Foto: Divulgação/MP Motorsport |
O que parecia difícil vai ser, no final das contas, o mais
fácil. Desde a criação da atual F2, em 2017, apenas pilotos da Prema e da ART
Grand Prix tinham sido campeões. O brasileiro Felipe Drugovich provavelmente
vai cometer duas façanhas: ser o primeiro brasileiro campeão da F2/GP2 e trazer
o título para a mediana MP Motorsport.
Nos últimos anos, a MP reforçou a equipe técnica, o que pode
explicar alguma evolução. No entanto, é claro que o mérito maior é do
brasileiro. Tem tudo para ser um título categórico, com uma rodada de
antecedência. Com 69 pontos de vantagem e apenas 78 em disputa, Drugo tem tudo
para fechar a conta em Monza, neste final de semana.
Desde a GP2, em 2005, muitos brasileiros bateram na trave:
Nelsinho Piquet, Lucas Di Grassi, Luiz Razia e Felipe Nasr. Ainda teve Sérgio
Sette Câmara, Xandinho Negrão, entre outros. Em tese, Drugo era o mais
desconhecido desde que chegou. Teve uma temporada muito boa na própria MP, mas
foi irregular demais ao subir de nível na UNI Virtuosi e sucumbir para Zhou.
Na terceira temporada, não é muito comum chamar a atenção dos
grandes times. Geralmente, os pilotos de academia já mostram qualidade no
primeiro ou no segundo ano. Foi assim com Leclerc, Russell, Norris, Albon, Mick
Schumacher e Piastri. De Vries, por exemplo, sobrou e foi campeão no quarto ano
de categoria. As portas estavam fechadas.
Para Drugo, a situação era ainda pior: sem destaque,
dinheiro ou academia de pilotos, seria complicado arranjar alguma situação sem
um ano mágico na F2, o que parecia improvável ao retornar para a MP. Mesmo
jovem, aos 22 anos, o automobilismo é cada vez mais precoce.
Drugo apressou etapas ao permanecer somente um ano na F3 e
ir direto para a F2. No entanto, o problema foi a segunda temporada, só que
isso está sendo completamente esquecido pelo 2022 incrível. Com a MP, é bom
ressaltar.
Muito ritmo, equilíbrio e constância. Vitórias em momentos
chave. Enquanto os rivais Sargeant e Pourchaire sucumbiram, Drugo sempre fez o
suficiente para no mínimo superá-los. E a recompensa está quase chegando.
Desde Bruno Junqueira na F3000 em 2000 que o Brasil não
conquista um título tão importante na base. Desde a FE, onde Nelsinho e Di
Grassi ganharam, que o Brasil não conquista um campeonato com a chancela da
FIA. Mas e o que isso significa para a carreira de Drugovich?
Obviamente, ele vai precisar mudar de categoria. A F2 foi
superada. O sonho é a F1, claro. Se antes Drugo poderia ser um patinho feio, o
título pode deixá-lo mais atraente para as equipes. E as estrelas precisam se
alinhar.
Drugo teve seu nome ventilado a Aston Martin para ser piloto
reserva do time. Na Williams, uma das vagas disponíveis, não houve nada que
pudesse ser mencionado. A coisa muda de figura neste final de semana.
Com a provável ida de Gasly para a Alpine e a chegada de
Colton Herta para os taurinos, que depende da aprovação da FIA, temos Yuki
Tsunoda como grande dúvida para o ano que vem. O japonês não vem entregando
resultados em um carro que pouco consegue produzir, é verdade.
Também sabemos que paciência não é o forte da academia da
Red Bull. Para mandar Yuki embora, não precisa de muito. É, no mínimo, uma vaga
em aberto. Se a FIA não liberar Herta, podem ser duas.
Não há indícios de que Hauger, Daruvala ou Lawson possam ser
aproveitados em 2022. A academia da Red Bull não tem um talento sobressalente,
e Drugo superou todos eles. É o momento. Mais do que nunca, o timing é o grande
aliado do brasileiro para sonhar com uma vaga na F1.
Se a Red Bull optar pelo retorno de Albon, a Williams fica
com uma vaga sobrando. É outra possibilidade, menor, mas que o staff do
brasileiro certamente vai estudar alguma forma de brigar.
Ou é isso ou são outras categorias, como a WEC, a FE e a
Indy. O momento é agora. O título da F2 com uma equipe que não é de ponta é o
grande patrocínio do brasileiro para brigar pela F1.
Claro que mais dinheiro ou alguma academia poderiam
facilitar e sacramentar esse momento, mas Drugo fez o mais fácil (ganhar a F2)
e o mais difícil (sem ter uma academia, muito dinheiro ou uma equipe de ponta).
Agora, é hora de colher os frutos. E que as estrelas se alinhem cada vez mais.
É a grande chance do Brasil voltar a ter um representante na categoria.
É agora, Drugo!