Foto: Reprodução/Aston Martin |
Como escrito há tempos, Felipe Drugovich transformou o mais
difícil no mais fácil. Afinal, vencer a F2 com três etapas de antecedência com
a MP Motorsport já é um fato grandioso e impensável por si só. O problema é
todo o contexto.
Para tudo na vida, é preciso timing e sorte, além da
competência, capacidade e talento. Sem isso não se atravessa a rua, escreveu
Nelson Rodrigues. Por mais impressionante que seja o feito de Drugovich, há
alguns poréns: Drugo foi campeão na terceira temporada dele na F2, num grid não
tão talentoso. Isso pesa.
O único com alguém potencial futuro é o próprio vice, o
jovem Theo Pourchaire, francês que já está na academia da Sauber. Sem uma
academia de pilotos ou muito dinheiro, fica complicado para Drugo conseguir uma
vaga na F1 em 2023. O título com antecedência é um trunfo para as negociações
serem cada vez mais intensificadas.
Na manhã de segunda-feira, a notícia mais quente dos últimos
dias, veiculada primeiramente pelo Grande Prêmio e agora pela Band, se confirmou.
Felipe Drugovich será piloto reserva da Aston Martin em 2023. Graças ao apoio
da XP Investimentos, seriam desembolsados cerca de 7 milhões de euros para
ocupar o assento.
Drugovich vai participar do treino livre do GP de Abu Dhabi,
a última corrida do ano, no dia 18 de novembro e vai ser o representante da
equipe na semana de testes dos jovens pilotos, que acontece após a corrida. O brasileiro
é o primeiro membro da academia da Aston Martin.
Alguma coisa não faz sentido.
Alonso tem, no mínimo, contrato de dois anos. Stroll é o
filho do chefe. Sendo otimista, Drugo estaria disponível para ser titular do
time em 2025. É muito tempo parado. Até lá, surgem pilotos talentosos, com
dinheiro e nas grandes academias, principalmente na Mercedes, fornecedora de
motores da Aston Martin. E Toto Wolff tem uma porcentagem da companhia.
É muito caro pagar tudo isso para apenas andar em alguns
treinos livres e ficar no simulador. Deveria haver uma contrapartida, ou deve
ter, porque não sabemos de muito. Geralmente, ser piloto reserva não significa
quase nada. Só lembrar de um caso da década passada.
2012. O italiano Davide Valsecchi estava na mesma situação:
foi campeão da então GP2 e assinou pra ser piloto reserva/de testes da Lotus.
Kimi Raikkonen teve problemas nas costas e, sem receber da quase falida equipe,
não disputou as corridas finais da temporada 2013. Em tese, seria uma
oportunidade para o reserva, certo? No entanto, a Lotus optou por contratar o
experiente Kovalainen para fechar o ano.
O atual piloto reserva do time é Nico Hulkenberg...
entenderam? Vamos considerar algum otimismo que aconteça algo que impeça Alonso
ou Stroll de não disputarem algum GP no ano que vem, tipo uma apendicite do
Albon. Quem garante que a Aston Martin não opte por alguém experiente como
Hulk, principalmente se a ausência for Alonso?
“Ah, mas isso pode estar explícito no contrato, né!”.
Talvez. Mas, com o tempo passando, o hype vai acabando também. O próprio De
Vries, estreante celebrado da semana, saiu da McLaren e esteve no exílio da
F-E. Só voltou aos holofotes porque virou piloto da Mercedes na categoria e foi
campeão lá. Um protegido de Toto Wolff. A circunstância, o momento e o lugar
certo.
Por outro lado, Drugo está no lucro: a terceira temporada na
F2 poderia significar o fim definitivo nos monopostos europeus, até porque
voltar para a MP foi um retrocesso. O brasileiro fez dos limões uma limonada e
agora está numa equipe de fábrica, apadrinhado pelo rico Lawrence Stroll, que
fala até em ajuda-lo até o próximo passo, citando os pilotos históricos do
passado como Emerson Fittipaldi e Ayrton Senna.
É bem interessante esse apoio de Lawrence Stroll. Não tinha
pensado por esse lado, mas agora isso pode ser algum indicativo, nem que seja
por influência em algum outro lugar do grid.
Por falar nisso, tudo que o canadense toca vira ouro. Dizem
que outro motivo para Alonso assinar com a equipe foi a possibilidade de Lawrence
transformar a Kimoa, grife de moda jovem que o espanhol é dono e garoto-propaganda,
em uma marca global.
Bom, todas as estrelas precisam se alinhar para isso dar
certo. No fim das contas, o título da F2 foi o mais fácil da jornada.
Agora, uma boa política, contatos e negociações precisam
fazer o resto do trabalho. E ter a sorte, timing, a circunstância, o momento a
favor. Tudo isso junto. Além de desempenhar um papel nos treinos, com os carros
mais antigos da Aston Martin nos testes e os trabalhos no simulador na moderna
fábrica que está sendo construída, graças ao investimento do dono da Tommy
Hilfiger.
Só assim que Felipe Drugovich vai conquistar o ingresso para
o paraíso.
Até!
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