Foto: Getty Images |
Albert Park sempre vai ser a abertura do ano. Não tem como,
já escrevi isso algumas vezes e mantenho essa melancólica lembrança misturada
aos meus humores do momento.
Primeiro porque era fascinante olhar uma corrida de madrugada.
Ok, antigamente o GP era mais cedo. Lembro que era logo depois do Jornal da
Globo. Tinha aquela ideia do “horário proibido”, ainda mais para crianças.
O tempo foi passando e sempre foi mantido o ritual que,
aliás, tinha a companhia da Malásia. Nada mais início de ano real do que essas
duas corridas e o mistério e perseverança de uma criança que briga contra os
próprios instintos para assistir o que gosta.
O tempo foi passando e nada mudou. Como já citado nos ritos
de passagem, o que variou, na verdade, foi a minha vida. Colégio, faculdade,
mas acredito que há, no meio do caminho, um ponto de ruptura.
A pandemia.
Era uma quinta, 12 de março de 2020. Mais um começo. No ano
anterior, a bomba que foi a morte de Charles Whiting às vésperas da abertura da
temporada. Mal poderia imaginar...
Algo poderia ser diferente porque não conseguiria cumprir o
ritual de assistir todos os treinos. O motivo? Naquela quinta-feira,
simplesmente teria um Gre-Nal à noite. Não era um jogo qualquer, mas sim o
primeiro Gre-Nal da história na Copa Libertadores. Um grande evento.
Naquela semana, os indícios de que a Covid era algo sério já
tinham sido sentidos, noticiados e anunciados. No dia anterior, a NBA suspendeu
os jogos após um atleta contrair o vírus. A notícia de que Tom Hanks também
tinha testado positivo assustava porque não era só com os mortais. Os ricos e
famosos estavam a perigo da mesma forma.
Enfim, o ponto de ruptura foi descobrir que os treinos
tinham sido cancelados porque um mecânico da McLaren também testou positivo,
quase no início da sessão. Posteriormente, o resultado que todos sabiam.
Vocês já sabem de tudo: a pancadaria no clássico e os
desdobramentos da Covid no mundo e na nossa sociedade.
Eu paro e penso que, obviamente, nada foi igual depois
daquilo. Não só justamente pela obviedade, mas sim pelas consequências: o
retorno da Austrália em outro momento do calendário e mudanças pessoais.
Ali foi interrompido um momento de ascensão profissional que
eu vivia. Três anos depois, me sinto fisicamente melhor, um pouco mais seguro
de mim, mas ao mesmo tempo frustrado e ressentido com a vida em geral. A F1 é
um dos poucos escapes dessas realidades que me atormentam e estão me levando
para a autodestruição. A questão é que isso vai estourar a qualquer momento, mais
cedo do que tarde.
Enfim, escrevo isso após outra pancadaria futebolística na
semana de mais uma corrida na Austrália. No meio do caminho, uma provável
viagem para Caxias, a trabalho. Participar de uma final de campeonato. Estaria
mais feliz e deslumbrado em 2020. O ressentido 2023 apenas está preparado para
mais um dia no escritório. Agradecido, é verdade, mas sem aquela vibração de
outrora, em constante descolamento do universo.
Até!
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