segunda-feira, 13 de setembro de 2021

ALGUÉM TEM QUE CEDER?

 

Foto: Getty Images

Lewis Hamilton e Max Verstappen disputam palmo a palmo o título da temporada 2021. É um confronto direto. Se antes era uma superioridade da Mercedes, agora a coisa ficou mais equilibrada e até favorável a Red Bull. Nas últimas dez etapas, apenas uma vitória de Lewis, em Silverstone, onde houve o ponto de ruptura.

Nos últimos anos, mais experiente, Hamilton deixou de disputar cada posição como se a vida dependesse disso. Mais cauteloso e pensando na frente, muitas vezes abriu mão de determinadas batalhas que ele não enxergava vantajosa. Max Verstappen é o inverso. Sempre vai para o tudo ou nada, e muitas vezes intimida o oponente, que prefere não pagar para ver. 

A Red Bull tinha pequenas possibilidades reais de vencer, então para Max era uma questão de vencer ou não. No início do ano, em Ímola, o primeiro embate: como sempre, Max foi agressivo e Lewis deixou passar. Desde então, a vantagem da Red Bull estava enorme e a Mercedes sentia o caneco escapando. E aí Lewis precisou mostrar hierarquia.

Silverstone foi o aviso de Hamilton: se você quer ser louco, eu também posso ser e vamos ver quem se dá melhor. No caso foi o inglês, que venceu, tirou Max do páreo e retornou para a disputa, praticamente empatada. Ontem, os dois tinham motivos para reclamar do final de semana. Em momentos distintos, a vitória caiu no colo e cada um e depois foi embora, como quem provoca. Pit stops lentos geraram a incrível coincidência da disputa na saída dos boxes.

Hamilton não podia ceder. Estava numa posição de vantagem e sabia do modus operandi de Verstappen. Max não pode ir contra a própria natureza. Era a única chance de ficar na frente de Hamilton. No tudo ou nada, o holandês jogou os dados e, dessa vez, foi melhor para ele. Manteve a pequena vantagem na tabela.

Em um campeonato praticamente igual, qualquer detalhe e ponto a mais ou a menos vai decidir o título. O equilíbrio nas pistas também permite o encontro direto frequente dos dois. Mais batalhas estão a caminho, assim como polêmicas e discussões em todas as esferas. A pergunta que fica é: alguém tem que ceder? Alguém precisa ceder para conquistar o título nessa temporada?

Até!

domingo, 12 de setembro de 2021

REDENÇÃO

 

Foto: Getty Images

Monza viveu mudanças de panorama nesse final de semana. Se na sexta a expectativa era de domínio da Mercedes, o sábado viu Hamilton entregar de bandeja uma grande vantagem para Max Verstappen consolidar na corrida. No entanto, novamente não foi isso o que vimos.

Se Hamilton largou muito mal no sábado, Verstappen apenas largou mal hoje. Ricciardo pulou para a ponta e Hamilton foi bem, passando Norris e indo pra cima de Max. Como sempre, o holandês foi duro e o inglês cedeu, perdendo a posição que tinha ganho de Norris.

As McLarens seguravam Verstappen e Hamilton. Com o potente motor Mercedes e o mesmo pneu, a exceção de Lewis, as particularidades de um circuito de alta e a turbulência que conhecemos fizeram com que as ultrapassagens fossem bem escassas. Apenas Pérez e Bottas, de motor novo, que driblaram esse quesito.

Ricciardo controlava a corrida até o pit stop. Aí a corrida começou a mudar. Verstappen também foi para os pits, mas um problema na roda traseira direita fez com que o holandês tivesse uma parada de 11 segundos. Corrida perdida e prejuízo enorme, pois certamente não teria como alcançar Hamilton. O inglês finalmente se livrou de Norris e assumiu a ponta, quando parou. A Mercedes também não fez um bom pit stop e Lewis saiu com 4 segundos, até o inevitável acontecer.

Um grande incidente é constituído de pequenas coisas que separadas não são grandes, mas juntas formam o desastre necessário. A exemplo do que vimos em Silverstone, dessa vez Hamilton não quis ceder. Estava na frente e tinha a preferência, mas espalhou Max. O holandês, sabendo que dificilmente teria outra chance de se aproximar da Mercedes, optou, como sempre pelo tudo ou nada. Geralmente os adversários recolhem, mas Hamilton não. 

O resultado foi os dois fora e o carro de Max em cima da Mercedes de Hamilton, lembrando as disputas de Schumacher e Hill em 1995, até nesse quesito. No frigir dos ovos, graças aos dois pontos da corrida classificatória, Max aumentou para cinco a vantagem no campeonato. Podia ser mais ou então poderia perder essa vantagem, então o abandono foi mais vantajoso para ele nesse sentido. 

No entanto, Max foi punido com três posições na largada de Sochi, o que pode fazer a diferença para o campeonato. Como não pode ser punido em pista, ganha esse gancho pesado. A FIA não podia não fazer nada, e isso é uma consequência da escolha de Max.

Foto: Getty Images

O caminho ficou livre para a McLaren. Na confusão, Leclerc ficou entre eles mas Lando facilmente o superou. Estava feita a dobradinha. Desde 2010 a McLaren não fazia 1-2 e desde o Brasil 2012 que o time de Woking não vencia. Para Norris, um sabor amargo. Até tentou um jogo de equipe, mas hoje era dia de Ricciardo e do shoey. Dominando o companheiro o ano todo e perde justo na grande glória. Lembra os casos de Ralf Schumacher e Barrichello perdendo para o Hill e Herbert em 1999. Acontece.

Ricciardo vive um ano muito mais difícil que ele imaginava. Norris é talentoso, é uma boa competição. A vitória traz confiança, sem dúvida, ainda mais sendo o responsável por quebrar tantos jejuns da equipe. Com a cabeça boa, certamente vai ter menos pressão para desenvolver o trabalho, principalmente para 2022.

Bottas herdou a punição de Pérez, que usou o limite de pista para passar Leclerc, e fechou o pódio. Correu mais solto, agora que já tem um futuro traçado. Pode ser um diferencial na disputa pelo título porque o mexicano está muito mais instável do que nunca, lembra o Fisichella nos tempos de Alonso. A ausência de Lewis e Max mostram como são diferentes em relação aos companheiros.

A Ferrari mostra que ainda está atrás do pelotão de elite, enquanto que a Alpine e Williams conseguem pontos importantes. É notória a evolução do time de Grove, com os dois pontuando. Stroll hoje superou Vettel, muito errante, assim como a dupla da Haas, que segue trocando batidas e rodadas no fundo do grid. Prejudicada pela corrida de sábado, Tsunoda nem largou e Gasly também. A Alpha Tauri não participou da corrida. 

Monza pode ser uma redenção para Ricciardo. A vitória na terra da família paterna, além de histórica pelos tantos significados, também pode significar uma virada de chave nessa altura da carreira do sorridente australiano.

Confira a classificação final do GP da Itália:


Até!

sexta-feira, 10 de setembro de 2021

PREPARANDO O TERRENO

 

Foto: Getty Images

Na segunda vez da já insuportável treino e corrida classificatória (espero que desistam disso em breve), a Mercedes mostrou força. Com a atualização do motor, o que fará com que largue no fim do grid, Valtteri Bottas sai em vantagem amanhã, mas é claro que o grande beneficiado disso será Lewis Hamilton, que tem chances claríssimas de largar na pole e conquistar pontos que podem ser determinantes para o título.

A Mercedes, com motor mais atualizado, mostra grande vantagem e favoritismo para domingo. O forte da Red Bull sempre foi a aerodinâmica, então tende a sofrer em circuitos de alta. Não a toa, também com motor Mercedes, a McLaren esteve muito próxima e forçou os taurinos a sacrificar o treino de Pérez para fazer com que Max não tivesse tanto prejuízo.

Com Bottas fora do caminho para o domingo, Hamilton ganha grande ajuda nos dois dias para vencer e retomar a liderança. A Red Bull não parece ser páreo, enquanto que a grande notícia do dia foi uma boa sessão de Daniel Ricciardo. Será que está finalmente no ritmo do carro?

Pelo que foi visto até aqui, a Mercedes se prepara para retomar a liderança de pilotos nesse final de semana. Max e a Red Bull precisam tirar um coelho da cartola para evitar o que parece ser inevitável.

Confira o grid de largada da corrida classificatória:


Até!

GP DA ITÁLIA: Programação

 O Grande Prêmio da Itália foi disputado pela primeira vez em 1921, em Montichiari, na província de Bréscia, num circuito feito de vias públicas. Está desde sempre no calendário da Fórmula 1, e sempre é realizado em Monza, à exceção de 1980, quando o GP foi disputado em Ímola para atender a demanda dos fãs da Romagna.

Foto: Wikipédia

ESTATÍSTICAS:

Melhor volta em corrida: Rubens Barrichello - 1:21.046 (Ferrari, 2004)

Pole Position: Lewis Hamilton - 1:18.887 (Mercedes, 2020)

Último vencedor: Pierre Gasly (Alpha Tauri)

Maior vencedor: Michael Schumacher (1996, 1998, 2000, 2003 e 2006) e Lewis Hamilton (2012, 2014, 2015, 2017 e 2018) - 5x

CLASSIFICAÇÃO:
1 - Max Verstappen (Red Bull) - 224,5 pontos
2 - Lewis Hamilton (Mercedes) - 221,5 pontos
3 - Valtteri Bottas (Mercedes) - 123 pontos
4 - Lando Norris (McLaren) - 114 pontos
5 - Sérgio Pérez (Red Bull) - 108 pontos
6 - Charles Leclerc (Ferrari) - 92 pontos
7 - Carlos Sainz Jr (Ferrari) - 89,5 pontos
8 - Pierre Gasly (Alpha Tauri) - 66 pontos
9 - Daniel Ricciardo (McLaren) - 56 pontos
10- Fernando Alonso (Alpine) - 46 pontos
11- Esteban Ocon (Alpine) - 44 pontos
12- Sebastian Vettel (Aston Martin) - 35 pontos
13- Yuki Tsunoda (Alpha Tauri) - 18 pontos
14- Lance Stroll (Aston Martin) - 18 pontos
15- George Russell (Williams) - 13 pontos
16- Nicholas Latifi (Williams) - 7 pontos
17- Kimi Raikkonen (Alfa Romeo) - 2 pontos
18- Antonio Giovinazzi (Alfa Romeo) - 1 ponto

CONSTRUTORES:
1 - Mercedes - 344,5 pontos
2 - Red Bull Honda - 332,5 pontos
3 - Ferrari - 181,5 pontos
4 - McLaren Mercedes - 170 pontos
5 - Alpine Renault - 90 pontos
6 - Alpha Tauri Honda - 84 pontos
7 - Aston Martin Mercedes - 53 pontos
8 - Williams Mercedes - 20 pontos
9 - Alfa Romeo Ferrari - 3 pontos

ENTRE OS MELHORES

Foto: Getty Images

Depois de garantir mais um ano na Alpha Tauri, Pierre Gasly foi fortemente elogiado pelo chefe, Franz Tost. Os resultados do francês desde que voltou para a equipe satélite da Red Bull são satisfatórios: segundo lugar no Brasil ainda em 2019, vitória histórica em Monza no ano passado, um pódio nesse ano e o quarto lugar no último GP da Holanda.

Isso reforça a opinião de Tost, que diz que o francês é um dos melhores pilotos da F1:

"Sempre estive convencido em relação a ele”, disse Tost. “Acho que ele surpreendeu algumas outras pessoas. Para mim, Gasly pertence [à lista] dos melhores pilotos da Fórmula 1 na atualidade”, disse.

A situação de Gasly é incômoda. Ele não vai voltar para a Red Bull porque lá está Verstappen. Na Alpha Tauri, claramente já atingiu um teto. O jeito é esperar uma vaga melhor, tal qual o caminho que Sainz trilhou nos anos anteriores. Ainda acho que o francês deveria ficar de olho na Alpine. Afinal, uma hora ou outra Fernando Alonso vai ter que pendurar as luvas.

ROTA DE COLISÃO

Foto: Getty Images

Com o pior carro do grid, a única alternativa dos pilotos da Haas é disputar posições com eles mesmos, e é isso que está sendo feito de maneira bem perigosa no decorrer da temporada. Na Holanda, mais um capítulo desse imbróglio.

No início da corrida, Mazepin fechou deliberadamente Schumacher, que reclamou. É um histórico já extenso. O russo fez a mesma coisa no Azerbaijão. Mazepin, por outro lado, reclama que Mick desobedeceu uma ordem de equipe na preferência de quem deveria abrir primeiro a volta na classificação de sábado.

Entre reclamações e condutas perigosas, Gunther Steiner está no meio do caminho. O chefão, ao menos publicamente, adota uma postura neutra, evitando o atrito e colocando panos quentes na situação:

"Esse tipo de coisa não pode acontecer. Precisamos resolver essa situação muito rapidamente. [A prensada] é um lance difícil. Eu não acho que podemos culpar muito o Nikita, mas é claro que precisamos trabalhar em cima disso e ter uma conversa privada. Já falei com os engenheiros e concordamos que nossa prioridade é conseguir resultados. Não vamos aceitar esses comportamentos e precisamos resolver isso”, disse.

Gunther está numa situação difícil. Ele não pode ficar contra quem paga as contas do time e tampouco virar as costas para o melhor piloto da equipe, apadrinhado da Ferrari e simplesmente com o sobrenome Schumacher. Agora, não há muito prejuízo, a Haas não pontua. Mas e quando valer algo importante? Mazepin vai continuar agindo como um psicopata mimado? Provavelmente sim. Nesse caso, poderemos ter sérios problemas...

TRANSMISSÃO:
10/09 - Treino Livre 1: 9h30 (Band Sports)
10/09 - Classificação: 13h (Band Sports)
11/09 - Treino Livre 2: 7h (Band Sports)
11/09 - Corrida Classificatória: 11h30 (Band e Band Sports)
12/09 - Corrida: 10h (Band)


quarta-feira, 8 de setembro de 2021

DEFINIÇÕES

 

Foto: Reprodução/Williams

Impressionante o efeito dominó da F1 na última semana, assim como exatamente precisa a informação da Race Fans até aqui. Em sete dias, Raikkonen confirmou aposentadoria, Bottas foi anunciado na Alfa Romeo e George Russell finalmente vai para a Mercedes. 

Ontem, talvez sem o mesmo alarde, a Alpha Tauri confirmou as permanências de Pierre Gasly e Yuki Tsunoda para 2022. Não é uma decisão surpreendente. O francês está numa sinuca de bico. Não vai subir outra vez para a Red Bull e ainda não tem espaço nas outras equipes. O jeito é se contentar em andar bem na equipe satélite e esperar uma vaga apetitosa, como a da Alpine, por exemplo. 2022 pode ser o último ano de Alonso. Nunca se sabe... até lá, Gasly na Alpha Tauri é um desperdício para o francês e um ótimo negócio para os italianos.

Tsunoda começou bem mas está oscilando muito, com mais baixos do que altos. Nunca é demais ressaltar que o japonês é muito jovem e foi rapidamente ascendido para a F1, fruto do talento, é claro. Alguns dizem que a ligação com a Honda faz a diferença, mas não vejo por esse lado. Mesmo que Tsunoda ainda não convença, a Red Bull não tem alguém na base pronto, seja com conquistas relevantes ou pontuação suficiente na superlicença. Por ora, Tsunoda está salvo, mas precisa evoluir, até porque ele não briga apenas para tentar subir para a Red Bull, mas sim se manter viável na Alpha Tauri.

O anúncio de hoje foi mais chamativo. A Williams rapidamente escolheu o substituto de Russell e também manteve Latifi por mais uma temporada. Trata-se do retorno de Alexander Albon, o tailandês nascido e criado na Inglaterra. Havia uma guerra política entre a Red Bull e a Mercedes. Os alemães não queriam que alguém da concorrência ocupasse uma vaga da parceira. Alguns dizem que o tailandês deixa a Red Bull mas pode ser chamado de volta a qualquer momento, igual fizeram com Kvyat.

É a chance da redenção para Albon. Mais uma vítima do moedor de talentos, é a chance de ganhar experiência em um lugar compatível com as ambições. A Williams está crescendo em todos os setores e, com o novo regulamento, pode dar mais um grande salto. O adversário de equipe é acessível. Latifi é um paydriver simpático, mas aparentemente permaneceu por méritos próprios. Pontuou em duas corridas com esse carro, mostrando que os feitos de Russell não são tão estridentes, embora grandiosos. Me parece também que é uma gratidão, uma recompensa, algo como: "você nos salvou da falência e roeu o osso, agora toma essa alcatra". 

Com isso, resta praticamente uma vaga para 2022, que é a da Alfa Romeo. Schumacher e Mazepin devem continuar na Haas. Se a Race Fans estiver correta, a vaga suíça já tem dono: Nyck De Vries, outro piloto Mercedes, mostrando definitivamente que a parceria com a Ferrari estaria terminando.

Mudanças importantes e interessantes no grid, assim como manutenções. 2022 é a grande aposta de todos e, certamente, o mercado vai estar mais aquecido ainda no ano que vem, quando as cartas estiverem definitivamente na mesa.

Até!

terça-feira, 7 de setembro de 2021

PASSO A PASSO, ELE MORREU PRA ISSO!?

 

Foto: Reprodução/Twitter

Quando George Russell estreou na F1, em 2019, não havia tanto hype em cima dele, o que era um grande erro. A explicação era simples: naquela oportunidade, o grid também teria outros jovens em lugares mais chamativos: Charles Leclerc estreando na Ferrari, Lando Norris na McLaren e Alexander Albon na ainda Toro Rosso.

O pessoal esqueceu ou não sabe que Russell venceu os dois últimos na F2, em 2018, mas por ser piloto Mercedes, coube a única vaga disponível naquele momento, justamente a pior equipe do grid. Se não foi bom porque não havia muito holofote, Russell de certa forma não teve tanta pressão porque todos sabiam que ele não poderia fazer nada com a Williams, apenas terminar a frente do companheiro de equipe.

E George fez em quase todas as oportunidades, tirando uma: com desclassificações, coube a Robert Kubica, mesmo com uma mão só, fazer o único ponto do time naquele ano. Os números são cruéis. Russell foi mais veloz, terminou mais corridas e classificações a frente mas, no que importava, foi derrotado, nos pontos.

Nada que abalasse a jornada do inglês, que todos viam grande potencial, prejudicado por não ter equipamento para competir. Ao mesmo tempo, rapidamente a Williams começou a evoluir, deixando de ser uma equipe familiar para uma estrutura mais tradicional e sem nepotismo. Em 2020, agora com Latifi, que ajudou a salvar o time com contribuições financeiras, a missão era a mesma: impressionar e liderar.

Russell fez isso e até além. Constantemente colocou a equipe no Q2. Estava tirando mais que o carro e a possibilidade de um domingo de glória sempre se aproximava. No entanto, isso nunca vinha, seja por azar ou um erro do piloto na Hora H, que se martirizava, como se nunca mais tivesse tal possibilidade na vida.

A primeira grande chance surgiu quando Hamilton teve covid e Russell, já devidamente no debate sobre ir pra Mercedes substituir Bottas, foi para o lugar do heptacampeão. A essa altura, já estava certo que o inglês ficaria mais um ano na Williams, mas era a possibilidade de provar um ponto.

Sem mal ter contato com o carro, Russell dominou Bottas e se encaminhava para uma vitória consagradora e até constrangedora na estreia pela Mercedes. Com que clima ele voltaria para a Williams? Aí, mais um azar: problemas no carro, erros da Mercedes e uma corrida atribulada o fizeram somar míseros dois pontos. Sensação de derrota, é claro, e também a sensação de que faltava algo a mais para Russell: sorte. Afinal, sem ela, não se atravessa a rua.

Voltando para a realidade da Williams com o gostinho de ter sentido por dias a sensação de estar no topo do jogo, Russell precisava manter o ritmo. A Williams segue melhorando e Russell continuou impressionando,mas o que também não mudou foi o azar e a chance de pontuar, sempre com requintes de crueldade. Até escrevi que faltava sorte para o britânico.

Tudo isso mudou na Hungria. Mais ou menos. Os pontos pela Williams finalmente vieram, mas outra vez ele chegou atrás do companheiro que ele domina e é muito superior. Na letra fria da classificação, lá estava Russell atrás de Latifi. Como promover alguém para a Mercedes com essas credenciais?

Na Bélgica, outra parte fundamental para a mudança de chave. A chuva nivelou tudo e, com um acerto certeiro, Russell quase foi pole em Spa com uma Williams. Nem no videogame é possível fazer isso, a não ser que esteja no fácil. O que parecia uma sorte queimada no sábado, porque no domingo seria presa fácil em condições normais, também virou outro golpe de sorte.

A não-corrida permitiu Russell manter o que fez no sábado e, portanto, ir para o pódio com uma Williams. Foi o fantasma sendo exorcizado. Além do desempenho, ali estava o resultado concreto: com uma Williams, Russell pontuou, quase fez pole e fez pódio. Não há mais o que fazer diante desse ponto.

E assim foi feito. Com muitos altos e baixos, passo a passo, George Russell está definitivamente na Mercedes. Há uma sensação engraçada: ao mesmo tempo em que o britânico corre sem pressão por simplesmente não ser obrigado a vencer Lewis Hamilton, agora ele vai ter que encarar a pressão de estar sempre entre os primeiros, onde muitas vezes um segundo ou terceiro lugar, agora, não será celebrado como se fosse um título mundial igual em Spa.

É a velha história: subir e chegar no topo é muito complicado, permanecer nele é mais difícil ainda. Agora, Russell vai conhecer um lado que ele certamente não conhece, mesmo que ache que esteja preparado: a pressão pelo topo e pela glória. Talento e tempo ele tem. Afinal, é o futuro da Mercedes na categoria, nada menos que isso.

No inglês, a expressão “i died” é usada para reagir ao final de uma história e quando alguém fica extremamente ansioso para fazer algo.

Para George Russell, a história com a Williams termina. Ele “morreu”, ou no português, se matou para isso, para chegar nessa condição. Agora, certamente há a ânsia para “morrer” ou se matar em uma nova aventura, com certeza a mais saborosa da carreira.

Até!


segunda-feira, 6 de setembro de 2021

PASSOS ATRÁS

 

Foto: Getty Images

Na dança das cadeiras inaugurada na semana passada, já estamos no segundo ato, outra vez finlandês. Raikkonen anunciou a aposentadoria no fim do ano e, o que seria surpreendente ou sem sentido algum meses atrás, foi confirmado: A Alfa Romeo anunciou Valtteri Bottas como um dos pilotos do time a partir de 2022, com contrato de vários anos.

Isso vai de encontro com notícias das últimas semanas, quando Frederic Vasseur falou sobre a capacidade de investimento da equipe para o futuro e a necessidade de usar o novo regulamento para tentar construir uma equipe em prol de um nome. Bottas também disse nos últimos tempos que gostaria de um contrato maior, sem o estresse de renovar anualmente na pressão da Mercedes. É o reencontro desses dois, vencedores da GP3 em 2011 pela ART.

A consequência dessa mudança é óbvia: Bottas deixa a equipe heptacampeã do mundo e junta-se para uma que hoje é a penúltima nos construtores. É evidente que a grande aposta é o novo regulamento, onde a experiência e a qualidade do finlandês será fundamental para guiar o time suíço no caminho certo.

Bottas fez o que era esperado quando foi contratado até de forma surpreendente após a aposentadoria de Nico Rosberg, visto que Ocon e Pascal Wehrlein eram alternativas muito mais aceitáveis. Longe de ser um Kovalainen, ficou no meio do caminho. 9 vitórias e 17 poles, algumas vitórias maiúsculas e, desde o ano passado, o finlandês foi murchando e sendo incapaz até de competir com Max. É claro que a ascensão de George Russell acelerou o processo, mas nem mesmo o papel de escudeiro fazia sentido para Bottas.

O finlandês, tratado como um segundão na Mercedes, agora vai ser pela primeira vez na carreira um protagonista, talvez a única, pois já não é mais um garoto. Será a prioridade e tem sim qualidade pra isso. Não devemos nos esquecer do que ele fez na Williams, embora seja verdade que a Alfa Romeo seja o maior desafio da carreira. 

Esse movimento lembra muito quando outros segundões do passado, como Coulthard, Barrichello e Fisichella foram para equipes menores serem o centro de um projeto de longo-prazo. É exatamente a situação de Bottas, com uma "vantagem": o companheiro de equipe será jovem e inferior tecnicamente. Não deverá ter perigos em ser surpreendido por performances fora do comum.

Bottas dá vários passos atrás na carreira, mas talvez não houvesse outra opção para continuar nessa F1 onde não há vagas. A Mercedes espremeu o que podia, agora está na vez da Alfa Romeo usar o que sobrou. Bottas aposta no longo-prazo, onde o novo regulamento e o desenvolvimento da Alfa Romeo possa lhe permitir alguns pódios ou vitórias em corridas malucas. É o que tem para o futuro.

Até!