quinta-feira, 31 de março de 2022

MEDO E DELÍRIO

 

Foto: Reprodução/F1

A Liberty Media conseguiu em meia década o que Bernie Ecclestone falhou a vida inteira: fazer o público dos Estados Unidos se interessar pela F1. Com Miami estreando esse ano e Austin renovando até 2026, a F1 anunciou uma corrida noturna em Las Vegas a partir do ano que vem. A ideia é realizar no final do ano, no feriado de ação de graças nos EUA, no horário nobre americano (22h horário local, domingo de madrugada aqui no Brasil).

O circuito, obviamente, será de rua, o que está sendo uma tendência mundial, diante da inviabilidade de manter autódromos. Infelizmente. Com 25 corridas sob contrato, a F1 vai implantar o sistema de rodízio e uma corrida europeia ficará de fora. É impossível avançar no número de provas. 

A prova será realizada perto dos cassinos e pontos turísticos icônicos de Las Vegas, aquela coisa de filme, livro e para quem teve a sorte de visitar lá. A diferença é que é uma iniciativa própria da F1 em bancar os custos e organizar tudo. A expectativa é que tudo se pague com os ingressos, contratos de publicidade, entre outros.

A F1 sempre tentou diversos circuitos de rua nas cidades americanas mas nenhuma pegou. O próprio estacionamento do Caesar's Palace fechou algumas temporadas, incluindo um dos títulos de Nelson Piquet. Como escrevi anteriormente, o que mudou nos últimos 30 anos?

O grande trunfo foi a mudança na gestão e a F1 entrando nos tempos atuais. Com a série na Netflix firme e forte na audiência e as publicações voltadas para o mundo virtual, o engajamento e o interesse de jovens aumentou bastante, principalmente também com a identificação destes com os pilotos, sobretudo a nova geração que tem Russell, Leclerc, Norris, entre outros. Tornar a F1 algo popular nunca foi o interesse de Bernie mas, graças a esses mecanismos do engajamento e do jogo digital, a F1 teve uma guinada na marca, e os Estados Unidos é um resultado evidente disso.

Austin teve 400 mil pessoas na última corrida, recorde absoluto de público em um final de semana da F1. A audiência da F1 nos EUA também está aumentando exponencialmente: na abertura da temporada, superou a abertura da Indy, por exemplo. Um mercado consumidor desse interessado e ativo é o sonho para qualquer empresa, ainda mais uma que também é americana.

É justo um país ter três corridas? Evidente que não. Duas pistas de rua mais as outras milhares de pistas noturnas e de rua fazem com que tudo seja a mesma coisa, quase uma Fórmula E com grife. Não é questão de purismo, mas sim de velocidade, risco, etc. No entanto, é também um discurso utópico. A propriedade é ganhar dinheiro e fechar as contas, sobretudo num mundo pós pandemia e com consequências ainda devastadoras em todos os âmbitos.

Que os enviados a Las Vegas consigam realizar o trabalho sem se deixar envolver com as armadilhas da cidade do pecado.

Até!


segunda-feira, 28 de março de 2022

UM ADVERSÁRIO A ALTURA

 

Foto: Motorsport

Em 2019, logo após o GP da Inglaterra, escrevi aqui no blog sobre a futura rivalidade entre Charles Leclerc e Max Verstappen, que estavam protagonizando batalhas interessantíssimas naquela época, especialmente na Áustria e logo em seguida em Silverstone.

Quase três anos depois, muita coisa mudou e esse parece ser o momento certo para a tensão dos dois jovens pilotos. Além do covid, a Ferrari entrou em decadência, Leclerc precisou ser o líder de uma reestruturação e Max Verstappen foi campeão do mundo.

O que vemos nesse início de temporada é um confronto particular entre Red Bull e Ferrari e já vimos alguns pegas entre Max e Leclerc. Cada um levou a melhor uma vez em uma disputa limpa. É evidente que, com o passar da temporada, as coisas fiquem mais quentes.

O título é da ótica de Max e não é demérito a Lewis Hamilton. Não sou maluco. É apenas uma simples constatação: Max é um piloto excessivamente arrojado e, se tiver que ir pro tudo ou nada, vai. Hamilton nunca procurou o combate, apenas quando necessário, por ser mais experiente e, até o ano passado, ocupar a posição do cara dominante na categoria. Hoje, por enquanto, não é mais.

A questão é que Leclerc é da mesma geração e os dois podem duelar por até uma década na F1, se os carros assim permitirem. Diferentemente de Hamilton, Leclerc aprendeu a lição ainda em 2019 e sempre joga duro com a Max, retribui na mesma moeda. É talvez o único que não respeite o atual campeão e o holandês sente isso, reclama, amplia o arsenal. Leclerc e Max tem talentos muito parecidos e é por isso que, se os equipamentos permitirem, será uma rivalidade fascinante.

George Russell é outro que tem tudo para estar nesse mesmo patamar, mas no momento não tem carro para isso. Seriam três pilotos contemporâneos de, no mínimo, mesmo nível. Mais para trás, temos Lando Norris e o resto depende de toda uma conjuntura. Estou falando do pessoal da F2, que até merece um post a parte em breve: Oscar Piastri, Dennis Hauger, Juri Vips, Theo Pourchaire, Daruvala... a máquina de talentos nesse esporte imprevisível é sempre surpreendente, até porque o novo regulamento não vai demorar tanto para chegar, diferentemente do atual.

Senhoras e senhores: apertem os cintos! O texto de 2019 virou realidade e, nessa pegada, Max Verstappen e Charles Leclerc vão ser os grandes protagonistas de 2022, brigando ponto a ponto pelo título. Espero que sejam protagonistas de uma década inteira.

Até!

domingo, 27 de março de 2022

FOI LIMPO

 

Foto: Eric Alonso/Getty Images

Talvez seja efeito do início da temporada ou das polêmicas decorrentes do final do ano passado, mas o GP da Arábia Saudita foi uma tentativa de retorno as “raízes” da F1. Mesmo em uma corrida atribulada, a direção de prova não chamou pra si o espetáculo, apesar de uma decisão que achei particularmente questionável.

Sérgio Pérez fez a primeira pole da carreira em 216 corridas e vinha num bom ritmo, controlando Leclerc, que controlava Max. Nesses termos, o mexicano se encaminharia para uma vitória consagradora, pelo menos é o que se permitia sonhar.

Mais uma vez Latifi mudou o rumo de um resultado. Bateu outra vez no final de semana e, pela cara do Capito, talvez não tenha muito mais tempo na Williams. Com Mick ainda se recuperando do acidente de ontem e o carro de Tsunoda apresentando problemas antes de alinhar no grid, a corrida teve apenas 18 carros. A princípio, apenas um Safety Car Virtual, logo após Pérez parar. Assim, foi todo mundo para os boxes e Leclerc assumiu a liderança, com o mexicano em quarto. Uma injustiça. Só depois que foi acionado o Safety Car. Por quê não antes?

Nos tempos de Michael Masi, era capaz de ter uma bandeira vermelha e relargada. Tudo pelo espetáculo. Com a nova direção de prova, vimos o velho procedimento do Safety Car ir o máximo que pode, ainda mais que os comissários árabes são muito lentos. Em certo momento, a corrida foi secundária, mas no fim das contas houve etapa mesmo com as bombas sendo jogadas nas proximidades de Jidá.

O que se viu no final de semana foi a Red Bull superior com os pneus duros nos long runs. Mesmo mais veloz na reta, Leclerc controlava Max e Sainz controlava Checo. O final da corrida mudou tudo, novamente, quando parecia definido.

Uma sequência rara de três abandonos em uma volta. Alonso, que brigava com Ocon e vinha num bom sexto lugar (briga incomum diga-se, que jamais aconteceria com o espanhol no auge...), Bottas que fazia um bom trabalho na Alfa Romeo e Ricciardo, ainda brigando com a McLaren. Como os três se arrastaram pela pista e pararam perto dos boxes, apenas o Virtual Safety Car foi acionado e o pitlane fechado. Informação importante.

Isso fez Max se aproximar e, com melhor ritmo, ir para cima decidir. Zerado, o atual campeão precisava reagir. Leclerc, pensando nos pontos, estava mais tranquilo, mas com o histórico de perder corridas no final. Surpreendentemente, considerando o histórico das batalhas dos dois, foi uma disputa limpa e bonita na pista.

A única coisa patética, e aí não é culpa deles, é a asa móvel. Foi patético os dois fritarem pneus pra ver quem ficaria atrás para poder utilizar na reta principal. No final das contas, Verstappen passou e venceu a primeira no ano, mostrando que nos circuitos de alta a Red Bull tem vantagem, embora não tenha confiabilidade. 

A Ferrari foi competitiva e acumulou pontos com os dois pilotos, sendo mais forte nas pistas de baixa. Charles e Max, como já foi escrito em 2019, tem tudo para ser a grande rivalidade da década na F1. Dois pilotos jovens, arrojados e destemidos. É claro que a temperatura vai subir com o passar da temporada, mas ver uma disputa dessas até o final é lindo de se ver.

O pior final de semana de Lewis Hamilton em muito tempo. Eliminado no Q1, os acertos diferenciados da Mercedes pioraram o carro. Hoje, voltando ao normal, Lewis fez o que pode, mas foi traído pela incompetência da equipe ao não conseguir chamar para os boxes antes do VSC. No fim, deu pra salvar um pontinho. 

Enquanto isso, George Russell foi perfeito e vai mostrando consistência, mostrando que a Mercedes é uma terceira força muito distante de Red Bull e Ferrari. Problema no motor e na aerodinâmica. Pode ser uma temporada de transição, mas por ser longa, não é aconselhável fazer muitos prognósticos. Será Hamilton de 2022 o Schumacher de 2005?

Esteban Ocon foi um dos destaques da corrida e peitou até Alonso, garantindo um sexto lugar. Apresentando evolução, Lando Norris levou a McLaren para o sétimo lugar, com Pierre Gasly em oitavo e Kevin Magnussen conseguindo mais dois pontos importantes para a Haas. A Aston Martin aguarda se Vettel pode ser um diferencial porque o carro é fraco, enquanto a Williams precisa priorizar a questão financeira e quem sabe ter um piloto mais capaz para o ano que vem.

Numa disputa limpa, Max vence a primeira como um campeão do mundo. A última vez que um #1 havia vencido foi Sebastian Vettel no GP do Brasil de 2013. Em duas corridas, podemos dizer que Red Bull e Ferrari podem protagonizar o campeonato corrida a corrida, dependendo da confiabilidade, das evoluções e das características de cada pista. Pode ser mais uma temporada inesquecível na F1.

Confira a classificação final do GP da Arábia Saudita:


Até!


sexta-feira, 25 de março de 2022

ARMADILHAS

 

Foto: Hamed I Mohammad/Getty Images

Circuito longo, rápido, com muitas retas e curvas de alta velocidade num espaço reduzido. Qualquer erro será fatal para a corrida e pode implicar em muitos Safety Car e até paralisar uma sessão. Vimos isso na F1 e principalmente na F2, onde Felipe Drugovich vai ser o pole.

No entanto, no momento esse é o menor dos problemas da F1. A cerca de 10 km do circuito, no aeroporto internacional de Jidá, deu para ouvir bombardeios e fumaça nas proximidades. Desde o início da semana que a Aramco, petrolífera que patrocina a F1, vem sido atacada. A reinvidicação é do grupo houthi, do Iêmen, em consequência do conflito que existe entre os dois países e o Irã desde 2014.

Os pilotos fizeram uma reunião de emergência e o TL2 atrasou o início em 15 minutos. Mais essa agora. Se o final de semana pode ser cancelado? Tomara que não, mas creio que a Liberty pensou em todas as possibilidades além do dinheiro, certo?

Na pista, Leclerc foi o mais veloz e tivemos poucas mudanças em relação ao Bahrein, o que é normal. A Mercedes segue em dificuldades, a Red Bull está por perto mas a confiabilidade pode atrapalhar, Alfa Romeo, Alpine e Alpha Tauri bem (agora o problema foi com Tsunoda) e as equipes com motor Mercedes ainda lá atrás.

Vettel segue positivo para a Covid e teremos novamente Nico Hulkenberg em seu lugar. A Haas de Magnussen teve problemas e o momento dos sonhos pode ser interrompido rapidamente já nesse final de semana.

Uma pista de rua veloz e agora bombardeios. A F1 vai ter que lidar com muitas armadilhas nos próximos dias. Que não seja surpreendida.

Confira os tempos dos treinos livres:



Até!

quinta-feira, 24 de março de 2022

GP DA ARÁBIA SAUDITA: Programação

 O Grande Prêmio da Arábia Saudita aconteceu pela primeira vez na história em 2021, em um circuito de rua da capital Jidá, com 27 curvas e 6.175 km de extensão, o segundo maior da temporada.

Foto: Wikipédia

ESTATÍSTICAS:

Pole Position: Lewis Hamilton - 1:27.511 (Mercedes, 2021)

Volta Mais Rápida: Lewis Hamilton - 1:30.734 (Mercedes, 2021)

Último Vencedor: Lewis Hamilton (Mercedes)

Maior Vencedor: Lewis Hamilton (2021) - 1x


CLASSIFICAÇÃO:

1 - Charles Leclerc (Ferrari) - 26 pontos

2 - Carlos Sainz Jr (Ferrari) - 18 pontos

3 - Lewis Hamilton (Mercedes) - 15 pontos

4 - George Russell (Mercedes) - 12 pontos

5 - Kevin Magnussen (Haas) - 10 pontos

6 - Valtteri Bottas (Alfa Romeo) - 8 pontos

7 - Esteban Ocon (Alpine) - 6 pontos

8 - Yuki Tsunoda (Alpha Tauri) - 4 pontos

9 - Fernando Alonso (Alpine) - 2 pontos

10- Guanyu Zhou (Alfa Romeo) - 1 ponto


CONSTRUTORES:

1 - Ferrari - 44 pontos

2 - Mercedes - 27 pontos

3 - Haas Ferrari - 10 pontos

4 - Alfa Romeo Ferrari - 9 pontos

5 - Alpine Renault - 8 pontos

6 - Alpha Tauri RBPT - 4 pontos


FALTA POUCO

Foto: Getty Images

Além do início dos sonhos no GP do Bahrein, a Ferrari já trabalha para o futuro. A renovação com Carlos Sainz, cujo vínculo se encerra no final da temporada, está encaminhada, quase pronta. Só falta colocar no papel.

Foi isso o que falou tanto o piloto quanto o chefe, Mattia Binotto.

“Acho que estamos próximos. Muito perto. Muito, muito perto. Extremamente perto. Quase lá”, afirmou Sainz em entrevista coletiva depois da corrida.

“Acho que encontramos um acordo. É apenas uma questão de colocar no papel”, disse Binotto.

É um grande acerto. A dupla da Ferrari, embora não tenha grife, se completa. Dois pilotos talentosos e Sainz é um acumulador de pontos, regular. Vai ser fundamental na campanha dos construtores e já deixou evidente: se Leclerc bobear, o espanhol vai estar lá, pronto para aproveitar a oportunidade.

PROBLEMA NÃO É O MOTOR

Foto: Getty Images


A abertura da temporada mostra que, nesse momento, a Mercedes não está no topo da cadeia alimentar da F1. Um dos motivos, segundo os especialistas, pode ser o fato do motor alemão ser menos potente que os da Ferrari e da Red Bull. Há uma outra corrente que afirma que o mais provável é o problema de arrasto e o fato de o W13 quicar muito na pista.

A primeira hipóetese é negada pela equipe, embora Williams, Aston Martin e McLaren (todas usando o motor alemão) tenham ficado no fim do grid e reclamado publicamente durante a semana. Para Toto Wolff, a segunda hipótese pode ser a mais precisa.

“Precisamos analisar os níveis de arrasto primeiro, antes de fazermos um julgamento sobre estarmos ou não estarmos devendo potência. Acho que não existe uma grande diferença entre as unidades de potência”, disse Wolff.

Em Jidá, onde as retas são maiores, provavelmente deverão ser um problema maior para os alemães e seus clientes. Ainda é cedo e não há tempo para grandes ajustes. Só o futuro pode dizer se é problema de motor, arrasto ou ambos. Cedo ou tarde veremos quem é o profeta.

TRANSMISSÃO:
25/03 - Treino Livre 1: 11h (Band Sports)
25/03 - Treino Livre 2: 14h (Band Sports)
26/03 - Treino Livre 3: 11h (Band Sports)
26/03 - Classificação: 14h (Band e Band Sports)
27/03 - Corrida: 14h (Band)

terça-feira, 22 de março de 2022

UNS PODEM, OUTROS NÃO

 


A segunda corrida na Arábia Saudita em três meses, fruto do realocamento do circuito noturno e urbano de Jidá para o início de temporada faz com que seja, nesse ponto, impossível não levantar e repetir certas questões.

Em meio a incredualidade e indignação mundial com o conflito envolvendo Rússia e Ucrânia, os russos viraram a Geni da vez. Não, não vou fazer juízo de valor ou escrever sobre isso, mas sim todas as consequências político-esportivas que isso gerou. Na F1, vocês sabem, culminou com a saída da Rússia e de Nikita Mazepin. Esportivamente não foi ruim nenhuma das duas situações, o que deixa mais confortável a decisão para a FIA e a Liberty.

A questão é que a Arábia Saudita, Catar (que retorna em definitivo em 2023) e outros países assinaram com a Liberty mesmo com problemas de falta de liberdade e perseguição a jornalistas e minorias. Fatos comprovados. 

Logo a Liberty, que entrou no negócio para colocar a F1 no século XXI e tirar aquela aura do Bernie Ecclestone de que o que vale é o dinheiro. Além disso, ao tornaram o esporte mais atrativo para os jovens e o grande engajamento nas redes sociais, além das campanhas de maior inclusão e diversidade no automobilismo. Tudo isso é um discurso muito bonito na prática, colocar arcoíris no Safety Car, banir as grid girls, mas o que adianta se depois assinam contrato plurianual com países controversos em questões tão sensíveis, justamente o que a F1, na figura da Liberty, diz combater?

Como venho escrevendo há anos, o problema é o discurso e a prática. O problema do discurso é você virar refém dele e não ter jogo de cintura. Ao falar sobre diversas e se posicionar do jeito que se posiciona, não faz sentido a Liberty tirar a Rússia pela pressão política e manter Hungria, Arábia Saudita, Catar, entre outros.

A história mostra: uns podem e outros não. Mesmo com o verniz da modernidade, empatia e contra o preconceito, a F1 se mostra conivente e, pior, hipócrita, ao lidar com essas contradições. Pelo menos antigamente o discurso era único e coerente: dane-se o resto, o que vale é o dinheiro. Agora, é "somos contra x ou y, mas pagando bem que mal tem?"

Até!

segunda-feira, 21 de março de 2022

AINDA É CEDO, MAS...

 

Foto: RaceFans

Depois de oito anos, o surgimento de um novo regulamento técnico fez algumas pequenas mudanças na tradicional hierarquia da categoria na última década. Para efeitos de novidade isso é ótimo, embaralhando as forças e fazendo surgir novos e surpreendentes protagonistas.

No entanto, sabemos que precisamos ter calma e que, com paciência, tudo se desenvolve durante a temporada e nos próximos anos. O teto orçamentário é uma questão interessante, mas é inegável que, obviamente, quem tem mais recursos possui maiores possibilidades de domínio e recuperação.

O que vimos no Bahrein foi finalmente a Ferrari com um projeto aparentemente bem nascido e consistente. É claro que o desafio é manter isso até dezembro, mas só o fato de algo já começar promissor em Maranello já é bom. Outro passo importante é manter tudo isso sem empolgação exagerada.

A Red Bull mantém a consistência e se caracteriza pelo amplo desenvolvimento no ano. Outro calcanhar de aquiles, porém, é a confiabilidade. Abandonar do jeito que abandonou (além do problema do Gasly) pode ser um indício preocupante, até porque vai faltar tempo nesse curto prazo enquanto a categoria não volta para a Europa. Antes o problema era o motor fraco e instável, agora a questão é, aparentemente, a confiabilidade. Nunca duvidem de Adrian Newey, mas a bola está com o pessoal do motor da Red Bull.

A Mercedes se diz na terceira força mas, para esse e todos os casos e equipes, tudo também pode da característica de cada pista, a temperatura, etc. Não sei se na Arábia Saudita pode haver tempo para alguma melhora a não ser um encaixe com as características. Como estão falando que a Mercedes ainda não liberou toda a potência do motor para fins de confiabilidade, pode ser um final de semana difícil, mas que com a capacidade de investimento e resolução de problemas faça os octacampeões crescerem na hora certa.

O meio do pelotão tem o crescimento surpreendente da Alfa Romeo e principalmente da Haas, na figura de Kevin Magnussen, além da manutenção de Alpine e Alpha Tauri. Os franceses tiveram problemas com a degradação dos pneus mas o motor não fez grandes avanços, enquanto a Alpha Tauri tem o problema de confiabilidade. Considerando que Alfa Romeo e Haas ainda tem menos recursos mas dois pilotos experientes envolvidos, aproveitar essas corridas para pontuar e gerar dinheiro pra 2023 é de suma importância, visando a sobrevivência na categoria.

McLaren, Aston Martin e Williams. Em comum o motor Mercedes ainda com o freio de mão puxado, mas vai ser difícil sair do buraco no curto prazo. A Williams ainda não tem estofo pra isso, McLaren e Aston Martin (principalmente essa) tem mais dinheiro mas o buraco pode estar mais embaixo. Preocupante.

Esse é o panorama que dá para fazer nesse início de ano. Ainda é cedo para qualquer coisa além, mas é interessante observar o que um novo regulamento faz com as hierarquias da F1. Com tudo misturado e em posição de desenvolvimento, é óbvio que nós, fãs, é quem ganharemos com isso.

Até!