo do que tarde.

Enfim, escrevo isso após outra pancadaria futebolística na semana de mais uma corrida na Austrália. No meio do caminho, uma provável viagem para Caxias, a trabalho. Participar de uma final de campeonato. Estaria mais feliz e deslumbrado em 2020. O ressentido 2023 apenas está preparado para mais um dia no escritório. Agradecido, é verdade, mas sem aquela vibração de outrora, em constante descolamento do universo.

Até!

segunda-feira, 20 de março de 2023

À DERIVA

 

Foto: Motorsport Images

Mais uma vez, a McLaren começa a temporada de forma preocupante. Não sabemos se o time de Woking vai se recuperar, mas a tendência parece não ser positiva. As respostas ao teste da pré-temporada confirmaram a preocupação de Zak Brown e a irritação de Lando Norris.

As duas primeiras corridas também reforçam essa impressão. Resultados aquéns e a dupla brigando com o novato Logan Sargeant, da Williams.

Me parece que Oscar Piastri evoluiu desde o Bahrein. Chegou a bater roda com Norris, mais experiente e com a equipe na mão pelo óbvio talento. O australiano escolheu o destino: a pressão de rejeitar a Alpine aumentou ainda mais a cobrança pra cima do campeão da F2 e F1.

Com um carro ruim, fica tudo mais difícil. A questão da McLaren também é outra: depois de um crescimento consistente nos últimos anos, o novo regulamento embaralhou as coisas. Virou uma montanha russa.

A equipe enfrenta problemas financeiros, tanto que a sede de Woking está a venda desde a pandemia. O motor Mercedes, sendo uma cliente, impede a tentativa de protagonismo com um projeto novo, a não ser que Zak Brown esteja tentando um coelho da cartola para 2026.

Até aqui, parece que a única solução para a sobrevivência da McLaren enquanto um time grande e relevante é esse: uma parceria inédita. Claro, a experiência Honda foi traumática e também contribuiu com essa decadência, mas se o carro atual foi mal nascido, serão anos complicados, por mais que exista uma dupla jovem, forte, talentosa e motivada para extrair o que for possível do carro.

No momento, o que parece, é que a McLaren é um barco à deriva. Com as movimentações das equipes ponteiras, certamente Lando Norris seria um candidato possível para qualquer carro melhor. Só imaginar que Alonso e Hamilton em breve vão se aposentar, tem o lugar de Sainz... é um cenário que Zak Brown e o piloto britânico certamente têm no horizonte.

Os próximos anos e projetos serão fundamentais para saber se a McLaren tenta conseguir retomar o passado vencedor ou continua, lentamente, o processo de nova Williams.

Até!