domingo, 10 de julho de 2022

TRÊS EM UM

 

Foto: Getty Images

O que mudou entre a corrida classificatória e a corrida de hoje? No sábado, tudo parecia encaminhado para mais uma vitória de Max Verstappen na casa da Red Bull. Por ser uma corrida curta e com poucos atrativos, onde há muito a perder, os pilotos não forçam o equipamento. É o antigo warm-up com grife.

O que vimos hoje em Spielberg rende vários capítulos, que vou abordar também no texto de amanhã. Que a Ferrari é um carro mais veloz em volta rápida, não há dúvidas. No entanto, nesse final de semana, foi justamente o contrário: a Ferrari capitalizou no trunfo da Red Bull, o ritmo de corrida.

Era dois contra um porque Pérez forçou uma ultrapassagem na primeira volta, foi tocado por Russell ficou fora da disputa. Max estava contra dois rivais da mesma equipe, lembrando os tempos antes de ser campeão do mundo. Rapidamente, a Ferrari encostou e não teve dificuldades para ultrapassá-lo. Além do ritmo, os pneus da Ferrari estavam durando mais. Uma novidade.

A Red Bull resolveu fazer duas paradas. A Ferrari poderia ter feito uma só ou dividido as táticas entre os dois pilotos, mas a situação estava tão confortável que os italianos ganharam dos taurinos na tática deles. Leclerc ultrapassou Max três vezes para garantir a vitória. A Ferrari tinha a faca e o queijo na mão para uma dobradinha na casa dos rivais.

Quando Sainz se aproximava de ultrapassar Max, o motor explodiu. Quando não é a Ferrari, é a confiabilidade. O mais absurdo foi a demora dos fiscais em prestar o apoio para o espanhol, que teve que sair do carro em meio as chamas. Poderia ter acontecido algo mais grave, mas ainda bem que foi um susto da adrenalina. Um pequeno golpe nas pretensões ferraristas.

Pois o acelerador de Leclerc, momentos depois, começou a ter problemas. Coincidência. A Ferrari, com uma dobradinha encaminhada e sem maiores sustos, podia perder a corrida pela confiabilidade. Max, sem ritmo, cresceu e venceria se tivesse mais algumas voltas. Como o "se" não existe, Charles Leclerc foi o primeiro a receber a bandeira quadriculada pela terceira vez no ano. Foi o primeiro triunfo do monegasco sem largar da pole position.

Max Verstappen pode estar com a famosa "sorte de (bi) campeão"? Tanto em Silvestone quanto hoje, era para o holandês ter muito mais prejuízos na tabela do que realmente teve, mantendo a vantagem de 38 pontos para o novo vice-líder do campeonato, Leclerc.

A Red Bull não sabe porque teve o rendimento tão ruim hoje, no palco onde dominou os últimos anos mesmo sem ter o melhor carro. A ascensão da Ferrari foi circunstancial ou as atualizações da equipe surtiram efeito? Estariam os italianos forçando o motor para acompanhar a Red Bull e isso ter sido a causa do abandono de Sainz? Perguntas que vou tentar responder num texto apropriado, mas deixo a reflexão para vocês.

Hamilton voltou a ter sorte. Graças a Sainz fora e Russell punido e fazendo corrida de recuperação, o Sir teve o terceiro pódio seguido no ano, o quarto na temporada. A Mercedes ficou bem para trás no ritmo de corrida. Depende muito do encaixe do circuito, mas as coisas estão melhorando. Aos poucos, o bicho-papão está voltando... o consistente Russell, mesmo com todos os percalços, conseguiu o quarto lugar. A Mercedes não é a carroça que falam. Pouco a pouco, eles vão voltar a ter chances claras de vencer, a questão é quando.

A Alpine tem em Ocon a constância de Russell na Mercedes. Ele não aparece muito, mas sempre soma os pontos necessários. Sorte esta que falta para Alonso. Não largou na corrida classificatória e precisou lutar muito na corrida, inclusive quase foi jogado para fora da pista por Tsunoda e retrucou com um mítico sinal negativo com a mão esquerda, enquanto fazia a ultrapassagem. Com o Safety Car Virtual, a equipe ainda se atrapalhou na troca dos pneus, mas ainda assim a Fênix consegue um ponto sensacional para quem largou em último. Que a Alpine nem ouse pensar em não renovar o contrato de Don Alonso.

A Haas cresceu nesse final de semana e finalmente teve dois pilotos. Se foi apenas confiança eu não sei, mas Mick Schumacher começou a embalar nos mesmos moldes da F4 e da F2, onde disparou para os títulos. Brigando com Hamilton, agressivo e ultrapassando, Mick alcança o sexto lugar e o melhor resultado da carreira. Definitivamente a confiança está ali e certamente a desconfiança em relação ao futuro diminuiu bastante. Magnussen também ficou nos pontos e a consistência dos dois é fundamental para o futuro financeiro da equipe, abalado sem Mazepin.

A McLaren teve um treino muito ruim mas evoluiu na corrida, tanto é que os dois carros ficaram no top 10, com Norris a frente de Ricciardo, como sempre. A equipe regrediu em relação ao ano passado, mas o que Lando faz fora dos holofotes é notável. Com certeza merece um equipamento melhor.

Do meio para trás, a briga encarniçada de sempre. Albon lutou muito mas não conseguiu os pontos. Gasly envolvido em mais um acidente. Não está no nível do ano passado, embora a Alpha Tauri também esteja abaixo. Aston Martin e Alfa Romeo insuficientes.

O final de semana de Charles Leclerc teve três grandes fatos: as ultrapassagens em Max, o fim do jejum de vitórias (a primeira sem ser a pole) e diminui a diferença para Max Verstappen, Resta a Ferrari não continuar atrapalhando o caminho do monegasco que, com um pouco de sorte, talvez tenhamos uma disputa mais aberta e franca pelo título.

Confira a classificação final do GP da Áustria:


 

sexta-feira, 8 de julho de 2022

APERTADO

 

Foto: Adam Pretty/Getty Images via F1

A rápida e cheia de limites de pista Spielberg é uma pista muito dinâmica. A mais curta do calendário, não permite erros para as voltas rápidas, embora permita muitas disputas na pista. É um dos melhores circuitos da temporada, sem dúvidas. 

O que fica ainda melhor se considerarmos que teremos duas corridas, uma mais curta. Hoje, foi definido o grid da corrida classificatória de amanhã. Muito equilíbrio, mas prevaleceu o histórico positivo da Red Bull em casa nos últimos anos. No detalhe e apertado, Max Verstappen sai na frente, mas a disputa está acirrada.

A Ferrari está ali e no detalhe não levou novamente. A Mercedes definitivamente voltou, em termos de ritmo. No entanto, Hamilton e Russell bateram no Q3 e podem ter prejuízos. Ainda assim, George é o quarto. Hamilton não deve ter problemas para escalar o grid, basta escapar da primeira curva.

A sorte da concorrência é que Sérgio Pérez não foi bem no Q2. Não conseguiu encaixar uma volta rápida sem respeitar os limites da pista, mas incrivelmente só foi punido horas depois do treino. Pior para Gasly, que não teve a chance de disputar o Q3. Pior para Max também, que vai estar sozinho na disputa contra as Ferrari amanhã. Se for inteligente, é melhor administrar a vantagem e não correr riscos. Pérez precisa se aproximar dos líderes para fazer uma boa corrida no domingo, que é o que vale.

Na intermediária do grid, a Haas está muito bem, com os dois carros entre os 10. Alonso está sempre brigando, assim como Ocon. Albon fez um bom treino e quase foi para o Q3. Quem parece sem rumo, ao menos em voltas rápidas, é a Aston Martin, o carro mais lento do grid. A McLaren teve problemas e também larga no fim do grid. Surpresa por Norris, nem tanto para Ricciardo.

No curto, rápido e disputado circuito administrado pela Red Bull, qualquer detalhe faz a diferença. Com a Mercedes voltando, a tendência é que seja um final de semana formidável na Áustria.

Confira o grid de largada da corrida classificatória:


Até!

quinta-feira, 7 de julho de 2022

GP DA ÁUSTRIA: Programação

 O circo da Fórmula 1 voltou a Áustria em 2014, após a Red Bull comprar e reformular o complexo que abriga o circuito, rebatizando-o de Red Bull Ring. A prova não acontecia no país desde 2003. Assim como em 2020, em 2021 o Red Bull Ring recebeu duas etapas: Estíria e o GP da Áustria.

Foto: Wikipédia

ESTATÍSTICAS:

Melhor volta em corrida: Max Verstappen - 1:06.200 (Red Bull, 2021)

Pole Position: Valtteri Bottas - 1:02.939 (Mercedes, 2020)

Último vencedor: Max Verstappen (Red Bull)

Maior vencedor: Alain Prost (1983, 1985 e 1986) e Max Verstappen (2018, 2019 e 2021) - 3x


CLASSIFICAÇÃO:

1 - Max Verstappen (Red Bull) - 181 pontos

2 - Sérgio Pérez (Red Bull) - 147 pontos

3 - Charles Leclerc (Ferrari) - 138 pontos

4 - Carlos Sainz Jr (Ferrari) - 127 pontos

5 - George Russell (Mercedes) - 111 pontos

6 - Lewis Hamilton (Mercedes) - 93 pontos

7 - Lando Norris (McLaren) - 58 pontos

8 - Valtteri Bottas (Alfa Romeo) - 46 pontos

9 - Esteban Ocon (Alpine) - 38 pontos

10- Fernando Alonso (Alpine) - 28 pontos

11- Pierre Gasly (Alpha Tauri) - 16 pontos

12- Kevin Magnussen (Haas) - 16 pontos

13- Sebastian Vettel (Aston Martin) - 15 pontos

14- Daniel Ricciardo (McLaren) - 15 pontos

15- Yuki Tsunoda (Alpha Tauri) - 11 pontos

16- Guanyu Zhou (Alfa Romeo) - 5 pontos

17- Mick Schumacher (Haas) - 4 pontos

18- Alexander Albon (Williams) - 3 pontos

19- Lance Stroll (Aston Martin) - 3 pontos


CONSTRUTORES:

1 - Red Bull RBPT - 328 pontos

2 - Ferrari - 265 pontos

3 - Mercedes - 204 pontos

4 - McLaren Mercedes - 73 pontos

5 - Alpine Renault - 67 pontos

6 - Alfa Romeo Ferrari - 51 pontos

7 - Alpha Tauri RBPT - 27 pontos

8 - Haas Ferrari - 20 pontos

9 - Aston Martin Mercedes - 18 pontos

10- Williams Mercedes - 3 pontos


PROVÁVEL CONTINUIDADE

Foto: Divulgação/Alfa Romeo

Antes mesmo do grande susto sofrido com o forte acidente na largada do GP da Inglaterra, Guanyu Zhou já era muito bem quisto internamente pela Alfa Romeo. Os elogios a performance, maturidade e evolução do jovem também podem significar a manutenção do chinês no time para 2023.

Apesar do anúncio da contratação de Zhou falar em "acordo plurianual", além do dinheiro chinês investido, a Alfa Romeo tem planos de, em breve, colocar Theo Pourchaire, hoje vice-líder da F2, no time. Ao que parece, esse é um plano que deve ser adiado.

Beat Zehnder, diretor esportivo da Alfa Romeo, elogiou Zhou:

“Normalmente, com novatos, você sempre tem que contar com uma ou duas batidas. Mas Zhou praticamente não comete erros. As experiências nos dizem que deve haver uma colisão em algum ponto no futuro, mas isso também faz parte do processo de aprendizagem. Ele é, definitivamente, um dos melhores novatos que já tivemos em nosso time”, disse.

Segundo a revista alemã Auto Motor und Sport, o chefão Vasseur já considera a permanência de Zhou.

Confesso que a notícia de Pourchaire me surpreende. O piloto francês é muito jovem e promissor e já é protagonista na F2, mas ainda não via um caminho sólido para a F1. Zhou já mostrou credenciais na F2 e precisa de tempo. É um bom piloto, apesar dos preconceitos e má vontade por ser asiático. Tem uma margem de crescimento muito grande, ainda mais num carro onde Bottas parece extrair o máximo possível, o que é uma bênção e uma maldição: mostra que o carro é bom, mas ter um companheiro de equipe desse quilate certamente também é uma pressão a mais para Zhou. Tomara que continue.

SEM PRESSÃO

Foto: Divulgação/Haas

Após muitos erros e acidentes, finalmente Mick Schumacher marcou os primeiros pontos na F1. A cobrança por resultados era notória e a desconfiança sobre o futuro do alemão ainda é grande, sobretudo com Magnussen dominando o filho do heptacampeão mesmo retornando para a F1 de última hora.

Se o chefão Gunther Steiner está contente com a performance do alemão na última semana, agora ele tem outra preocupação: que a pressão de ter pontuado pela primeira vez se transforme em uma cobrança para Mick pontuar constantemente, mesmo que não tenha carro para isso.

“É um respiro, já que não parecia que conseguiríamos depois da classificação, mas hoje, o carro estava rápido. Também foi muito bom para Mick. Quase não acreditamos no que aconteceu, então é algo muito bom para todos. E para Mick, pelo menos parte da pressão sai e o deixa em paz para pilotar.

É uma questão de confiança. Mas temos de ter cuidado para que a pressão não aumente de novo, com as pessoas dizendo ‘você agora tem de pontuar todas as vezes’, e depois, passando uma ou duas corridas sem pontos, repetindo ‘oh, ele está indo mal'.

Ele precisa ficar calmo. Mas eu disse a ele: ‘Apenas mantenha a calma, vai acontecer. Fique calmo, continue e ignore o mundo lá fora'”, disse.

Carregar o sobrenome Schumacher já é pressão o suficiente, mas acredito que agora Mick vai poder se acalmar e não tentar andar mais que o carro. Claro que o desempenho ainda é deficitário em 2022, mas Silverstone pode simbolizar um novo momento. Com calma, maturidade e quem sabe uma Haas mais competitiva em relação ao grid, agora Mick não tem nada a perder. Mantendo a consistência, o resto é consequência.

TRANSMISSÃO:
08/07 - Treino Livre 1: 8h30 (Band Sports)
08/07 - Classificação: 12h (Band Sports)
09/07 - Treino Livre 2: 7h30 (Band Sports)
09/07 - Corrida Classificatória: 11h (Band e Band Sports)
10/07 - Corrida: 10h (Band)



terça-feira, 5 de julho de 2022

GERADOR DE LERO-LERO

 

Foto: Divulgação

O automobilismo sempre foi e talvez sempre será um ambiente elitista, pelos altos custos que tem e como quem pertence a esse universo é privilegiado, em qualquer aspecto que você escolher. Como em tudo que nos rodeia, é um recorte da nossa sociedade, principalmente no aspecto social e econômico. A famosa bolha.

Como não poderia deixar de ser, o público alvo sempre foi selecionado para quem tem o poder aquisitivo de comprar os caros pertences e frequentar os lugares do automobilismo, até porque o circo precisa ser pago. Manter toda a estrutura e o glamour tem um preço que não é acessível para o cidadão médio. E isso sempre foi institucionalizado pela F1, principalmente na gestão Bernie Ecclestone. O aceno ao Oriente Médio não era somente político e a atual gestão, a moderna Liberty, mantém o mesmo caminho: em tempos de pós-Covid, a conta precisa ser paga.

Nos últimos anos, é perceptível uma mudança de público que “engaja” (termo da moda) e se interessa pela categoria. Se antes eram raros os malucos que gostavam de ver carros fazendo vrum num domingo onde o mais importante é o carro, agora vimos que é um fenômeno que vai muito além do alcance padrão institucionalizado do homem de alto poder aquisitivo.

Os motivos? São bem evidentes. A Liberty, americana, sabe atrair e tornar a F1 em um espetáculo, mesmo na era Mercedes sem graça. A série da Netflix trouxe a dramaticidade e interessou muitas pessoas que talvez olhassem pra categoria de forma torta, ou talvez nem conheciam o esporte mesmo. E o público da Netflix não abrange somente homens de alto poder aquisitivo, muito pelo contrário.

Outro motivo evidente é Lewis Hamilton. Sempre famoso por andar com as celebridades, o sucesso esportivo, o carisma, a representatividade e as atitudes extrapista trouxeram muitos admiradores, principalmente quem não acompanhava a categoria. Hamilton é o pacote completo: o piloto supercampeão e a pessoa supercampeã, exemplo, que entendeu o que é e o que representa graças a maturidade dos últimos anos. Pessoas que a F1 não fazia questão de ter como público alvo enxergam Hamilton como um exemplo óbvio: o primeiro piloto negro na categoria e, para muitos, o maior e melhor da história.

O universo da representatividade trouxe também as mulheres como protagonistas, cada vez mais exercendo funções importantes nas equipes, na parte mecânica, estratégica, engenharia, entre outros. E as fãs, claro. Quem acompanha as redes sociais se surpreende com o alto engajamento feminino e muito bem embasado na categoria, principalmente também na presença de público em Interlagos.

O automobilismo, assim como os esportes de combate, tem no público alvo consumidor talvez a mais evidente expressão caricata do “macho”. Ainda não há pilotas na F1, mas o desenvolvimento da W Series permite também que as mulheres possam estar nos monopostos como protagonistas, assim como algumas pioneiras conseguiram vaga no grid nas décadas anteriores. Recentemente, até chefe de equipe nós tivemos, através da Monisha e de Claire Williams.

As diferentes culturas e a imersão de públicos e estereótipos não pertencentes a F1 “raiz” é um choque para a zona de conforto e para uma geração mais antiga, é claro. Comportamentos que seriam normais no passado hoje não são mais toleráveis. São os tempos que vivemos. Quem não entender, respeitar e se adaptar, fica para trás.

Nelson Piquet sempre foi um anti-herói, um cara sincero que, através da pretensa sinceridade de falar o que quer e como quer, conquistou muitos fãs nas ditas declarações “politicamente incorretas”. Não é novidade. Os trechos expostos falando sobre Keke Rosberg e principalmente Lewis Hamilton têm um peso gravíssimo por se tratar de um tricampeão mundial, um dos maiores pilotos da categoria.

Nelson nunca teve papas na língua, mas isso nem sempre é sinônimo de ser algo positivo, como estamos observando. Bernie Ecclestone é outro que representa o passado. Sua importância na categoria e a mão de ferro que conduziu e transformou a F1 no que ela é hoje é inegável. Bernie é mais importante para a história da F1 que muitos pilotos, mas os fins sempre justificaram os meios e a F1 é produto dessa mentalidade outrora padrão do automobilismo.

Longe de querer tirar a importância e a arrogância de ignorar e esquecer quem tanto fez para o esporte, mas é evidente que comportamentos e frases que estamos lendo não são mais toleráveis. Se eram antes, já passou, devemos olhar para frente e mudar a mentalidade.

Juri Vips na semana passada e Kyle Larson na Nascar, onde inclusive é o atual campeão, foram outros exemplos de frases e brincadeiras racistas. Larson foi punido e voltou, caiu para cima e foi campeão. Vips saiu da Red Bull mas continua na F2, apesar dos protestos públicos da categoria. É um erro que custa uma carreira, obviamente.

A questão não é sobre segunda chance ou julgar de cima sobre os erros alheios. Não é o meu papel, mas o comportamento errático está presente até entre os profissionais de imprensa. Ninguém é santo. Mais importante do que mostrar descontentamento, indignação e textos falando sobre como é possível reverter isso são as práticas assertivas. Como fazer isso?

A cada caso, é sempre o discurso padrão de repúdio e “não passarão”! A verdade é que eles passam e repassem, a consequência é quase inexistente. Alguns caem para cima. O pior erro é ser definitivo, é preciso equilíbrio, tempero, mas ainda assim uma definição.

Esse texto é mais um gerador de lero-lero sobre os acontecimentos diários de racismo, machismo, homofobia, estupro e tantas outras coisas que estão ao nosso redor, nos indignamos, mas as coisas demoram para mudar, e quando mudam.

A esperança na mudança de mentalidade, escrevendo especificamente sobre o automobilismo, está justamente nos novos fãs e consumidores desse universo. Um toque de frescor e diversidade a um estigma. Não sei como escrever isso, mas os choques de geração, criação e até as diferenças socioeconômicas serão mais constantes agora, onde essa área de convívio ainda é inédita.

Com o passar do tempo, a minha torcida é que algumas situações se normalizem. Que a representatividade de Hamilton e outros profissionais “minoritários” no esporte sirvam de inspiração para qualquer pessoa apaixonada pelo automobilismo esteja ali sem aqueles olhares, falas e gestos que tiram a naturalidade de viver e seguir nesse universo.

Sou cético, mas nesse caso acredito que o gerador de lero-lero que tanto repetimos e torcemos para acontecer já está mudando, mesmo que a passos de tartaruga, a mentalidade das pessoas. É assim que o esporte educa e influencia a sociedade, onde a contribuição não está só no entretenimento em si, mas também através da cidadania de nos impactar e fazer com que esses exemplos positivos sejam espalhados pelas nossas comunidades locais.

De grão em grão, o exemplo do automobilismo pode melhorar o convívio e o respeito a todos nas diferentes manifestações, inclusive a ambiental, que parece ser tão contraditório a um esporte a motor. É evidente que tudo isso deveria ser uma obrigação das pessoas, mas até lá, é necessária uma construção passo a passo da cidadania e da sensibilidade para com o próximo.

Até!

 


segunda-feira, 4 de julho de 2022

TUDO CONTRA

 

Foto: Divulgação/Ferrari

Tentando fazer algumas adaptações de contexto, Charles Leclerc até agora é, de certa forma, um Jean Alesi da Ferrari no século XXI com um pouco mais de sorte, mas nem tanto. Piloto muito rápido e talentoso, ninguém duvida de suas capacidades, tal qual o francês despontou lá nos anos 1990. Além disso, o que também os une é o incrível azar e falta de timing em alguns aspectos.

Alesi pegou uma Ferrari em reestruturação e não tinha a menor chance de competir com McLaren, Williams e Benetton na época. Quando tinha a oportunidade, acontecia alguma coisa que o impedia de vencer. Até mesmo na única vitória na carreira, no Canadá em 1995, o carro teve pane seca logo depois. 

Leclerc chegou na Ferrari forte, desbancando Vettel e mostrando que era de verdade. Quando ia vencer no Bahrein, o motor teve problemas. Inúmeros erros de estratégia, batidas e ultrapassagens no fim evitaram que o monegasco, de inúmeras poles, tenha "só" quatro vitórias até aqui. Isso porque teve dois anos com uma Ferrari lamentável, que o alijou das grandes disputas. Ainda assim, fez poles e quase venceu em Silverstone no ano passado.

Não tem muito o que fazer contra o azar ou problemas no equipamento. Foge do controle de uma pessoa. No entanto, já vimos Leclerc sofrer repetidas vezes com vários erros de estratégia da Ferrari que só o prejudicaram, tiraram vitórias que poderiam ser cruciais na briga pelo título contra Max Verstappen. Ontem a situação atingiu um limite.

Qualquer equipe que se preze prioriza quem é o mais rápido. Na Ferrari, esse alguém é Charles. Mesmo com o carro danificado, ele estava encostado em Sainz. Quando a Ferrari finalmente se livrou do espanhol, não quis chamar o monegasco para os boxes na hora do Safety Car porque achou que os pneus macios iam se deteriorar rápido e os pneus duros dele estavam menos desgastados.

Ao priorizar o segundo piloto, Leclerc perdeu a vitória e pontos importantes para encostar em Max e tirar a grande desvantagem que tem, isso que o monegasco venceu duas das três primeiras corridas do ano. E parou por aí. Muito por azar, incompetência da Ferrari, o óbvio crescimento da Red Bull e alguns erros de Charles, como em Ímola, onde perdeu o pódio por bobagem. 

Ao final da corrida, ainda teve que ver o dedo de Mattia Binotto em riste. Ou seja: a equipe não ajuda, atrapalha e Leclerc ainda precisa ouvir calado as ordens da cadeia de comando. Um completo absurdo.

Essa é uma corrida que pode criar precedentes. Hamilton decidiu sair da McLaren após mais um abandono na temporada de 2012. Ao ser desrespeitado pela equipe está mais atrapalhando do que ajudando, Charles Leclerc precisa olhar para o futuro com cuidado. A Ferrari não ganha nada há quinze anos e não parece provável que estejam perto disso, apesar de retornarem ao protagonismo dos pódios.

É muita baderna e desorganização. A Ferrari só foi alguém de fato, nos últimos quarenta anos, quando Ross Brawn, Jean Todt e Michael Schumacher lideravam a organização. Sem um grande comandante e alguém que dê sustentação para Leclerc, o monegasco precisa no mínimo repensar e refletir as opções.

Hamilton em breve vai se aposentar e uma das vagas da Mercedes vai ficar aberta. Quem sabe, em uma aproximação com Toto Wolff, a ponte para o futuro no médio prazo? Os alemães já se mostraram mais competentes e, mesmo em desvantagem nessa temporada, já estão chegando na Ferrari. É questão de tempo até vencerem a primeira no ano.

O que não pode é Charles Leclerc ter tudo contra ele: Mercedes, Red Bull e até mesmo a própria equipe.

Até!

domingo, 3 de julho de 2022

MAIS SORTE QUE JUÍZO

 

Foto: Mark Thompson/Getty Images

A corrida de hoje em Silverstone mostrou que nem sempre quem vence faz uma boa corrida ou apenas o suficiente para ganhar. Claro, é óbvio que fez o suficiente se recebeu a bandeirada primeiro, mas isso também está ligado a outras circunstâncias que só o contexto faz questão de lembrar. Para os livros de história, não, até porque ela é contada pelos vencedores.

Talvez isso soe chato ou ranzinza, mas tudo bem. O importante é que finalmente Carlos Sainz venceu a primeira na carreira, justamente no final de semana onde fez também a primeira pole. Depois de bater na trave com a McLaren e em algumas etapas desse ano, o espanhol fez o hino do país voltar a tocar na F1 depois de nove anos, novamente com a Ferrari, onde Alonso triunfou pela última vez. Finalmente Sainz entregou o resultado que se esperava, embora as circunstâncias tenham sido bem distintas.

Começando pela largada e o forte acidente que interrompeu a corrida em uma hora. Gasly foi prensado por Russell, tocou no inglês, que tocou no carro de Zhou que capotou, quicou na brita passou por cima da proteção de pneus. Se não fosse a grade, acertaria o público e poderíamos ter uma tragédia.

Claro que foi assustador, mas não achei que haveria algum perigo. O Halo pode ter feito (ou fez) sua parte, mas capotamento é algo que sempre existiu na F1 e nem sempre dá para colocar tudo na conta desse artefato. Do contrário, muita gente teria morrido nos anos 1990 e 2000. O santantônio sim é uma invenção mais importante, mas esse assunto de segurança é cansativo e já escrevi sobre, então deixa pra lá.

O acidente que poderia ter sido mais grave foi o do Albon. Com o incidente acontecendo na curva, todo mundo freou. Vettel bateu em Albon, que bateu no guard rail e foi para o meio da pista, batendo e sido batido de frente, em T. A sorte é que os carros haviam diminuído a velocidade, mas se fosse igual na F2, em 2019... Por sorte e pela tecnologia, Albon e Zhou estão bem e devem participar da corrida da semana que vem.

Com a largada anulada, que tinha Verstappen na frente e Hamilton em terceiro, veio aí a primeira sorte de Sainz. Com a segunda largada, foi agressivo e cresceu para cima de Max, fechando-o. Foi o único mérito do espanhol hoje. Pérez foi tocado por Leclerc enquanto tentava se aproveitar da briga na frente e teve o bico danificado, precisando parar e ir para o fim do pelotão. 

Como sempre, o ritmo da Red Bull era superior e Sainz sentiu a pressão. Errou sozinho e facilitou o trabalho de Max, que parecia caminhar para mais uma vitória no ano. No entanto, passou por uma zebra e danificou o carro e furou um dos pneus. Desde então, não teve mais ritmo e praticamente se arrastou na pista, nos padrões Red Bull, claro. Sem os taurinos na briga, isso era uma ótima notícia para o campeonato.

A Ferrari tinha a faca e o queijo na mão para finalmente fazer outra dobradinha e recolocar Charles Leclerc de volta a briga pelo campeonato. No entanto, a Ferrari resolveu não ser totalmente Ferrari. A bagunça e a burrice estiveram lá, mas em nenhum momento eles intercederam a favor de quem briga pelo título. Leclerc, também com o carro danificado, ainda assim era mais rápido que Sainz. Enquanto isso, Hamilton chegava de mansinho e sonhava com uma vitória apoteótica em casa outra vez. A Mercedes tem ritmo com os pneus usados e é o grande trunfo da segunda metade do campeonato. A vitória dos alemães está mais próxima do que imaginávamos.

Quando a Ferrari finalmente se livrou de Sainz e priorizou Leclerc, Hamilton tinha uma boa situação na corrida, mas a Mercedes também não ajudou. Foi muito conservadora na troca de pneus. Os duros não tiravam tanta diferença, apesar de Hamilton ter uma óbvia vantagem para as últimas vantagens. Tudo parecia dar certo em linhas tortas, até que um problema no carro de Ocon, sobrevivente da primeira largada, mudou a corrida.

O Safety Car trouxe Pérez de volta para a briga e poderia prejudicar ainda mais Max, que era o nono e estava brigando com a Haas pelos pontos. Faltando poucas voltas, o gabarito era colocar os pneus macios e virar sprint race. Loucura total. Mas a Ferrari, ah a Ferrari... o principal piloto do time permaneceu na pista com os pneus duros. Por quê? A McLaren de Norris demorou a parar e Vettel e Magnussen também não trocaram pneus. Os dois últimos foram presas fáceis.

Leclerc foi presa, mas deu trabalho. Mostrou talento e jogou duro até com Sainz, que se aproveitou e se livrou na ponta, ainda que com dificuldades. Com os pneus novos, Pérez foi espetacular na briga com Hamilton e passou os dois. No entanto, o tempo que perdeu na disputa o tirou da briga pela vitória. Leclerc também, graças a burrice da Ferrari, perdeu o lugar no pódio para Hamilton, que teve o terceiro no ano e o décimo terceiro em Silverstone, sendo dez seguidos. Foi feito para Silverstone. 

De novo, Sainz teve mais sorte que juízo. Parecia que a Ferrari queria dar a ele a primeira vitória de uma vez, independente do contexto, para não desmotivá-lo. Apenas não entendi acabarem com Leclerc. Com Max lá atrás, era a chance de encostar no campeonato, e a oportunidade foi desperdiçada de novo. Ainda no fim, Max brigou com unhas e dentes pelo sétimo lugar e finalmente Mick Schumacher marcou os primeiros pontos da carreira. Emocionalmente na questão da nostalgia. Tomara que isso dê a confiança necessária para o alemão continuar trabalhando na Haas, onde a batata dele já estava começando a queimar.

Don Alonso, sem problemas, consegue um grande quinto lugar. Se tivesse mais carro e/ou potência, poderia ter se beneficiado da briga que acompanhou na parte final da prova. Norris andou em quarto a corrida toda mas um erro da McLaren o fez perder duas posições, ainda assim está bem. E Daniel Ricciardo? Mesmo numa corrida maluca, conseguiu ser o 13° de 14 carros que completaram a prova. Infelizmente, parece não ter mais solução. É constrangedor.

Vettel consegue mais dois pontos para a Aston Martin e Magnussen fechou o top 10. Cruel para Latifi, que teve um final de semana mágico para seus padrões e ainda assim não pontuou. Fui inventar de elogiar Tsunoda e ele acabou com a corrida dele e de Gasly. Certamente deve ter aquela conversa bacana e instrutiva com Helmut Marko...

O que nós queríamos, de certa forma, aconteceu: mais emoção e imprevisibilidade. Com Max fora do caminho, era a chance da Ferrari voltar a briga pelo título com Leclerc. O que vimos, no entanto, não deixou de ser imprevisível: os italianos priorizaram o segundo piloto que, com mais sorte que juízo, venceu a primeira na carreira. Que isso também sirva para dar mais confiança ao pressionado espanhol, mas é uma sacanagem tremenda com Leclerc, que luta sozinho contra três equipes, aparentemente.

Confira a classificação final do GP da Inglaterra:


Até!

sexta-feira, 1 de julho de 2022

PONTO DE REFERÊNCIA

 

Foto: Dan Mullan/F1 via Getty Images

Silverstone, onde tudo começou. Como a maioria das equipes ficam na Inglaterra, a pista além da carga histórica tem o simbolismo das grandes atualizações dos carros, a última antes do verão europeu. Pode ser um ponto de referência para corrigir rumos, evoluir ou simplesmente se dar conta de que o ano está perdido e é melhor priorizar a próxima temporada.

Em uma temporada onde tudo é novo e incipiente no regulamento, qualquer sessão de testes é importante para dar rodagem. Quando chove, não é o ideal, tanto para os pilotos quanto para os fãs. Na primeira sessão, a chuva fez os carros andarem muito pouco, quase nada. Uma sessão perdida. Com isso, o segundo treino livre e o treino de amanhã ganham muita importância para testar as voltas rápidas e o ritmo de corrida dos carros.

Diante da hierarquia que já sabemos, as coisas não mudaram muito. Ferrari foi mais rápida com Sainz. A Red Bull não se encontrou tanto. A McLaren de Norris tenta reagir na temporada. Hamilton, com voltas rápidas, foi bem e a Mercedes pode estar em ascensão, mesmo que não tão rápida quanto todos imaginam.

No bloco intermediário, Alpine, Aston Martin e Alpha Tauri batalham pelos últimos pontos.

Em Silverstone, em um clima de consternação diante das barbaridades ditas por Nelson Piquet e que pretendo escrever sobre nos próximos dias, é o palco onde Hamilton está em casa e tem oito vitórias. Carinho e apoio não vão faltar, mas isso não vai ser o suficiente nas pistas e, infelizmente, nesse combate ao racismo que a sociedade perde com frequência. 

Que Silverstone seja um ponto de referência em várias frentes na temporada da F1, dentro e fora das pistas, na postura de todos que fazem parte desse lugar que, embora seja chamado de circo, não é palco para palhaçadas e outras coisas piores.

Confira os tempos dos treinos livres:




Até!