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Na semana passada, a grande notícia no mundo da F1 foi o fim
da vexatória segunda passagem da parceria entre McLaren e Honda. Com a pausa no
calendário, o blog resolve contar a história de outra parceria da McLaren que
fracassou e que muita gente não lembra. Vamos lá.
Voltamos para o final de 1993. No primeiro ano após o fim da
satisfatória parceria com a Honda (!), a McLaren resolveu apostar nos motores
Ford para brigar com a imbatível combinação Williams Renault de 1992. Não deu
certo. Apesar das cinco vitórias de Ayrton Senna na temporada, em nenhum
momento o conjunto de Woking foi páreo para Alain Prost, que sagrou-se
tetracampeão e se aposentou. A Williams terminou o campeonato com 168 pontos, o
dobro da McLaren Ford, segunda colocada (sendo 73 pontos de Senna, 7 de Michael
Andretti e 4 de Mika Hakkinen).
Insatisfeito com tamanha inferioridade, Senna estava
disposto a ir para a Williams substituir Prost e voltar a brigar por títulos.
Para tentar segurar o brasileiro, a McLaren recebeu propostas, uma delas da
Lamborghini, que equipava o carro da Larrousse. A Crysler, que detinha a marca
na época, forneceu alguns motores para a equipe de Woking fizesse os testes.
Senna testando a McLaren Lamborghini, em 1993. Foto: Getty Images |
Senna fez o teste no circuito de Estoril e gostou. Disse que
o motor precisava de mais potência mas que tinha tudo para fazer uma grande
temporada em 1994. Hakkinen pilotou em Silverstone. Com aquele motor V12, foi
cerca de um segundo e meio mais veloz do que em relação ao carro equipado com o
Ford V8. Parecia o suficiente para que fosse feita a aposta na Lamborghini e de
quebra convencesse Senna a permanecer na equipe.
Não foi o que aconteceu. No fim daquele ano, a McLaren
anunciou de forma surpreendente um acordo com a Peugeot, que até então jamais
havia participado da F1. A empresa entrou na categoria para combater a
compatriota e dominante Renault. Até hoje não se sabe os motivos para que o
negócio com a Lamborghini não tenha sido concretizado. Com Senna indo para a
Williams, abria-se uma vaga para pilotar a equipe que tinha mais vitórias na F1
até então (104).
1994 era uma temporada importante. Estava sendo implementado
um novo regulamento. A suspensão ativa, os freios assistidos e ABS e o controle
de tração foram banidos. O objetivo era dar ênfase as habilidades do piloto
para que elas se sobresaíssem (parece familiar esse assunto, não?). A Peugeot
queria o compatriota Philippe Alliot como companheiro de Hakkinen. A pressão e
o desejo de interferência enfureceram Ron Dennis. Alliot estava na F1 desde
1984 e tinha a fama de ser um piloto rápido mas propenso a acidentes. A escolha
de Dennis foi Martin Brundle, também veloz, porém mais constante que o francês.
Alain Prost testando o MP4/9 na pré-temporada de 1994. Foto: Pinterest |
Antes disso, o recém-aposentado Prost chegou a testar o MP4/9
durante os testes de pré-temporada. Diante do “tanque” em que estava metido,
acabou desistindo de se desaposentar. O novato motor francês já dava indícios
de que não andaria no nível desejado pelos ingleses naquele primeiro momento
(de novo, parece familiar, né?). Na época, segundo reportagem de Flávio Gomes
para a Folha, o chassi do carro era “decente, um carrinho estreito, moderno,
com cara de mau e, se tivesse um motor decente, certamente daria trabalho”.
A primeira versão do MP4/9 foi alimentado pelo motor Peugeot
A4 V10, que produzia cerca de 700 cv. Logo nas duas primeiras corridas ele se
mostrava pouco confiável, tanto Hakkinen quanto Brundle abandonaram nas duas
primeiras corridas da temporada (Brasil e Pacífico) com falhas no motor. Na
terceira etapa, em Ímola, foi introduzido o A6 V10 de 760 cv. Houve uma
significativa melhora que levou Hakkinen ao terceiro lugar na fatídica prova e
Brundle ao segundo lugar em Mônaco, corrida seguinte. Apesar disso, as falhas
nos testes, treinos e corridas eram freqüentes e o motor era conhecido como uma
“granada de mão”. O problema de confiabilidade persistiu até a Itália. No meio
do caminho, Hakkinen conseguiu outro pódio, o terceiro lugar em Silverstone.
Hakkinen conquistou seis pódios com o MP4/9. Foto: Car Throttle |
O finlandês chegou a enfileirar quatros pódios seguidos
(Bélgica, Itália, Portugal e Jerez). Entretanto, em nenhum momento a McLaren sequer
flertou com a vitória e terminou uma temporada zerada pela primeira vez desde
1980. Ron Dennis apostava na rivalidade francesa para alcançar um rápido
desenvolvimento do novato motor Peugeot. Com os problemas constantes não sendo
resolvidos, criou-se uma dúvida em relação a continuidade no projeto.
Hakkinen terminou o campeonato em quarto lugar, com 26
pontos. Brundle foi o sétimo, com 16. Os 42 pontos do conjunto McLaren Peugeot
deixaram a equipe apenas em quarto nos construtores, 74 pontos atrás da campeã
Williams Renault (118), 59 da Benetton Ford (campeã mundial com Michael
Schumacher) e 29 da Ferrari. Um vexame para quem dominava a F1 no início da
década.
Diante não só desses números como também do desempenho, a
McLaren encerrou sua parceria com a Peugeot em apenas uma temporada e anunciou
o acerto de um projeto com a Mercedes para 1995, que durou vinte temporadas
(até 2014). A história nós sabemos: vitórias, competitividade e três títulos
mundiais, dois de Hakkinen (1998 e 1999) e um de Lewis Hamilton (2008).
E a Peugeot, “que fim levou?” (leia com a voz de Milton
Neves): bom, no ano seguinte os franceses fecharam acordo com a Jordan e
posteriormente com a equipe Prost. Os resultados continuaram sendo ruins e a
divisão de motores foi vendida para a preparadora Asiatech, que fechou em 2002.
Estatisticamente, podemos dizer que a McLaren vem de duas
parcerias ruins nas últimas três que firmou. Resta saber se a McLaren Renault
2018-2019-2020 irá igualar ou piorar a situação. Até!
Brundle em Mônaco 1994. Foto: José Inácio |