Foto: Reprodução/Instagram |
Lewis Hamilton é definitivamente um cidadão brasileiro.
Nesta semana, o heptacampeão recebeu o título honorário e uma medalha, em
sessão realizada na Câmara de Deputados, em Brasília.
O mote para esse reconhecimento oficial foi a vitória apoteótica
em Interlagos no ano passado, quando largou em último na corrida sprint e
chegou em quinto e, na corrida, largou em décimo para vencer Max Verstappen e
brigar pelo título até o final.
Como todos sabem, a ligação de Hamilton com o país vem desde
o início da carreira, através do ídolo Ayrton Senna e as cores do primeiro
capacete que usou na F1. Apesar da ligação afetiva, Hamilton sempre teve
dificuldades em Interlagos, até guiar a super Mercedes.
Sim, mesmo o título mundial conquistado em 2008 foi com
muito drama, na última curva. Só depois que o inglês deslanchou e conquistou
três vitórias por aqui, mais que o ídolo, inclusive.
Mas a identificação com o nosso Senna é só uma pequena parte
hoje em dia. Hamilton virou um cidadão do mundo, um modelo diante de um mundo
carente de pessoas que tenham posições humanistas e razoáveis perante as
injustiças da vida.
Com o passar do tempo, Lewis ganhou a consciência de quem
ele é e o que ele representa no ambiente onde trabalha. Agora, Hamilton é um
Sir, heptacampeão, dono de diversos recordes e o rosto mais conhecido da
categoria, mesmo por pessoas que nunca tenham assistido a uma corrida. Ele se
tornou maior que a F1.
Esse tamanho não foi só pelas vitórias e títulos, e sim
pelas posições que toma. Antirracistas, humanistas, tentando tornar o ambiente
da F1 menos tóxico, machista e racista. Não são ações somente da boca para fora
ou em posts em redes sociais. Hamilton está disposto a enfrentar o sistema e
todos sabemos que ele só poderia fazer isso com o peso que tem porque é
justamente Lewis Hamilton.
A F1 depende da popularidade e carisma de Lewis. Hamilton
não precisa mais da F1. Ele continua porque é um esportista, um competidor
visceral e apaixonado pelo que faz, mesmo diante de decisões controversas que
tiraram o octacampeonato no ano passado, por exemplo.
O brasileiro se identifica com essas lutas, com as vitórias,
com a representatividade, assim como Lewis se enxerga mais humano por aqui.
Pela cor da pele, pela humildade das pessoas, pelo carinho dos fãs, aqui é onde
Hamilton mais se sente em casa depois de Silverstone.
A questão do pertencimento vai muito além de um país, língua
ou cultura. São os valores humanistas, é se reconhecer no outro, é ter
personalidade e sensibilidade, fazendo com que as pessoas se identifiquem e
levem isso como motivação para prosperar, ter alegria, superar as adversidades.
Hamilton sempre foi um de nós, a diferença é que agora é
oficial. Que bom que essas homenagens e respeito seja feito no auge do
heptacampeão, ainda jovem e ávido por mais conquistas.
É claro que isso não pode ficar da boca para fora. Em
contraste com esse momento bacana de reconhecimento, vivemos em um país
dividido, onde mimados não aceitam o resultado da maioria das urnas e partem
para o revanchismo, a violência, a intimidação, o racismo e até referências
nazistas. Um país racista, embora formado majoritariamente por negros.
Que a Câmara dos Deputados não seja apenas aproveitadora da
imagem de Hamilton para aparecer nas fotografias ao lado do Sir e apliquem esse
reconhecimento a tantos outros negros e pobres que precisam de um incentivo
para prosperar e contribuir com o nosso país, ao invés de serem terceirizados e
relegados a marginalidade, num país que sempre foi governado por poucos e para
poucos, a oligarquia de sempre, que agora está escalonada em um conservadorismo
ultrarradical que nos ameaça diariamente nas ruas e nas redes sociais.
Lewis Hamilton é um de nós, mas que isso não seja apenas uma
frase vazia, e sim parte de um processo de retomada do Brasil, mais justo,
igualitário e, sobretudo, sensível.
Até!
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