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No MMA, Dana White sempre afirma que o esporte é para
jovens. É natural. A quilometragem, as guerras travadas e a idade cobram um
preço. Durante um tempo, a F1 foi o inverso disso.
Com os carros desafiadores, pesados e perigosos, era
preciso, antes de tudo, ser um homem. Um rapaz experiente, responsável, capaz
de domar aquilo que poderia lhe matar na curva seguinte. Não a toa, há vários
exemplos de campeões quarentões ou perto disso naquela época, algo impensável
hoje em dia.
Apesar da grande quantidade de vagas, equipes, garagistas,
aventureiros e falcatruas, era preciso ter muita experiência e dinheiro, claro,
para pilotar um carro. Evidentemente, com os carros cada vez mais tecnológicos,
a média de idade foi, lentamente, baixando. Ainda assim Senna, por exemplo,
estreou “velho” hoje em dia.
Décadas depois, a F1 foi definitivamente para o extremo
oposto. Diferentemente do MMA, alguém certamente diria: a F1 é para jovens.
Antigamente, “bastava” dirigir. Hoje, é preciso ser um atleta completo para
aguentar uma temporada cada vez mais lotada, com o corpo exposto aos efeitos do
carro, desidratação, desgaste, cansaço, entre outros.
Dois casos saltam os olhos: Kimi Raikkonen e Max Verstappen.
Dois campeões mundiais. Um estreou na F1 aos 18, o outro nem maior de idade
era. E é assim, seja no grid ou nas categorias de base. Passando dos 20, o
piloto já é considerado “velho” para ser uma promessa. Aí, somente muito
dinheiro para conseguir driblar essa questão, como Latifi fez, por exemplo.
E num esporte onde está cada vez mais jovem, é possível ser
longevo também. Sempre foi assim, desde Patrese até Fernando Alonso. Claro, é
preciso ter qualidade, estofo e talento, ainda mais hoje quando as vagas são
escassas. O problema está no meio termo, e as vezes nem quem não deveria sequer
ser questionado, é. É a natureza do esporte, cada vez mais predatória.
Nesse universo, existem três pilotos cujo talento são
inquestionáveis mas que, por motivos distintos, não possuem futuro garantido na
F1. Dois campeões mundiais e um que já foi apontado como candidato a um. Vocês
sabem de quem estou escrevendo.
Fernando Alonso. A situação do espanhol é a perigosa, apesar
de, dos três, o que menos sente a questão da idade, mesmo já passando dos
quarenta. Alonso não parece sentir o tempo, a desaceleração, os reflexos, ao
menos não de forma evidente. Ainda assim, guiando o fino dentro das
possibilidades, existe o perigo de ser preterido por um jovem: Oscar Piastri,
campeão da F2 e grande aposta da Alpine. Não há vagas e o time não tem
parcerias. Não dá mais para esperar e Ocon está garantido. É um mano a mano que
nem deveria existir, ou então os dois deveriam coexistir na F1. A resposta? Só
nos próximos meses.
Basicamente, Alonso pode ser preterido pela própria idade e
a juventude inquieta de um concorrente. Ele já esteve nessa posição, mas só sim
é que percebemos o tempo passando de forma avalassadora.
Sebastian Vettel. A situação mais tranquila. Só depende
dele. Uma crise existencial. Continuar correndo no meio do grid sem objetivos
mesmo tetracampeão, rico e sucedido, ou curtir a família e os projetos
ambientais que tanto fala e dá visibilidade ultimamente? Tudo isso junto faz o
alemão se sentir um pouco contraditório, segundo alguns. Repito: só depende de
Vettel, que também é acionista da Aston Martin. Foi contratado como o líder de
um novo projeto supostamente ambicioso, mas que até aqui só andou para trás.
Esperar o novo túnel de vento ficar pronto? Vettel é ainda jovem e bem
sucedido, apesar do auge ter ido embora há tempos. Ainda assim, nesse caso, o
que está em cheque é a motivação na jornada do herói. Só Vettel e a validade do
amor pelo automobilismo em alto rendimento é que podem responder.
Aqui, a situação é mais desesperadora no longo prazo, porque
Daniel Ricciardo é o mais jovem dos três, mas ainda assim em situação delicada.
Ao perceber a preferência por Verstappen na Red Bull, optou pela carreira solo.
Apostou na Renault e agora naufraga na McLaren, que tem no jovem Norris o líder
quase formado, agora referendado pelos resultados de pista. É um massacre.
É repetitivo afirmar que Ricciardo não justifica o
investimento que vale. Tem mais um ano de contrato, mas a permanência não é
garantida e tampouco enfatizada pelo chefe Zak Brown. Especulações e soluções
para o lugar do australiano não faltam. O problema principal é a perspectiva:
Ricciardo não será campeão do mundo e a McLaren foi a última chance de liderar
um projeto. Quem pagaria um salário alto para quem desligado do time de Woking,
se isso acontecer?
Bem, por mais que o panorama desenhado aqui seja o mais
alarmista e fatalista possível, ainda é permitido sonhar, olhar o copo meio
cheio. Se Ricciardo não é um líder, ainda assim tem grife para ser um segundo
piloto numa eventual mexida de mercado. Se reinventar em outra categoria não seria
ruim.
E se Vettel sair? A Aston Martin vai precisar de um cara com
bagagem para liderar o time. Ricciardo pode ser esse cara. Alonso, se for
preterido por Piastri, também. Se Ricciardo permanecer na McLaren, Alonso pode
ser o líder de Lawrence Stroll enquanto Vettel curte a aposentadoria.
Há muitas possibilidades nesse universo, inclusive dos três
continuarem onde estão e tudo isso não passar de um sensacionalismo opinativo.
Eu não contaria com isso. Como já escrevi, a F1 é um esporte para jovens e também
gente de bagagem. As vezes, nem isso é suficiente para superar a irresistível
jovialidade do tempo.
Até!
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