segunda-feira, 19 de abril de 2021

O PERIGO DA ESPERA

 

Foto: Getty Images

Em tese, parece ser uma questão de tempo para que George Russell seja promovido a Mercedes, seja no lugar de Valtteri Bottas, seja de Lewis Hamilton. Piloto da academia, vem acumulando bons desempenhos na Williams, então pior carro do grid, embora ainda não tenha pontuado pelo time de Grove. Quando substituiu Hamilton on ano passado, só não venceu por culpa da Mercedes. As credenciais estão aí para todo mundo ver, certo?

Como todos sabem, a vida é incerta e muda muito rápido. Russell está na terceira temporada na Williams, onde não há perspectiva de evolução e parece impaciente. Seus contemporâneos, Lando Norris e Charles Leclerc, já venceram corridas, fizeram poles, foram pro pódio ou são líderes de equipe, especialmente o monegasco. Isso deve frustrar George, que bateu Lando na F2 em 2018 antes dos dois subirem a F1. E nada mudou desde então.

Russell faz o jogo da espera, assim como a Mercedes. No entanto, essa impaciência ficou evidente no acidente justamente com Bottas, seu "rival" que tem o contrato encerrando no final da temporada. Ao reclamar, dar um tapa no capacete do finlandês (que retrucou com um dedo do meio) e acusar que Bottas teria um comportamento diferente na disputa na pista se fosse outro piloto, Russell mostra que não tem mais paciência ao mesmo tempo em que sente que pode fazer o que quiser porque parece ser questão de tempo chegar na Mercedes.

A reação de Toto Wolff depois da corrida não segue o mesmo caminho. O chefão fez muitas críticas a George, praticamente discordando de tudo o que ele falou, queimando-o e protegendo seu piloto mais experiente e pressionado. O recado foi claro: faça seu papel que nós fazemos o nosso. Se for se meter de pato a ganso, Russell pode ficar para trás na hierarquia, o que não seria inédito na Mercedes. Esteban Ocon e Pascal Wehrlein podem falar melhor sobre isso.

Isso simboliza as vantagens e desvantagens da tal academia de pilotos. Abre-se um grande caminho para a F1 através das principais montadoras. No entanto, o piloto torna-se também refém desses interesses e o sonho pode virar pesadelo muito rapidamente, às vezes nem chega a começar.

Russell precisa pensar mais na Williams do que na valorização pessoal. Não é a primeira vez que desperdiça oportunidade de pontos fundamentais para a equipe em erros crassos. O carro tem condições de brigar com a Alfa Romeo e alguns pontinhos eventuais, então o inglês precisa ser mais cerebral e menos passional e não contar com os ovos da galinha. O perigo da espera pode ser destrutivo para uma carreira tão promissora.

Até!

domingo, 18 de abril de 2021

ROUND A ROUND

 

Foto: Mark Thompson/ Getty Images

A segunda corrida da temporada prometia ser muito interessante. Vantagem mínima no grid, Pérez na frente de Verstappen e os dois sedentos por Hamilton. No meio do pelotão, Ferrari e McLaren se desgarravam das demais e esperavam alguma coisa de diferente, o que aconteceu: a chuva obrigou a todos a largar com o pneu intermediário, alguns com o de chuva.

Verstappen deu show na largada e, contrariando seu retrospecto, venceu a corrida na primeira curva, quando se livrou de Pérez e Hamilton e disparou na frente. Ou nem tanto. Com o spray, carros juntos e dificuldade em enxergar,  Latifi rodou e, voltando pra pista, se deparou com o Mazepin. O canadense estava atravessado, mas o russo já fez uma vítima logo na primeira volta. Safety Car.

Verstappen disparou, seguido de Hamilton e o excelente Leclerc, que aproveitou uma corrida caótica de Pérez para ficar em terceiro. Na sequência, Norris se livrava de Ricciardo e tentava se aproximar. Chamou a atenção como o britânico venceu facilmente o australiano, mais uma vez.  Gasly continuou com os pneus de chuva extrema e pagou o preço, precisando ir aos boxes e caindo para o fim do pelotão.

A pista secou e ficou numa condição perigosa. Molhada e seca ao mesmo tempo, quem saísse dos trilhos correria riscos. E foi o que aconteceu. Ao tentar se livrar de retardatários, Hamilton errou. Fazia tempo que não acontecia. Ao escapar, parecia que não tinha mais volta. Ele não atolou, deu ré e voltou pra pista, uma volta atrás de Verstappen e com uma corrida de recuperação a fazer. A questão parecia liquidada.

Eis que, na volta seguinte, um grande acidente: Russell tentou passar Bottas por fora na primeira curva e, pegando a parte molhada, perdeu o controle e os dois bateram forte. Bandeira vermelha. Tudo parado e permitida a recuperação de voltas dos retardatários. Russell foi pra cima de Bottas. Um simbolismo nesse acidente. O presente que vai virar passado e o presente que vai virar futuro da Mercedes, em tese. Russell fez uma série de acusações e tudo isso irritou Toto Wolff.

Bottas fazia uma corrida tenebrosa e ser ultrapassado por uma Williams seria a marca evidente desse processo. O inglês, por sua vez, desperdiça mais uma vez os pontos para a equipe. Tá na hora de pensar mais no coletivo do que na promoção pessoal.

Com a relargada, Verstappen não teve problemas para desfilar rumo a primeira vitória no ano. Norris, em grande final de semana, aproveitou a punição de Pérez e se enfiou no pódio, livrando-se também de Leclerc. O mexicano, tentando persegui-lo, errou e jogou todo o final de semana fora, onde foi mais rápido que Max e certamente seria importante para atrapalhar Hamilton que, sem nada a ver com isso, galgou posições rumo ao segundo lugar original que, diante das circunstâncias, precisa ser celebrado. Não só isso, mas junto com a melhor volta da corrida. Isso é que separa os dois no campeonato até aqui.

A Ferrari parece muito mais consistente e, mesmo com Sainz errando, conseguiu um ótimo quinto posto. Ricciardo, ainda abaixo de Norris, foi o sexto. Gasly conseguiu se recuperar para ser o sétimo, enquanto Tsunoda mostrou um final de semana errático. Faz parte, é a segunda etapa da carreira somente. Na briga pelos últimos pontos, Raikkonen cometeu uma infração e foi penalizado com 30 segundos que o tirou do top 10, colocando lá Ocon e Alonso, os primeiros três pontos da Alpine na categoria.

Pela primeira vez em muito tempo, Alonso foi  vencido sem muitas dificuldades por um companheiro de equipe. Fruto da inatividade e da idade chegando? Talvez. Escrevi lá atrás que enxergava, a esse ponto da carreira, muito mais como uma última dança do que propriamente um desempenho de bicampeão.

Quem está apanhando de forma inexplicável é Vettel. Stroll mais uma vez ficou nos pontos e o tetracampeão longe, mas muito longe dos pontos. Muita gente tem dúvidas se ele realmente permanece na F1 desse jeito. Coincidência ou não, Hulkenberg assinou como piloto reserva da escuderia semanas atrás.

Na Haas, Mazepin é Mazepin e Mick é Mick. Carro ruim e pilotos inexperientes. O russo é inapto para a categoria, mesmo assim é importante ver o filho do Schummi na frente dele sem muitos sustos.

Mais equilibrado do que nunca, Mercedes e Red Bull sobram as demais. McLaren e Ferrari recuperam terreno e deixam Alpine, Aston Martin e Alpha Tauri um degrau abaixo.

Vitória de Max Verstappen num campeonato que, assim como uma luta de boxe, vai ser disputada round a round, onde pontuar é muito mais importante do que dar show e tentar sempre buscar o nocaute.

Confira a classificação do GP de Emília Romagna:



Até!

sexta-feira, 16 de abril de 2021

APERTADO

 

Foto: Getty Images

Ímola é um circuito apertado, sem muitas condições de ultrapassagem. Portanto, uma corrida onde naturalmente a classificação será fundamental para definir as pretensões de cada um. No entanto, uma particularidade especialmente interessante: um circuito antigo que não tem áreas de escape. É brita, grama e muro. Errou, um abraço. Os pilotos devem estar concentrados o tempo todo.

Leclerc errou uma vez e bateu no segundo treino livre, o que força a Ferrari a trabalhar em dobro para reparar os danos. Isso pode comprometer o final de semana do monegasco. Outro que vai bater é Mazepin, mas isso não é uma surpresa.

A Mercedes parece melhor ajustada para Ímola e não deve sofrer tanto. Bottas foi o mais veloz nos dois treinos. Ele também fez a pole ano passado, o que não diz muita coisa. Verstappen teve um problema no eixo de transmissão no segundo treino livre e preocupa. 

As brigas interessantes, como sempre, ficam no miolo. McLaren, Aston Martin, Alpha Tauri, Alpine e Ferrari. A cada prova esse pelotão vai lutar bravamente pelo posto de ser o melhor do resto, apenas esperando algum infortúnio em Mercedes e Red Bull.

Ímola não deve ser emocionante, mas sim tensa, como sempre foi depois de 1994. Apenas agora cheguei a conclusão de que em dois meses de F1 só tivemos duas corridas e, em tese, teremos mais 21 ou 20 em 7 meses. Parece que o GP do Canadá será novamente cancelado em virtude da falta de acordo em relação a bolha da F1 e as restrições sanitárias impostas pelo país na pandemia. 

Vai ser um longo ano, muito apertado, igual Ímola.

Confira a classificação dos dois treinos livres:




Até!


quinta-feira, 15 de abril de 2021

GP DE EMÍLIA ROMAGNA: Programação

 O Autódromo Internacional Enzo e Dino Ferrari recebeu corridas da Fórmula entre 1980 e 2006. Desde 1981 era realizado o Grande Prêmio de San Marino. Em 2020, em virtude da pandemia de Coronavírus, o autódromo volta para o calendário para sediar o GP de Emília-Romagna, região onde fica o autódromo na cidade de Ímola.

Em 2021, a corrida novamente entra no calendário de última hora, substituindo o cancelado GP do Vietnã.

Foto: Wikipédia

ESTATÍSTICAS:
Pole Position: Valtteri Bottas - 1:13.609 (Mercedes, 2020)
Volta mais rápida: Lewis Hamilton - 1:15.484 (Mercedes, 2020)
Último vencedor: Lewis Hamilton (Mercedes)
Maior vencedor: Lewis Hamilton (2020) - 1x

CLASSIFICAÇÃO:
1 - Lewis Hamilton (Mercedes) - 25 pontos
2 - Max Verstappen (Red Bull) - 18 pontos
3 - Valtteri Bottas (Mercedes) - 16 pontos
4 - Lando Norris (McLaren) - 12 pontos
5 - Sérgio Pérez (Red Bull) - 10 pontos
6 - Charles Leclerc (Ferrari) - 8 pontos
7 - Daniel Ricciardo (McLaren) - 6 pontos
8 - Carlos Sainz Jr (Ferrari) - 4 pontos
9 - Yuki Tsunoda (Alpha Tauri) - 2 pontos
10- Lance Stroll (Aston Martin) - 1 ponto

CONSTRUTORES:
1 - Mercedes - 41 pontos
2 - Red Bull Honda - 28 pontos
3 - McLaren Mercedes - 18 pontos
4 - Ferrari - 12 pontos
5 - Alpha Tauri Honda - 2 pontos
6 - Aston Martin Mercedes - 1 ponto

NO LIMITE

Foto: Reprodução/Lamborghini

Não se trata do retorno do reality show da TV Globo, marcado para o mês de maio, mas sim a situação do calendário da Fórmula 1. É o que diz Stefano Domenicali, que desde o início do ano é o novo chefão da F1.

Questionado pela revista alemã Auto Motor und Sport, o italiano afirmou que não é possível aumentar o calendário neste momento e também justificou o aumento de corridas (ano passado, se não fosse a pandemia, teríamos 21 etapas; no fim, foram realizadas 17):

“Acho que mais de 23 corridas é muito improvável, talvez até seja praticamente impossível. No momento, há muito interesse em organizar GPs. No futuro, vamos ter de pensar de forma mais cuidadosa sobre quais países são importantes para nossa estratégia.

“Alguns dos eventos do último ano continuaram no calendário por serem palcos históricos com circuitos espetaculares. Mas esses palcos também precisam ter a força financeira para organizar um evento”, disse.

Ou seja: a F1 precisa de dinheiro, ainda mais que ainda vai ficar por um tempo sem a renda das bilheterias e a presença de público nos autódromos. Esse é um dos motivos que a FIA quer mais seis milhões de dólares do governo canadense para confirmar a etapa de Montreal no calendário deste ano, em junho.

O pessoal do paddock comenta que acha inviável todas as 23 corridas serem realizadas. Em alguns países, como o nosso, a situação do coronavírus está bem complicada e não sabemos como vão estar as coisas no futuro, tanto é que o calendário atual sofreu várias mudanças ainda em janeiro.

A F1 quer dinheiro. Isso explica porque Arábia Saudita, Abu Dhabi e outras corridas da Ásia são tão importantes e palcos históricos como Interlagos, Silverstone e Ímola sofrem a cada renovação. A F1 não se paga pela história, mas abdicar desses palcos é um corte profundo na identidade da categoria. 

Vale a pena pelo dinheiro fácil? Também duvido que todo o calendário será reproduzido, em virtude das questões sanitárias que são diferentes em todo o planeta.

SEM ÓDIO

Foto: Getty Images

É o que pede Lando Norris. Em uma live na Twitch, o britânico se irritou com as piadas e as críticas dos "haters" do russo Nikita Mazepin, que teve uma estreia desastrosa na F1 na corrida do Bahrein. Além do mais, o russo já é uma figura controversa no automobilismo de base, seja pelas manobras na pista, a influência do pai bilionário e o caso de assédio que foi exposto logo depois que ele foi anunciado piloto da Haas.

“Não precisam odiá-lo pela rodada, certo? Vou começar a banir. É meio difícil, acho que muito disso acontece por ter sido a primeira corrida dele e com 18 carros na frente.

Tinha muita turbulência e ele provavelmente tinha pouco downforce naquele ponto, porque todo o ar estava sendo puxado por todos os carros na frente. Ele corrigiu muito, foi tudo tão rápido que foi difícil salvar, eu diria. Não tinha muito que ele pudesse ter feito, é complicado. Um pouco ambicioso demais no acelerador? Olhando para trás, sim, mas é a combinação de ser um trecho complicado e o carro não tornando as coisas tão fáceis para ele também. Quanto pior o carro que você tem, é mais fácil você rodar”, completou o britânico.

Na sequência, Lando ironizou seus seguidores, questionando por quê eles não atacaram Mick Schumacher, que rodou mas não bateu, da mesma forma.

Bom, acho louvável essa defesa boa samaritana e corporativista do Norris, mas na boa: o russo tá pouco se lixando para ele, suas defesas e todo o resto. Norris pode até ser uma das vítimas da irresponsabilidade do russo no futuro, vai saber. Aí quero ver onde fica esse discurso empático e ponderado.

TRANSMISSÃO:

16/04 - Treino Livre 1: 6h30 (Band Sports)
16/04 - Treino Livre 2: 9h30 (Band Sports)
17/04 - Treino Livre 3: 6h (Band Sports)
17/04 - Classificação: 9h (Band para SP e Band Sports)
18/04 - Corrida: 10h (Band)





terça-feira, 13 de abril de 2021

UM NOVO LEQUE

 

Foto: Reprodução/Band

Nos últimos tempos, acontecem e estão acontecendo grandes mudanças nos direitos de transmissão das principais categorias do esporte a motor aqui no Brasil. Tudo isso, é claro, fruto do efeito dominó da saída da Fórmula 1 da Globo depois de quase 40 anos.

O Grupo Globo chegou a ter, por um período, F1, Stock Car, Moto GP e até a Fórmula Indy, entre 2001 e 2004. Depois, nos anos finais, a tríade F1/Stock Car/Moto GP e a antiga GP2/atual F2 e GP3/F3 completavam a grade de automobilismo principal, digamos assim.

Band e SBT sempre alternaram a Fórmula Indy, que nas últimas temporadas chegou a passar na plataforma de stremaming DAZN. As coisas começaram a mudar em 2019.

A MotoGP saiu do Grupo Globo e foi para a FOX Sports, que depois virou o Grupo Disney. Com a não renovação da F1 na Globo, o mercado enlouqueceu. Ainda no fim de 2020, a Band, apostando novamente no slogan "Show do Esporte", foi atrás da Stock Car e assinou por duas temporadas com a F1. Com isso, a Indy, que era seu carro-chefe, foi dispensada.

A Fox/Disney, que sempre teve a Fórmula E desde os primórdios, agora tem apenas a Moto GP. A Globo, fragilizada, comprou a Fórmula E e a Extreme E, o novo rali sustentável para preencher a lacuna. 

E aí surge uma nova emissora apostando na velocidade: a TV Cultura. No início do ano, ela comprou a Fórmula E para a TV aberta e nessa semana anunciou a transmissão da Fórmula Indy, até então única grande competição automobilística sem acordo televisivo aqui no país.

Resumindo os direitos de transmissão do automobilismo no Brasil:

Grupo Globo: Fórmula E e Extreme E (SporTV)

Disney: Moto GP

Band/: F1, F2, F3, Stock Car, Stock Light, Copa Porsche e Rally dos Sertões

TV Cultura: Fórmula E e Indy

O efeito dominó desencadeado pela Globo mudou todos os atores e protagonistas de transmissão que todos nós estávamos acostumados, gerando uma verdadeira revolução nos direitos de transmissão. Isso que nem falei do futebol, por exemplo. Com mais profissionais trabalhando e fazendo a rotatividade, ganham todo mundo: os jornalistas com emprego nesse momento tão difícil e o público, com cada vez mais opções para assistir na TV nessa eterna pandemia. E o melhor: boa parte disso é na TV aberta, sem precisar pagar por assinatura ou streamings específicos.

Até!


segunda-feira, 29 de março de 2021

PROMISSOR

 

Foto: Divulgação/Red Bull Content

Quando Kimi Raikkonen e Fernando Alonso estrearam na F1, Yuki Tsunoda tinha apenas 10 meses de idade. Vinte anos depois, o primeiro piloto nascido nos anos 2000 a competir na F1 estreou na categoria e ultrapassou três campeões mundiais que, somados, possuem sete títulos.

O último japonês a correr na F1 havia sido Kamui Kobayashi, contratado pela Caterham e que permaneceu apenas na temporada de 2014 na ex-Lotus. Sete anos depois, Tsunoda é um ativo importante, não só para o mercado asiático, mas também por todo o contexto. O japonês chega na F1 no ano em que a Honda mais uma vez se despede da categoria. Apoiado pela Red Bull e pela própria montadora, o jovem fez uma F2 muito forte e consistente para terminar em terceiro e garantir os pontos necessários para a superlicença.

Por muito tempo, a Toro Rosso/Alpha Tauri foi um moedor de jovens. Criados para competirem insanamente uns contra os outros desde muito jovens, não foram poucos que sucumbiram para o implacável Helmut Marko. Na verdade, apenas três sobreviveram satisfatoriamente a isso: Sebastian Vettel, Daniel Ricciardo e Max Verstappen.

Apesar de ser irmã da Red Bull, muitas vezes o equipamento esteve longe de ser o adequado para mostrar algo satisfatório, mas é claro que Helmut Marko não entende dessa forma. Como vocês sabem, o caolho não se constrange em fazer rápidas e bruscas mudanças. 

Em 2021, no entanto, a Alpha Tauri promete encostar de vez no pelotão da frente. Com a inesperada vitória de Gasly no ano passado, os resultados dos testes e o desempenho em Sakhir foi muito positivo. Se não fosse um bico quebrado durante disputa com uma McLaren, certamente Gasly terminaria entre os cinco primeiros.

O jovem Tsunoda, ainda se ambientando ao carro e a F1, precisa amadurecer muito, é claro. Mesmo assim, na estreia, mostrou suas credenciais e sai com dois pontinhos importantes para a confiança e desenvolvimento do projeto.

Isso, e ultrapassar figuras tão históricas na F1 (acredito que nunca um estreante tenha feito isso), são predicados animadores e promissores para a nova aposta do mercado japonês e consequentemente asiático na categoria (por enquanto).

Até!

domingo, 28 de março de 2021

COMO NUNCA, COMO SEMPRE

 

Foto: Mark Thompson/Getty Images

Nunca estive tão indiferente a um início de temporada. Por mais que houvessem algumas mudanças, a proximidade entre as corridas do Bahrein (lá foram disputadas 3 das últimas 4 corridas, algo inédito) e a sensação de que tudo só será modificado no ano que vem me fizeram pensar assim.

Apesar da grande mudança no grid, seja com pilotos, nomenclaturas de equipes ou até mesmo a transmissão aqui no Brasil. Muitos elogios para a Band, que tratou o produto com respeito que os fãs merecem. Do início até o fim. Houve sorte que a emissora paulista esteve indisponível para transmitir as ligas europeias que passa no final de semana, então fica a curiosidade para saber como será o desenvolvimento dessa relação. Com uma equipe composta de ex-profissionais do grupo Globo, tudo parecia diferente como nunca, mas igual como sempre.

Isso é o que eu ouvi falar porque não consegui acompanhar. A idade está me cobrando um preço da boêmia caseira da madrugada e já acordei com a corrida em andamento. Depois de algumas voltas, ainda perdido, faltou luz aqui em casa e só voltou depois da prova. Por sorte, assisti agora a íntegra na internet e a Band Sports reprisa enquanto escrevo esse texto.

Nikita Mazepin mostra a cada instante o óbvio: o mau-caráter não tem condição alguma de estar lá, mas ser bilionário (ou filho de um) facilita as coisas. Vão transformar o Stroll em alguém mediano graças a irresponsabilidade do clube dos bilionários. Enquanto não matar alguém ou a si próprio, não vão sossegar. Aí culpam o circuito, como sempre fazem.

Sérgio Pérez e a maldição da Red Bull: ao ficar apenas no Q2, volta todo o filme que Gasly e Albon sofreram. Na volta de apresentação, um problema elétrico que quase o fez não largar. Do fim do pelotão, fez o que se espera de agora um piloto taurino: o quinto lugar. Precisa ser mais competitivo, mas tem tudo para fazer o que os outros dois jovens não fizeram (ou não deixaram que fizessem).

Lando Norris mais uma vez começa muito bem a temporada. Foi o melhor do resto hoje, com um merecido quarto lugar, mostrando que a McLaren, de volta com o motor Mercedes, está veloz mais ainda precisa de um melhor ritmo de corrida, mesmo com essa boa colocação. Apesar de todos estarem em fase de adaptação, é importante que o britânico comece o ano batendo no amigo Daniel Ricciardo, um discreto sétimo lugar.

Na Ferrari, Leclerc cresceu na hora certa e mostra porque é o líder que a Ferrari precisa e merece. O motor é menos pior que o do ano anterior, o que basta para que os italianos voltem a sonhar com colocações menos vexatórias que a do ano passado. Sainz é um bom pontuador e vai cumprir bem seu papel. Não é brilhante mas é eficiente e infinitamente mais valia que o atual Vettel.

O alemão, por sua vez... vai manchando seu legado de tetra. Largando em último, bateu em Ocon, rodou e foi dominado pelo filho do chefe. O também acionista da equipe, se não tiver uma rápida melhora, precisa considerar deixar a F1, para seu próprio bem. Superar um tetracampeão é tudo que Stroll e seus "defensores" precisam para validar o argumento de que não é um piloto de todo ruim.

Alonso, quarentão, ausente dois anos e com uma mandíbula recentemente machucada, fez o de sempre: andou mais que o carro. O problema é esse: a Alpine parece ter involuído ou ficado mais para trás, o que é uma tragédia para o espanhol. Nada que ele não esteja acostumado. O grande salto precisa ser ano que vem mas, como escrevi ainda no ano passado, nesse instante é mais importante celebrar o retorno do bicampeão do que imaginar qualquer perspectiva futura.

Yuki Tsunoda ultrapassou três campeões mundiais na estreia e pontuou, chegando em nono. Uma pena o bico de Gasly ter quebrado no contato com a McLaren. A Alpha Tauri está se mostrando muito forte nesse pelotão intermediário. Com o talentoso e ousado japonês, a dupla fica mais fortalecida ainda. Pinta de grande promessa para o futuro da Red Bull, esse é Yuki Tsunoda, o primeiro piloto nascido nos anos 2001 a correr na F1. Nesse ano, aliás, Alonso e Raikkonen estavam estreando na categoria.

Mick Schumacher na Haas tem uma missão: ficar na frente do Mazepin. Não parece ser difícil. A única coisa incompreensível é porque ele não foi para a Alfa Romeo. A Haas se arrasta no grid.

Deixei o melhor para o final. A Red Bull jogou fora uma chance concreta de vitória. Aparentemente melhor equilibrada no Bahrein, os taurinos levaram um nó tático da Mercedes. Talvez a Red Bull não esteja mais tão acostumada com essas situações. O importante é que tivemos uma disputa realmente emocionante. Max passou Hamilton por fora mas teve que devolver a posição. Ele insiste que conseguiria abrir os cinco segundos de punição que receberia mas a equipe não entendeu assim.

Hamilton, em um raro momento de ligeira inferioridade, segurou com unhas e dentes a vitória número 96 da carreira e importantíssima para o Mundial. Considerando que a Mercedes precisa de tempo para corrigir suas falhas, acumular o maior número possível de pontos e roubar da Red Bull é ouro. Max, Horner e companhia perderam uma grande chance.

A Mercedes parece mais tocável do que nunca, mas vencedora como sempre. A Red Bull parece próxima de ameaçar a hegemonia, mas ficou no quase como sempre.

Confira a classificação final do GP do Bahrein:


Até!