domingo, 5 de setembro de 2021

OVAÇÃO LARANJA

 

Foto: Getty Images

Basicamente choveu no lugar errado. Tirando o caráter de estreia e todo o clima de festa preparada para celebrar Max Verstappen, vencedor incontestável do GP da Holanda e com direito a hino acapella no pódio, Zandvoort não encaixa com a F1 atual. Circuito curto e estreito, onde nem mesmo a largada ou erros que causassem acidentes salvou, até porque não houve.

As únicas ultrapassagens eram de carros muito desiguais ou com diferenças de pneus gritante. É o caso de Pérez, que largou lá no fim do grid e conseguiu o nono lugar. A tour de despedida de Kimi Raikkonen ganha desfalques importantes. O finlandês está com covid e também vai ficar ausente de Monza, outro palco histórico que, assim como Spa, o Iceman não teve direito a uma última dança. Em seu lugar, Robert Kubica. Ao menos se mantém o caráter nostálgico da situação.

Dentro da pista, além do inconteste Max, tivemos dois destaques formidáveis: Pierre Gasly, num estrondoso quarto lugar com a Alpha Tauri e Don Alonso, a Fênix Fernando. Numa pista onde não há possibilidade de ultrapassar, ele levou uma Alpine que largou em nono para chegar em sexto. Rolou até um "Esteban is faster than you" reclamado pelo francês mas ele precisa respeitar o Don das Astúrias. Uma pena que Gasly não tenha alternativas. A esta altura, ficar na Alpha Tauri é um desperdício de tempo.

A Mercedes bateu cabeça na hora de tentar pegar Max. Antecipou parada e forçou a reação da Red Bull. Na segunda vez, Hamilton parou mais cedo e voltou no meio do tráfego. Max colocou os pneus duros e disparou para a vitória. Bottas teve o stint sacrificado para tentar segurar o holandês e depois, bizarramente, parou para fazer a volta mais rápida, tirando o ponto de Hamilton, que precisou fazer a mesma tática para minimizar os danos. Agora, Max tem apenas três pontos de vantagem no campeonato, o que define um empate técnico.

A Ferrari se comportou como uma boa terceira força, enquanto as McLaren ficaram para trás e Ricciardo segue tendo dificuldades. Também está cada vez mais difícil para Tsunoda, mas é normal, apenas 20 anos e ainda um estreante. Na Haas, é questão de tempo para que Mazepin e Schumacher se espalhem pela pista. Gunther Steiner, amarrado pelo dinheiro de um e a hierarquia do outro, segue sem saber o que fazer.

Podia ter chovido hoje. Zandvoort tem apenas a força comercial de Max para se sustentar no grid. Com os carros atuais, vai ser uma Mônaco versão circuito. Uma pena. Os fãs mereciam mais, mas aparentemente eles não ligam, desde que Max siga vencendo no local. E assim, agora, a Red Bull tem oito vitórias na temporada contra apenas quatro da Mercedes. Hamilton venceu uma das últimas nove, quando mandou Max para o hospital. A Mercedes segue em dificuldades, mas o que valeu nesse domingo foi o ovação do mar laranja.

Confira a classificação final do GP da Holanda:


Até!

sexta-feira, 3 de setembro de 2021

TUDO INCERTO

 

Foto: Getty Images

36 anos depois, a F1 está de volta a Zandvoort. Muita coisa mudou desde então e a pista, embora esteja obviamente modernizada para os padrões atuais, ainda remete aquele tempo.

É uma pista bem estreita, curta e veloz. Lembra Mugello. Com as áreas de escape com brita, qualquer erro será fatal. No entanto, é um circuito travado, o que reforça a importância da classificação. Fazer uma boa sessão é meio caminho andado. 

Um dos problemas ficaram expostos hoje. Como é tudo bem reduzido, é uma dificuldade enorme para retirar um carro da pista. Pode ser um problema na classificação e na corrida. Além disso, o caráter excepcional de estreia deixa tudo incerto: como ninguém conhece o traçado, todos precisam de muita quilometragem para adaptação.

No entanto, as duas sessões foram bem atribuladas. Na primeira parte, Vettel teve pane e demoraram 25 minutos para tirar a Aston Martin do traçado. Na segunda sessão, Hamilton teve pane no início e Mazepin rodou, parando na brita. Não houve tanto prejuízo em relação a primeira parte mas ainda assim é considerável.

É evidente que o favoritismo e a briga serão entre Mercedes e Red Bull. A corrida de Max vai ter um efeito catártico. 70 mil pessoas na cidade que fica de frente para o mar. Hamilton, antes de ter problemas, foi o mais rápido. Todavia, na segunda sessão ficou tudo mais incerto, equilibrado e surpreendente: dobradinha da Ferrari com Leclerc na frente e a Alpine muito bem, sobretudo Esteban Ocon.

A beleza de um circuito inédito ou muito afastado é que existe o benefício da dúvida e muita expectativa, o que aumenta a ansiedade. Zandvoort promete ser um circuito bem travado mas cheio de incidentes, pois ainda é da moda antiga. O resultado disso? Apenas no domingo, mas se não cair uma gota d´água na pista, é claro.

Confira a classificação dos treinos livres:



Até!


quinta-feira, 2 de setembro de 2021

GP DA HOLANDA: Programação

 O Grande Prêmio da Holanda aconteceu entre 1952 e 1985, com três pausas: 1954, 1956-1957 e 1972. 

Em 2020, estava marcado o retorno do país no calendário da F1, no circuito de Zandvoort. No entanto, em virtude da pandemia do coronavírus, a volta foi confirmada para 2021, marcando o reencontro dos fãs holandeses com a velocidade depois de 36 anos.

Foto: Wikipédia

ESTATÍSTICAS:
Pole Position: Nelson Piquet - 1:11.074 (Brabham, 1985)
Volta mais rápida: Alain Prost - 1:16.538 (McLaren, 1985)
Último vencedor: Niki Lauda (McLaren)
Maior vencedor: Jim Clark - 4x (1963, 1964, 1965 e 1967)

CLASSIFICAÇÃO:
1 - Lewis Hamilton (Mercedes) - 202,5 pontos
2 - Max Verstappen (Red Bull) - 199,5 pontos
3 - Lando Norris (McLaren) - 113 pontos
4 - Valtteri Bottas (Mercedes) - 108 pontos
5 - Sérgio Pérez (Red Bull) - 104 pontos
6 - Carlos Sainz Jr (Ferrari) - 83,5 pontos
7 - Charles Leclerc (Ferrari) - 82 pontos
8 - Daniel Ricciardo (McLaren) - 56 pontos
9 - Pierre Gasly (Alpha Tauri) - 54 pontos
10- Esteban Ocon (Alpine) - 42 pontos
11- Fernando Alonso (Alpine) - 38 pontos
12- Sebastian Vettel (Aston Martin) - 35 pontos
13- Yuki Tsunoda (Alpha Tauri) - 18 pontos
14- Lance Stroll (Aston Martin) - 18 pontos
15- George Russell (Williams) - 13 pontos
16- Nicholas Latifi (Williams) - 7 pontos
17- Kimi Raikkonen (Alfa Romeo) - 2 pontos
18- Antonio Giovinazzi (Alfa Romeo) - 1 ponto

CONSTRUTORES:
1 - Mercedes - 310,5 pontos
2 - Red Bull Honda - 303,5 pontos
3 - McLaren Mercedes - 169 pontos
4 - Ferrari - 165,5 pontos
5 - Alpine Renault - 80 pontos
6 - Alpha Tauri Honda - 72 pontos
7 - Aston Martin Mercedes - 53 pontos
8 - Williams Mercedes - 20 pontos
9 - Alfa Romeo Ferrari - 3 pontos

SEGUE O SONHO

Foto: Reprodução/Alpine

De forma surpreendente, Fernando Alonso anunciou a permanência na Alpine em 2022. Surpreendente porque, quando da notícia do retorno do espanhol à F1, os termos eram um contrato de dois anos, por isso a estranheza. Enfim, apesar de estar mais confirmado do que nunca na categoria, Don Alonso ainda olha para o sonho de vencer a Indy 500 e ser o segundo piloto da história a conquistar a Tríplice Coroa do Automobilismo.

“Não [desisti]. Acho que agora meu foco principal é o projeto na F1, principalmente com as novas regras e todo o trabalho que teremos que fazer no ano que vem. No futuro, verei as possibilidades. 

No momento, estou me divertindo nesse retorno. Acho que estou tendo um desempenho favorável. Baku, Silverstone e Hungria foram bons. Espero mostrar um pouco mais agora na segunda parte da temporada e no próximo ano. Mas, com certeza, de todos os desafios que tenho fora da Fórmula 1, ainda não completei a Indy 500. Está na minha lista de desejos", disse para o site RacingNews365.com.

O motivo do contrato e da permanência é simples: Alonso e Alpine apostam todas as fichas para o novo regulamento da F1 que entra em vigor no ano que vem.

"Na minha cabeça, estava tudo planejado para correr em 2022 com o novo regulamento. É a razão pela qual voltei à F1 também. Por isso, é preciso ter também confiança na equipe e fazer boas corridas nessa primeira parte da temporada.

Meu contrato era 1+1 [com cláusula de renovação para mais um ano], então a certa altura tivemos que concordar para 2022. Estou muito feliz com a equipe, muito feliz com essa volta. E a Alpine, aparentemente, está feliz com meu trabalho até agora”, concluiu.

Alonso não é mais um garoto, mas é bom ver que ainda tem muitas ambições, independente da categoria. As últimas tentativas na Indy foram traumáticas e muito longe do esperado. Normal uma nova chance para tentar ganhar e também limpar a imagem do bicampeão. No entanto, como escrevi no retorno do espanhol à categoria, pouco me importa seu desempenho: o importante é desfrutá-lo.

DEFINIDO

Foto: Getty Images

A dupla da Mercedes para 2022 está certa. O anúncio oficial? Talvez na semana que vem, no GP da Itália. É o que disse Toto Wolff, ainda no sábado, quando perguntado pelos repórteres:

“Se fosse uma decisão fácil, teríamos tomado antes, porque sabemos o que temos com Valtteri e sabemos o que temos com George. Os dois merecem nossos cuidados, merecem a maior atenção possível, porque são parte da família e temos enorme consideração por eles.

Existem prós e contras, como com qualquer formação de dupla de pilotos e, no fim das contas, não existe uma discussão perfeita. Temos de gerenciar as coisas bem com quem quer que seja o piloto que não estará na Mercedes no ano que vem, além de garantir que sigamos com um programa de pilotos forte. Por outro lado, temos de lidar com qualquer que seja a situação interna que temos”, disse.

E mais: a própria Mercedes admitiu que a atuação de George Russell, quase pole e segundo lugar com a Williams, não influenciaria nada na decisão. Ou seja: não posso acreditar que o inglês faça tudo isso e não seja promovido. O que Russell teria que fazer para ir para a Mercedes se ficar em segundo com a Williams em Spa, no temporal, não é suficiente. Fica tudo para semana que vem.

TRANSMISSÃO:
03/09 - Treino Livre 1: 6h (Band Sports)
03/09 - Treino Livre 2: 10h (Band Sports)
04/09 - Treino Livre 3: 7h (Band Sports)
04/09 - Classificação: 10h (Band e Band Sports)
05/09 - Corrida: 10h (Band)



RITO DE PASSAGEM - Parte 4

 

Foto: Getty Images

Olá, eu sou de novo.

O que você fazia em 2001? Como você era, onde você estava?

Eu já contei essa história antes. Era apenas uma criança que morava em Canoas e começava a me desenvolver. Escola, ainda no ensino fundamental, futebol, futsal, videogame, recortar papéis para brincar de corridas, pedir miniaturas de presente pro Coelhinho da Páscoa e receber de resposta que ele só dá chocolates, essas coisas. Eminem ainda não fazia parte do meu universo. Ainda.

Nessa época, um finlandês que havia pulado muitas categorias estreava na F1. Esse não é um post pra contar detalhadamente a história de Kimi Raikkonen, todos vocês já conhecem e pretendo revisitá-la em breve, é claro, mas não hoje.

O que quero dizer é: é ou foi uma jornada e tanto. O que o mundo, eu mesmo e as coisas ao meu redor mudaram: cidades, hábitos, estudos, descobertas, altos e baixos, viagens, etc. O que quase não mudou: em boa parte dos domingos lá estava ele na minha TV, junto com Alonso, Schumacher e outros heróis.

A aposentadoria do Schummi e de Rubinho deixaram uma lacuna. Talvez longe do auge, Raikkonen e Alonso já não eram mais jovens meninos. nem eu. Saí da escola, entrei na faculdade, me formei, virei adulto, entramos na pandemia e eles continuam lá. Alonso permanece ainda, virou o grande símbolo e o último dos moicanos, aquele que, junto com Slim Shady é claro, me conecta a infância, onde tudo começou e me moldou para o que eu faço na vida até hoje. 

Entre idas e vindas, o estilo "tô nem aí" no fundo é apenas uma coisa simples: eu quero correr até quando for possível. Deveria ser um lema em nossas vidas, mas infelizmente não é assim que a banda toca.

Em tudo que fiz, a presença dele nos domingos, como se fosse um amigo ou alguém próximo, estava lá. Aproveitar a jornada. Ao mesmo tempo que parece ser até o fim o meu gosto por acompanhar determinadas coisas, parecia natural que pilotos e personagens fossem a mesma coisa, só que aí vem o tempo.

Notícias como a de hoje são obviamente esperadas. O boato publicado ontem fez sentido. Uma parte se confirmou. A lição que fica é: o tempo é imbatível e tudo vira um passado que, infelizmente, fica cada vez mais distante.

Ao mesmo tempo que temos noção disso, precisamos entender e valorizar o futuro. Ainda teremos algumas corridas para acompanhar o campeão mundial e que disputou mais GPs na história. Um resto do presente como eu conheci. Nem tudo é tão desesperador, agora Alonso vai estar sozinho definitivamente, assim como Kimi segurou a bola nos últimos anos. Ver Schumacher, Button, Barrichello e Massa saindo de cena foi o caminho tão natural quanto sair da escola, entrar na faculdade, ir em festas, ter encontros, virar adulto, começar a narrar e locutar, etc. 

O tempo é imbatível e insuperável e me lembra, cada vez mais incisivo, uma mensagem simples: estou ficando velho. Estamos ficando velhos. O presente vira um passado distante e precisamos sempre olhar em frente, por mais que agora olhar para trás seja doloroso porque isso está apenas na nossa memória ou nos vídeos quando nossa cabeça começar a falhar.

Estamos ficando velhos.

Até!

terça-feira, 31 de agosto de 2021

DANÇA DAS CADEIRAS

 

Foto: Divulgação/TKart

Em meio as repercussões e reclamações do que aconteceu (ou melhor, não aconteceu) no domingo, hoje tivemos uma notícia que julgo ser interessante virar um post. Embora essa época seja normal para a publicação das fofocas da rádio paddock, me surpreendi com os nomes e a complexidade da situação. Vamos lá:

Começando pelo óbvio. Na semana que vem, George Russell deve ser anunciado piloto da Mercedes. Aí já começa o efeito dominó: e pra onde iria Valtteri Bottas?

Conforme publicado pelo Grande Prêmio há um bom tempo, o finlandês seria a prioridade da Alfa Romeo. Todos os pontos parecem fechar porque Frederic Vasseur, o chefão do time suíço, recentemente disse que a Alfa Romeo autorizou maiores investimentos no time. Como sabemos, contratar um piloto que estava na Mercedes e viria para uma das piores do grid não seria nada barato, mas mostraria ambição e aposta num projeto ousado a médio/longo-prazo.

E as mudanças na Alfa Romeo não iriam parar por aí: ainda sem contrato, Raikkonen e Giovinazzi seriam dispensados. O finlandês, de 41 anos, se aposentaria de vez. O italiano, piloto Ferrari, poderia ir para o projeto dos italianos na WEC, além de reserva da equipe na F1. E quem seria o possível parceiro de Bottas?

O escolhido seria o holandês Nyck De Vries, de 26 anos. Campeão da F2 em 2019 e campeão da Fórmula E nessa temporada, o holandês foi piloto reserva da McLaren e hoje pertence a Mercedes, onde venceu o mundial de bólidos elétricos. E como um piloto Mercedes iria para uma equipe que possui parceria com a Ferrari? Segundo a RaceFans, que desenrola todo esse fio, a proximidade de Toto Wolff e Vasseur seria um facilitador para colocar o holandês no grid, pois a Mercedes está de saída da Fórmula E.

Uma dupla nova num carro que tem dificuldades e um seria estreante aos 26, sem nenhuma ligação com a Ferrari... Difícil de acreditar, mas o desenlace é no mínimo curioso, o que também representaria o fim da era Raikkonen, o piloto que mais largou na história. Muito significativo, mas o tempo passa para todos nós, não é mesmo?

Calma que não terminou. Se Russell for confirmado na Mercedes, a Williams precisa de um piloto. Nico Hulkenberg, sempre citado, não é o favorito. Segundo a RaceFans, Alexander Albon, o tailandês nacsido e criado na Inglaterra, seria o escolhido para substituir o rival de F2 (Russell foi campeão e Albon o vice, em 2018). Hoje, Albon está na DTM e ainda pertence a Red Bull, sendo uma espécie de empréstimo. Latifi tem contrato indefinido, mas como o pai financia tudo e faz um bom trabalho, deve permanecer. E seria merecido.

Tirando De Vries, ainda que fosse um nome comum na F2 e era reserva da McLaren, são todos nomes experientes, apesar de jovens. Isso mostra como a F1 se resume as ligações dinheiro-academia de pilotos-sobrenome. Seria interessante ver o holandês De Vries estreando aos 26 anos na categoria, o que seria impensável hoje em dia, sendo compatriota de Max. Albon na Williams e Bottas na Alfa Romeo teriam desafios diferentes, mas uma missão em comum: recuperar prestígio no grid, alcançando objetivos diferentes.

Mesmo assim, seria interessante ver todas essas transferências se concretizando, com nomes em macacões e equipes impensáveis até aqui.

Por ser muito complexo e cheio de detalhes, a essa altura do ano, honestamente não acredito muito na hipótese. Gastei linhas justamente pelo fio, ou "thread", e também para me desintoxicar do ódio do acontecido em Spa Francorchamps. Tinha um post programado que será publicado nos próximos dias. Vai perder um pouco da validade ou antecipar uma situação, ou as duas coisas. Aguardem. 

Até!

segunda-feira, 30 de agosto de 2021

A GENI DA VEZ

Foto: Getty Images

Antes de começar o texto, deixo os links AQUI, AQUI e AQUI sobre temas que se conectam e servem de base para o que virá e fazem parte do que eu chamo de processo de descaracterização do automobilismo. Estamos, cada vez mais, numa nova era.

Mais uma vez a Eau Rouge esteve no centro de polêmicas. O tempo na Bélgica, como todos sabemos, não ajudou e deixou o circuito de Spa Francorchamps mais traiçoeiro do que nunca. O que antigamente era o palco preferido de 11 entre 10 pilotos, jornalistas e fãs, hoje talvez não seja isso, porque os tempos mudaram, assim como o automobilismo.

No final de semana, a forte batida de Lando Norris e os acidentes na W Series mais uma vez colocaram a Eau Rouge-Raidillon como vilãs da história. Pessoas bem intencionadas (e também as más, é claro) estão colocando a culpa e problematizando uma curva por alguns incidentes e também a trágica morte de Anthoine Hubert, em 2019. E talvez, aparentemente, uma grande maioria concorda com isso! Como explicar?

Os argumentos são de que a área de escape deveria ser maior para que os carros não batessem e ricocheteassem para o meio da pista. Foi isso o que aconteceu e vitimou Hubert, o famoso choque em T. Não há halo que salve. Nos últimos dez anos, os carros da F1 ficaram cada vez mais rápidos. Os das últimas temporadas bateram os recordes de 2004. Até por isso, na nova geração, talvez os bólidos sejam mais lentos para que haja mais downforce e competitividade.

Como os carros estão mais rápidos e modernos, a Eau Rouge passou a ser feita em pé cravado. Uma grande ousadia. Além disso, nos últimos anos, as britas foram retiradas e sim, o asfalto também é um dos motivos para a irresponsabilidade nas pistas.

Como venho escrevendo há algum tempo, os perigos da segurança e a transformação das categorias de base em um clubinho de ricos, aprovada pela FIA tornaram o automobilismo de fato perigoso. Gerações acostumadas a simuladores e jogos online estão chegando nas pistas e, juntamente com a sensação de um carro de corrida ser um tanque de guerra e raramente acontecer grandes consequências em caso de acidentes, não há respeito ao próximo e nem limites. Se bater não vai dar nada mesmo.

Carros rápidos e esse senso de segurança fazem com que um piloto acelere a 300 km/h na Eau Rouge, na chuva, tocando na zebra. É óbvio que não vai dar certo. Se tentar andar na mesma velocidade no sol ou na chuva, até as retas podem ser assassinadas. Lando Norris não é um mau piloto, apenas tomou uma decisão errada e pagou pra ver. Se tivesse brita em volta da Eau Rouge como sempre teve, algum maluco se atreveria a fazer isso? Só Villeneuve fez, e porque estava fazendo uma aposta.


O que quero dizer é que as pessoas precisam olhar para o todo ao invés do mais simples, e nesse caso, o absurdo. Os inimigos da velocidade e amantes da segurança elegeram a Eau Rouge a nova vilã da F1 e do automobilismo. Não vão descansar enquanto não mutilarem a curva ou tirarem Spa do calendário. Era culpa da Tamburello ou da negligência da FIA?

A culpa não é da Eau Rouge. As pessoas precisam entender que carros e pistas "seguras" nas mãos de pilotos ineptos da geração simuladores que só estão lá porque levam dinheiro é uma grande receita para a morte. Anthoine Hubert e Jules Bianchi morreram por esses fatores e a negligência, não pela Eau Rouge ou a chuva. 

A Eau-Rouge é a Geni da vez.

Escrevi isso no final do ano passado, após o acidente de Grosjean, e assim finalizo o texto de hoje:

"Quando acontecem esses grandes acidentes, é muito fácil culpar o autódromo, a FIA, acabar com áreas de escape, mutilar traçados ou excluir circuitos do calendário. Difícil mesmo é bater de frente com as inúmeras consequências que a elitização do automobilismo causa, dentre elas estar acima do bem e do mal independentemente do que se faça na pista. 

É evidente que não se pode retroceder pelo nome do purismo ou da nostalgia, mas certamente se o automobilismo continuasse menos seguro, tenho convicção de que teríamos pilotos melhores e cientes da função que fazem, além de barrar os inconsequentes. Acidentes, erros e o risco sempre irão existir no automobilismo, isso só precisa ser lembrado e hoje, infelizmente, raramente isso é levado em consideração."

Maldita Eau-Rouge!

Até!

domingo, 29 de agosto de 2021

O CIRCO E OS PALHAÇOS

 

Foto: Getty Images

29 de agosto de 2021 marca como um dos dias mais vergonhosos, senão mais, da rica história de 71 anos da Fórmula 1. Momentos ruins, erros crassos, irresponsabilidades, azares, infortúnios e tragédias não faltaram, mas em todos esses momentos houve algo em comum: a tentativa. 

Hoje, o que vimos em Spa Francorchamps foi uma categoria que, através da direção de prova, em nenhum momento quis correr hoje. Contra o próprio espírito competitivo do que foi criado e hoje colhe os lucros.

É claro que era um temporal, a visibilidade era baixíssima e os próprios pilotos avisavam a todo instante, desde ontem, que não haveria condições, que estavam sob perigo da tragédia mor. Acontece que isso sempre esteve presente na F1 desde 1950, quando ainda era algo romântico e não totalmente profissional. Desde então, muitos erros e mortes foram construídos, infelizmente, diante da F1 como a conhecemos.

Acontece que, em 71 anos, duvido que hoje tenha sido a chuva mais torrencial e impraticável da história. 71 anos. Todos nós sabemos que muitas atitudes irresponsáveis foram tomadas ao longo da história e isso culminou em muitas vidas, mais recentemente Jules Bianchi. Dali em diante, a F1 ganhou uma aversão a chuva: basta molhar a pista que vira tudo uma celeuma. Adiamentos até o circuito secar e tudo mais.

Diferentemente de outros adiamentos e corridas que tiveram muitos percalços, como Fuji 2007 e Canadá 2011, dessa vez a F1 não esteve disposta a tentar correr em nenhum momento. Claro que a visibilidade e o spray não ajudam, mas com o tempo isso poderia ser amenizado. Bastaria tentar, o que não foi feito. Desde a paralisação, estava claro que não aconteceria nada.

Ninguém gosta de ser feito de idiota ou ser enganado, e foi exatamente isso que a FIA fez com o público e os pilotos. Três horas de marasmo para no fim, quase sem luz artificial e com a chuva mais forte ainda, fingir tentar retomar a corrida. O objetivo era simples e burocrático: atingir o mínimo de "voltas" para computar os pontos e "cumprir" os compromissos contratuais. 

É claro que o acidente de Lando Norris, a confusão na W Series e o histórico da Eau Rouge também pesaram, mas isso é assunto para outro post, amanhã. A verdade é que a FIA atingiu o objetivo: não queria e não se mexeu em nenhum instante para tentar realizar a corrida.

"O importante é a segurança". Se a segurança fosse tão importante assim, nem existiria automobilismo. Que tipo de segurança há em correr a 300 km/h e ficar exposto a acidentes, mortes e agora covid? Seguro de verdade, hoje em dia, é cada um correr num simulador em casa, sem maiores perigos. 

Falta mais transparência e parar de tratar a todos como imbecis. Por que a FIA não faz igual a Indy em ovais? Simplesmente avisa: ó, se chover, não vai ter corrida e ponto final, dane-se! Mas é claro que não se pode ser tão explícito assim, seria um problema para a imagem e os negócios, e isso é o mais importante, é claro.

Para efeitos estatísticos, Max Verstappen venceu, George Russell teve o primeiro pódio da carreira em um final de semana mágico e Lewis Hamilton foi o terceiro. Pérez bateu antes de chegar no grid e perdeu pontos importantes para a Red Bull.

Independente do que aconteça, a farsa de hoje pode decidir o campeonato. Max pode reclamar que recebeu apenas metade dos pontos; Hamilton pode reclamar que o resultado seria diferente se houvesse corrida e os dois estariam certos. Agora, é tudo um grande "se".

Na NeoF1, existe pódio e entrevista para uma corrida que não aconteceu e o vencedor de uma corrida classificatória é declarado pole position, não o mais rápido da sessão. O problema deve ser eu, de certo, devo estar maluco. 

Para os próximos anos, a solução é simples: a construção de circuitos indoor ou simplesmente deslocar todas as provas para corridas de rua no Oriente Médio e Estados Unidos, de preferência. Verdadeiros tanques de guerra são alérgicos a água. Tudo em prol da segurança, claro. Tirando Interlagos 2003 e na morte de Bianchi, quando bateu num trator e isso seria perigoso em qualquer circunstância, os grandes acidentes recentes não foram na chuva, mas já estaria fugindo um pouco do tema e não estou disposto a me alongar muito.

No circo da F1, todo mundo é palhaço, principalmente quem toma banho de chuva e paga para não acontecer nada. O mínimo deveria ser o ressarcimento, pois a Liberty Media se mostra tão empática e quer que todos corram como um mas vai correr na Arábia Saudita, onde desrespeitam mulheres, jornalistas e qualquer um que se opõe ao governo.

Provavelmente ninguém vai dar muita atenção a isso semana que vem, porque já tem corrida e terá mais outra na semana seguinte. E assim segue o circo, sempre preocupado com a segurança dos envolvidos, é claro.

Certamente esse final de semana é mais um grande passo rumo a descaracterização do automobilismo e da Fórmula 1, onde talvez os resultados mais práticos apareçam no médio-prazo. Espero estar errado como quase sempre estou, mas geralmente eu não erro quando quero errar. Vamos ver.

Confira a classificação final:


Até!