segunda-feira, 14 de setembro de 2020

O CLUBE DOS 10

 

Foto: Getty Images

Aos poucos, os detalhes do novo Pacto de Concórdia, que será valido a partir do ano que vem até 2025, começam a aparecer. E uma delas é bem preocupante.

Ficou acordado que, se uma nova equipe quiser adentrar na F1, ela terá que simplesmente pagar 200 milhões de dólares para as outras equipes, onde cada uma ficaria com 20 milhões. É isso mesmo: 200 milhões. 

O recado é claro: não vai entrar ninguém. Esqueçam. A F1 não é um negócio vantajoso para as montadoras. Essas estão na Fórmula E, muito mais barata e "ecologicamente correta e sustentável". É claro que o objetivo também é aumentar o valor das equipes que atualmente estão lá, mas não deixa de ser uma medida lamentável, que transforma a F1 num clubinho de dez equipes e poucos donos.

Vamos lá: temos Mercedes, Renault, Red Bull e Ferrari, basicamente. Os alemães terão influência na ainda "independente" McLaren e na agora corporação Williams, os franceses continuam solitários mas já mudaram o nome para o ano que vem prevendo as dificuldades financeiras que existem num mundo durante/pós-pandemia, os taurinos têm a Alpha Tauri e a Ferrari tem tentáculos na Alfa Romeo e Haas.

Esqueçam a entrada de novas equipes, um grid maior, que seja capaz de colocar mais pilotos talentosos no grid. Isso não vai acontecer. Foi assinada essa reserva de mercado. É um péssimo modelo de negócio que só pode ser quebrado, talvez, com uma medida: se uma Mercedes ou Renault pularem fora do barco.

Mesmo assim, considero difícil que algo seja feito. É mais provável que todo mundo tenha um terceiro carro do que a entrada de novas equipes. 

É a F1 em mais um estágio avançado no processo de DTMitização. É mais um golpe no que virou o futuro, agora mais presente, do automobilismo: em breve, uma equipe ou duas vão dominar o grid inteiro, mas tem gente que não vai achar diferença alguma. Afinal, quanto mais Ferrari e Mercedes melhor, certo? Quem se importa com uma garagista nanica se arrastando no final do grid e atrapalhando o espetáculo?

São os tempos modernos. Algo precisa ser feito. Se nem uma pandemia evitou tudo isso, o que será necessário?

Até!

domingo, 13 de setembro de 2020

90%

 

Foto: Getty Images

Vida longa aos circuitos clássicos, com brita. Um erro e já era. No desconhecido (para a F1) circuito de Mugello, o traçado estreito prometia na largada e durante a corrida. E foi exatamente o que aconteceu.

Bottas tinha finalmente conseguido uma boa largada e assumido a liderança quando, lá no miolo, Verstappen e Gasly se envolveram num enrosco e acabaram fora. Verstappen atolou na brita, sem chances de reação. Para o francês, mostra como tudo muda em uma semana: da vitória a eliminação no Q1 e batida na primeira volta. Depois de Monza, tem infinito crédito.

Eis que Bottas na relargada, resolve acelerar e desacelerar e causou um big-one lá atrás. Após 9 voltas sem qualquer disputa, bandeira vermelha e mais uma vez a corrida paralisada. 

O finlandês sequer conseguiu aproveitar a vantagem porque, na terceira relargada (a segunda parada), Hamilton retornou para a liderança. Sem Verstappen, Stroll parecia o candidato a pódio porque Albon também não largou bem, com Ricciardo correndo por fora. Enquanto isso, Leclerc caía para o fim do grid e Vettel brigava com o carro. No milésimo GP da Ferrari, o que valeu mesmo foi Mick Schumacher, agora líder da F2, andando no F2004 do pai.

Tudo parecia encaminhado lá na frente quando a suspensão de Stroll quebra e o canadense bate forte na barreira de pneus. Mais uma bandeira vermelha. Uma corrida caótica desde Brasil 2003 e Canadá 2011, nesse sentido, apesar de Hockenheim no ano passado ter sido animada também. Essa é a vantagem de ter brita em um circuito desconhecido. Mugello pode muito bem substituir algum circuito insosso como Paul Ricard, Barcelona ou algo do tipo que todo mundo agradeceria. Se a F1 não tem competitividade, ao menos esse traçado oferece alguma emoção, caos e aleatoriedade. 

Bottas, que rezava por um Safety Car para tentar atacar Hamilton, de novo perdeu posição para Ricciardo. O que Hamilton fez hoje foi bullying: quando o finlandês se aproximou, ele aumentou o ritmo para não ser mais pego. 

Na briga pelo pódio, mostrando como o mundo gira, Albon surgiu das cinzas, passou Ricciardo e assegurou o primeiro pódio da carreira. Momento mais oportuno impossível. A pressão é grande depois do feito de Gasly. É bem verdade que o primeiro tailandês da história a subir no pódio só consegue disputar algo na frente quando Max está fora, mas pelo menos desta vez ele largou ao lado. Fez duas largadas ruins mas conseguiu evoluir. É um sopro importante nesse contexto de pressão. Ainda assim, é muito legal ver o esforço recompensado. Deve ser uma emoção indescritível.

Foto: Getty Images

Na corrida de sobrevivência com 12 carros, Kvyat desabrochou, Leclerc fez o que pode e Raikkonen, mesmo com cinco segundos de punição, conseguiu superar Vettel. Traído pela bandeira vermelha, Russell perdeu grande chance de pontuar pela primeira vez. Que pecado.

Sem adversários (e com a cara de pau de criticar Albon e Red Bull), Lewis Hamilton venceu pela nonagésima vez, fez seu protesto importantíssimo diante da posição e condição que ostenta e se encaminha para mais recordes quebrados. Na vitória número 90, Lewis tem no mínimo já 90% do caminho andado para o heptacampeonato. Diga o nome dele.

Confira a classificação final do GP da Toscana:


Até!

sexta-feira, 11 de setembro de 2020

SUBSTITUIÇÃO

 

Foto: Getty Images

Deu o óbvio: a Aston Martin, agora uma equipe com grife e dinheiro, contratou a grife Sebastian Vettel e mandou Sérgio Pérez pastar no final da temporada. É claro que o filho do dono permanece no time.

Apesar da decadência, é legal ver o nome do tetracampeão encabeçando um projeto com dinheiro, grife e bons resultados nas últimas temporadas. Muito melhor do que sair da F1 pela porta dos fundos na Ferrari em uma relação que tornou-se tóxica nas duas últimas temporadas, Seb tem a última chance da carreira liderando uma equipe emergente com um porém: decadente e com o filho do dono ali... se ele supera um tetracampeão, garanto que vai ter um monte de leigo acreditando que ele realmente é um bom piloto.

Para o mexicano, é um duro golpe. Também foi demitido pelo telefone de uma equipe que ele no primeiro momento ajudou a não falir e conquistou inúmeros pódios com pouquíssimo orçamento. Apesar de não fazer uma boa temporada, merecia mais consideração, no mínimo. Com as portas fechadas, basicamente encerra-se as possibilidades de Pérez conseguir algum protagonismo na carreira.

Sendo um bom piloto e carregando muito dinheiro de Carlos Slim, resta para ele duas alternativas: Haas ou Alfa Romeo, sendo o panorama da primeira mais favorável, até em virtude da Haas ser uma equipe estadunidense e a Alfa ser muito mais um puxadinho da Ferrari do que o time de Gene.

Foto: Getty Images

Em Mugello, onde acontece a milésima corrida da Ferrari na F1 (cujo carro é muito bonito e lembra a Roma rsrs), é muito legal ver um circuito antigo ainda com brita. Qualquer erro pode ser fatal e Lando Norris entendeu isso. Apesar de ser uma pista estreita igual Suzuka, as expectativas para essa corrida são altas justamente por isso, além do fato de ninguém conhecer o circuito ou de como será o comportamento dos carros durante 59 voltas.

Nos treinos livres, Bottas foi o mais rápido em ambos e mostra, é claro, o favoritismo da Mercedes. Pérez, em fase nada iluminada, bateu em Raikkonen na saída dos boxes e deve ser punido com perda de posições no grid. É o momento...

Para a Ferrari, apesar do clima festivo, a torcida é que não seja um vexame essa corrida histórica. E o que não seria uma vexame? Diante das circunstâncias, os dois pilotos pontuando seria ótimo.

Confira os tempos dos treinos livres para o GP da Toscana:




quinta-feira, 10 de setembro de 2020

GP DA TOSCANA: Programação

 O Autódromo Internazionale di Mugello fica localizado na Itália, 30 km a nordeste de Florença.

Existe desde 1914. De 1989 a 1991 remodelado pela Ferrari, sua proprietária, que a usa como pista de testes. Atualmente possui 5 245 m, 15 curvas e uma longa reta de 1 141 m. Há também uma versão mais curta com 7 curvas.

O circuito foi usado na Temporada 2012 da Fórmula 1 em testes realizados de 1 a 3 de maio por todas as equipes e agora, pela primeira vez, vai sediar um Grande Prêmio de Fórmula 1.

Foto: Wikipédia

LONGEVIDADE

Foto: Grande Prêmio

Essa é a palavra que pode definir a gestão de Gunther Steiner enquanto chefe da equipe da Haas, desde 2016. Afinal, desde 2017 a dupla de pilotos é a mesma (Magnussen e Grosjean), embora já há alguns anos uma troca poderia ter sido feita.

Sobre esse assunto, o chefão da Haas disse que sequer conversou com Gene Haas sobre a dupla de pilotos para o ano que vem, mas deixou claro que deseja continuidade: a dupla de 2021 deverá ser a mesma de 2022.

“Tudo está na mesa para o ano que vem, porque a única coisa que gostaria, e vou falar sobre isso com Gene [Haas, dono da equipe] nas próximas semanas e meses, é como vamos fazer nosso melhor. Então, vamos ver o que é melhor para nós. Mas uma coisa, na minha opinião, precisamos fazer: quem estiver no carro em 2021 deve estar no carro em 2022.

Porque, com um carro novo a caminho, se você conhece seu piloto, pelo menos você já resolveu alguma coisa. Quem quer que seja, mesmo que sejam esses caras que estão correndo agora, e caso eles fiquem, devem ficar por pelo menos os próximos dois anos.

Sou contra a troca antes de 2022. Com um carro novo e um novo piloto, isso pode ficar complicado. É a única coisa que posso dizer, o restante está aberto. Não tenho ideia ainda de quem vai pilotar o carro em 2021 e 2022", disse em entrevista para a Sky Sports.

Na semana passada, o chefão disse estar interessado em um dos jovens pilotos da academia da Ferrari para ocupar esse cargo: Callium Ilott, Robert Shwartzman e Mick Schumacher disputam o título da F2. Diante de todas as hipóteses, partindo do pressuposto da continuidade e de uma das vagas sendo de um jovem, é fundamental um piloto mais experiente do lado.

Magnussen até poderia permanecer, mas Pérez e Hulkenberg podem ser grandes candidatos para ajudar a tentar erguer o time americano. É aquilo: Steiner, dessa vez, precisa acertar os tiros. Do contrário, é ele e a Haas que podem sangrar por mais duas temporadas.

MAIS MUDANÇAS

Foto: Divulgação/Williams


Após a venda da Williams para a Dorilton Capital e a saída da família Williams do comando da equipe, a agora "nova Williams" segue com alterações.

Com a saída de Claire, os ingleses possuem um novo chefão interino: Simon Roberts. Ele chegou na Williams em junho, mas está na F1 desde 2003, quando chegou na McLaren. Com uma rápida passagem na Force India, retornou para woking e ficou até junho, quando assumiu a gerência da Williams.

Mike O'Driscoll anunciou aposentadoria. Ele era CEO da Williams. Membro do conselho administrativo desde 2011, era diretor executivo desde 2017. O'Driscoll irá permanecer na Williams até o fim do ano e promete ajudar a Dorilton Capital nesse processo de transição, agora que assumiram a equipe.

É natural. Quando surge uma venda e uma mudança de direção, as mudanças surgem, algumas mais rápidas e outras nem tanto até que a organização fique de acordo com a preferência dos donos. A questão é que os administadores não entendem nada de automobilismo. Por outro lado, é difícil que a Williams fique tão pior assim. Agora é esperar, com um pouco de apreensão, porque não é mais uma empresa familiar, e sim um negócio.

Como quase nada na F1 dá dinheiro, não sei até quando vai durar essa empreitada. Aguardemos.

CLASSIFICAÇÃO:
1 - Lewis Hamilton (Mercedes) - 164 pontos
2 - Valtteri Bottas (Mercedes) - 117 pontos
3 - Max Verstappen (Red Bull) - 110 pontos
4 - Lance Stroll (Racing Point) - 57 pontos
5 - Lando Norris (McLaren) - 57 pontos
6 - Alexander Albon (Red Bull) - 48 pontos
7 - Charles Leclerc (Ferrari) - 45 pontos
8 - Pierre Gasly (Alpha Tauri) - 43 pontos
9 - Carlos Sainz Jr (McLaren) - 41 pontos
10- Daniel Ricciardo (Renault) - 41 pontos
11- Sérgio Pérez (Racing Point) - 34 pontos
12- Esteban Ocon (Renault) - 30 pontos
13- Sebastian Vettel (Ferrari) - 16 pontos
14- Nico Hulkenberg (Racing Point) - 6 pontos
15- Daniil Kvyat (Alpha Tauri) - 4 pontos
16- Antonio Giovinazzi (Alfa Romeo) - 2 pontos
17- Kevin Magnussen (Haas) - 1 ponto

CONSTRUTORES:
1 - Mercedes - 281 pontos
2 - Red Bull Honda - 158 pontos
3 - McLaren Renault - 98 pontos
4 - Racing Point Mercedes - 82 pontos
5 - Renault - 71 pontos
6 - Ferrari - 61 pontos
7 - Alpha Tauri Honda - 47 pontos
8 - Alfa Romeo Ferrari - 2 pontos
9 - Haas Ferrari - 1 ponto

TRANSMISSÃO







terça-feira, 8 de setembro de 2020

CARAS NOVAS?

 

Foto: Getty Images

Nessa semana tivemos anúncios de "novidades" na Fórmula 1. A Williams, vendida para a Dorilton Capital, encerra um capítulo enquanto negócio familiar e garagista que acontecia desde os anos 1970. Com isso, definitivamente, encerra-se uma era na categoria. O fim de Frank e Claire e a terceira maior equipe da história do Mundial. 

Convenhamos, a Williams do jeito que conhecíamos acabou em 2005, quando não quis ser vendida para a BMW. Dali em diante, a decadência foi cada vez maior, exceção pela solitária e inesperada vitória de Maldonado em 2012 e as temporadas de 2014, 2015 e 2016 onde a Williams, beneficiada pelo potente motor Mercedes, conseguiu alguns pódios e poles até o fim definitivo.

Agora, a empresa Williams é controlada pela americana Dorilton Capital, um fundo de investimento comandado por Matthew Savage. Além dele, a equipe será comandada por Darren Fultz e James Matthews na direção. Matthews, por curiosidade, é ex-piloto e cunhado da Duquesa de Cambridge.

Algumas mudanças já foram feitas: Claire Williams deixou a chefia da equipe e o CEO, Mike O'Driscoll, vai se aposentar no final do ano. Simon Roberts vai ocupar o primeiro cargo interinamente. Vale notar que o contrato dos dois pilotos foi renovado antes da venda do time.

Fundo de investimento são geridos por várias pessoas. Não é fácil corrupção ou lavagem de dinheiro por lá, em tese. Ou seja, se compraram é porque acreditam que a Williams pode dar lucro no futuro. Na F1, isso é muito complicado. Sendo realista, a questão é saber por quanto tempo essa empresa vai aguentar gerir uma equipe de Fórmula 1 que, apesar de histórica, vive na rabeira do grid e sem perspectivas de lucro, mesmo com a ajuda de Latifi pai. Vejo com bastante desconfiança esse novo "capítulo" de Grove, infelizmente.

Foto: Quatro Rodas

No domingo, a Renault anunciou que vai mudar de nome para a próxima temporada. Em 2021, vai passar a ser Alpine F1 Team. Mas o que diabos seria isso? 

Inicialmente, a Alpine foi criada em 1954 como uma fabricante francesa de carros esportivos, fundada por Jean Redélé, proprietário de um dos poucos carros franceses que fazia sucesso no automobilismo após a Segunda Guerra Mundial, o Renault 4CV. A empresa comprou a Alpine em 1973. 

A Alpine foi campeã mundial de Rali em 1973, com seu modelo mais famoso, o Alpine A110 e o A442 venceu as 24 Horas de Le Mans, na última vez que um Alpine participou de corridas. Na época, já foi escrito como um Renault-Alpine. Com o passar do tempo, a empresa foi absorvida pela Renault e transformou-se em um carro esportivo, não mais de competição. 


Alpine A442b, com Didier Pironi no volante, venceu as 24 horas de Le Mans em 1978. Foto: Getty Images











Atualmente, a Alpine está na LMP2 do Mundial de Endurance, sendo recentemente campeã com o brasileiro André Negrão como um de seus pilotos.

De acordo com um comunicado, o objetivo é "acelerar o desenvolvimento e influência da marca". O processo de reestruturação é liderado por Luca De Meo, novo CEO. Vale lembrar que, recentemente, a Renault se viu em um escândalo com a prisão do ex-presidente, o líbano-brasileiro Carlos Ghosn. Além do mais, os franceses tiveram muitos prejuízos em virtude da pandemia, precisando demitir milhares de funcionários e colocando em risco a permanência na categoria.

Bom, mesmo assinado até 2025, a mudança de um nome histórico na F1 para de uma marca importante no automobilismo francês possa ser indício de que as coisas não estão fáceis por lá. Tecnicamente falando, a terceira passagem da Renault na F1 encerra-se no fim do ano como um grande fracasso. Até lá, é possível que nenhum pódio tenha sido atingido. Muito pouco para uma equipe de fábrica. 

Basicamente, o nome Alpine tem o mesmo peso de Alfa Romeo na antiga Sauber: apenas uma mudança de nomenclatura para fins comerciais. 

Ou seja: Fernando Alonso não vai ter sua terceira passagem na Renault, e sim seus dois últimos anos de carreira na Alpine F1 Team. Impossível não associar ao nome do famoso chocolate. Esperamos que não seja um carro docinho.

Até!

segunda-feira, 7 de setembro de 2020

A QUESTÃO RED BULL: Parte 3

 

Foto: Alpha Tauri

O que estava ficando evidente definitivamente ficou óbvio ontem, com a histórica vitória de Pierre Gasly no Grande Prêmio da Itália. A premissa é simples: o segundo carro da Red Bull é uma bomba, independente de quem pilote e, com essa política de priorizar um talento e queimar todo o resto, isso é um desperdício de tempo e dinheiro da equipe dos energéticos.

Um ano atrás, todos nós descemos a lenha no pífio desempenho do francês na primeira metade da temporada. E com razão. Albon, quando subiu, mostrava bons desempenhos e resultados. As coisas começaram a virar no final do ano, quando o francês, mostrando-se sólido mesmo após a pancada, não virou um novo Kvyat e se recompôs, reconstruindo o caminho que culminou com o dia de ontem.

Agora, em 2020, Gasly recebe merecidamente muito mais louros por conseguir dois pódios com um carro médio. Mesmo que tenham sido em corridas caóticas, não é fácil. Albon, por outro lado, terminou atrás de uma Williams e sequer foi ao pódio ainda com os taurinos. Apesar de prestigiado, ontem pode ter sido um duro golpe. Agora, o francês está por cima e o tailandês nascido e criado na Inglaterra é que pode estar vivendo um momento difícil, sobretudo psicologicamente.

Albon e Gasly, nessa ocasião, que o problema não são os dois pilotos, e sim como a Red Bull lida com o outro carro que não seja de Verstappen: é uma verdadeira bomba, tal qual a Benetton na época de Schumacher e a Renault no período de Fernando Alonso. Ninguém que chegar lá vai se conseguir se adaptar a um carro que é feito para Max Verstappen. Ficar na frente? Sem chance. Com isso, o que poderia ser um sonho, torna-se um pesadelo: por pouco Gasly não teve sua carreira implodida com apenas 23 anos. Albon pode ter estar nesse mesmo caminho e tantos outros da Red Bull ficaram para trás: Buemi, Alguersuari, Félix da Costa, Kvyat...

Agora, todo mundo quer novamente a troca de Gasly e Albon em suas equipes satélites. Apesar dos resultados serem muito mais consistentes e compreensíveis, o cenário diferente do calendário em meio a pandemia me fazem acreditar que a Red Bull não vai mudar as posições até o final da temporada. Não há tempo hábil para que a troca seja minimamente aproveitosa.

Sobre isso, Pierre Gasly precisa, junto do seu staff, entender que a Red Bull precisa começar a ser algo do passado, assim como Carlos Sainz percebeu que, do contrário, seria um capacho de Max e seria queimado. A primeira chance na Red Bull não deu certo. Nada me convence que mesmo com outro status as coisas sejam diferentes. Gasly não precisa mais da Red Bull e poderia, no médio/longo-prazo, pensar em alternativas a partir de 2022. Por exemplo, a Renault/Alpine não tem nenhum piloto de academia na equipe e Gasly é compatriota de Ocon...

É algo para se pensar. Depois de ontem, é possível pensar que Gasly também possa ter iniciado um processo de emancipação e independência da Red Bull. Deveria, ao menos.

Até!

domingo, 6 de setembro de 2020

NOTA 10

 

Foto: Getty Images

Parecia tudo pronto para que Lewis Hamilton vencesse pela 90a vez na Fórmula e ficasse apenas a uma vitória de igualar Michael Schumacher. Antes disso, Bottas se mostra inqualificável ao cair quatro posições no grid e ser incapaz de oferecer algum perigo para Renault ou McLaren. Na frente, Sainz e Norris pularam para as posições de pódio e isso oferecia uma ótima perspectiva para os ingleses. Em circuitos de alta, quando está atrás, parece que isso é uma espécie de calcanhar de aquiles da Mercedes.

Verstappen também largou mal e completou um final de semana apagado. La atrás, o calvário de Vettel acabou cedo com um problema nos freios. Aposto que ele deve ter até agradecido por isso. O momento que mudou a corrida foi a Haas de Kevin Magnussen abandonar e parar numa posição que não era possível sair guinchado, o jeito era empurrá-lo até os boxes. Safety Car, é claro, que mudaria a dinâmica da prova.

Como seria óbvio, naturalmente os carros iriam antecipar a parada. Hamilton entrou nos boxes e foi o único. Giovinazzi na sequência. Antes, Raikkonen, Leclerc e Kvyat e Gasly. Seria estranho: ninguém antecipou a parada e Hamilton retornou para a pista com uma parada e pneus novos. Um massacre. Acontece que o pit lane não estava aberto, uma raridade, em virtude dele estar sendo utilizado para a entrada do carro de Magnussen aos boxes da Haas.

Na relargada, uma nova perspectiva: com Kvyat, as Alfa Romeo e Leclerc, a corrida ganhava em emoção, até que os pneus ficassem desgastados, é claro. O outro turning point: o monegasco bateu forte, tentando tirar mais do que o carro, na parabólica. Barreira de pneus danificada e bandeira vermelha. A Ferrari, pode-se escrever, até que saiu por cima diante de todo esse cenário depressivo que se encontra.

Na bandeira vermelha, outra mudança: Stroll, que não tinha parado, trocou os pneus. Que regra ridícula essa de trocar pneus com a corrida parada, beneficia o infrator. Hamilton e Giovinazzi teriam que pagar com um stop and go e ficariam de fora do caminho: Kvyat, Stroll, Sainz e Norris eram os postulantes a primeira vitória da carreira!

Stroll relargou bizarramente e jogou fora a chance. Kvyat, com pneus mais desgastados, ainda assim conseguiu uma vantagem confortável. Se nas retas a Renault levava vantagem, na parte mais lenta a Alpha Tauri aguentava o tranco. Lá atrás, Verstappen abandonava e Albon empacava atrás da Williams. De igual nesses carros apenas a cor, está comprovado. Hamilton, que caiu para o fim do grid, foi escalando facilmente todo mundo e ainda foi o sétimo, duas posições atrás de Bottas. Se tivesse mais algumas voltas, passaria o finlandês que não fez absolutamente nada na corrida. Claramente é um desperdício de corra que chega a ser constrangedor.

Em um ano e poucos meses, o inferno astral: de dispensado e ridicularizado (inclusive por este que vos escreve) e com a morte do amigo Anthoine Hubert, desde então Gasly se recuperou com bons treinos e atuações consistentes que culminaram no segundo lugar, no Brasil, e a vitória histórica hoje. Quebrando um jejum de 24 anos sem vitória de um piloto francês na categoria, ainda foi a primeira da agora Alpha Tauri, 12 anos depois de Vettel, também em Monza. A imagem de Gasly, contemplativo no pódio, sem acreditar nas voltas que a vida dá é emblemática e emocionante. Um dos momentos mais lindos da F1. Com uma vitória, um segundo lugar e um quarto lugar, Pierre Gasly é o maior nome da história da Toro Rosso/ Alpha Tauri.

Foto: Getty Images

Sainz seria naturalmente o segundo. Com a punição de Hamilton, fica a sensação de frustração mesmo com o melhor resultado na carreira mas que pode voltar a acontecer, em virtude da escolha em defender a Ferrari nos próximos anos. No entanto, se sobreviver a tempestade, certamente o pódio será naturalmente um lugar familiar. Stroll em terceiro é o preço que pagamos, sempre sortudo nessas corridas malucos. Já dizia Nelson Rodrigues: sem sorte, não se atravessa a rua.

Kvyat, dominado com o mesmo equipamento e Albon, vivendo o que Gasly viveu mas ainda pior, pois o rival venceu com um carro pior uma corrida épica, estão sobre cheque, obviamente. Irei me estender melhor sobre o assunto amanhã. 

Com o imponderável, o que seria uma corrida sem vida transforma-se em uma prova histórica: a vitória de Gasly e da Alpha Tauri e o hino da Itália, emocionante em relação ao contexto do início e a tudo que os italianos, assim como o resto do mundo, passam e estão passando nesse momento. 10, nota 10!

Confira o resultado final do GP da Itália:


Até!