terça-feira, 30 de agosto de 2022

RETRÔ E VINTAGE

Foto: Getty Images

 Grandes rivalidades encerram-se quando, obviamente, os dois não têm mais o que dar, um dos dois já é muito superior ou quando os parâmetros de competição não são os mesmos.

Será que as rivalidades realmente acabam? Só ver o caso Hamilton e Vettel, por exemplo. De Vettel jogar o carro e querer brigar até a admiração pública mútua, o que mudou? Bem, Hamilton conquistou dois títulos contra o alemão, que entrou em declínio. Não era mais um adversário direto, o principal. Concorrência superada.

Claro: os posicionamentos extrapista também fazem a diferença, mas os dois não são vistos como iguais porque Hamilton aniquilou qualquer dúvida que pudesse existir entre ele e Vettel.

O texto fala de outro rival do Sir: o maior da carreira. Sim, muito maior que Rosberg. Tão intensa quanto explosiva, ela também ajudou a moldar a carreira do maior nome da história da categoria, em números.

A rivalidade com Alonso esfriou na última década pelo motivo óbvio: o espanhol, pelo temperamento difícil, deixou de ocupar os principais assentos da F1. Relegado ao pelotão intermediário pelas escolhas equivocadas da carreira, não haveria o que disputar. A rivalidade estaria no passado e no campo da hipótese.

Ou Alonso voltaria ao topo ou Hamilton teria que baixar o padrão. Aconteceu a segunda opção. Nesse meio tempo sem disputas relevantes, os dois manteram a boa política. Elogios mútuos, homenagens quando o espanhol saiu da F1 pela primeira vez e muito respeito. Para Hamilton, faz todo o sentido: valorizar o bicampeão por ter dividido a mesma equipe quando estreante e no auge de Fernando só engrandece o feito.

Se Alonso e Hamilton estão distantes nos números, em termos de qualidade não. Muito pelo contrário. É claro que a comparação fica prejudicada pela carreira errática na gestão de escolhas que a Fênix fez, mas aí há um bom debate: quem é ou foi melhor?

Não é esse o intuito do texto de hoje. Na verdade, a abordagem é simples: com os dois no pelotão intermediário, ambos disputam os mesmos objetivos. Tudo bem, a Mercedes está alguns degraus a frente. No entanto, nunca esteve tão fragilizada em uma década, comparando-se com si mesmo e os rivais.

Então, num ambiente e num esporte naturalmente competitivo, com pessoas que competem desde a infância no kart, tudo vale alguma coisa. Não é só apenas a vitória ou um título. É espaço, prestígio, ego, a vitória psicológica.

Hamilton e Alonso juntos sempre vai ter aquela lembrança cada vez mais distante de 2007. Quinze anos. Os dois mais longevos do grid. Agora, há chance maior de competir. Por isso o incidente de ontem não é apenas um erro de cálculo ou algo de corrida. É simbólico.

É retrô e vintage, porque remete a um passado relativamente próximo e está em ótimo estado de conservação. Para Alonso, tem uma importância maior. A chance de tirar uma casquinha, de mostrar o que poderia ter sido se simplesmente fizesse uma leitura melhor da carreira e do temperamento. Por isso a reação explosiva no rádio.

Evidente que isso é normal no calor do momento, mas reparem: “Hamilton só sabe largar quando está na frente”. Há, no entendimento do espanhol, uma deficiência no Sir, mascarada por ter sempre um carro competitivo e/ou dominante a carreira toda enquanto o espanhol precisou se “provar mais”.

Hamilton deu o pulo do gato que Alonso gostaria quando foi para a Mercedes. O resto é história. Por isso que há mais animosidade do espanhol do que o contrário. Quem perde não esquece. Claro, eles ficaram empatados em pontos em 2007 e perderam o título para Raikkonen.

Alonso era o bicampeão e sucessor de Schumacher. Hamilton era apenas o novato protegido por Ron Dennis que, com o passar do tempo, provou que também era um piloto diferente. Não só em 2007, mas vocês já sabem...

Hamilton e Vettel “roubaram” o trono que estava destinado a ser de Alonso, o responsável por encerrar a Era Schumacher. Foi encerrado pelos dois talentos prodígios. Para o ego e a competitividade de alguém, isso dói muito. Desde então, mesmo tentando, a Fênix não conseguiu novos títulos e ficou sempre no campo da hipótese: “ah se tivesse um carro bom...”

Um ressentimento de 15 anos. Na explosão do momento, Alonso deixou explícito o que pensa de Hamilton. O inglês não precisa retrucar porque sempre soube disso e talvez seja recíproco. É natural se não for, porque o tempo deu razão a Lewis para conquistar e dividir a atenção com outros adversários menos intensos e mais estressantes, como Nico Rosberg e agora Max Verstappen.

Para Alonso, é uma chance de uma mínima reparação. Por isso, a cada disputa, roda com roda e entrevistas, não é apenas uma situação de corrida. São 15 anos de uma temporada que mudou a carreira dos dois. Melhor para Hamilton.

Isso também serviu para mostrar aos mais novos um pouco do que era aquilo. Hamilton, com a segurança de ser o nome mais popular do esporte no momento, tem nos títulos e na experiência a condição necessária para responder a altura.

Sempre praticando os jogos mentais via imprensa, rádio e gestos, Alonso nunca se furtou de ser o anti-herói e o vilão. Ele sempre teve essa natureza mesmo agora, quando ficou mais divertido e carismático conforme ficava cada vez mais longe das glórias. Ele sabe que irrita e por isso o faz. Por isso também é único.

Quantas disputas épicas poderíamos ter nos últimos nove anos se dessem um carro decente para Alonso? O que seria dessa rivalidade, que em um ano já virou uma das maiores da história da categoria e digna de filme? Perguntas que a F1 não quis responder.

Resta nos contentar com as migalhas que valem algum lugar entre os 10 ou o pódio. Tudo bem. Não é sobre as posições, e sim sobre as personalidades e o carisma.

Todo campeão precisa de um antagonista. Lauda e Hunt. Senna e Prost. Hamillton e Verstappen. Rosberg. Alonso.

Os circuitos relevam muito mais que as qualidades técnicas dos pilotos, como vocês já puderam entender, eu acho. Muito mais.

Até!

segunda-feira, 29 de agosto de 2022

TIRANDO PRA COMÉDIA

 

Foto: ANP via Getty Images

A incerteza ficou só na sexta feira mesmo. No treino, com o motor novinho, Max Verstappen tinha grandes possibilidades de no mínimo ficar no pódio. Ele mesmo havia declarado no sábado que seria uma vergonha isso não acontecer.

O que se viu em Spa Francorchamps foi um passeio. A expectativa era que Leclerc também pudesse se recuperar, mas aí depois voltamos para esse assunto. Coincidência ou não, os trabalhos de Max e Charles ficaram um pouco mais fáceis porque as Alpha Tauri largaram dos boxes. Caminho livre e pedido da equipe principal?

Sainz e Pérez dependeriam de um bom ritmo e sorte para tentar sonhar com uma vitória. Com a Red Bull melhor, a impressão é que o time de Adrian Newey progrediu com as novas regulamentações técnicas, além do fato de ter evoluído muito nos circuitos de alta velocidade, com muitas retas.

As primeiras voltas também facilitaram o trabalho que já não seria tão hercúleo para Max. Escalando o grid, teve o Safety Car provocado por mais uma barbeiragem de Latifi e que vitimou Bottas.

Antes disso, 15 anos de ressentimento: Hamilton foi otimista demais, tentou passar por fora, deixou Alonso sem espaço e voou. Com danos, teve que abandonar. Os melhores também erram. Hamilton desperdiçou uma boa chance de pódio. A Mercedes tem um ótimo ritmo, mas falta velocidade. A Red Bull se distanciou. Os alemães dão alguns passos atrás.

Alonso, fulo da vida com a manobra, destilou os anos de ressentimento no rádio. Na raiva, foi genuíno. Uma pena que escolhas da carreira não permitiram que os dois se encontrassem mais nas pistas. É natural que Alonso sinta isso, pois tem o ego e a competição envolvidos. É natural. Quem tenta dominar sempre vai ter dificuldade com os semelhantes.

Um Safety Car facilitou o trabalho de Max porque não permitiu que Sainz disparasse. Era para ele e Leclerc chegarem nos ponteiros, mas o azar falou mais alto na Ferrari. Uma sobreviseira que Max tirou foi parar no duto de freios do ferrarista, superaquecendo-o. Parada prematura e desgaste de pneus fizeram com que Charles se descolasse do principal pelotão. Mais uma vez, fora da disputa. Mas o pior estava por vir.

Max está sobrando. É como se jogasse no muito fácil. Na Hungria, largou em nono. Agora, em décimo terceiro. Mesmo assim, em 12 voltas, era o líder, mesmo com pneus macios. Os médios de Sainz e Pérez se desgastaram muito mais rápido. Fácil, extremamente fácil. E meteu 20 segundos de vantagem. O carro está melhor e mais adaptado para Max. Os rivais ficam cada vez mais distantes e não evoluem, pelo contrário.

Leclerc parou para colocar pneus novos e fazer a volta mais rápida, só que no meio do caminho tinha Alonso. O ponto não foi possível, mas veio o pior: acelerar demais no pit lane rendeu cinco segundos de punição. Leclerc, que teria 11 pontos, saiu com 8. São quase 100 pontos de desvantagem. O campeonato acabou, sejamos francos.

O psicológico também conta. Ou Leclerc erra ou a Ferrari o prejudica. São tantos erros repetidos que culminaram muito precocemente numa suposta disputa, justamente quando a Ferrari estava mais competitiva. Agora, com a Red Bull cada vez melhor e o crônico problema dos italianos em evoluir durante o ano, agora é questão de tempo. Nem o discurso externo existe mais.

Pérez e Sainz no pódio. Os dois segundões. A diferença é que, de forma bizarra, a Ferrari coloca as melhores estratégias no espanhol. Daqui a pouco, mesmo com um ritmo inferior, é capaz de ultrapassar o monegasco no campeonato. O Senhor Consistência Russell teve uma boa possibilidade de pódio, mas é inegável que o retorno das férias foi um soco no estômago da Mercedes, como Hamilton disse no sábado.

Apesar dos danos causados no incidente com o Sir, Alonso segue somando pontos e mostrando porque deve continuar na F1 por muito tempo. Nele, a idade não parece agir. Ainda por cima, mostrou um lado vintage que está disfarçado de humor e carisma em virtude de não andar mais no topo da categoria. Alonso é um patrimônio da F1 porque é único. Hoje, ele lembrou os antigos e respondeu aos novos porque é não há meio termo: ame ou odeie.

Ocon é tão regular que quase esqueci de mencioná-lo, mesmo repetindo a épica ultrapassagem que o Hakkinen fez na reta oposta. Tão consistente quanto Russell e ainda menos inserido no radar do que quando surgiu da base para a categoria.

Vettel, Gasly e Albon conseguem pontos importantes. Uma boa atuação do alemão, num circuito onde a Aston Martin foi competitiva. O tailandês consegue o quarto pontinho com a Williams e isso precisa ser sempre muito bem comemorado. Mesmo em uma temporada decepcionante, Gasly tenta encontrar um rumo também para a carreira.

Quem ficou abaixo foi a McLaren, que saiu zerada. Parece que a Alpine está melhor nas pistas de alta. Vai ser uma disputa interessantíssima nos construtores, ainda mais com a questão Piastri no meio.

Max Verstappen e a Red Bull tiram a concorrência pra comédia. É fácil e até humilhante: não interessa de onde sai, nada parece ser capaz de deter o bicampeonato do holandês, que corre em casa na semana que vem. Imagina a euforia?


Até!

sexta-feira, 26 de agosto de 2022

INCERTEZA DIVERTIDA

 

Foto: ANP via Getty Images

Diria que a palavra que melhor descreve a F1 em Spa Francorchamps neste final de semana é incerteza. Por vários motivos, mesmo quando algumas certezas se confirmam.

A parceria Alfa Romeo e Sauber vai acabar no ano que vem. A marca do Grupo Fiat deixa a F1. Isso pode significar o retorno da independência da Sauber na gestão de equipe por duas temporadas: 2024 e 2025. No fundo, essa independência já existia agora. Afinal, mesmo com o motor Ferrari, não há nenhum piloto da academia no time.

Tudo isso porque, a partir de 2026, a Audi chega na F1. Finalmente. Ela e a Porsche. A Audi está próxima de comprar a Sauber. Seria uma parceria no estilo da saudosa Sauber BMW (2006-2009), o melhor momento do time de Peter Sauber em mais de 30 anos na categoria. É até estranho reportar isso como algo oficial. Ainda restam quatro anos para o novo regulamento e teto de motores das fabricantes. Se as coisas continuarem do jeito que estão, talvez surjam novas hierarquias.

Ah, a Porsche vai se aliar a Red Bull, mas pretendo escrever sobre esses assuntos de forma mais ampla no futuro próximo.

Outra incerteza é o futuro de Daniel Ricciardo. Também me alongarei mais sobre durante a semana. Há um certo otimismo, mas também um desejo claro: se não for a Alpine, não será ninguém e o australiano pode fazer o tal "ano sabático". O problema é que, para alguém da idade dele, o sabático pode ter uma duração maior.

Spa tem várias incertezas, começando pelo contrato. A F1 já anunciou que a França está fora do calendário de 2023 e pode retornar no tal sistema de revezamento. Esta pode ser a última edição do circuito favorito de todo mundo que gosta de automobilismo. Tomara que tenha corrida desta vez. 

Apesar do tempo incerto de hoje, com chuvas esparsas durante o dia belga, a tendência é que domingo tenha pista seca. O sábado pode ter surpresas com uma possível pista molhada. Naturalmente já é assim...

No entanto, a corrida ganha uma incerteza pelo lado que é muito positivo. Seis carros vão trocar componentes de motor e câmbio e largam no fim do grid. Entre eles Verstappen e Leclerc. Vão sair lá de atrás, escalando o pelotão. Num circuito longo e rápido igual Spa, não deve ser muito difícil chegar no topo. A vitória é outra conversa.

Tudo vai depender do ritmo de seus companheiros. A notícia significa que a Mercedes tem uma grande chance de finalmente vencer em 2022. Não é loucura. A questão é o ritmo de corrida em relação a Max e Charles, que saem lá de atrás. Se Hamilton e Russell se livrarem do ritmo mais cadenciado de Sainz e Pérez, teremos uma corrida mais emocionante ainda. A possibilidade está aberta até para mais uma pole no ano.

Também é chance de Alonso aprontar no sábado. Além da dupla que lidera o campeonato, Ocon, Bottas, Mick Schumacher e Norris também estão punidos. Spa vira uma incerteza divertida, em todos os sentidos.

A Ferrari liderou a primeira sessão e a Red Bull a segunda. A bola e a responsabilidade estão com Sainz e Pérez. Sem os companheiros implacáveis, eles precisam se afirmar e mostrar que são escudeiros úteis. Do contrário, o bicho papão alemão prateado guiado pelos ingleses vai chegar, roubar o doce das crianças e disparar rumo a glória inédita em 2022.

Confira a classificação dos tempos livres:




Até!


quinta-feira, 25 de agosto de 2022

GP DA BÉLGICA: Programação

 O Grande Prêmio da Bélgica foi disputado pela primeira vez em 1925, e faz parte do calendário da Fórmula 1 desde a 1a temporada da categoria, em 1950. Em apenas seis ocasiões o Grande Prêmio não foi disputado: 1957, 1959, 1969, 1971, 2003 e 2006.

Foto: Reprodução/Wikipédia

ESTATÍSTICAS:
Melhor volta em corrida: Ayrton Senna - 1:41.523 (McLaren, 1991)
Pole Position: Lewis Hamilton - 1:41.252 (Mercedes, 2020)
Último vencedor: Max Verstappen (Red Bull)
Maior vencedor: Michael Schumacher - 6x (1992, 1995, 1996, 1997, 2001 e 2002)

CLASSIFICAÇÃO:
1 – Max Verstappen (Red Bull) – 258 pontos
2 – Charles Leclerc (Ferrari) – 178 pontos
3 – Sérgio Pérez (Red Bull) – 173 pontos
4 – George Russell (Mercedes) – 158 pontos
5 – Carlos Sainz Jr (Ferrari) – 156 pontos
6 – Lewis Hamilton (Mercedes) – 146 pontos
7 – Lando Norris (McLaren) – 76 pontos
8 – Esteban Ocon (Alpine) – 58 pontos
9 – Valtteri Bottas (Alfa Romeo) – 46 pontos
10- Fernando Alonso (Alpine) – 41 pontos
11- Kevin Magnussen (Haas) – 22 pontos
12- Daniel Ricciardo (McLaren) – 19 pontos
13- Pierre Gasly (Alpha Tauri) – 16 pontos
14- Sebastian Vettel (Aston Martin) – 16 pontos
15- Mick Schumacher (Haas) – 12 pontos
16- Yuki Tsunoda (Alpha Tauri) – 11 pontos
17- Guanyu Zhou (Alfa Romeo) – 5 pontos
18- Lance Stroll (Aston Martin) – 4 pontos
19- Alexander Albon (Williams) – 3 pontos

CONSTRUTORES:
1 – Red Bull RBPT – 431 pontos
2 – Ferrari – 334 pontos
3 – Mercedes – 304 pontos
4 – Alpine Renault – 99 pontos
5 – McLaren Mercedes – 95 pontos
6 – Alfa Romeo Ferrari – 51 pontos
7 – Haas Ferrari – 34 pontos
8 – Alpha Tauri RBPT – 27 pontos
9 – Aston Martin Mercedes – 20 pontos
10- Williams Mercedes – 3 pontos

AINDA É DA ELITE

Foto: McLaren

Recém dispensado da McLaren em virtude do desempenho muito aquém e por não ser barato, Daniel Ricciardo ainda acredita fazer parte do grupo de elite da F1 e está muito motivado para continuar "prosperando" na categoria, apesar o futuro incerto.

"Acredito que ainda posso prosperar, porque creio que pertenço à F1 e que posso fazê-lo. Isso é o que realmente me deixa motivado", disse para a australiana Speedcafe.

O que ainda faz o australiano continuar estimulado é o fato de uma quantidade muito pequena de pilotos estarem aptas para a F1. O australiano definitivamente ainda se sente parte dessa elite.

“A competição… Deve ser um dos únicos esportes no mundo em que só há 20 pessoas competindo. A competição envolve apenas um grupo pequeno de 0,001% das pessoas. Então, poder fazer parte desse grupo e competir nesse grupo é uma coisa única. E eu amo isso”, salientou.

É bom que Ricciardo ainda se sinta assim, mesmo com a situação tão complicada na categoria em virtude do desempenho decepcionante na McLaren, apesar de ter vencido uma corrida.

De fato é uma elite. Poucos pilotos aptos para poucas vagas. Mesmo assim, são aptidões diferentes, desde o talento, a posição nas academias e a quantidade de dinheiro que alguém é capaz de trazer para um time. As portas estão quase se fechando para Ricciardo. No entanto, todos sabemos de sua qualidade. Não há tempo a perder. Só depende dele para continuar na elite do automobilismo.

SEM VENDER A ALMA

Foto: Reprodução/Red Bull

A F1 passa por expansões e mudanças no calendário. Circuitos tradicionais estão dando lugar para novos lugares e praças sem tradição na F1 e/ou no automobilismo. 

Stefano Domenicali, chefão da categoria, garante que não vai montar um calendário e uma F1 baseado apenas no dinheiro, embora ele seja fundamental, é claro:

“Não vou vender a alma da Fórmula 1. São mudanças normais, estamos nos abrindo para todo o mundo. Dinheiro também é importante em tudo quanto é lugar: para nós, também”, disse.

França, Spa e Mônaco podem estar de saída. O contrato se encerra nesse ano. Por outro lado, Arábia Saudita, Catar, Miami e Las Vegas estão garantidos por um longo tempo na categoria. Domenicali não quer criar um desequilíbrio entre os circuitos favoritos dos fãs e dos pilotos e um monte de pista de rua genérica sem alma que paga muito mais que a concorrência.

“Mas não olhamos só para isso: todo o pacote tem que fazer sentido. Se olhássemos apenas para contas bancárias, o calendário das corridas seria definitivamente diferente”, afirmou para o jornal alemão "Bild".

Domenicali diz que não quer vender a alma da F1. Ela já foi vendida. É um discurso apaziguador. Quem sabe, na pressão, uma ou outra pista mais popular consiga se salvar, mas honestamente: o futuro não vai ser muito diferente disso. Não há mais autódromos hoje em dia. Cada vez mais teremos as pistas de rua genéricas com eventos musicais e gastronômicos nos grandes centros mundiais e é isso aí. Mais fácil, prático e lucrativo. Acostumem-se.

TRANSMISSÃO:
26/08 - Treino Livre 1: 9h (Band Sports)
26/08 - Treino Livre 2: 12h (Band Sports)
27/08 - Treino Livre 3: 8h (Band Sports)
27/08 - Classificação: 11h (Band e Band Sports)
28/08 - Corrida: 10h (Band)







quarta-feira, 24 de agosto de 2022

O TRAMPOLIM

 

Foto: McLaren

O que era óbvio foi devidamente confirmado na semana que a F1 retorna. Daniel Ricciardo está oficialmente fora da McLaren. Em comum acordo, a equipe e o australiano concordaram em encerrar o vínculo no final da temporada. Em compensação ao fim de contrato, Ricciardo ainda vai receber 10 milhões de euros (R$ 50 milhões) pelo acordo.

Que o desempenho de Ricciardo era ruim e não se justificava a manutenção dele no time pelo desempenho direto contra Norris e o salário que recebe (um dos maiores da F1), numa equipe que vive dificuldades financeiras, todo mundo sabia. No entanto, o que ficou evidente desde o caso Piastri é que o time de Woking precisaria se livrar de Ricciardo e isso não seria barato.

Ou seja: a McLaren está pagando para o australiano ir embora. O que isso significa, também, é que há o entendimento de que Piastri está encaminhado. Há alguma segurança jurídica para isso. Do contrário, certamente a equipe não tomaria essa atitude. Imagina ficar sem dois pilotos, igual a Alpine?

Bom, a pergunta que começou a ser respondida nas últimas semanas é: e o futuro de Ricciardo? Obviamente, a única vaga compatível com o que ele ganha e almeja na carreira é um retorno para a Alpine. Ou é isso ou reduzir drasticamente os vencimentos para andar no fim do grid, como a Haas, outra equipe que foi surpreendentemente ventilada pela imprensa européia.

Outra alternativa é ir para o automobilismo americano. Todavia, diante da idade do australiano, isso poderia resultar no fechamento de portas definitivo na F1.

Com a iminente saída, Ricciardo deu várias entrevistas interessantes, inclusive hoje, quando anunciou a saída da McLaren. Desde falar que o amor e o fogo pela categoria não diminuíram até mesmo a se comparar com o caso de Pérez, demitido da própria McLaren em 2013 e da Racing Point em 2020 e que mesmo assim deu duas voltas por cima para continuar na F1 e ter o destaque merecido, mesmo que tardio.

Mesmo com a vitória em Monza que significou o fim do jejum da McLaren, Ricciardo sempre esteve muito abaixo das capacidades, principalmente neste ano. Ao sair da Red Bull por entender que toda a estrutura estava voltada para Max Verstappen, o australiano fez duas tentativas: a Renault, onde optou por encerrar precocemente a parceria e a McLaren, onde fracassou e viu a ascensão de Lando Norris.

O que resta para Ricciardo é a Alpine, não tem jeito. Não é o que ambos querem, mas é o que ambos têm a disposição. 

A McLaren era o trampolim de Ric, mas o próprio australiano serviu de trampolim para o compatriota: Oscar Piastri.

Até!

terça-feira, 23 de agosto de 2022

UM APELO POR SPA

 

Foto: Getty Images

No mínimo a preferida de 7 entre 10 pilotos. Um circuito veloz, cheio de desafios e único. Correr em Spa Francorchamps é um prazer para os pilotos e o circo da F1, além de ser extraordinário no videogame, computador ou simulador. É aquela prova que fica no imaginário popular sobre o que é F1.

O problema é que Spa é uma pista “muito F1” para uma categoria que busca a todo instante se distanciar da F1, seja na paixão, nas pistas e no modo de ser. O mais importante é agradar quem não acompanha o esporte. É claro que o público está mudando e isso é positivo.

É evidente que as sequelas econômicas decorrentes do covid fazem com que qualquer empresa precisa reavaliar investimentos e ter muito cuidado na administração. A diferença é que, agora, a F1 está nas mãos dos americanos. Eles querem o business, o engajamento e o entretenimento acima de tudo, diferentemente do modo europeu, que valoriza os clássicos.

É por isso que há essa paixão por circuitos genéricos de rua em lugares sem tradição ou controversos. Uma categoria que agora resolveu fechar e trancar com vários cadeados as portas para a Rússia mas não vê problemas em desembarcar na Arábia Saudita e no Catar, mesmo com barulho de bombas, fumaça e cheiro de queimado a poucos quilômetros do autódromo – de rua, é claro.

Spa pode entrar no tal revezamento. Existem muitos lugares interessados em sediar uma corrida de F1 mas não há espaço para todo mundo. O calendário já está totalmente inchado. Assim, a corrida na Bélgica pode acontecer com menos frequência. Um total absurdo.

Nos últimos anos, começou uma espécie bizarra de caça às bruxas contra Spa. Do dia para a noite, o circuito não tem mais segurança e a Eau Rouge mata pilotos.

Não é culpa da FIA, veja bem, e sim da Eau Rouge. Não é culpa da FIA que organiza uma F2 com pilotos sem condições e eles, sem qualidade, conseguiram a proeza de causar um acidente fatal e quase matar outro. O fim da área de escape pode tornar qualquer idiota de simulador em um homicida em potencial. E foi o que aconteceu.

É culpa da Bélgica e da Eau Rouge que o Lando Norris resolveu fazer a curva de pré cravado no meio do temporal. Nem o Villeneuve e o Zonta conseguiram isso no seco, mas o inglês ia conseguir essa façanha num local sem área de escape, de certo. A Eau Rouge é perigosa. Precisamos de segurança. Nunca vimos um carro capotar ou algum piloto irresponsável quase se decapitar no guard rail porque é um perigo ambulante.

A culpa é da curva, claro, não da FIA. Por isso que a Bélgica corre riscos, talvez por não apresentar dinheiro o suficiente para competir com autódromos nas ruas de capitais assinadas por Helmann Tilke e shows de música pop. Quem liga para autódromos e várias décadas de tradição? Eles nem escutam os pilotos. O que interessa é o show business e quem pingar mais na conta.

Bernie já fazia isso, tanto que a Bélgica ficou alguns anos ausente no início dos anos 2000. Circuitos históricos como Silvestone, Interlagos, Suzuka, Monza, Spa e Mônaco deveriam ser eternos, sem qualquer margem para negociação. Eles é que construíram a categoria, junto dos pilotos e chefes de equipe. Não foram os petrodólares ou a Liberty.

Spa é eterna, e assim deveria ser. Barcelona, Paul Ricard, Arábia Saudita, Miami, Zandvoort... o que não falta é circuito bisonho que deveria ser expurgado do calendário, mas querem encher o saco da queridinha de 90% dos que realmente gostam do automobilismo.

Spa deveria ser eterna, assim como Sepang poderia voltar ou até mesmo Mugello ser incorporada ao calendário. Sem dinheiro, ninguém é visto e nem é lembrado, até porque a lembrança dos fãs não importa. O que vale são as cédulas.

Que a corrida deste final de semana não seja a última de Spa na F1 ou tampouco comecem um revezamento colocando mais circuitos medonhos em prol do dinheiro, do engajamento, do espetáculo ou seja lá o que for que estejam pensando. Não ousem mexer em Spa.

Não deveriam ousar, na verdade, mas quem sou ou nós na fila do pão?

O máximo que vai acontecer é assistirmos as corridas emburrados ou saudosos daqueles tempos que vão começar a ficar velhos.

Até!


segunda-feira, 22 de agosto de 2022

ANÁLISE PARCIAL DA TEMPORADA 2022: Parte 2

 Olá, amigos e amigas! Vem aí a parte final da análise parcial da temporada 2022, agora com Alpha Tauri, Aston Martin, Williams, Alfa Romeo e Haas:

Foto: Autosport

Pierre Gasly = 6,5 – O carro derrubou Gasly. Também não há grande motivação. No limbo, o francês cumpre tabela. O desempenho não é o mesmo dos últimos anos. São poucos pontos e muitos problemas e falta de ritmo. Também não penso ser apenas coincidência esse marasmo diante da falta de perspectiva na carreira no médio prazo. Pierre é um grande ponto de interrogação.

Yuki Tsunoda = 6,5 – O japonês comete alguns erros, bate, roda, mas está mais competitivo e adaptado a categoria. O desempenho melhorou e chegou a superar Gasly. Só está atrás nos pontos por problemas no carro. Por isso é necessário ter calma com os jovens. Sem os inúmeros testes como antigamente, demora para haver uma evolução notável. Leva tempo. O japonês está em bom caminho, beneficiado pelo fato da Red Bull hoje não ter nenhum prodígio viável para acelerar o processo de uns e queimar outros. Sorte para Yuki, que assim pode se desenvolver no tempo possível diante da fogueira que é a Alpha Tauri/Toro Rosso.


Foto: Getty Images

Sebastian Vettel = 6,5 – A tour de despedida começou com um forte sinal. Batidas na Austrália e ausências nas primeiras etapas por Covid. Já parecia, desde o início, que Vettel se despedia, o que foi confirmado depois. Não tem muito o que escrever. Não é mais aquele mesmo piloto, mas, mesmo assim, faz o possível em um carro que não é bom. Que tenha um final de carreira compatível com as conquistas que teve.

Lance Stroll = 6,0 – Está lá pelo pai. É o que sempre escrevo. Com o carro ruim, fica até difícil falar algo. Sem muitas condições de brilhar, conquista poucos pontos e ainda assim é superado por um futuro aposentado, embora tetracampeão. Stroll cumpre um papel, um sacrifício para a continuidade de uma equipe e dos investimentos do pai, Tio Patinhas.


Foto: Motorsport

Nicholas Latifi = 5,0 – Outro que está de contagem regressiva na F1. Evoluiu ano passado, involuiu nesse ano, com o novo regulamento. Uma chicane ambulante e sem velocidade. Pela experiência que tem, não deveria ser batido tão facilmente por Albon, mas aí lembrei que é um pagante gente boa. Com a Williams mais estruturada, o dinheiro do canadense não faz tanta diferença, então é desfrutar das corridas que restam na categoria e não dar muito prejuízo para o time com batidas.

Alexander Albon = 7,0 – No retorno para a categoria, faz o que pode com a Williams. Aliás, pontuar com esse carro já é um grande feito. Albon tem consistência e briga com o que pode. A Red Bull tentou queimar a reputação do rapaz, mas o tailandês nascido e criado na Inglaterra é um bom valor. Nem oito e nem oitenta. Na Williams, vai ser o líder e, se tiver oportunidade, certamente vai conquistar alguns pontinhos épicos.


Foto: Getty Images

Valtteri Bottas = 7,5 – Começou muito bem na nova equipe, marcando pontos e levando o lastro e a experiência de tantos anos numa estrutura ambiciosa e vencedora. No entanto, está sendo vítima dos problemas da Alfa Romeo nas últimas etapas, marcando menos pontos e abandonando mais. No limbo, Bottas é líder de um projeto que precisa de tempo para dar certo. Ainda assim, a ex-Sauber está um nível acima do ano passado, o que é um sinal positivo para continuar avançando.

Guanyu Zhou = 6,5 – Estrear no ano que muda o regulamento é um desafio duplo. Com a má vontade de quem apenas vê em Zhou um chinês com dinheiro, o viável está fazendo um bom trabalho diante de todo o contexto. Se adaptando e enfrentando muitos problemas, teve poucas boas atuações, mas marcou pontos logo na estreia. Assim como Tsunoda, a tendência é que cresça com o passar do tempo na categoria. Os caminhos são favoráveis: dinheiro e talento existem. Assim, Zhou pode continuar a caminhada sem maiores percalços.


Foto: Getty Images

Mick Schumacher = 6,5 – Um início de ano que certamente destruiria reputações de quem não tem Schumacher no sobrenome. A benção e a maldição disfarçada. Mick bateu muito e foi facilmente vencido por Magnussen, que chegou no time às pressas. No primeiro desafio mais competitivo na F1, está sucumbindo. É preocupante. No entanto, com duas corridas nos pontos e a habitual ascensão demorada, Mick pode deslanchar de agora em diante, com menos pressão. Ainda assim, está devendo, por ser um Schumacher e alguém promissor, mas ainda dá tempo de terminar o ano com mais impressões positivas que negativas.

Kevin Magnussen = 7,5 – Retornando de paraquedas numa equipe à deriva, Kevin conseguiu ser um protagonista que nem antes havia conseguido. Quase todos os pontos foram feitos por ele enquanto as rivais patinavam e a Haas surpreendentemente ocupava as primeiras posições. Com a falta de dinheiro do time e os rivais crescendo com as atualizações, os pontos ficaram mais raros. Mick cresceu, mas Kevin ainda é mais regular. Um retorno para F1 acima das expectativas. De mero tapa buraco de luxo, Kevin pode voltar a ser o manda-chuva da Haas, o que seria uma reviravolta aleatória demais para a carreira.

Essa foi a análise parcial da temporada. Concorda? Discorda? Agora, toda a ansiedade e expectativa para o retorno das últimas etapas do ano!

Até mais!