domingo, 6 de dezembro de 2020

UM SUJEITO COM QUALIDADES

 

Foto: Getty Images

Eu nunca pensei que esse dia chegaria. Ele esteve perto algumas vezes, como na longínqua Malásia em 2012 ou mais recentemente agora, na Turquia. Bateu na trave. O importante era os pódios e bater o adversário, isso foi feito. Para o Bahrein, havia uma pequena chance. A largada foi boa e Sérgio Pérez pulava para segundo, atrás de Russell. Apesar do favoritismo de Verstappen e Bottas, que mais uma vez largou mal, havia a esperança de um bom resultado.

Eis que surge o inesperado inconsequente Charles Leclerc. Tentando ser mais rápido que o carro, foi otimista demais na manobra da curva 4 e bateu em Pérez, que rodou. Verstappen, tentando desviar dos dois, também bateu, juntamente com o monegasco. Na contra-mão, o mexicano cai para último e precisaria de uma corrida de recuperação para pontuar. A sorte após o azar começava aí. 

O primeiro porém: Leclerc foi inconsequente como a gente não via há tempos e faz parte do crescimento pois é jovem. Max, por outro lado, não está conseguindo capitalizar as oportunidades e mais uma vez se envolveu em um enrosco na primeira volta. Apesar de não ter como concorrer pelo título, penso que o holandês está devendo.

Voltando: graças ao Safety Car, Pérez conseguiu colocar os pneus médios e partir para uma nova estratégia, que era basicamente aguentar o quanto pudesse na pistacom o jogo de pneus e ver o que acontecia. Escalando posições, facilmente chegou na zona de pontuação. Com os carros de pneu macio parando cedo, o mexicano conseguiu se livrar de Albon e Ocon, que tinham estratégias semelhantes.

Ao contrário de Sainz e Ricciardo, que iriam para duas paradas, Pérez e as Mercedes foram para uma só. Ou duas, no caso do mexicano, contando com a primeira volta. O pneu duro seria até o final. Voltando para o nono lugar e com pneus novos e mais duráveis, parecia possível ao menos chegar em quinto, onde largou. Até que chegou o momento.

O estreante Jake Aitken, que vinha fazendo um bom papel até então, escapou na última curva e conseguiu evitar que a batida fosse fatal. Perdeu apenas a asa dianteira, que ficou no meio da pista. No entanto, em um circuito oval, não havia muito tempo para que os fiscais pudessem retirar o artefato com segurança e limpar a pista com a areia que entrou no traçado. E o que era para ser um Safety Car Virtual virou um Safety Car normal.

Absolutos, George Russell constrangia Bottas ao largar muito melhor e mostrar que estar na Williams é um desperdício. Bottas num carro de ponta é um desperdício e só mostra o quanto Hamilton não tem adversários nessa F1, mas a culpa não é dele, claro. De última hora, a Mercedes resolve trocar para os pneus médios para os dois. Uma falha no rádio faz com que os alemães peguem os pneus médios de Bottas e coloquem em Russell, percebendo o erro apenas na sequência pois o finlandês estava sem compostos para trocar e perdeu muito tempo no grid. No fim, teve que colocar os mesmos e não pode trocar para não ser desclassificado. Quando a fase não é boa...

O erro amador da Mercedes ainda fez com que Russell andasse com dois compostos diferentes e precisasse parar de novo, voltando atrás de Bottas. Enquanto o Virtual Safety Car tinha virado bandeira verde, antes do Safety Car, Sainz e Ricciardo também pararam nos boxes e abriram caminho para Pérez, que já havia superado Ocon e Stroll. O mexicano, que na primeira volta era último, estava na liderança.

Claro que seria momentânea. Russell, com pneus macios, estava ultrapassando todo mundo e já era o segundo. Estava tudo pronto para fazer história e estrear pontuando com o valor máximo (vitória e volta mais rápida) na estreia na Mercedes e substituindo Lewis Hamilton. Parecia. Quando já estava próximo do mexicano, o pneu furou, provavelmente por passar pelas zebras ou detritos da pista na hora de ultrapassar e o inglês mais uma vez teve um grande azar. Parece que Deus odeia o rapaz. Russell voltou para o pelotão intermediário e conseguiu os primeiros três pontos da carreira mas com sabor amargo, de choro. 

O inglês mostra que está pronto para o desafio de guiar um carro de ponta. Foi muito superior a Bottas e pode sim dar um pouco mais de desafio para o compatriota, talvez motivado por um novo desafio depois do hepta. No entanto, realmente, a Mercedes lhe tirou a vitória com erros inacreditáveis e uma pitada de azar. Lewis pode voltar semana que vem, o que seria ainda mais trágico: uma única chance em vão. Bottas deveria ter o contrato rescindido mas entra em 2021 como alguém já praticamente entregue, técnica e psicologicamente.

E o conto de fadas no deserto terminou com um final incrível: Sérgio Pérez, finalmente, venceu na Fórmula 1. A tensão foi até o final porque abandonou nas voltas finais na semana passada, mas agora isso não será mais lembrado. Uma corrida épica, saindo de último e superando todos os obstáculos que teve na temporada: Covid, um início ruim superado por Stroll, alguns pódios desperdiçados e o desempregado, preterido pelo filho do chefe que teve que engolir seco a vitória do mexicano. 2020 é um ano de reviravoltas e a trajetória de Checo esteve representada nesse contexto.

Os mecânicos o recebendo aos gritos de "Sérgio" e "Checo" é emblemático. No primeiro momento, foi o mexicano que salvou o emprego de todos quando Vijay Mallya foi definitivamente afastado, antes do Stroll pai fazer a compra. Mesmo que seja um absurdo (e é) sua provável ausência, ao menos para 2021, Checo sai por cima. Tem como último ato uma vitória e tem um ano inteiro sabático para atrair um projeto interessante para 2022, na última arrancada da carreira. Sabemos que é lamentável que Strolls, Mazepins e Latifis sejam escolhidos, mas Checo Pérez pode bater no peito e dizer que venceu e fez pódios apenas em equipes médias (Sauber e Force India/Racing Point - a primeira e última antes de se transformar em Aston Martin). Uma carreira linda no lado B da Fórmula 1.

Foto: Getty Images

Outro pódio histórico e surpreendente é de Esteban Ocon. Quem disse que não teve um piloto Mercedes lá no alto? Também contando com a sorte das paradas de Sainz e Ricciardo, o francês segurou a pressão do pelotão de trás e conquista o melhor resultado da Renault desde o retorno à F1, em 2016. Era um resultado necessário para ver se, agora, Ocon consegue se soltar mais. O desafio será ainda maior, contra o bicampeão Fernando Alonso que já estava de olho...

Stroll, com o mesmo carro, foi ultrapassado por Pérez e achou um terceiro lugar. Voltou a ter sorte e pontuar desde o outro pódio, em Monza. Sainz e Ricciardo bateram na trave. Sobre os estreantes: Aitken deu emoção a prova e fez seu papel, assim como Pietro, confirmado para o GP de Abu Dhabi. O ritmo de corrida não está nada bom, mas o que vale é a experiência de guiar em um grande prêmio, representando uma nação de 8 títulos e o avô, deve ser muito gratificante e prazerosa no final das contas.

A vitória de Sérgio Pérez mostra que a Fórmula 1, quando quer, é algo apaixonante e emocionante. O grande legado de 2020 foram as pistas e traçados diferentes. Fica uma pontinha para o futuro. Alguém sentiu falta de Hamilton? Infelizmente, a F1 quase não quer ser legal, emocionante e competitiva. Hoje, todavia, tivemos o conto de fadas rosa mexicano que teve drama, monomito e a reviravolta que todos esperavam.

Sérgio Pérez, ao contrário de Arnaldo, é um sujeito com qualidades. 

Confira a classificação final do GP de Sakhir:


Até!

sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

O QUE ESTÁ EM JOGO

 

Foto: Getty Images

Na quarta-feira, após o anúncio da Mercedes, escrevi que os alemães foram cautelosos e conservadores ao escolherem George Russell, o mais óbvio e fácil, para o lugar de Lewis Hamilton. Alguns dias depois e pensando mais sobre o tema, mudei de opinião. Não se trata de uma questão conservadora, muito pelo contrário: a Mercedes tomou uma decisão ousada e que pode impactar o curto-prazo.

Se fosse colocado alguém que não tivesse perspectivas de assumir o cockpit, seria um ambiente de tranqulidade para Bottas e a tentativa de uma redenção para Hulkenberg ou Vandoorne, dois dos especulados. Agora com Russell, piloto da Mercedes e candidato a piloto da equipe no futuro, está feita a prova, mesmo que o inglês não esteja adaptado ao carro de Hamilton: um bom desempenho pode lhe credenciar para a equipe principal mais rápido do que o imaginado.

Além disso, joga toda a pressão para Bottas em um contexto que é alto risco, baixa recompensa: ele é obrigado a vencer no Bahrein. Se fizer isso, será apenas uma obrigação. Do contrário, caso Russell consiga se sobressair com um bom desempenho, isso pode acarretar um futuro cada vez mais próximo do fim para o finlandês e um grande porém, mais do que já existe, sobre o nível de competição que Lewis Hamilton enfrentou desde 2017.

Em um circuito oval e curto, é difícil encontrar espaço. Bottas pareceu pressionado e não conseguiu encaixar uma volta limpa, embora tenha um stint superior, o que é normal e obrigatório. Russell, estrela do dia ao ser o mais rápido nos dois treinos, ainda pode evoluir com mais um treino e a classificação, mas o ritmo de corrida é inferior. Normal, afinal não está acostumado com esse carro.

Os outros estreantes foram bem decentes e tranquilos. Pietro Fittipaldi e Jake Aitken não comprometeram e, com quilometragem, têm tudo para fazer um final de semana seguro. No meio disso tudo, uma grande briga por espaço e posições na largada, onde um erro, uma distância ou um vácuo podem definir várias posições.

O Grande Prêmio de Sakhir é a grande corrida do ano: oval, sem Hamilton, pilotos estreantes e sem Grosjean para matar os outros ou a si, há muita coisa em jogo na noite quente do deserto de Sakhir.

Confira a classificação dos treinos livres do GP de Sakhir:



Até!


quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

GP DE SAKHIR: Programação

 O Grande Prêmio de Sakhir, em virtude da pandemia, foi uma adição da F1 no calendário utilizando o anel externo do circuito. Pela primeira vez, a F1 terá um circuito parecido com algo oval, com tempos de volta inferiores a um minuto.

Foto: Wikipédia


TUDO OU NADA

Foto: Motorsport



Após convocar uma coletiva de imprensa para falar sobre o futuro, Sérgio Pérez foi claro: ou ele vai para a Red Bull ou vai tirar um ano sabático do automobilismo em 2021.

É tudo ou nada. Ou vou para a Red Bull, ou me vou da Fórmula 1. Mas a Red Bull disse que vai tomar a decisão quando acabar a temporada. Meu plano B é tirar um ano sabático para considerar o que quero fazer da minha vida, da minha carreira e se posso retornar a outro projeto para 2022, talvez até parando definitivamente. Não quero tomar uma decisão apressada e, por isso, tiraria esse ano sabático”, afirmou.

O mexicano também disse que está negociando para ser piloto reserva de uma grande equipe e que inclusive já recebeu ofertas de equipes para a temporada 2022, quando um novo regulamento entra em vigor na F1.

“Está em discussão ser piloto reserva de uma grande equipe. Mas ainda estamos conversando porque não quero viajar a todas as corridas.

Já tenho opções para retornar à Fórmula 1 em 2022, por isso não quero me precipitar para tomar uma decisão ou falar de outras categorias. Não me afetaria ficar um ano fora da F1. Em 100 ou 200 voltas, com certeza estaria adaptado. E mais, tendo em conta que haverá um novo regulamento, todos nós começaríamos do zero”, completou.

Do jeito que está falando, Pérez está bem confiante e tranquilo quanto ao futuro. É um bom piloto. Quem sabe, em outro contexto, possa esperar por 2022 ou ainda batalhar para convencer Helmut Marko e Christian Horner. Além de bom piloto, tem o aporte de Carlos Slim, o que ninguém pode jogar fora em um período de pandemia. 

Pérez merece essa vaga ou um carro competitivo. Sozinho, está guiando a Racing Point entre os primeiros nos construtores, mesmo com covid e tudo. Como diz o auditório aquele: "ele merece, ele merece!".

A ÚLTIMA DANÇA?

Foto: Divulgação


Apesar de ainda hospitalizado e se recuperando das queimaduras na mão causadas pelo acidente de domingo, Romain Grosjean não quer que a explosão e a luta pela sobrevivência sejam sua última imagem na categoria.

Em entrevista para a TV francesa onde também falou sobre a batida, o francês deixou claro que vai fazer o possível para se recuperar e disputar a última corrida pela Haas na semana que vem, em Abu Dhabi.

“Eu diria que existe uma sensação de felicidade por estar vivo, de ver as coisas diferente. Mas também tem a necessidade de voltar ao carro, se possível em Abu Dhabi, para terminar a minha história na F1 de uma maneira diferente”, disse.

A Haas confirmou Pietro Fittipaldi apenas para o GP do Sakhir do final de semana, por enquanto. Tecnicamente, ainda há possibilidade. Sinceramente, não sei. Ter como última imagem sobreviver a um acidente incrível pode ser bom para assimilar os traumas que isso causa, ao mesmo tempo que todo esportista ainda quer tentar de novo e ao menos encerrar o ciclo.

Seja lá o que for, Grosjean sairia por cima com qualquer uma das decisões. O importante é que sobreviveu.

CLASSIFICAÇÃO:
1 - Lewis Hamilton (Mercedes) - 332 pontos
2 - Valtteri Bottas (Mercedes) - 201 pontos
3 - Max Verstappen (Red Bull) - 189 pontos
4 - Daniel Ricciardo (Renault) - 102 pontos
5 - Sérgio Pérez (Racing Point) - 100 pontos
6 - Charles Leclerc (Ferrari) - 98 pontos
7 - Lando Norris (McLaren) - 86 pontos
8 - Carlos Sainz Jr (McLaren) - 85 pontos
9 - Alexander Albon (Red Bull) - 85 pontos
10- Pierre Gasly (Alpha Tauri) - 71 pontos
11- Lance Stroll (Racing Point) - 59 pontos
12- Esteban Ocon (Renault) - 42 pontos
13- Sebastian Vettel (Ferrari) - 33 pontos
14- Daniil Kvyat (Alpha Tauri) - 26 pontos
15- Nico Hulkenberg (Racing Point) - 10 pontos
16- Kimi Raikkonen (Alfa Romeo) - 4 pontos
17- Antonio Giovinazzi (Alfa Romeo) - 4 pontos
18- Romain Grosjean (Haas) - 2 pontos
19- Kevin Magnussen (Haas) - 1 ponto

CONSTRUTORES:
1 - Mercedes - 533 pontos
2 - Red Bull Honda - 274 pontos
3 - McLaren Renault - 171 pontos
4 - Racing Point Mercedes - 154 pontos
5 - Renault - 144 pontos
6 - Ferrari - 131 pontos
7 - Alpha Tauri Honda - 97 pontos
8 - Alfa Romeo Ferrari - 8 pontos
9 - Haas Ferrari - 3 pontos

TRANSMISSÃO:







quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

CAUTELA E OUSADIA

 

Foto: Getty Images


A Mercedes optou pelo caminho mais conservador. Talvez esse seja o segredo dos vencedores: o pragmatismo quando necessário. Os alemães escolheram George Russell, da academia da equipe, como o substituto de Lewis Hamilton para o GP de Sakhir e talvez até na semana que vem, em Abu Dhabi.

Gostaria de ver Hulk ou até mesmo o renascimento de Vandoorne em uma corrida, mas a F1 deixa claro: tirando a Haas, o piloto reserva não serve para nada. No entanto, finalmente a Mercedes vai utilizar alguém de sua academia na equipe principal depois de escantear Wehrlein e Ocon.

Para o inglês, é uma grande oportunidade de finalmente pontuar e acabar com esse trauma psicológico que tanto lhe incomoda. Com o melhor carro do grid, certamente não vai ser apto, em tese, a desafiar Bottas, pelo pouco tempo de adaptação apesar de já ter feito alguns testes como piloto Mercedes.

Não entanto, não deixa de ser uma observação para o futuro: se Russell for bem, certamente estará dando um passo ou para substituir Hamilton ou até mesmo para pegar o lugar de Bottas. A pressão está toda com o finlandês e 2021 pode ser a chance final.

Foto: Divulgação/Williams

No efeito dominó, a Williams anunciou pouco depois que Jake Aitken será o substituto de Russell e, junto de Pietro Fitipaldi, vai fazer a estreia na F1. O inglês de 25 anos disputou a F2 pela Campos e se juntou a equipe de Grove no início do ano. Na sorte, ganha uma chance, tal qual Roberto Merhi e o outro inglês da Marussia que esqueci o nome (lembrei: Will Stevens). Certamente é a pior dupla da história da Williams, que busca uma reestruturação. É o velho papo: se não bater tá bom.

Foto: Getty Images

Mais um dia agitado na Haas. No mesmo instante onde Romain Grosjean dava alta do hospital, a Haas anunciou que Mick Schumacher, o filho do homem, será o parceiro de Nikita Mazepin em 2021. Foi mais rápido que imaginei. Esperava que isso fosse oficializado após a decisão da F2, mas isso enterra definitivamente as chances do inglês Callium Ilott.

Depois de uma primeira temporada abaixo do que se esperava, Mick evoluiu ao ponto de ser virtual campeão da F2. Não é para qualquer um, mesmo com o hype do sobrenome. Não deixa de ser um momento histórico mais um familiar de um grande nome da F1 entrar no automobilismo. Depois de Fittipaldi, o terceiro Schumacher. Como fã do Michael, fico muito feliz com o anúncio e a simbologia.

Olhando para a pista, a Haas aposta em dois novatos pensando no novo regulamento de 2022. Ou seja: 2021 será para aclimatação dos jovens. O carro é um dos piores, portanto não há o que esperar. Se ambos não baterem ou cometerem muitos erros, já vão estar dentro da margem. A Haas, que desperdiçou anos com uma dupla experiente, agora vai para o outro extremo: arrisca com dois jovens; o bilionário aporte do Nikita pai e o apoio da Ferrari com o sobrenome Schumacher.

Enquanto a Mercedes optou pela cautela, entendendo sua posição como dona do campinho, a Haas vai para o tudo ou nada no médio prazo. Não há o que perder (pelo contrário: vai receber 40 milhões de dólares anuais dos russos). Extremos que explicam a diferença de camada de cada um dos dois. E a Williams? Bem, ela faz o que pode, não?

Até!




terça-feira, 1 de dezembro de 2020

O BAFO DO DESERTO

 

Foto: Getty Images

Com o perdão do trocadilho, mas as coisas estão quentes lá no Bahrein. Além do deserto e do acidente de Grosjean, as notícias não param. Depois de Pietro Fittipaldi substituir o francês na Haas, agora o trono da Mercedes está vago possivelmente até o fim do ano.

Lewis Hamilton foi diagnosticado com covid-19 e está fora do GP do Sakhir, possivelmente pode também se ausentar do GP de Abu Dhabi e, assim, ter encerrada sua participação na temporada 2020.

Seu substituto? Ainda é um mistério. Os candidatos naturais: George Russell, piloto da Williams que está na Mercedes; Stoffel Vandoorne, o belga piloto reserva da Mercedes que está na Espanha fazendo testes pela Fórmula E e, como sempre, Nico Hulkenberg, o coringa alemão.

É bom que fique claro que o substituto de Lewis dificilmente vai fazer frente a Valtteri Bottas. Por mais que os três estejam em atividade, a adaptação em um carro, sobretudo de ponta, é complicada. Mesmo que o finlandês não esteja nada bem, o tempo lhe ajuda, por mais que o GP de Sakhir tenha a particularidade de ser praticamente um oval e, portanto, talvez menos desgastante para os pilotos.

Além do mais, ninguém realmente conhece o traçado e como serão os comportamentos dos carros. Está todo mundo na mesma nesse oval. Pietro e o outro substituto podem capitalizar diante disso.

Se Russell for realocado para a Mercedes, a Williams teria que encontrar outro piloto. Me parece improvável. Hulkenberg, se estiver em negociação com a Red Bull, também é carta fora do baralho. Sobra o belga Vandoorne, outrora promessa do automobilismo que naufragou com a McLaren Honda e não teve segunda chance. Seria redentor para a carreira ter a possibilidade de fazer um bom resultado com o melhor carro do grid. Vai que não surja algo para o futuro talvez?

Sem Hamilton e num oval, o GP de Sakhir promete ser o mais equilibrado e emocionante da temporada, típico de ovais e suas incertezas. Quem ganha é o fã que, além do mais, vai ter um horário super agradável para assistir por aqui, apesar do título estar definido.

Foto: Getty Images

E o que era esperado aconteceu. Com o aporte bilionário do pai, que vai despejar 40 milhões de dólares por ano, a Haas anunciou Nikita Mazepin como um dos pilotos da equipe para 2021. O outro será Mick Schumacher, que será oficialmente anunciado assim que se sagrar campeão da F2.

Nas próximas semanas eu prometo fazer um post mais detalhado da carreira do bilionário russo, mas a ascensão desse psicopata só mostra como o automobilismo perde e como esse não se importa em ter virado um espaço para lavagem de dinheiro e hobby de bilionários, onde todo o resto não importa. O dinheiro pode fabricar até resultados razoáveis, mas não dá para julgar a Haas. Eles fizeram a escolha deles, como diria Galvão.

Com a pandemia, os gastos e a falta de resultado, é necessária uma alternativa para sobreviver a não ser a venda do time. Esse foi o caminho escolhido. Se vai dar certo eu não sei, mas Nikita (não o da música de Elton John) será o quarto russo da categoria, provavelmente substituindo Daniil Kvyat nessa empreitada em 2021.

E seguimos no aguardo de mais abafamento no Bahrein. A semana por lá está quente!

segunda-feira, 30 de novembro de 2020

A CHANCE DE PIETRO

 

Foto: Divulgação/Haas


Como consequência do acidente das mãos queimadas de Romain Grosjean, a Haas rapidamente tomou uma atitude e anunciou que o brasileiro Pietro Fittipaldi será seu substituto, a princípio, apenas para a etapa do GP do Sakhir do próximo final de semana.

Chama a atenção essa cautela otimista de se pensar em uma rápida recuperação do francês para Abu Dhabi, considerando que Grosjean não permanece na F1 no ano que vem e provavelmente teve sua última imagem no esporte saindo de um carro em chamas e pulando em um guard rail. Sem muito o que pensar, a Haas toma uma decisão coerente: se tem o brasileiro e Déletraz como pilotos reservas e surge a oportunidade, não faria sentido contratar Hulkenberg, até porque o carro americano não permite grandes voos.

É um prêmio aos serviços do brasileiro na equipe. Reserva há muitos anos, Pietro parece fora da disputa dos dois carros da equipe para o ano que vem, cujo favoritismo é do bilionário Mazepin e de Mick Schumacher. Convenhamos que o brasileiro também não fez por merecer estar nessa posição, muito em virtude do sobrenome que carrega e a baixa competição que teve na já decadente World Series onde foi campeão, em 2017, e lhe deu boa parte dos pontos necessários da superlicença.

É a grande chance de Pietro. O brasileiro deu sorte também que a próxima etapa será em um oval e não terá tantas exigências de curva para alguém que não guia um carro em competição desde fevereiro e um F1 desde 2019. Vai ser algo mais semelhante a Nascar e a Indy que ele iniciou a carreira e fez algumas participações nos anos anteriores.

Tudo joga contra: o carro, o tempo de inatividade, mas a sorte de Pietro é que nessa pista todo mundo vai ser um estreante, o que pode nivelar a competição. Se não bater e não fazer muito feio, já será um grande resultado. E assim o Brasil volta ao grid da F1, mesmo que por duas corridas talvez, depois de três anos.

Até!

domingo, 29 de novembro de 2020

QUASE TUDO IGUAL

 

Foto: Reprodução/F1

Pela primeira vez (ou talvez segunda), uma geração de telespectadores teve a sensação de estar testemunhando a morte de um piloto ao vivo durante uma corrida, justamente quando a F1 parece mais segura a esse tipo de fatalidade.

O acidente de Jules Bianchi não foi televisionado e, a primeira vista, não parecia grave. Me referi a grave batida de Robert Kubica em 2007, em Montreal, quando capotou várias vezes e desmaiou no carro. Eu pensei que tinha morrido, mas no final das contas teve apenas um tornozelo quebrado.

Hoje, Grosjean fez mais uma das suas trapalhadas que, de novo, quase causaram sua morte. Ninguém esquece de suas batidas, a largada na Bélgica em 2012 e o cavalo de pau que ele deu na largada de Barcelona e quando tentou dar a volta com metade do grid atrás. Hoje, talvez por não enxergar no ponto cego ou simplesmente não ver os retrovisores, foi no meio de Kvyat e bateu reto no guard-rail.

Uma explosão. Fazia tempo que um carro não explodia assim. Parecia filme de ação. A TV não mostrou os detalhes no primeiro momento e sempre faz isso quando algo parece ser gravíssimo. A impressão era de morte, ou no mínimo o francês estava bem passado. 

Foto: Getty Images

Depois, com a recuperação das imagens, deu para entender a sequência dos acontecimentos. O mais impressionante é que a Haas atravessou o guard-rail, teve vazamento da gasolina e o carro ficou partido em dois. Como Grosjean não ficou dividido também? Tudo bem que a célula de sobrevivência é feita para maximizar o impacto, mas como um carro desses passa no crash test? E como um guard rail desses permite que um carro a 200 o atravesse?

A explosão à la Berger em 1989 e o carro no guard rail à la François Cevert e Koinigg juntaram e parecia um acidente que deformaria o corpo do francês que milagrosamente sobreviveu graças aos aparatos de segurança, o macacão anti-chamas, a rápida ação das pessoas que fazem parte do carro médico, a destreza do francês, na adrenalina, além do próprio Halo. Hoje sim ele evitou que a cabeça de Grosjean virasse uma almôndega.

Os fiscais estavam visivelmente despreparados, mas alguns conseguiram identificar que Grosjean, saindo pela lateral, pulava o guard rail enquanto pegava fogo num último espasmo para depois ser levado ao hospital. O francês misturou diversos acidentes fatais da história do automobilismo e só não teve o mesmo fim por pura e simplesmente sorte, além da tecnologia.

Foto: Reuters

Grosjean está no hospital em observação e teve queimaduras nas mãos. Suas chances de terminar a temporada são pequenas, visto as lesões e até o próprio trauma psicológico que isso deve demandar. O francês sempre mostrou ter medo dos ovais da Indy e tem filhos pequenos. Talvez isso tenha sido um sinal de que o automobilismo acabou para ele. Dito isso, a culpa do acidente foi do francês e ele quase foi vítima de sua própria inconsequência.

Até os próprios pilotos voltaram a se dar conta que sim, o automobilismo é perigoso e pode te tirar daqui em um instante. A sensação de segurança e a falta de limites que isso implica serão abordados em outro texto, mas é nítido que processar tudo isso teve um abalo emocional em todos. De repente, estar vivo e saudável era a grande vitória de cada um.

Na relargada, a bruxa parecia solta e Kvyat, envolvido indiretamente na quase morte de Grosjean, fez Stroll capotar. O canadense anda numa zica que eu fiquei triste por uns dois segundos e passou, mas eu seria castigado no fim, para variar. 

Sobre a corrida? A péssima largada de Bottas e seu azar ficaram em segundo plano, mas mais uma vez é inclassificável esse cara ser o grande adversário de Hamilton, que venceu sem fazer muita força com Max Verstappen em segundo. Sérgio Pérez vinha para mais um pódio tranquilo quando o motor Mercedes explodiu no final. O mexicano é uma das pessoas mais injustiçadas do mundo e deve anunciar amanhã que não estará na F1 em 2021. O pódio caiu de paraquedas para Albon. Sua situação não muda muito mas ao menos ganhou mais um troféu para a coleção.

Os destaques ficaram com a dupla da McLaren, que soube capitalizar as oportunidades recebidas, Pierre Gasly, a combativa dupla da Renault e Charles Leclerc, que fez o possível.

Hoje, o resultado foi o que menos importou. Onde tudo foi quase igual, o banal de viver precisou ser celebrado pelas circunstâncias, e é isso que realmente importa.

Confira a classificação final do GP do Bahrein:



Até!