segunda-feira, 13 de julho de 2020

MATURANDO

Foto: MotorSport
Os mais antigos no blog se lembram, mas Lando Norris já era apontado no radar da F1 há alguns anos, como esse texto do fim de 2017 pode provar. Portanto, sua ascensão e o começo da consolidação de grandes desempenhos e resultados nesse início de temporada não é surpreendente para este humilde escritor.

No entanto, de lá para cá algo ficou estranho: cercado de expectativas, todo mundo esperava que Lando estraçalhasse na F2, mas passou longe disso. Coube ao compatriota George Russell a façanha, com Alexander Albon, já assinado com a Nissan pela Fórmula E, como improvável vice. O hype caiu um pouco e o desempenho não correspondia para chegar imediatamente na F1, onde foi promovido pela McLaren também em virtude de ser apadrinhado pelo chefão Zak Brown.

Diante de um pouco menos de expectativa em um carro não tão bom assim, Norris não fez feio. É claro que o desempenho consistente e o pódio no final do ano fizeram com que quase todos os holofotes ficassem sob Carlos Sainz. E ela estava Lando de novo com uma relativa desconfiança. Perder para o experiente Sainz? Mas ele é jovem, está estreando na F1...

Em 2020, as coisas começaram pra valer. Lando é carismático e popular nas redes sociais por ser bem humorado e jogar várias corridas online. Ele gera engajamento. A questão é: com o tempo passando, a pressão por resultados vai aumentar e Lando precisa amadurecer. A resposta inicial está aí: terceiro num treino e um desempenho estelar na corrida e um quinto lugar depois de ultrapassar três carros na última volta, além de fazer a volta mais rápida na última corrida.

Projeções e previsões são sempre perigosas pela emoção e o imediatismo. O que quero dizer é que: talvez Lando apenas não se adaptou tão bem na F2 em relação as expectativas externas. É como aquele jovem talentoso craque no sub-17 e que salta para o sub-20, onde é apenas mais um por ainda não ter desenvolvido fisicamente e, mais tarde, brilha nos profissionais.

No automobilismo, não faltam histórias de pilotos que na base eram modestos mas que gradativamente ganharam espaço e viraram bons valores. Outro exemplo, também já publicado por aqui, é Alexander Albon. O contrário também não falta, como mais recentemente o caso de Stoffel Vandoorne.

Norris está crescendo. Ele está chamando a atenção mas não é nenhuma surpresa. E ano que vem terá uma provação maior ainda: o amigo Daniel Ricciardo. Mais um passo rumo ao estrelato.

Até!

domingo, 12 de julho de 2020

PASSEIO NO PARQUE

Foto: Getty Images
Lewis Hamilton fez o que se espera dele. Pole e vitória dominantes em um final de semana perfeito. Um passeio no parque, praticamente uma turista na pista, mal apareceu na transmissão porque disparou.

Mais do que nunca, o britânico não tem adversários: a Red Bull de Max Verstappen não tem ritmo e consistência o suficiente para fazer frente, nem Bottas. E assim, com a 85a vitória na categoria, Lewis se aproxima dos recordes históricos de Schumacher. Nada pode detê-lo.

Mesmo largando em quarto, a Mercedes sobra em ritmo. Apesar de Max ter dificultado as coisas com o talento que tem, nem isso foi o suficiente para evitar a dobradinha preta. Bottas ainda é líder. Ainda.

O grande barato da Fórmula 1 é o bloco intermediário. Ali a briga come solta e detalhes fazem a diferença. Detalhes e o talento, é claro. Sérgio Pérez, que largou lá atrás prejudicado pelo temporal de sábado, conduziu a Mercedes B para o lugar que devia. Ele tinha ritmo para atacar Albon, apagado e bem distante do trio inicial. O mexicano tentou, mas tocou no tailandês e danificou a asa dianteira. Não parecia ter grandes prejuízos. Pérez errou, mas ao menos tentou. É isso que espera de um piloto, principalmente quem não está compromissado com títulos ou contratos.

Foto: Getty Images

Foto: Getty Images

Enquanto isso, lá atrás, a boa corrida de Ricciardo em segurar Lance Stroll. Antes, Ocon fazia o mesmo com o australiano, mas acabou abandonando. Mais atrás, Sainz, prejudicado por um problema na roda traseira esquerda no pit stop e Lando Norris, sem ritmo e três posições atrás no grid por um incidente inútil na sexta. Aproveitando-se da ordem de equipe de Zak Brown, a incompetência do canadense e o problema de última hora no mexicano, o britânico conseguiu três ultrapassagens em uma volta para tirar da cartola um quinto lugar excepcional, dadas as condições da McLaren.

Sainz ainda fez a melhor volta. Lando Norris. Agora, um pouco mais maduro, consegue desabrochar, sendo oportunista com o que dispõe. Está fazendo muito mais do que o carro pode entregar. Depois de uma F2 decepcionante e uma temporada de estreia regular, parece que Lando está cada vez mais a vontade no carro. Talentoso e carismático, pode se tornar uma estrela mais adiante. É o melhor início da McLaren desde 2013.

Kvyat completou a zona de pontuação. Como desgraça pouca é bobagem, o episódio de hoje de Patati Patatá da Itália teve como protagonista Leclerc que, por fora, acabou com a corrida dele próprio e de Vettel, que nem parece se importar mais. Crescem os rumores de que o dono da Red Bull quer porque quer ele com Verstappen para 2021. Com Binotto perdido, já escrevemos tanto dessa bagunça da Ferrari que qualquer linha a mais é cansativa.

Faltam apenas seis vitórias para igualar o recorde e apenas seis pontos separam Valtteri de Lewis na tabela. Até quando? Assim segue o show, com o comandante de sempre e agora com novos aspirantes a bons coadjuvantes.

Confira a classificação final do GP da Estíria:



Até!




sexta-feira, 10 de julho de 2020

NOVA(S) VELHA(S) PISTA(S)

Foto: Getty Images
Em mais uma corrida na Áustria, agora sob o nome de GP da Estíria, um treino livre que pode ter sido interessante. A previsão é que amanhã talvez tenha chuva forte, o que impossibilite o treino classificatório de acontecer. Sendo assim, os tempos da segunda sessão de hoje é que definiriam o grid de largada.

Se terminar assim, a pole seria de Max Verstappen. Ele conseguiu desbancar Bottas no final, seguido pela dupla rosa da Racing Point, Sainz e Hamilton em sexto, que usou pneus macios velhos. Lando Norris foi punido com três posições por ultrapassar em bandeira amarela no TL1. Que punição ridícula.

Apesar dos resultados modestos mais uma vez, Vettel diz que o carro está melhor do que na semana passada. Se ele está assim, imagina Leclerc... a Ferrari é uma caixinha de surpresas.

Quem roubou a cena foi Daniel Ricciardo. No início do segundo treino livre, o australiano perdeu a traseira e bateu forte na proteção de pneus. Ele batou o joelho na coluna de direção e saiu mancando, preocupando a todos. No entanto, ele garante que não terá problemas para a corrida, apenas o carro... Seria já um "efeito Alonso" na Renault?

Foto: Reprodução/Scuderia Ferrari
A grande notícia do dia foi o anúncio da FIA de mais duas corridas no calendário, totalizando dez por enquanto. Já está certo que nas próximas semanas teremos mais anúncios. Apesar dos números do coronavírus nas Américas continuarem altos, ainda existe otimismo reiterado pela prefeitura e o governo do Estado de São Paulo para a realização do GP do Brasil. no final do ano.

Pela primeira vez na história, Mugello vai sediar uma corrida de Fórmula 1. A pista da Ferrari, que só serviu para testes coletivos algumas vezes e sempre para a Ferrari (é óbvio), vai ter a alcunha de GP da Toscana Ferrari 1000, em alusão a milésima corrida da escuderia na F1, que será após o GP da Itália. Algarve/Portimão está muito perto de um desfecho semelhante e pode significar para Portugal um retorno após mais de duas décadas.

A outra corrida confirmada é Sochi, que será duas semanas depois de Mugello, no dia 27 de setembro. A China cancelou todos os compromissos internacionais do ano, então é fora do baralho. Resta aguardar os truques da FIA para em breve.

Se é que dá para escrever assim, o lado bom desse momento de exceção na F1 é a entrada de circuitos simples e tradicionais europeus no lugar de bugigangas e tilkódromos modernos e sem vida. Isso dá um ar da F1 antiga, que predominava Europa, Japão, EUA e Brasil, Oportunidade rara para uma corrida em Mugello e tomara que coloquem mais circuitos alternativos nesse calendário diferentão.

Para o final de semana, a previsão é a mesma: a Mercedes é favorita mas segue com esses papos de "carro com problemas de confiabilidade". Como escrito na semana passada, as rivais precisam aproveitar as particularidades dessa temporada, especialmente a anfitriã Red Bull, ainda zerada. Como o circuito de Spielberg é bom, torçamos para que seja uma boa corrida, principalmente se tiver chuva na parada.

Ah, as novas velhas pistas da F1...

Confira a classificação dos treinos livres de sexta:




quinta-feira, 9 de julho de 2020

GP DA ESTÍRIA: Programação

A segunda edição do GP da Áustria deste ano foi nomeada como Grande Prêmio da Estíria, que o estado onde fica localizado o Red Bull Ring, em Spielberg.

Foto: Wikipédia

OS JOELHOS DA DISCÓRDIA

Foto: Getty Images
Capitaneados por Lewis Hamilton, a F1 realizou a manifestação antirracista que apoia o movimento Black Lives Matter, que voltou a tona mais forte ainda após o caso de assassinato de George Floyd, nos Estados Unidos. No entanto, seis dos 20 pilotos resolveram não se ajoelhar e optaram por apenas vestir a camisa com os dizeres de "fim do racismo".

São eles Kimi Raikkonen, Max Verstappen, Charles Leclerc, Carlos Sainz, Daniil Kvyat e Antonio Giovinazzi. Um campeão mundial, duas estrelas e um futuro piloto da Ferrari. É claro que a questão gerou controvérsia e os seis pilotos foram duramente criticados por não aderirem ao movimento e não se posicionarem, embora Leclerc e Verstappen tenham se explicado nas redes sociais o motivo de não terem se ajoelhado.

Hamilton, um dos articuladores, disse estar feliz com o movimento e optou por não tecer comentários acerca dos "seis rebeldes", em declaração para a Autosport:

"Sinceramente, eu não sei os motivos e as opiniões de cada um. Eu sei que há opiniões diferentes entre alguns pilotos, mas isso é algo mais privado e não quero comentar. Acho que ninguém deveria ser forçado a se ajoelhar. Sou muito grato por aqueles que se ajoelharam comigo. É uma mensagem muito poderosa. Só que, decidir se ajoelhar ou não, não é isso que vai mudar o mundo”, destacou.

O inglês, ao invés de se preocupar com essa situação, ele alerta para que a F1 não pare apenas nesse gesto, priorizando ações e atitudes que realmente apresente resultados concretos a médio/longo-prazo.

“Se a gente vai seguir se ajoelhando, eu não sei se teremos outras oportunidades para isso. Certamente não durante os hinos. Acho ótimo que a F1, a Mercedes em particular, percebeu o problema que temos no mundo e resolveu fazer algo a respeito disso. No fim das contas, tudo que fizermos não será suficiente. Precisamos sempre fazer mais. Acho que tivemos maior conscientização nessas últimas semanas. O que nós realmente não precisamos é que isso morra por completo, desapareça e fiquemos sem mudanças”, encerrou.

Sinceramente? Polêmica vazia. Posicionamento não é se ajoelhar, e sim realmente fazer algo concreto, seja público ou não. Essa "histeria do posicionamento de acordo com o que eu penso" só serve para afastar possíveis pessoas que poderiam se interessar a contribuir mas ficam acuadas diante da agressividade e radicalismo dos ditos democráticos e empáticos. Que esse tipo de ato não se limite apenas a tentar agradar a bolha que pouco se importa e quer destruir a categoria. Para quem as pessoas devem se posicionar: para si ou para os outros porque "são pessoas públicas"?

ELES FICAM

Foto: MotorSport
É o que diz Ola Kallenus, CEO da Daimler, empresa-mãe da Mercedes. A revelação foi feita para a Sky Sports antes da largada para o GP da Áustria. 

Apesar da fala assertiva, Toto Wolff desconversa, apenas afirmando que essa sim é uma opção altamente provável. Nada foi assinado oficialmente com os dois pilotos até então
.
"Estou muito feliz com a dupla, em termos de velocidade, performance, mente e colaboração entre ambos, mas nenhuma decisão foi tomada ainda. Em teoria, ambas as vagas ainda estão livres. Mas é claro que Lewis vai ficar se ele quiser. E, depois de ontem, o mesmo vale para Valtteri", resumiu.

Time que está ganhando não se mexe. Bottas não incomoda Hamilton e pode ganhar algumas corridas lá e cá. Hamilton bate recordes e continua em evidência, assim como Toto Wolff e cia, mesmo que o grupo alemão apresente déficit ano após ano mesmo sendo campeões. E trocar Bottas por Russell é seis por meia dúzia, convenhamos.

CLASSIFICAÇÃO:
1 - Valtteri Bottas (Mercedes) - 25 pontos
2 - Charles Leclerc (Ferrari) - 18 pontos
3 - Lando Norris (McLaren) - 16 pontos
4 - Lewis Hamilton (Mercedes) - 12 pontos
5 - Carlos Sainz Jr (McLaren) - 10 pontos
6 - Sérgio Pérez (Racing Point) - 8 pontos
7 - Pierre Gasly (Alpha Tauri) - 6 pontos
8 - Esteban Ocon (Renault) - 4 pontos
9 - Antonio Giovinazzi (Alfa Romeo) - 2 pontos
10- Sebastian Vettel (Ferrari) - 1 ponto

CONSTRUTORES:
1 - Mercedes - 37 pontos
2 - McLaren Renault - 26 pontos
3 - Ferrari - 19 pontos
4 - Racing Point Mercedes - 8 pontos
5 - Alpha Tauri Honda - 6 pontos
6 - Renault - 4 pontos
7 - Alfa Romeo Ferrari - 2 pontos

TRANSMISSÃO:







quarta-feira, 8 de julho de 2020

A ÚLTIMA DANÇA

Foto: Getty Images

Fernando Alonso está de volta. Ele não poderia sair da F1 simplesmente por ter as portas fechadas para tentar conquistar o tricampeonato. Aquilo estava na cara que era um até breve.

Isso permitiu para o espanhol olhar para o mundo além da principal categoria do automobilismo. Continuou tentando a Indy, onde fracassou ano pasasdo e tenta de novo nos próximos meses, foi bicampeão de Le Mans e campeão do WEC, vencedor de Daytona e se arriscou no Rali Dakar, no início do ano. É um currículo invejável. Ele precisava voltar. O espírito compulsivo e competitivo sempre fala mais alto. Ele não conseguiria dormir sem tentar de novo.

E tinha que ser na Renault, onde fez mais sucesso e vai para a terceira passagem, algo raro na F1. De cabeça, só me lembro dos casos de Clay Regazzoni na Ferrari, Nigel Mansell na Williams e o recente Daniil Kvyat na Toro Rosso/Alpha Tauri, mas todos esses são circunstâncias diferentes. Tinha que ser no palco onde foi bicampeão, agora sem o banido Briatore, que ainda é seu empresário.

Alonso é um cara competitivo. É óbvio que ele assinou pensando em disputar algo e não apenas brincar de F1 aos 40 anos. Certamente Ocon não vai ter vida fácil e as cobranças para que a Renault, pressionada por tantos resultados ruins nos últimos anos, finalmente acerte a mão. Alonso, Prost e Cyril Abiteboul no mesmo ambiente. Ou isso vai dar muito certo ou vai dar muito errado, mas quem se importa?

Alonso de volta à F1 e na Renault é um sopro de nostalgia gostosa em nossas cabeças. Como a série documental de Jordan e dos Bulls, agora seremos testemunhas da Última Dança de Fernando Alonso, no mínimo com dois anos de duração, igual quando sentimos o retorno de Schumacher para pilotar a Mercedes por três anos. Os resultados esportivos importam? Sim, é claro, mas a questão é maior: a nostalgia, as lembranças.

Se Raikkonen se aposentar no final do ano, Alonso será o único remanescente da geração da F1 2001, duas décadas depois. De lá pra cá, tanta coisa mudou nas nossas vidas... escrevi mais ou menos sobre isso lá em 2016 (como o tempo passa!). Os anos passaram, Alonso virou bicampeão, se envolveu em diversos escândalos, quase foi tri e depois foi perdendo força até o divórcio, em 2018. De lá pra cá, mudei de cidade, terminei a escola, a faculdade, comecei a narrar e um projeto de web rádio, sem falar no que o futuro reserva...

Igual Schumacher na Mercedes, Alonso nesse estágio final vai ser igual a terceira passagem de Jordan no basquete, quando foi para o Wizards: os resultados talvez fiquem em segundo plano. O importante é contemplar os últimos rastros de genialidades desses gênios que nos encantaram e participaram da nossa vida sem que eles sequer saibam. Tomara que Alonso consiga uma última pole ou um pódio pela Renault, talvez uma vitória, mas se não conseguir não tem problema, ninguém se importa.

O que vale é a nostalgia e apreciar o momento, a última dança de um dos maiores da história não só da F1, mas também do automobilismo.

Até!

terça-feira, 7 de julho de 2020

F1, LIBERTY, GLOBO E O GOVERNO

Foto: Reprodução
Semana passada, a Folha de São Paulo publicou que existem negociações adiantadas entre a Rio Motorsports e a Liberty Media para que o autódromo de Deodoro, que nem existe ainda (se é que vai existir), seja a sede do GP do Brasil a partir do ano que vem.

2020 é o último ano de contrato de Interlagos com a categoria. No entanto, diante da impossibilidade de correr nessa temporada em virtude do Coronavírus, pode existir a possibilidade de uma renovação automática por mais um ano, igual a Liberty fez com os outros circuitos que não puderam realizar corridas nesse ano.

A diferença monetária é gritante: a tal Rio Motorsports ofereceu 65 milhões de dólares para a FIA, enquanto que o governo de São Paulo/Interlagos mantiveram os 20 milhões anuais acordados há tempos, desde a Era Bernie Ecclestone, que tem um carinho especial pelo circuito. Não só ele, mas quem realmente gosta de automobilismo. A maioria dos pilotos discordou dessa mudança quando questionados no passado.

O suposto autódromo de Deodoro, cujo nome seria Autódromo Ayrton Senna (originalidade nota 10) é administrado pela Rio Motorsports, cujo CEO é JR Pereira. Na semana passada, ele e Carol Sponza, Diretora de Assuntos Institucionais da Rio Motorsports, se reuniram com o presidente Jair Bolsonaro para falar sobre as pendências que restam para que a obra no circuito seja realizada. O presidente é favorável ao circuito carioca desde quando foi anunciado o projeto, antes mesmo de ser eleito Presidente da República. Agora, então, certamente deve estar ainda mais comprometido com isso após a rixa com o então "aliado" João Doria, governador de São Paulo, mesmo que a situação com Wilson Witzel, governador carioca, seja até pior.

A Prefeitura do Rio já deu o ok, mas o contrato ainda não foi assinado porque ainda não existe aprovado um plano de estudo de impacto ambiental no local onde pode ser construído o autódromo. É um espaço ambiental, onde fica a Floresta do Camboatá, e certamente o ecossistema na região seria impactado, por isso o questionamento de grupos ambientais e políticos.

Floresta do Camboatá, local onde pode ser construído o Autódromo de Deodoro. Foto: O Globo
A questão de um novo autódromo no Rio é antiga, desde quando Jacarepaguá foi demolido para as Olímpiadas de 2016. Em 2012, o exército cedeu um terreno para a construção de um autódromo. No entanto, foram descobertos artefatos bélicos não detonados no local, como armas e munições, e começou um lento processo de retirada dos materiais pelo Exército.

A Floresta do Camboatá é uma de área de 201 hectares, sendo 169 deles compostos por vegetação árborea, segundo relatório realizado pela Diretoria de Pesquisas Científicas do Jardim Botânico do Rio de Janeiro a pedido do Ministério Público Federal e, claro, uma boa parte da floresta seria afetada com a construção do autódromo. Segundo pesquisas, a área destinada para o circuito de Deodoro ocuparia 150 hectares. Se cada hectare tem 1.053 árvores, teriam que ser derrubadas no mínimo quase 160 mil árvores para a construção do circuito, o que liquidaria de vez com a floresta e todo o ecossistema da região.

O contrato só pode ser assinado quando for realizada uma audiência pública sobre o estudo, que foi suspensa em virtude do coronavírus e também por uma decisão judicial.

Projeto de Deodoro, com o traçado assinado por Hermann Tilke. Foto: Divulgação

Bom, se considerarmos que tudo seja assinado e confirmado, mesmo assim parece improvável que façam uma obra dessa em 18 meses, ainda mais no Brasil, certo? Então por que a insistência e o apoio do governo federal a um projeto que tem mais prós do que contras? Isso que nem vou entrar muito na questão financeira...

A questão é simples: na mesma reunião, também foi discutida a participação da Rio Motorsports em comprar os direitos de transmissão da F1, com o apoio do governo, é claro (e imagino que vocês saibam o porquê). Esse é o último ano de contrato da Globo com a agora Liberty, que ainda não foi renovado. Bernie já deu várias concessões para a emissora em virtude da longevidade e de, na época, a cobertura massiva da dupla Galvão Bueno e Reginaldo Leme.

Agora, sob nova direção, a Liberty exige contrapartidas: 22 milhões de dólares anuais e a entrada da F1 TV, streaming da categoria, no país. No contrato atual, a Globo ainda detém os direitos de TV e internet, mas certamente vai perder isso no próximo ciclo, se aceitar. A Globo aceita pagar apenas 20 milhões.

Dizem, que se a Rio Motorsports pagar o que a Liberty deseja, a transmissão seria repassada para o Grupo Disney, que agora são os canais Fox Sports e ESPN em âmbito esportivo. Seria o fim definitivo da categoria sendo transmitida em TV aberta, ao menos por agora. Tudo isso seria uma jogada do governo para atingir dois inimigos de uma vez: a Rede Globo e João Doria.

Bom, nem é preciso falar sobre as consequências terríveis que a construção de um circuito caríssimo em uma área de preservação ambiental vai acarretar para o estado, seja criminal ou financeiramente. Me surpreende a Liberty cair nesse papo, mas o bigodudo não é flor que se cheire. Interlagos é uma estrutura pronta e um dos circuitos preferidos e tradicionais da F1. Tirá-lo de lá é tirar uma história da categoria, mas sabemos que o Brasil não se importa muito com isso. É uma terra de ignorantes.

Pra finalizar, sobre as transmissões: duvido muito que a Globo não renove com a Liberty. Ela ganha uma grana altíssima dos patrocinadores, exibidos no horário nobre da TV brasileira (intervalo do Jornal Nacional) e ainda tem o apoio de figuras influentes na emissora, como Galvão Bueno.

É evidente que a F1 é um elefante na sala da atual Globo: o que um esporte de ricos e "poluente" tem a ver com o editorial da emissora, liberal na economia e progressista nos costumes por que isso dá dinheiro? A transmissão é porca. Os treinos não passam desde 2014, nem o pódio é mais transmitido... mas ainda assim é melhor que permaneça por lá do que entrar em uma aventura apenas por birra. Os clubes que romperam com a Globo para assinar com a Turner entendem do que estou falando...

Além do que, um dos canais da Disney vai ser extinto em breve. Considerando que o futebol internacional é o carro-chefe, alguém realmente acredita que o produto seria tão melhor valorizado assim? Vai ter repórteres e uma equipe nos autódromos? As corridas não irão ficar em segundo plano para que seja transmitido Brighton x Watford pela Premier League?

Nada disso faz sentido. O atual não é nada bom, mas o futuro pode ser muito pior.

Até!

segunda-feira, 6 de julho de 2020

E ASSIM O MUNDO SEGUE...

Foto: MotorSport

Como diz aquele meme: "as expectativas eram baixas mas puta merda". Os testes de pré-temporada e as próprias declarações contundentes de todos já denunciavam que algo estava errado e não era blefe. A Ferrari, ao tentar tirar um pouco de velocidade de reta e melhorar nas curvas, conseguiu piorar as duas coisas. Perdeu a mão.

Isso, ligado ao polêmico acordo com a FIA acerca dos motores do ano passado levantam suspeitas sobre o quão no regulamento estava essa situação toda. Coincidência ou não, Haas e Alfa Romeo hoje só superam a Williams e a própria Ferrari começa a brigar de foice no escuro com Racing Point e McLaren.

A partir do momento que Vettel foi o 11° no Q2, me caiu a ficha e entendi a contratação de Sainz. Em virtude dos acontecimentos e consequências do covid, a Ferrari não tinha perdido apenas o ano de 2020, o que era esperado, mas também 2021. Mesmo sendo a Ferrari, a perda de dinheiro seria grande. Isso, aliado com os rendimentos do piloto alemão que já não são mais condizentes com sua atual capacidade, fizeram com que os italianos optassem por não renovar o vinculo e optar pela escolha do barato Carlos Sainz, um acumulador de pontos mais do que necessário nesse curto-prazo.

Isso tudo, é claro, capitaneado pelo talentoso Leclerc. Em uma corrida de exceção, onde era necessário oportunismo, o monegasco aproveitou a chance e tirou um segundo lugar da cartola que parece improvável para o resto da temporada, mais do que nunca justificando as escolhas da Ferrari.

Para as corridas seguintes, Binotto e cia já avisaram: não vai ter atualizações. O jeito é correr com isso aí e tirar o que pode do carro, principalmente Leclerc, até porque Vettel já está em tom de despedida da categoria. Assim como o alemão, a Ferrari está ladeira abaixo.

Quem deve ser cobrado por uma organização, a mais rica, popular e influente politicamente não ganhar nada há 13 ou 14 anos, já contando com o ano que vem? A verdade é que a Ferrari sempre foi uma bagunça, tirando a era Schumacher, Ross Brawn e Jean Todt e talvez mais tarde lá com Niki Lauda.

E o assim o mundo (da Ferrari) segue: ladeira abaixo, clamando por um líder que resolva todos os males do mundo (da Ferrari).