Foto: Getty Images |
A despedida de Sebastian Vettel teve elementos muito
interessantes. O post não é sobre a carreira e o legado do tetracampeão, que já
foram exaustivamente destacados ao longo do ano, quando o alemão anunciou que
estava se retirando.
O simbolismo do fim ficou evidenciado em duas ações da
semana. O jantar organizado por Lewis Hamilton. Um grande gesto. Reuniu todos
os pilotos, sem exceção. Ali não era lugar para as birras.
Vettel, mesmo campeão e muitas vezes impulsivo nas disputas,
principalmente com Hamilton naquele incidente do Azerbaijão, conseguiu mudar a
visão enquanto competidor com os adversários. Claro, não ser protagonista
ajuda. A vilania é substituída pela empatia, o humor, o carisma e o cuidado que
o alemão tinha com todos, da saúde até as condições de pista. Foi uma das vozes
dos pilotos, conforme foi amadurecendo e virando o que virou na categoria.
O reconhecimento do heptacampeão não é somente pelo número
ou pela promoção pessoal. Há algo genuíno porque Vettel foi praticamente a
única figura relevante a defender o heptacampeão em suas empreitadas durante a
F1 dos últimos anos, principalmente na pandemia.
Desde os gestos antirracistas, os protestos pelo mundo, a
luta por um esporte e uma sociedade mais igualitária e sem se calar perante aos
absurdos da FIA, como encher o saco sobre piercings, Vettel foi um importante
aliado. Seb não precisa de holofotes. Só criou rede social para anunciar que
estava saindo e colocando luz em outra paixão: a questão ambiental, a
preservação do nosso mundo.
Sai o piloto, vem o “ativista”, o “militante”. Não quero
usar de forma debochada ou negativa essas palavras, que fique evidente para
todos. É o novo capítulo de Vettel. Hamilton percebeu a outra luta do alemão.
Ele não precisa ser tão vocal ou midiático. Mesmo discreto é o suficiente
porque é Sebastian Vettel. Por isso o respeito genuíno de Lewis Hamilton.
Outra questão mais surpreendente foi Alonso. A rivalidade
visceral da década. Tudo bem, o espanhol levou a pior em todas, mas foi o cara
que mais fez Vettel suar lá no ápice, desde a pista até os famosos “jogos
mentais” do bicampeão, que enfrentava um jovem que, no fim da jornada, virou um
homem tetracampeão.
Por isso se alguém voltasse com uma máquina do tempo para
Interlagos, em 2012, e falasse que:
- Em dez anos, Vettel se aposenta e Alonso vai correr com um
capacete em homenagem ao alemão!
A reação seria de risadas ou simplesmente achar o autor da
frase um lunático. O gesto surpreendeu porque sim, a rivalidade diminuiu, os
dois viraram coadjuvantes do grid, mas nunca houve essa “amizade”.
Não digo que foi um gesto falso. Alonso também sabe
manipular o jogo da atenção. A questão é o seguinte:
Hamilton e Alonso são os mais experientes no grid. Os únicos
contemporâneos. Por razões diferentes, o mesmo efeito: a saída de Vettel
simboliza uma parte deles que se vai junto.
Tal qual Nadal e Djokovic sentindo que a aposentadoria de
Roger Federer é um pedaço da rivalidade, dos bons e dos maus momentos indo
embora, um tetracampeão dar adeus ao esporte é um recado não só para os
campeões, mas sim para todos nós: o tempo é implacável.
Até!
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