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29 de agosto de 2021 marca como um dos dias mais vergonhosos, senão mais, da rica história de 71 anos da Fórmula 1. Momentos ruins, erros crassos, irresponsabilidades, azares, infortúnios e tragédias não faltaram, mas em todos esses momentos houve algo em comum: a tentativa.
Hoje, o que vimos em Spa Francorchamps foi uma categoria que, através da direção de prova, em nenhum momento quis correr hoje. Contra o próprio espírito competitivo do que foi criado e hoje colhe os lucros.
É claro que era um temporal, a visibilidade era baixíssima e os próprios pilotos avisavam a todo instante, desde ontem, que não haveria condições, que estavam sob perigo da tragédia mor. Acontece que isso sempre esteve presente na F1 desde 1950, quando ainda era algo romântico e não totalmente profissional. Desde então, muitos erros e mortes foram construídos, infelizmente, diante da F1 como a conhecemos.
Acontece que, em 71 anos, duvido que hoje tenha sido a chuva mais torrencial e impraticável da história. 71 anos. Todos nós sabemos que muitas atitudes irresponsáveis foram tomadas ao longo da história e isso culminou em muitas vidas, mais recentemente Jules Bianchi. Dali em diante, a F1 ganhou uma aversão a chuva: basta molhar a pista que vira tudo uma celeuma. Adiamentos até o circuito secar e tudo mais.
Diferentemente de outros adiamentos e corridas que tiveram muitos percalços, como Fuji 2007 e Canadá 2011, dessa vez a F1 não esteve disposta a tentar correr em nenhum momento. Claro que a visibilidade e o spray não ajudam, mas com o tempo isso poderia ser amenizado. Bastaria tentar, o que não foi feito. Desde a paralisação, estava claro que não aconteceria nada.
Ninguém gosta de ser feito de idiota ou ser enganado, e foi exatamente isso que a FIA fez com o público e os pilotos. Três horas de marasmo para no fim, quase sem luz artificial e com a chuva mais forte ainda, fingir tentar retomar a corrida. O objetivo era simples e burocrático: atingir o mínimo de "voltas" para computar os pontos e "cumprir" os compromissos contratuais.
É claro que o acidente de Lando Norris, a confusão na W Series e o histórico da Eau Rouge também pesaram, mas isso é assunto para outro post, amanhã. A verdade é que a FIA atingiu o objetivo: não queria e não se mexeu em nenhum instante para tentar realizar a corrida.
"O importante é a segurança". Se a segurança fosse tão importante assim, nem existiria automobilismo. Que tipo de segurança há em correr a 300 km/h e ficar exposto a acidentes, mortes e agora covid? Seguro de verdade, hoje em dia, é cada um correr num simulador em casa, sem maiores perigos.
Falta mais transparência e parar de tratar a todos como imbecis. Por que a FIA não faz igual a Indy em ovais? Simplesmente avisa: ó, se chover, não vai ter corrida e ponto final, dane-se! Mas é claro que não se pode ser tão explícito assim, seria um problema para a imagem e os negócios, e isso é o mais importante, é claro.
Para efeitos estatísticos, Max Verstappen venceu, George Russell teve o primeiro pódio da carreira em um final de semana mágico e Lewis Hamilton foi o terceiro. Pérez bateu antes de chegar no grid e perdeu pontos importantes para a Red Bull.
Independente do que aconteça, a farsa de hoje pode decidir o campeonato. Max pode reclamar que recebeu apenas metade dos pontos; Hamilton pode reclamar que o resultado seria diferente se houvesse corrida e os dois estariam certos. Agora, é tudo um grande "se".
Na NeoF1, existe pódio e entrevista para uma corrida que não aconteceu e o vencedor de uma corrida classificatória é declarado pole position, não o mais rápido da sessão. O problema deve ser eu, de certo, devo estar maluco.
Para os próximos anos, a solução é simples: a construção de circuitos indoor ou simplesmente deslocar todas as provas para corridas de rua no Oriente Médio e Estados Unidos, de preferência. Verdadeiros tanques de guerra são alérgicos a água. Tudo em prol da segurança, claro. Tirando Interlagos 2003 e na morte de Bianchi, quando bateu num trator e isso seria perigoso em qualquer circunstância, os grandes acidentes recentes não foram na chuva, mas já estaria fugindo um pouco do tema e não estou disposto a me alongar muito.
No circo da F1, todo mundo é palhaço, principalmente quem toma banho de chuva e paga para não acontecer nada. O mínimo deveria ser o ressarcimento, pois a Liberty Media se mostra tão empática e quer que todos corram como um mas vai correr na Arábia Saudita, onde desrespeitam mulheres, jornalistas e qualquer um que se opõe ao governo.
Provavelmente ninguém vai dar muita atenção a isso semana que vem, porque já tem corrida e terá mais outra na semana seguinte. E assim segue o circo, sempre preocupado com a segurança dos envolvidos, é claro.
Certamente esse final de semana é mais um grande passo rumo a descaracterização do automobilismo e da Fórmula 1, onde talvez os resultados mais práticos apareçam no médio-prazo. Espero estar errado como quase sempre estou, mas geralmente eu não erro quando quero errar. Vamos ver.
Confira a classificação final:
Até!
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