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Foto: Reprodução/Twitter |
Quando George Russell estreou na F1, em 2019, não havia
tanto hype em cima dele, o que era um grande erro. A explicação era simples:
naquela oportunidade, o grid também teria outros jovens em lugares mais
chamativos: Charles Leclerc estreando na Ferrari, Lando Norris na McLaren e
Alexander Albon na ainda Toro Rosso.
O pessoal esqueceu ou não sabe que Russell venceu os dois
últimos na F2, em 2018, mas por ser piloto Mercedes, coube a única vaga
disponível naquele momento, justamente a pior equipe do grid. Se não foi bom
porque não havia muito holofote, Russell de certa forma não teve tanta pressão
porque todos sabiam que ele não poderia fazer nada com a Williams, apenas
terminar a frente do companheiro de equipe.
E George fez em quase todas as oportunidades, tirando uma:
com desclassificações, coube a Robert Kubica, mesmo com uma mão só, fazer o
único ponto do time naquele ano. Os números são cruéis. Russell foi mais veloz,
terminou mais corridas e classificações a frente mas, no que importava, foi
derrotado, nos pontos.
Nada que abalasse a jornada do inglês, que todos viam grande
potencial, prejudicado por não ter equipamento para competir. Ao mesmo tempo,
rapidamente a Williams começou a evoluir, deixando de ser uma equipe familiar
para uma estrutura mais tradicional e sem nepotismo. Em 2020, agora com Latifi,
que ajudou a salvar o time com contribuições financeiras, a missão era a mesma:
impressionar e liderar.
Russell fez isso e até além. Constantemente colocou a equipe
no Q2. Estava tirando mais que o carro e a possibilidade de um domingo de
glória sempre se aproximava. No entanto, isso nunca vinha, seja por azar ou um
erro do piloto na Hora H, que se martirizava, como se nunca mais tivesse tal
possibilidade na vida.
A primeira grande chance surgiu quando Hamilton teve covid e
Russell, já devidamente no debate sobre ir pra Mercedes substituir Bottas, foi
para o lugar do heptacampeão. A essa altura, já estava certo que o inglês
ficaria mais um ano na Williams, mas era a possibilidade de provar um ponto.
Sem mal ter contato com o carro, Russell dominou Bottas e se
encaminhava para uma vitória consagradora e até constrangedora na estreia pela
Mercedes. Com que clima ele voltaria para a Williams? Aí, mais um azar:
problemas no carro, erros da Mercedes e uma corrida atribulada o fizeram somar
míseros dois pontos. Sensação de derrota, é claro, e também a sensação de que
faltava algo a mais para Russell: sorte. Afinal, sem ela, não se atravessa a
rua.
Voltando para a realidade da Williams com o gostinho de ter
sentido por dias a sensação de estar no topo do jogo, Russell precisava manter
o ritmo. A Williams segue melhorando e Russell continuou impressionando,mas o
que também não mudou foi o azar e a chance de pontuar, sempre com requintes de
crueldade. Até escrevi que faltava sorte para o britânico.
Tudo isso mudou na Hungria. Mais ou menos. Os pontos pela
Williams finalmente vieram, mas outra vez ele chegou atrás do companheiro que
ele domina e é muito superior. Na letra fria da classificação, lá estava
Russell atrás de Latifi. Como promover alguém para a Mercedes com essas
credenciais?
Na Bélgica, outra parte fundamental para a mudança de chave.
A chuva nivelou tudo e, com um acerto certeiro, Russell quase foi pole em Spa
com uma Williams. Nem no videogame é possível fazer isso, a não ser que esteja
no fácil. O que parecia uma sorte queimada no sábado, porque no domingo seria
presa fácil em condições normais, também virou outro golpe de sorte.
A não-corrida permitiu Russell manter o que fez no sábado e,
portanto, ir para o pódio com uma Williams. Foi o fantasma sendo exorcizado.
Além do desempenho, ali estava o resultado concreto: com uma Williams, Russell
pontuou, quase fez pole e fez pódio. Não há mais o que fazer diante desse
ponto.
E assim foi feito. Com muitos altos e baixos, passo a passo,
George Russell está definitivamente na Mercedes. Há uma sensação engraçada: ao
mesmo tempo em que o britânico corre sem pressão por simplesmente não ser obrigado
a vencer Lewis Hamilton, agora ele vai ter que encarar a pressão de estar
sempre entre os primeiros, onde muitas vezes um segundo ou terceiro lugar,
agora, não será celebrado como se fosse um título mundial igual em Spa.
É a velha história: subir e chegar no topo é muito
complicado, permanecer nele é mais difícil ainda. Agora, Russell vai conhecer
um lado que ele certamente não conhece, mesmo que ache que esteja preparado: a
pressão pelo topo e pela glória. Talento e tempo ele tem. Afinal, é o futuro da
Mercedes na categoria, nada menos que isso.
No inglês, a expressão “i died” é usada para reagir ao final
de uma história e quando alguém fica extremamente ansioso para fazer algo.
Para George Russell, a história com a Williams termina. Ele “morreu”,
ou no português, se matou para isso, para chegar nessa condição. Agora,
certamente há a ânsia para “morrer” ou se matar em uma nova aventura, com
certeza a mais saborosa da carreira.
Até!