Olá! O texto de hoje é uma entrevista. O resto vai estar descrito no texto. Tenham todos uma boa semana!
“Aqui tem de tudo que é
estilo e classe social”
Ele é uma figura muito conhecida do bairro
Azenha. Seu estabelecimento, o “André Cabelereiro”, localizado na rua 20 de
Setembro, é um ponto de encontro para quem deseja conversar sobre quase tudo e
qualquer tipo de assunto. A barbearia do simpático André Valim, 42 anos,
morador de Viamão, reúne pessoas de diferentes idades e personalidades, e ele
consegue se adaptar ao estilo da freguesia. Valim também falou sobre sua vida
pessoal e deu seus pitacos sobre a sociedade atual. Confira:
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Foto: Leonardo Sá |
Há quanto tempo você
tem esse estabelecimento?
– Eu tenho esse ponto há 18 anos
(desde 1997). Trabalhava na barbearia do meu pai, na Carlos Barbosa, e decidi
abrir meu próprio negócio.
Por quê?
– Porque queria
trabalhar sozinho e abrir meu próprio espaço, ser independente.
Você mora em Viamão.
Por quê manter um estabelecimento em Porto Alegre ao invés de abrir uma
barbearia em um local mais próximo?
– Já pensei nessa possibilidade.
Entretanto, decidi permanecer aqui para não perder os clientes antigos. Muitos
deles frequentavam a barbearia do meu pai e depois de um tempo vieram e viraram
fregueses do meu estabelecimento.
Em termos de
personalidade, seus clientes são muito diferentes uns dos outros? Qual é a sua
relação com eles?
– Ah sim, existem “vários” tipos
de clientes. Tem de tudo aqui: Os mais falantes, os mais quietos, de tudo que é
estilo e classe social (Um dos seus clientes mais famosos é o comentarista de
futebol Guerrinha). O último cliente, por exemplo (O “Japonês”). Ele nunca
falou uma palavra sequer comigo. A primeira vez que ouvi a voz dele foi quando
você perguntou sobre como ele sabia da existência do local. Por outro lado,
alguns clientes acham estranho quando eu não puxo assunto. Muitos deles pedem
que eu avise no celular quando o local está vazio para que venham sem ficar na
fila de espera. Às vezes, eu envio, mas na maioria dos casos não tem como.
Estou trabalhando, tenho que dar total atenção ao meu serviço e ao cliente.
Qual é a sua rotina
de trabalho? Qual é o dia que tem mais movimento?
– Eu trabalho cinco dias por
semana. Não abro no domingo e na segunda para resolver questões particulares,
relacionadas a minha esposa e os meus dois filhos. Geralmente o dia que a
barbearia fica mais cheia é no sábado, quando as pessoas aproveitam o final de semana
para cortar o cabelo e a barba.
Quais são os seus
hobbies quando não está no trabalho ou quando não há clientes no local?
– Aqui na barbearia, eu fico
vendo TV. Adoro história e assistir documentários, principalmente os da Segunda
Guerra Mundial. Também gosto de olhar filmes. E futebol, é claro. Assisto quase
tudo, mastem uma coisa que eu detesto: fofoca de artista (risos).Também adoro
ler, sou fissurado em livros.
Percebi. (Havia uma
estante com três livros – Um de Nietzsche, a bíblia e um livro espírita). Quais
são seus autores favoritos?
– Gosto muito de filosofia e de
Nietzsche, mas leio de tudo. Sou muito fã de Nietzsche, comprei alguns livros
dele num sebo aqui perto e viciei. Admiro os pensamentos dele... Sou muito
aberto a novos autores e temáticas diferentes. Você viu na estante, estou lendo
a bíblia e livros sobre espiritismo, mas me considero agnóstico. Esses dias eu
vi um debate entre um evangélico e um espírita, me admirei muito com a
argumentação do espírita. Não foi aquela coisa de apelar, gritar e essas
baixarias, foi puro conhecimento. Estou admirado. Fico lendo aqui na barbearia
e em casa, principalmente. Recentemente, terminei o livro “Capitão Philips” e
“Símbolos”, do Dan Brown. Olhei algumas reportagens e artigos do Richard
Dawkins, gostei muito. Certamente o próximo livro que eu vou ler será dele.
Algum outro hobby?
– Ah, eu adoro cozinhar. Sou uma
pessoa muito caseira, gosto de ficar em casa com minha esposa e meus filhos,
não sou muito de sair, só quando é necessário. Fico brincando com as crianças
durante o dia e aproveito o tempo para fazer pratos mais elaborados. Um
churrasco no domingo ou um jantar durante a semana. Uso bastante o forno à
lenha que tenho em casa e convido meu irmão para comer com a gente. Gosto
muito.
Você falou em uma das
respostas sobre as mensagens de celular com os clientes. És assíduo nas redes
sociais?
– Não tenho Facebook, nem
WhatsApp e nem Twitter. Aliás, me incomodo muito com o Twitter. A pessoa vai lá
e fica postando tudo o que faz, até quando vai no banheiro. Acho ridículo isso
(risos). Minha esposa tem todas essas redes e fica me pressionando para abrir
uma conta no Facebook. Não quero me envolver em problema. Um cliente,
mulherengo, foi marcado em uma foto com outra mulher enquanto tinha
relacionamento com uma outra. Nem preciso dizer que deu problema, né? Não quero
confusão para o meu lado. Não tenho vontade de usar e não sinto falta. Minha
esposa que fica o dia inteiro conectada (risos). Meu irmão já me disse: “Ainda
bem que tu não tens essas redes, é muita confusão. Se puder, fique longe delas
(risos). ”
Para encerrar: Em 18
anos, certamente deve ter acontecido um monte de fatos inusitados na barbearia.
Poderia me contar alguma história engraçada que aconteceu aqui?
– Tem uma muito boa: Tinha um
senhor que todo santo dia batia na porta e perguntava o preço do corte. E eu
sempre respondia o mesmo valor, que deveria ser uns 15 ou 20 reais, não me
lembro. E esse senhor sempre respondia: “Ah tá, vou lá pegar o dinheiro e já
venho aqui, me aguarde! ” E eu esperava... E ele nunca vinha! (risos). Ele
vinha para cá todo dia e sempre dizia isso, era folclórico. Mas, depois de um
tempo,
eu cansei. O homem veio e fez a pergunta de
sempre: “Quanto custa o corte?”. E eu, dessa vez, respondi sem titubear: “80
reais!”. Ele tomou um susto e nunca mais voltou (risos).