Eaí pessoal, agora está na hora da parte final do Especial
Jordan. Por ser a última parte, é obviamente a mais triste, delicada e
dramática. Vamos lá!
2000: O INÍCIO DO FIM
Trulli na Jordan. Aos poucos, time foi perdendo competitividade. Foto: Getty Images |
A temporada 2000 poderia ser a continuação da ascensão dos
amarelos, mas desde o início as coisas começaram a ficar estranhas. Com a
chegada da BAR e a parceria com a Honda, sobrou para a Jordan os motores Mugen
Honda de segunda qualidade. Hill foi substituído pelo italiano Jarno Trulli,
ex-Prost e Minardi.
Durante a temporada, vários engenheiros, técnicos e outros
membros do staff acabaram saindo da Jordan, fruto do início da crise financeira
da equipe. Na pista, as coisas estavam melhores do que parecia. Apesar de
Trulli fazer bons treinos, isso não se resultou em pódios. Com 17 pontos, a
Jordan volta para o 6°, o que esconde um pouco a fragilidade financeira do
time.
Em Mônaco, uma dupla lamentação: Trulli liderava até
abandonar com problema no câmbio; faltando oito voltas para o fim, Frentzen
bateu na Saint Devote quando era o segundo.
Para 2001, uma boa notícia: depois de muitas negociações, a
Jordan conseguiu um acordo para voltar a usar os motores Honda, que fornecia
para eles e a BAR. A rivalidade estava escancarada. A dupla de pilotos foi
mantida até a metade da temporada quando Frentzen, depois de uma série de
desentendimentos com Eddie, acabou demitido. O brasileiro Ricardo Zonta chegou
a correr na Alemanha, mas depois foi feita uma troca: Jean Alesi, nos momentos finais
da carreira, foi para a equipe, enquanto o alemão foi parar na Prost.
Enquanto isso, Trulli carregava a Jordan para o quinto lugar
nos construtores, com 19 pontos, a frente da BAR. Para tentar agradar os
japoneses, Jordan contratou Takuma Sato para a equipe na temporada 2002.
No entanto, a Jordan seguia perdendo dinheiro e
funcionários. Naquele ano, foi estampado o famoso tubarão no bico do carro com
os dizeres “Bitten Heroes”. Por outro
lado, foi o último da Benson & Hedges como patrocinadora principal do time.
"Bitten Heroes": a última temporada da icônica Benson & Hedges como patrocinadora principal da Jordan. Foto: Getty Images |
Para 2002, Eddie Jordan passou a acumular funções em sua
própria equipe, cada vez mais endividada. Trulli para a recém-retornada Renault
e para seu lugar o compatriota Fisichella acabou retornando após sair da
Benetton (que havia virado a Renault). A DHL virou a patrocinadora principal,
mas a Benson & Hedges ainda aparecia em corridas eventuais, agora sem os
mascotes e sim “Be On Edge” (de Benson & Hedges).
Fisichella até fazia bons treinos, mas com menos grana a
Jordan não se mostrou competitiva. O máximo que pode fazer foram três quintos
lugares e um sexto. O inexperiente Sato pontuou apenas na última corrida, no
Japão, quando chegou em quinto para delírio da torcida local. Ainda assim, os
amarelos ficaram em sexto no campeonato e novamente superaram a BAR.
Sato na Jordan e o "Be On Edge" na traseira. Foto: Getty Images |
2003: ÚLTIMA VITÓRIA
Fisichella sobreviveu a uma corrida caótica para vencer pela primeira vez - a última da Jordan. Cerimônia da vitória só foi realizada duas semanas depois, em Ímola. Foto: Getty Images |
Sem dinheiro, o pesadelo aumentava para Eddie Jordan. Nessa
temporada, a Honda deixou a equipe para se concentrar nos esforços com a BAR.
Restou aos amarelos acertar com a Ford, que tinha mais de dois anos de atraso
em relação aos demais. Para fechar as contas, a equipe manteve Fisichella e
contratou o desconhecido Ralph Firman.
No entanto, ainda deu tempo para o “canto do cisne” de Eddie
Jordan e companhia. No caótico GP do Brasil que terminou depois dos acidentes
de Alonso e Webber, Fisichella estava na frente, com Kimi Raikkonen em segundo.
No entanto, devido a um erro da FIA, Kimi foi considerado vencedor e Fisichella
o segundo.
Fisichella e Jordan: última celebração da equipe não foi no pódio. Foto: Getty Images |
A lambança só foi desfeita na corrida seguinte, em Ímola quando
Eddie e Fisichella receberam os troféus de vencedor de Ron Dennis e Raikkonen.
Aquela seria a quarta e última vitória da Jordan na F1 e a primeira de Fisico
na categoria, mas ambos não puderam comemorar no topo do pódio.
Foi a famosa corrida de exceção porque a Jordan terminou a
temporada fazendo mais três pontos e em nono nos construtores. Firman fez
apenas um pontinho na Espanha e ficou mais conhecido pelo forte acidente que
sofreu no treino livre do GP da Hungria, tendo sido substituído às pressas pelo
piloto local Zvolt Baumgartner.
Para piorar, Jordan processou a Vodafone, alegando que a
marca tinha feito um acordo verbal com a equipe antes de ir para a Ferrari. A
alegação não deu resultado e Eddie teve que pagar indenizações para a Vodafone.
Isso foi quase o tiro de misericórdia na organização.
A decadência da Jordan já estava escancarada. Sem dinheiro
para 2004, o carro mal tinha patrocinadores e a equipe teve que se virar.
Heidfeld e o pagante Giorgio Pantano foram os escolhidos.
O alemão até fazia o
que dava, mas o carro era muito ruim. Por atraso de pagamento, Pantano ficou
fora da corrida do Canadá e foi substituído pelo alemão Timo Glock, que chegou
em sétimo na estreia, apesar de que só foi possível chegar nessa posição porque
Williams e Toyota foram desclassificados. Na sequência, ele substituiu Pantano
até o fim do ano.
Como desgraça pouca é bobagem, a Ford anunciou que estava de
saída da F1 no fim do ano. Sem motor e sem dinheiro, a Jordan só conseguia
superar a Minardi. Com muito esforço, o time se manteve para 2005, mas o estado
era crítico.
2005: O FIM
Narain Karthikeyan: coube a ele fazer parte da "última dança" da Jordan. Foto: Getty Images |
Sem motor e sem dinheiro. O que fazer? De última hora, a
Toyota assinou com a Jordan para fornecer motores, mas a situação era
irreversível. No início do ano, Eddie Jordan vendeu o grupo para a Midland por
U$$ 60 milhões.
No entanto, a Jordan ainda existiria para aquele ano, como
se fosse uma “turnê de despedida”. O aspecto de abandono estava visível na
dupla de pilotos: os desconhecidos Narain Karthikeyan e o português Tiago
Monteiro.
O que seria uma despedida melancólica acabou não sendo tão
ruim assim. Graças ao motim das equipes de pneu Michelin que não correram em
Indianápolis 2005, a famosa “corrida de seis carros”, isso permitiu a Jordan um
último pódio. Não importa se as circunstâncias eram constrangedoras. Enquanto a
Ferrari fazia a primeira dobradinha do ano e a primeira vitória de Schumacher
em uma temporada difícil, o português Tiago Monteiro foi o responsável por
fazer história duas vezes: o primeiro português a estar no pódio da F1 e o
último da equipe Jordan. As imagens do pódio dizem tudo.
Tiago Monteiro: o primeiro pódio de um português e o último da Jordan. Foto: Getty Images |
Monteiro ainda conquistou um último pontinho da história do
time ao chegar em oitavo em Spa. Na corrida derradeira, no Japão, o português
foi o 11°, enquanto o indiano bateu. Uma boa metáfora. Com 12 pontos e em nono
(e penúltimo) lugar, assim se encerrava uma trajetória de 15 temporadas na F1.
Coube também ao português o último ponto da equipe na categoria. Foto: Getty Images |
A Jordan virou a Midland F1, que durou apenas uma temporada.
Em 2007, ela virou a Spyker, que também durou um ano e foi comprada pelo
excêntrico (e picareta) indiano Vijay Mallya, que a transformou na Force India.
Essa, por sua vez, sobreviveu até meados de 2018, quando virou a Racing Point e
que, em 2021, será a montadora Aston Martin, sob administração de Lawrence
Stroll.
Mais do que revelar grandes talentos na base e que chegaram
na F1. A Jordan foi o ponto de partida de Michael Schumacher, deu visibilidade
para Rubens Barrichello, Eddie Irvine, Ralf Schumacher e também foi o canto do
cisne para Damon Hill e Jean Alesi, além do auge de Hainz Harald Frentzen.
O
carro amarelo bonito com bico irreverente sempre vai ter um lugar no coração
dos fãs que puderam acompanhar aquela época, torcendo para que aquele patinho
feio ficasse bonito e que até hoje lamenta seu fim.
Eddie Jordan, assim como Peter Sauber, podem ser
considerados os “últimos românticos”, que representam uma época onde qualquer
um poderia fundar uma equipe e correr por aí apenas pelo amor no automobilismo.
Hoje, as garagistas não existem mais. O mundo é dominado pelas montadoras.
Assim como Frank Williams, infelizmente o tempo é cruel, mas a história não se
apaga.
Qualquer fã de 30-40 anos lembra com carinho da Jordan. Ela
não ficou marcante por títulos, mas todo mundo lembra de suas vitórias e pódios
improváveis, quando a F1 ainda estava na era das tabagistas e coisas do tipo.
Agora o que restou foi saudade, saudosismo e vídeos do YouTube para conhecer e
relembrar esses momentos.
E assim termina o Especial Jordan, que serve como uma
espécie de aquecimento para o início desta temporada diferente nesse ano
diferente que virou 2020. Espero que tenham gostado.
Até mais!
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