segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

O SONHO AMERICANO (E EUROPEU)

 

Foto: Getty Images

A birra era com a Andretti. A partir do momento em que Michael saiu de cena, a F1 aprovou e anunciou a entrada da GM/Cadillac como a 11ª equipe da categoria a partir de 2026, quando o novo regulamento entra em vigor.

Bem, os Andretti continuam nos bastidores. Mario, o campeão mundial de 1978, vai ser uma espécie de consultor. O ex-campeão deu alguns detalhes de como vão funcionar os primeiros anos do time.

A ideia é a Ferrari fornecer motores para a equipe nas duas primeiras temporadas. A GM/Cadillac entraria na parada a partir de 2028.

Com 11 equipes, isso significa mais vagas para pilotos e mais empregos. Todo mundo sai ganhando. No entanto, sabemos que os americanos vão precisar de tempo, paciência e muito dinheiro.

Peguem o exemplo da Honda quando voltou para a F1 em 2016 para reviver a mítica parceria com a McLaren. Milhões de euros foram despejados nos primeiros e nada. Problemas e chacotas. Tudo bem, os japoneses pegaram o meio do regulamento com poucas possibilidades de testes, mas os frutos só foram colhidos quase uma década depois com a Red Bull.

Considerando entre sete e dez anos de competição, iniciando em 2028, a Andretti seria minimamente competitiva em 2035, em tese. Bom, tudo isso é baseado no histórico recente da categoria. Não dá para imaginar tão longe assim, mas o início é sempre difícil. A Haas é um exemplo disso. A Audi, outra estreante, pode passar por apertos, embora vá utilizar a estrutura da Sauber.

O outro ponto óbvio da inclusão de mais um time americano é a chegada de outro piloto americano. Está quase tudo definido: os americanos agora mandam na F1, tem trocentas corridas, duas equipes, mas falta um rosto, um talento. Logan Sargeant não era esse cara. Quem seria?

O candidato natural, já especulado anos atrás, é Colton Herta. Ele seria uma espécie de novo Scott Speed para alavancar ainda mais os interesses na terra do Tio Sam. Será que realmente precisa disso tudo? A própria GM/Cadillac diz que sim, a ideia é privilegiar os talentos americanos, acostumados a Nascar e a monopostos inferiores como a Indy. Tudo faz parte do marketing.

A inclusive de uma 11ª equipe é uma boa notícia em meio a tantas desgraças na F1. É o número tradicional, mínimo e aceitável, ao menos desde quando me conheço por gente quando acompanhava a categoria. 

Em menos de uma década, a Liberty realiza tudo o que Bernie Ecclestone não conseguiu: conquistar o sonho americano (e europeu). Mal o Bernie sabia que bastava só fazer uma série e dramatizar a vida dos pilotos e chefes de equipes com filmagens esporádicas durante o ano.

Até!

terça-feira, 10 de dezembro de 2024

GERACIONAL?

 

Foto: Divulgação/F2

Leclerc, Russell, Piastri e Bortoleto. O que eles têm em comum? Todos venceram de forma consecutiva a F3 e a F2. Também sempre foram tratados como grandes promessas, hoje estabelecidas como protagonistas da F1.

É nesse grupo seleto que o brasileiro entrou após ser campeão em Abu Dhabi. A adaptação de uma categoria para a outra é sempre difícil e geralmente requer tempo. Geralmente. Para os especiais, o impacto é imediato. 

O grande bicho-papão da base, Andrea Kimi Antonelli, foi “só” o sexto. Calma. O hype não esvaziou. Isso só mostra o feito de Gabriel, ainda mais com a Invicta. Consistência, agressividade, frieza e inteligência. Fernando Alonso não apostaria em alguém que não mostrasse essas credenciais.

Já vimos fenômenos da base não confirmando (sempre lembrarei de Vandoorne). Muitas vezes o título na categoria abaixo da F1 não quer dizer muita coisa. Muitos anos de experiência tornam uma certa obrigação conquistar o título, ainda mais quando os principais talentos já sobem para a categoria principal. Aí entram Pantano, Valsecchi, Palmer, Drugovich, De Vries...

Bortoleto conquistou o título com um grid de nomes promissores, tanto é que Bearman, Colapinto e Doohan estiveram/estarão na categoria. Hadjar e Paul Aron estão no radar.

De novo: Bortoleto simplesmente repetiu Leclerc, Russell e Piastri. A diferença é que o brasileiro parou na pior equipe do grid. Sorte, destino, oportunidades na hora certa e no momento certo... 

É um problema isso? Talvez não. Vai depender se a Audi vai chegar bem a partir de 2026. Bem, aí sim tudo vai depender do contexto e de como o brasileiro vai se portar.

Agora, o momento é de celebração. Depois de oito anos, o Brasil volta a ter um piloto na F1. Dois títulos da F2 em três anos. E tem mais gente chegando por aí.. (Oi, Rafael Câmara!)

Portanto, deixo a pergunta para vocês: ao repetir o feito dos talentos atuais da F2, é possível afirmar que Gabriel Bortoleto também é geracional?

Respondam nos comentários.

Até!


segunda-feira, 2 de dezembro de 2024

MAX, CHEGOU A HORA!

 

Foto: Mark Thompson/Getty Images

Esse texto está pronto desde antes do início da temporada. A expectativa era óbvia e se confirmou, embora em um roteiro diferente: Max Verstappen é tetracampeão mundial antecipado. 

Bem, ele igual o sogro, Nelson Piquet, ao coroar o título dessa vez em Las Vegas e com uma novidade: a Red Bull não é o melhor carro, e sim o terceiro. É isso que aponta a tabela de construtores. O que podemos concluir diante disso tudo?

O talento de Max faz a diferença, é claro;

A Red Bull aproveitou com exatidão o último momento onde sobrava para construir a gordura que garantiu, ao menos, a conquista de pilotos;

A McLaren, o melhor carro e futuro campeão dos construtores, ainda não voltou a ser uma equipe grande e comete muitos erros. Lando Norris não está pronto para ser um líder de time ou alguém considerado um futuro campeão do mundo.

As quatro equipes terem se embolado da Espanha em diante ajudou Max que, mesmo em dificuldades, não tinha nenhum adversário a altura. Os que poderiam incomodar não tinham carro para isso, como por exemplo Hamilton.

Bem, eu já pensava sobre o assunto do texto, mas o rumo da temporada pode mudar um pouco a argumentação, eu acho, mas vamos lá: 

Chegou a hora de Max Verstappen dar o próximo passo, que é sair da Red Bull.

Vocês lembram o início do ano: acusações do lado de Helmut Marko contra Christian Horner e os interesses internos do time, que virou uma pólvora depois da morte de Dietrich Mateschitz.

Talvez isso tenha antecipado e acelerado a saída de profissionais importantes da Red Bull, entre eles Jonathan Wheatley e, claro, Adrian Newey.

Esse é outro ponto fundamental. Já começando o processo de “quarentena”, Newey não desenvolveu mais o carro a partir do prosseguimento da temporada. Coincidência ou não, os taurinos despencaram até se tornar, na pontuação, a terceira força do campeonato.

Claro, sabemos que o segundo carro da equipe é feito para incinerar pilotos. Não pensem que um Lawson, Colapinto ou qualquer outro jovem faria muito diferente do que Pérez está fazendo. Vocês não sabem que a estrutura é feita para Verstappen. 

Assim como os grandes campeões, os segundões não tem muito o que fazer, vide Johnny Herbert, David Coulthard, Eddie Irvine, Rubens Barrichello, Giancarlo Fisichella, Heikki Kovalainen, Valtteri Bottas, entre outras.

Assim como os grandes campeões e outros nomes notórios, a partir do tetra e de todas essas condições que certamente Max conhece melhor que nós, chegou a hora do holandês tomar uma decisão:

Ele precisa deixar a Red Bull.

Quatro títulos na mesma equipe já é o suficiente. É difícil arriscar dessa forma, mas o novo regulamento de 2026 é uma incógnita. Há pouco tempo e margem para qualquer tentativa e erro, mas a Red Bull pode estar dando indícios de passagem de bastão e 2024 ser o canto do cisne em termos de dominância, a não ser que tudo esteja sendo guardado para 2026.

A saída da Red Bull não é nem uma questão de debandada de profissionais, fim de festa e natural relaxamento de todas as partes, mas também a necessária construção de um novo capítulo que os grandes campeões sempre fazem para se desafiar: trocar de equipe.

Schumacher deixou a bicampeã Benetton para ressuscitar a Ferrari. Demorou, mas deu certo. Claro, os tempos eram outros e os testes infinitos. 

Nos contemporâneos, Vettel e Alonso tentaram, por diferentes razões e chegaram até próximos dos títulos. Hamilton fez a escolha mais certeira da carreira ao abandonar a equipe da infância (claro que é fácil escrever isso mais de dez anos depois), mas os grandes campeões, ou quase todos eles, deixaram a zona de conforto em busca de um desafio maior.

Hamilton, quarentão, vai realizar o sonho de ser um Ferrari e quem sabe ser o cara a quebrar o jejum de já 18 anos.

Verstappen escolheria o lugar que quisesse para fazer isso. Uma ida para a Mercedes seria um plot twist, a Ferrari pós-Hamilton é sempre sedutora por si só e reconduzir a McLaren aos tempos de glória é motivadora.

Sem contar que, com Adrian Newey e Stroll, vai que a Aston Martin não vira uma opção, embora seja algo mais pensamento desejoso de minha parte do que qualquer evidência.

Me parece que Max Verstappen cumpriu um último capítulo de glória no ciclo Red Bull.

Para entrar de vez no debate dos maiores da história, excetuando a frieza dos números numa época em que tem mais corridas por ano, menos quebras e mais dinastias, Max se desafiar em uma outra equipe é pelo legado no panteão da F1.

Só não sabemos se ele tem esse ego para permitir a mudança ou está satisfeito do jeito que está o que, convenhamos, é difícil de acreditar. A maioria dos grandes campeões não é feito disso, nem próximo desse material.

Até!